Cidade/UF: Friburgo, Alemanha/SP
Religião: Cristã
Confissão: Católica
Mensagem
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Caros senhores
diante dos últimos acontecimentos ligados ao Papa com relação à suspensão da excomunhão dos três bispos da SSPX e da tomada de posição dos senhores, gostaria de fazer um pequeno comentário.
É claro que o papa não apóia em nenhum momento as posições anti-semitas do bispo Williamson e é claro também que ele (o papa) é, no final das contas, a única pessoa que pode tomar a decisão de suspender as excomunhões, podendo fazê-lo sem consultar mais ninguém. No entanto é de responsabilidade do Papa zelar para que não haja escândalo dos fiéis. Era parte de sua responsabilidade como portador do poder de decisão informar-se e consultar outras pessoas que, de forma direta ou indireta, estão envolvidas no problema. Por exemplo as conferências nacionais dos bispos da Franca, da Suíça e da Alemanha – países com numerosas comunidades da SSPX.
Além disso se dá a impressão, com a suspensão de excomunhões de pessoas contrárias ao Vaticano II, de que o Papa põe em dúvida a autoridade do Concílio. E essa impressão (errônea) não é partilhada apenas por ultra-conservadores mas também por expoentes da “esquerda” como Hans Küng, que têm grande influência sobre a opinião pública. A impressão veiculada é de que em breve o Vaticano será dominado por Ultraconservadores que anularão o concílio Vaticano II – e aí cada um pode completar o cenário caótico e apocalíptico com bem quiser.
Além disso o Papa é cidadão alemão e sabe o quanto tanto alemães quanto judeus e israelenses são sensíveis ao assunto holocausto. É sua responsabilidade não escandalizar os fiéis alemães com uma ação que parece – mesmo que não o faca – apoiar idéias revisionistas a respeito do genocídio cometido contra os judeus. Os católicos alemães estão escandalizados.
É possível criticar a ação do Papa sem perder a fidelidade católica. O Papa, em sua ânsia de unidade, agiu de maneira temerária. Sim, ele é a única pessoa que podia tomar a decisão. Tomou-a sem consultar outras pessoas, como era seu direito. Sua ação desencadeou – com alguma razão – reações escandalizadas de católicos e não católicos em várias partes do mundo, sobretudo na Alemanha e em Israel. Essas reações eram previsíveis e absolutamente evitáveis.
A altíssima Autoridade do Papa faz que sua responsabilidade seja tanto maior e por isso ele não pode se dar ao luxo de tomar decisões, mesmo que em princípio acertadas ou com um fim louvável, de maneira tão canhestra. Não se exige que o Papa deixe de dizer a verdade ou de defender a fé em nome da diplomacia. Mas escandalizar os fiéis, permitir que um “odor” de anti-semitismo paire sobre a Igreja e se indispor com a opinião pública internacional é realmente desnecessário.
Rezemos para que o sucessor de Pedro continue defendendo a fé como sempre tem feito, para o bem da Igreja e edificação dos fiéis. E que suas ações, que hoje tanta revolta e crítica provocam, possam, apesar de tudo, dar frutos de Paz e Unidade para a Igreja e para o mundo.
Aproveito para agradecer pelo site, que várias vezes já me ajudou com valiosas informações sobre
a Fé e a Igreja.
Cordialmente em Cristo,
Marcelo
Caríssimo Marcelo,
Pax et Bonum!
Obrigado por nos ter contatado.
Creio que o texto a que se refira seja meu último artigo, Insignes pérolas em matéria jornalista imparcial sobre Dom Richard Williamson e o Papa Bento XVI, comentando matéria de Reuters veiculada por O Estadão.
Efetivamente, neste texto defendo apenas a minha opinião pessoal a respeito, e por isto ele figura na sessão Opinião do site. Contudo, creio que todos no Veritatis Splendor compartilham a mesma opinião sobre o caso de Dom Williamson, pois recebi vivos elogios ao meu comentário e em nossa lista interna há um consenso: apoiamos o Santo Padre, entendemos perfeitamente o levantamento da excomunhão de Dom Williamson, e colocamos cada coisa em seu devido lugar a opinião pessoal de Dom Williamson e o ensinamento do Papa e da Igreja, que, no que se refere ao Holocausto, são bem distintas.
Acredito que a questão maior de sua carta se deve ao levantamento da excomunhão de Dom Williamson, especificamente: porque levantar a excomunhão de um Bispo negacionista?
De início, deve-se salientar que o levantamento da excomunhão não se deu por causa do negacionismo de Dom Williamson, mas apesar deste negacionismo. O Papa, que foi testemunha ocular dos fatos, sabe quão graves e horrendos foram os crimes nazistas, e vivamente os condenou, antes e durante seu Pontificado. O que nos importa neste caso é o que ele realmente diz: e o que o Santo Padre reiteradamente expressa é o seu pesar pelas vítimas do Shoah e sua viva condenação a tais atrocidades.
