Escreveu-me um protestante:
– Deus não tem início nem fim, e portanto não pode ter mãe.
Creio que o problema da posição protestante (que pára por aí, ao contrário do raciocínio cristão), é repetir o erro dos nestorianos, condenado no Concílio de Éfeso em 421.
Para Nestório, bispo herético de Constantinopla, a humanidade de Jesus seria apenas o templo ou revestimento do Filho de Deus; a divindade teria passado por Maria, mas não nascera de Maria, o que implicaria haver uma pessoa humana em Nosso Senhor, distinta da Segunda Pessoa da Ssma. Trindade.
Deste modo Nestório protestava contra o título “Theotokos”, Mãe de Deus, usado imemorialmente pelos cristãos, e propunha que Nossa Senhora fosse chamada apenas de Mãe de Cristo.
A posição protestante sofre do mesmo erro, sem perceber as suas trágicas consequências. Se há duas pessoas, uma divina e uma humana, não há realmente Encarnação nem morte na Cruz.
Há apenas uma espécie de co-habitação, de “possessão”, sem que seja possível haver portanto a fé cristã.
Nós, ao contrário, sabemos que Deus se fez homem, e que em Cristo há só uma pessoa, mas duas naturezas, a divina e a humana. Isso sempre foi crido pelos cristãos, sendo definitivamente afirmado no Concílio de Calcedônia, em 451.
A posição nestoriana, como a protestante, aliás, sofre de uma falta de compreensão do Mistério da Encarnação. É um erro de cristologia, não de mariologia.
Nossa Senhora realmente é Mãe de Deus, a partir da Encarnação. Jesus não é um ser híbrido e composto de uma pessoa divina e outra humana, mas sim uma só pessoa com duas naturezas. Não é um corpo humano (co)habitado por uma pessoa da Santíssima Trindade, mas sim a Encarnação desta pessoa. Uma só pessoa, porém duas naturezas.
Nossa Senhora gerou em seu seio a Jesus, mas não só a seu corpo ou sua alma humanas. O Verbo de Deus se fez um homem em seu seio, mantendo a sua natureza divina e tomando, por intermédio de Maria, também uma natureza humana, na mesma pessoa.
Assim Maria é realmente a Mãe de Deus. Se ela não o fosse, Jesus não seria Deus, mas sim uma “vestimenta” humana para Deus.
Nossa Senhora foi preparada por Deus antes mesmo de sua concepção, exatamente para que o Verbo se fizesse Carne (não “assumisse uma” carne) em seu seio. Ela foi preservada da mancha do Pecado Original, ou seja, não sentiu sequer o desejo de pecar, e foi assim a nova Eva.
Por Eva o pecado entrou no mundo; por Maria a Salvação veio.
Foi ela igualmente que fez com que Nosso Senhor iniciasse o seu trabalho, apesar d’Ele dizer que a Sua hora não havia ainda chegado (bodas de Caná), e foi ela que sempre esteve ao seu lado até a Sua morte na Cruz, sendo então dada aos discípulos como nossa Mãe.
Nossa Senhora evidentemente não é uma pessoa da Ssma. Trindade, nem poderia ser. Mas ela é a nossa intercessora (como qualquer cristão pode rezar pelo outro, ela reza por todos nós), a nossa advogada (como nas bodas de Caná, ela nos diz “fazei tudo o que Ele vos ordenar”, e ao mesmo tempo pede a Ele que aja em nosso favor, para o nosso bem).
Assim o respeito e a devoção mariana são e sempre foram marcas distintivas do bom cristão. Com Nossa Senhora aprendemos a dizer “sim”a Deus, a dizer “faça-se em mim segundo a Sua vontade”; sabemos que ela é o refúgio dos pecadores, que ela em Seu Imaculado Coração traspassado por dores conforme previsto pelo Profeta Simeão tem sempre um lugar para nós e nos chama à conversão, arrependimento e penitência.
Sabemos assim que Nossa Senhora é a Mãe de Deus, o Auxílio dos Cristãos, a Porta do Céu.
- Fonte: A Hora de São Jerônimo