O aborto, os aplausos da mídia e o corajoso d. José

O caso do assassinato de duas crianças em Pernambuco tem gerado discussões por todo o país. D. José Sobrinho OCarm, com grande sensibilidade e fiel ao seu episcopado, levantou a voz em defesa da vida, da vida em abundância. Se o fato ocorresse em outras dioceses não poucos seriam os Bispos que iriam se calar e assistir de camarote a cerimônia de imolação dos bebês unicamente por não terem a coragem de clamar ao mundo a necessidade de respeitar e reverenciar o bem mais valioso que o Senhor nos deu; a vida!

As reações ao acontecido foram diversas, mas assumo, com um certo humor, que tenho ficado perplexo com o levante midiático contra as excomunhões. Pois bem, a mídia sabe o que é a pena de excomunhão? Muito provavelmente não. É uma pena espiritual que priva o indivíduo (católico, de no mínimo 16 anos de idade) de participar da comunhão da Igreja (visível), ele se encontra fora por conta de atos definidos no Direito Canônico com tal rigor – o aborto causa excomunhão automática, ou seja, o Arcebispo de Recife apenas ratificou a pena que já havia incorrido, de maneira mais clara; a mãe e os médicos se excomungaram quando realizaram e defenderam o aborto. (A mulher submetida ao aborto não raramente não incorrerá na excomunhão por encontrar-se dentro de circunstâncias atenuantes do cân. 1324 § 1, 3 e 5. O irônico de tudo isso é que a mídia que alarda a excomunhão é a mesma que critica a Igreja, adota um discurso anti-clerical, alfineta o Papa, enfim, em nada se aproxima dos princípios católicos, em nada! Agora vejamos, o que essa mesma mídia, que influencia todo o povo, quer reclamando da pena de excomunhão? Quem ouve e presencia tanto protesto até acredita que os meios de comunicação se sensibilizam enormemente com o fato de a mãe e os médicos estarem privados dos Sacramentos. Quanta solidariedade cristã?! Que nada, esse escândalo histérico é mais uma forma, dentre várias, de fazer oposição à Igreja e medir forças com o Clero, no caso em questão com o valoroso D. José.

O relativismo atual não é tão relativo como pretende. Pululam aqueles discursos açucarados de amor e fraternidade, entretanto, por sua vez, quando surge uma argumentação que busca a fidelidade ao crido e a honestidade com o que se crê aí o relativismo e sua máquina se levantam. Tudo é relativo, tudo é verdadeiro e aceitável menos, é claro, uma postura que se fundamenta verdadeiramente na Verdade e procura honrá-La e segui-La com sinceridade. Em suma, D. José ao erguer sua voz contra esse assassinato, sendo fiel aos ensinamentos de Cristo, fazendo valer as normas e códigos estabelecidos pela Igreja – pensada e construída por Nosso Senhor – faz uma afronta ao princípio de mentira e confusão tão incentivado pelos relativistas de plantão. Por isso a postura excessivamente..fundamentalista da mídia, logo ela que pinta de cor de rosa o mundo e incentiva o comportamento letárgico e frouxo nos homens e mulheres desse pais.

Indo ao caso em si. A Igreja é contra o aborto induzido, o assassinato, não o aborto natural, ou seja, quando é reflexo da casualidade, de fatores que não foram artificialmente criados pelos homens para que a criança fosse assassinada. A teologia moral católica ainda nos ensina sobre a “ação de duplo efeito”; quando uma ação boa pode gerar efeitos bons, indiferentes e maus. Esse princípio parte de alguns raciocínios; a ação visada deve ser boa em si e o efeito pretendido deve ser, obviamente, o bom, mesmo que o mau esteja entre as conseqüências naturais da ação. No caso da garotinha de Pernambuco muito provavelmente os (éticos) médicos teriam que fazer uma intervenção cirúrgica no útero para que ela pudesse comportar a gestação de duas crianças. Ou seja, se trataria de uma operação com um claro objetivo: fazer com que a menina tivesse capacidade física de manter seus filhos para que eles nascessem com saúde, entretanto, se tratando de uma cirurgia de alto risco, o perigo do aborto sempre seria iminente. Se com essa operação, por acaso, os bebês fossem (naturalmente) abortados, não haveria choro e ranger de dentes.

O mundo já presenciou casos de gravidez onde a medicina foi de crucial importância para o nascimento dos filhos. No Peru houve Lina Medina, mãe com apenas cinco anos em 1939! Nos Estados Unidos todo mundo acompanhou a orgulhosa matriarca que teve oito filhos. Outra peruana, com nove anos de idade, deu à luz a uma criança prematura que após o parto foi imediatamente tratada pelos médicos. Aqui mesmo no Brasil uma garotinha da mesma idade pariu no meio da Amazônia. Ou seja, a medicina tem plena capacidade e tecnologia para acompanhar uma criança grávida de gêmeos e fazer com que tenha seus filhos com saúde e sem risco imediato de vida. A família, que era contra o aborto – o pai continuou sendo -, mudou de opinião depois de ser influenciada por ONGs abortistas que convenceram a mãe a autorizar o aborto da criança. Tudo isso pode ser confirmado no relato do Pe. Edson Rodrigues, pároco de Alagoinha, que acompanhou o Conselho Tutelar no desenrolar da história. [http://acarajeconservador.blogspot.com/2009/03/gravida-de-gemeos-em-alagoinha-o-lado.html]