Mas por que reabilitar Dom Williamson? Por que simplesmente não reabilitar os outros três Bispos, que não defendem tais teses polêmicas, e deixar Dom Williamson de fora?
Para evitar um mal maior.
É sabido que, dos Bispos da FSSPX, Dom Williamson é o mais radical. E a FSSPX possui parcelas definidas entre seus fiéis, e uma destas parcelas, a mais radical, é seguidora de Dom Williamson. Era importante, pois, para Roma que fossem reabilitados os quatro Bispos conjuntamente: assim não se correria o risco de, deixado um Bispo de fora, uma parcela de fiéis insatisfeitos com a Santa Igreja passassem a seguir este Bispo, gerando um novo movimento cismático. Gerar-se-ia, então, um novo problema.
E se, no fim das contas, as conversações com a FSSPX não lograssem êxito (apenas estamos tratando a nível de suposição, pois, é claro, temos viva esperança e desejo de que logrem muito êxito) ter-se-ia dois movimentos separados: a FSSPX em si, e o movimento daquele Bispo que foi deixado de fora anteriormente.
É preciso considerar tais questões e pesá-las.
Uma polêmica como a gerada pelas palavras de Dom Williamson resolve-se facilmente com o tempo, até porque a opinião pessoal de Dom Williamson (pela qual ele já pediu desculpas ao Santo Padre) não representa, em absoluto, a opinião do Santo Padre nem o ensinamento da Igreja. Ao passo que, se Dom Williamson tivesse sido deixado de fora e um grupo de fiéis passasse a segui-lo, seria muito mais difícil resolver esse novo cisma principalmente porque Roma, anteriormente, não teria confiado em Dom Williamson. Assim se teria um novo problema, bem maior, uma nova ferida na unidade da Igreja, um novo cisma. O Papa, que é o guardião da unidade da Igreja, tem de pensar antes nesta unidade, dom com o qual Cristo dotou a Igreja, do que na polêmica imbecilizada que a Mídia poderia causar baseando-se em tolices que certo dia certo Bispo defendeu.
Era preciso pesar estas questões. E resulta muito mais grave um novo cisma.
Era, portanto, importante para Roma que os quatro Bispos fossem reabilitados juntos, para evitar novas separações.
Creio que, diante disto, é perfeitamente compreensível o motivo pelo qual o Santo Padre levantou a excomunhão de Dom Williamson, apesar do seu negacionismo e de outras opiniões errôneas do mesmo, como o seu machismo. Estes erros de Dom Williamson podem ser resolvidos com o tempo, mas um novo cisma seria muito mais difícil.
A Mídia, obviamente, alheia aos valores da religião, não sabe o que representa o dom da unidade, e como é grave a responsabilidade do Santo Padre de mantê-lo e buscar trazer de volta todos os cristãos à unidade da Igreja Católica. Antes disto, ela se apega a polêmicas inúteis, infrutíferas e imbecilizadas, tratando como se fosse culpa do Papa as tolices que Dom Williamson ora defendeu.
Devemos nos afastar destas polêmicas inúteis geradas pela Mídia laicista e secularizada e, ao invés, olhar como católicos a real intenção do Santo Padre, em prol da unidade, que é bem maior do que esta polêmica imbecilizada provocada por jornalistas ansiosos por um fato sensacional.
Sobre o caso de Dom Williamson, no dia 4 de Fevereiro a Secretaria de Estado do Vaticano publicou uma Nota sobre a Remissão das Excomunhões, que esclarece muito bem a questão:
Na seqüência das reações suscitadas pelo recente decreto da Congregação para os Bispos, que remite a excomunhão dos quatro Prelados da Fraternidade São Pio X, e em relação às declarações negacionistas ou reducionistas da Shoah por parte do Bispo Williamson da mesma Fraternidade, se considera oportuno esclarecer alguns aspectos do episódio. […] As posições de Mons. Williamson sobre a Shoah são absolutamente inaceitáveis e fortemente repudiadas pelo Santo Padre, como ele próprio afirmou em 28 janeiro passado, quando, referindo-se àquele brutal genocídio, reiterou a sua plena e indiscutível solidariedade com nossos irmãos destinatários da Primeira Aliança, e afirmou que a memória daquele terrível genocídio deve conduzir a humanidade a refletir sobre o imprevisível poder do mal quando conquista o coração do homem, acrescentando que a Shoah permanece para todos a advertência contra o esquecimento, contra o a negação ou o reducionismo, porque a violência feita contra um único ser humano é violência contra todos. O Bispo Williamson, para uma admissão à função episcopal na Igreja, deverá também manter de modo absolutamente inequívoco e público a distância de sua posição a respeito da Shoah, não conhecida pelo Santo Padre no momento da remissão da excomunhão.
