Nova datação do Novo Testamento (Parte 2/11): datas e dados

2. DATAS E DADOS

No início do Capítulo 1 (“Datas e Dados”), o autor explica que, tal como na Arqueologia, a cronologia do Novo Testamento (NT) é baseada numa combinação de datas absolutas e relativas. Há um número limitado de pontos mais ou menos fixos e os demais fenômenos são classificados conforme os supostos requerimentos de dependência, difusão e desenvolvimento. As novas datas absolutas obrigam a reconsiderar as datas relativas. Eventualmente, as antigas hipóteses sobre os padrões de dependência, difusão e desenvolvimento podem ser perturbadas ou, inclusive, radicalmente questionadas.

Robinson mostra como isto ocorreu no caso do estudo da origem e do desenvolvimento da civilização na Europa: a partir de 1949 se criou a “revolução do radiocarbono”, que obrigou a estender de 500 a 1500 anos este período; e, em 1966, devido a dendrocronologia, se produziu uma “segunda revolução”: desta vez, não apenas foi necessário estender mais uma vez o período apreciado como ainda o padrão de relações entre os fenômenos foi profundamente alterado.

Robinson afirma que:

  • “A cronologia do Novo Testamento depende mais de suposições do que de fatos. Não é que neste caso tenham surgido novos fatos, novas datas absolutas que não possam ser questionadas; elas ainda são extraordinariamente escassas. É que certos questionamentos obstinados simplesmente me levaram a questionar que base existe, na verdade, para certas hipóteses cujo questionamento pareceria ter se tornado arriscado ou, inclusive, impertinente, segundo o consenso predominante da ortodoxia crítica. No entanto, alguém toma coragem quando vê como, em seu próprio campo ou em outro qualquer, as posições estabelecidas de repente ou sutilmente passam a ser vistas como as precárias construções que são. As [posições] que pareciam ser datações firmes, baseadas na evidência científica, se revelam como deduções que se apoiam sobre outras deduções. O padrão é coerente, porém é circular. Se se questiona alguma das hipóteses construídas, todo o edifício parece bem menos seguro” (p.6).

A seguir, o autor apresenta uma visão sintética da história da cronologia do NT, indicando as posições predominantes em intervados de 50 anos. Em geral, até 1800 se considerava que a composição do NT abraçava um período de 50 anos: do ano 50 ao ano 100. Até 1850 esse período tinha mais que duplicado, estendendo-se agora entre os anos 50 e 170. Até 1900, ainda que o período considerado continuasse sendo aproximadamente o mesmo, mudou-se a datação dos diversos livros do NT, restando como datações tardias apenas uns poucos, em geral algumas epístolas. Até 1950, a brecha entre as posições radicais e as conservadoras havia reduzido bastante, atingindo um notável grau de consenso: o período de composição se reduz a cerca de 60 anos (entre 50 e 110), exceto apenas para 2Pedro (cerca de 150).

Robinson opina que:

  • “O que alguém procura em vão em grande parte dos estudos recentes é uma luta séria com a evidência interna ou externa para a datação dos livros individuais (…) mais que um padrão apriorístico do desenvolvimento teológico dentro do qual logo os faz enquadrar” (p.11).

Para o autor, a peça-chave foi o Evangelho de João. Por várias razões, pouco a pouco Robinson se convenceu de que este Evangelho foi escrito na Palestina e antes do ano 70, o que contradiz a tese predominante de que foi escrito na Ásia Menor até o final do século I. Porém, esta redatação de João obriga necessariamente a se refazer toda a cronologia do NT.

Explica Robinson:

  • “Foi neste ponto que simplesmente comecei a me perguntar: por que qualquer um dos livros do Novo Testamento deve ser datado após a queda de Jerusalém, no ano 70? Começando a considerá-los – e em particular a epístola aos Hebreus, os Atos e o Apocalipse – não era estranho que este cataclismo não fosse mencionado ou aludido nem uma só vez? Assim, como uma brincadeira teológica, pensei ver até onde alguém poderia chegar com a hipótese de todo o Novo Testamento ter sido escrito antes do ano 70 (…) Porém, o que começou como uma brincadeira, acabou se convertendo numa séria preocupação durante o processo” (p.12).

A seguir, o autor enumera as limitações da sua obra: não se introduziu nas bases teóricas da cronologia em si mesma, nem em cálculos astronômicos, nem nas complexas relações entre os sistemas cronológicos antigos; tampouco ingressou na cronologia do nascimento, ministério e morte de Jesus, nem na história do cânon do NT, nem no vasto campo da literatura não-canônica, exceto nos casos em que esta é diretamente relevante para o tema analisado.

Robinson conclui este capítulo dizendo:

  • “É provável que minha posição parecerá surpreendentemente conservadora, especialmente àqueles que me consideram radical em outros temas (…) Não reclamo nenhuma grande originalidade – quase cada conclusão individual, como se verá, foi previamente discutida por alguém, muitas vezes por homens renomados e esquecidos – ainda que eu pense que o padrão global seja novo e, assim espero, coerente. O que menos quero é encerrar qualquer discussão. Na verdade, me alegra antepor no meu trabalho as palavras com as quais, segundo dizem, Niels Bohr iniciava as suas conferências: ‘Cada frase que eu emita deve ser tomada por vós não como uma afirmação, mas como uma pergunta'” (p.14).

(Continua…)

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