Que alguém que não considera a existência da vida desde a fecundação defenda o aborto no caso em questão não é de assustar, mas pessoas que dizem que acreditam que no encontro do espermatozóide com o óvulo há a partida do sentido existencial do ser humano, que o zigoto, depois o embrião, depois o feto, não são um mero zigoro, um mero embrião, um mero feto, mas um ser humano, uma pessoa humana, com todo o direito de ter a sua vida respeitada e reverenciada como qualquer indivíduo, enfim, que essas pessoas afirmem que o aborto foi necessário e oportuno, isso é de estarrecer. Como alguém que diz defender a “vida em abundância” pode concordar com o assassinato de um ser humano indefeso que vive em perfeita inocência, longe dessa corrupção dos homens? É impossível! Qualquer um que acredita piamente na existência da vida desde a fecundação, ou seja, que não enxerga no zigoto, no embrião, no feto apenas uma massa deformada, ou bolo de células, mas um bebê em formação, jamais concordaria em matá-lo pelos crimes da sociedade. Quem assim se comporta não entende que no ventre daquela menina pulsava um coração de um ser humano, tão vivo e cheio de esperanças quanto nós. Os ditos anti-abortistas que defenderam esse assassinato são mais repulsivos que aqueles que, ao menos de forma escancarada, levantam a bandeira da morte. Quiseram matar as crianças, as abortistas influenciaram e os coitados aplaudiram e defenderam. Alguém que ratifica esse assassinato não tem envergadura moral para se auto-intitular cristão, nem tampouco ser humano racional!

Os abortistas, na verdade, não estão lá muito incomodados com a viabilidade da gestação. Para eles qualquer gravidez, seja ela de risco ou não, deve ser interrompida, por meio do assassinato, se assim quiser a “mãe”. Esse argumento de que não havia condição física para que a garota pudesse ter seus filhos com saúde, foi apenas o subterfúgio que as defensoras da morte usaram para validar, perante a grande sociedade, o aborto. Afinal, como percebemos com clareza, o povo brasileiro é majoritariamente contra o infanticídio, o aborto. As abortistas tinham plena consciência que o caso em questão, ou seja, uma menina de nove anos estuprada pelo padrasto, dividiria opiniões e colocaria em discussão a legalização do aborto. Mesmo sendo filhos frutos de um ato bárbaro repulsivo entra a questão; o que duas crianças – afinal o que para eles não passa de um zigoto, um embrião, um feto ou um bolo de células sem vida, para nós é um ser humano indefeso tal como uma criança – têm a ver com os problemas dos homens? Então os bebês pagariam a pena do estuprador e da mãe da menina que alimentou um pervertido na sua casa? Obviamente não!

Outro argumento utilizado é que a garotinha ficaria extremamente desgastada psicologicamente, o que é óbvio. Mas como exterminar com a vida de duas crianças unicamente por conta de transtornos futuros? Quer dizer que os problemas existenciais da menina são mais valiosos que a vida de dois seres humanos? Isso é a total perversão da moralidade humana, uma subvalorização do direito mais sublime, o direito da vida. Ela iria sofrer, teria problemas de auto-aceitação, mas ao menos sua angústia não estaria sustentada sobre uma poça de sangue. A menina sofreu dois abusos: o do estuprador e dos que, aproveitando-se de sua baixa idade e de sua fragilidade emocional, a obrigaram sordidamente a consentir no crime do aborto. Com o passar dos anos, quando ela atingir a maioridade, trará em sua consciência o peso da culpa de ter consentido em matar os próprios filhos, mesmo que tenha se arrependido e recebido o perdão de Deus por intermédio do sacramento da reconciliação.

As duas crianças foram mortas, isso é de chorar. O pior é saber que a mídia não só abraçou a causa das abortistas – que foram determinantes na decisão da mãe em permitir o aborto – como transformou o corajoso D. José no bode expiatório da causa. Querem induzir o povo a pensar que a atitude da Igreja foi retrógrada e ultrapassada para que assim, por meio de ataques frontais à moralidade cristã, o aborto entre em pauta e, desse modo, o povo brasileiro possa não só concordar com casos pontuais, mas ratificar todo e qualquer assassinato de crianças. A mídia e o governo – é sempre bom lembrar que o PT definiu o aborto como bandeira partidária, ou seja, todos os políticos da sua legenda são obrigados a concordar com o projeto de legalização, daí o processo de expulsão de Dep. Bassuma e Dep. Henrique Afonso. Ademais, frisando, as ONGs abortistas-feministas recebem amplo apoio do governo e, boa parte, é formada por militantes petistas – querem que o povo aprenda a ser povo, e o que é ser povo para eles? Simples, eles sonham com um país onde reina a “liberdade social” (aborto, drogas, união homossexual, eutanásia, tudo livre), mas que na verdade não passa de um sinônimo para o caos e destruição da família!

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