E a respeito do medo de que o vaticano seja dominado por Ultra-radicais que em breve anularão o Concílio Vaticano II, como você bem salientou, é errôneo. E, diríamos mais, completamente infundado: os Bispos da FSSPX cujas excomunhões foram levantadas sequer possuem ainda uma Sé, quanto mais dominarem o Vaticano!
Deve-se salientar que o objetivo de Roma ao levantar estas excomunhões não é admitir as idéias contrárias ao Vaticano II propagadas pela Fraternidade, mas justamente abrir caminho ao diálogo como aconteceu com os Padres de Campos e com o Instituto Bom Pastor, bem como o Mosteiro de Barroux, o Instituo Cristo Rei, os Redentoristas Transalpinos… que visa a mostrar como o Concílio Vaticano II, entendido à luz da Tradição, segundo a hermenêutica da continuidade, é perfeitamente ortodoxo e católico. Roma não está abrindo mão de suas convicções em prol do Ecumenismo com a FSSPX: isto seria irenismo, condenado no nº 11 do Decreto sobre o Ecumenismo do Concílio Vaticano II. Ao contrário, a Santa Sé mantém em todo vigor suas convicções e procura mostrar a este grupo, por meio do diálogo, como elas são acertadas e corretas.
A propósito, esclarece a mesma Nota da Secretaria de Estado:
Para um futuro reconhecimento da Fraternidade São Pio X é condição indispensável o pleno reconhecimento do Concílio Vaticano II e do Magistério dos Papas João XXIII, Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II e do próprio Bento XVI. Tal como já foi afirmado no Decreto de 21 de Janeiro de 2009, a Santa Sé não deixará, no modo julgado oportuno, de aprofundar com os interessados as questões ainda abertas, para que possamos alcançar uma plena e satisfatória solução dos problemas que deram origem a esta dolorosa fratura.
E o próprio Santo Padre já esclarecera isso em Audiência Geral[1]. Não há, portanto, o que temer com respeito ao Vaticano II: a Igreja não abrirá mão deste Concílio Ecumênico legitimamente convocado, presidido, encerrado e aprovado pelo Santo Padre em sua autoridade, e cujos ensinamentos estão em perfeita concordância com a perene Doutrina Católica.
Diante disto tudo, não considero nem eu nem ninguém neste Apostolado que a decisão do papa tenha sido temerária: ao contrário, foi a mais acertada, a mais fiel a seu múnus de Pastor e guardião da unidade católica, e também a mais inspirada naquele desejo de unidade e de sadio diálogo prodigalizado pelo Concílio Vaticano II.
O Papa Bento XVI agiu da forma mais correta que julgou dever agir e, observando os fatos, chegamos também nós a esta conclusão.
Não cabe a nós, meros fiéis, julgar o Santo Padre.
Devemos, antes de tudo, fazer o que a mesma Nota da Secretaria de Estado nos pede:
O Santo Padre pede o acompanhamento das orações de todos os fiéis a fim de que o Senhor ilumine o caminho da Igreja. Cresça o empenho dos Pastores e de todos os fiéis no sustento da delicada e difícil tarefa do Sucessor do Apóstolo Pedro como o guardião da unidade na Igreja.
Rezar pelo Santo Padre, tê-lo sempre em nossas orações, apóia-lo contra estas polêmicas inúteis fomentadas por seus inimigos ferrenhos ateus, esquerdistas e hereges modernistas e olhar o momento com os olhos da Fé: o Papa é o guardião da unidade, Cristo assim o instituiu; e como guardião desta unidade, deve pensar antes neste grandioso dom da Igreja do que em polêmicas midiáticas e sensacionalistas.
Espero ter explicado satisfatoriamente a minha opinião, também compartilhada pelos meus irmãos de Apostolado.
Meu mais cordial abraço!
Atenciosamente,
Taiguara Fernandes de Sousa.
[1] Cf. RAVAZZANO, Pedro. A FSSPX E BENTO XVI: DIÁLOGO PELO TRIUNFO DO VATICANO II, in: https://www.veritatis.com.br/article/5593/a-fsspx-e-bento-xvi-dialogo-pelo-triunfo-do-vaticano-ii
Cf. SOUSA, T.F. “QUEM CONTA UM CONTO, AUMENTA O PONTO…” – TAMBÉM COM O LEVANTAMENTO DAS EXCOMUNHÕES, in: https://www.veritatis.com.br/article/5594/quem-conta-um-conto-aumenta-o-ponto-tambem-com-o-levantamento-das-excomunhoes