E-Mail nº 1
– Bom dia Professor Carlos! O que podemos dizer sobre o apóstolo São João? Ele morreu de fato ou “dormiu” conforme informa Eusébio de Cesareia? E o que dizer de seus restos mortais, que ao que parece, jamais foram encontrados, mesmo por Constantino que quis erguer uma Igreja para esse santo? (E.)
A Tradição é unânime em afirmar que S. João morreu em idade bem avançada, com cerca de 100 anos.
O próprio Eusébio de Cesareia atesta explicitamente que João morreu e foi sepultado em Éfeso, dando como referência documental a Carta de Polícrates (8º bispo de Éfeso) ao Papa Vítor de Roma, o qual informa que o corpo dele encontrava-se sepultado lá, em Éfeso:
– “João, que descansou no seio de nosso Senhor, sacerdote que usou a veste sacerdotal de nosso Senhor, também ele mártir e mestre, repousa em Éfeso” (História Eclesiástica, livro 3, capítulo 31).
O fato de Polícrates empregar o verbo “repousar” no presente demonstra que o corpo de João de fato ainda encontrava-se em Éfeso no seu tempo.
Por outro lado, vasculhando rapidamente a “História Eclesiástica” de Eusébio, não encontrei nenhuma referência a essa “dormição” de João. Você poderia me apontar o livro e o capítulo? []s,
E-Mail nº 2
– Carlos, paz e bem! A única referência é a própria Bíblia que diz, se não me engano no fim do Evangelho de São João, algo do tipo: “que importa se Eu quiser que ele viva até Eu voltar”? (Diálogo de São Pedro com Cristo numa praia). No Wikipédia um protestante usou isso pra dizer que São João foi assumpto de corpo e alma; mas como é uma interpretação protestante é, naturalmente, duvidosa.
Certo! Pra variar, mais uma pérola do livre-exame protestante, eheheh…
Bom. A passagem bíblica “controvertida” encontra-se em João 21,18-22: Jesus indica a S. Pedro que espécie de morte este enfrentaria (seria martirizado, crucificado como o próprio Senhor – o que realmente ocorreu cerca de 30 anos depois, em Roma, sob o imperador Nero). Pedro, então, fica curioso e pergunta a Jesus que espécie de morte sofreria João, o “discípulo amado”, que estava ali próximo a eles.
Porém, Jesus não responde diretamente à curiosidade humana de Pedro (assim como também não revelara anteriormente quando se daria o fim dos tempos); apenas diz: “Se Eu quero que ele permaneça até que Eu venha, o que isto te importa?”.
Com essa resposta, intencionalmente vaga, Jesus estava reservando somente para Si a decisão acerca do fim terreno de João (ou de quem quer que seja, fim este a que todos devem se conformar) e ensinando mais uma vez que o que verdadeiramente importa é sempre segui-Lo, sem que haja qualquer preocupação com o futuro ou com o que se sucederá aos outros. Faz, assim, um eco a Lucas 9,59-62:
– “A outro, Jesus disse: ‘Segue-me’. Mas ele pediu: ‘Senhor, permite-me ir primeiro enterrar meu pai’. Mas Jesus disse-lhe: ‘Deixa que os mortos enterrem seus mortos; tu, porém, vai e anuncia o Reino de Deus’. Um outro ainda lhe falou: ‘Senhor, seguir-te-ei, mas permite primeiro que eu me despeça dos que estão em casa’. Mas Jesus disse-lhe: ‘Quem põe a mão no arado e olha para trás não é apto para o Reino de Deus'”.
Pedro pode, portanto, dedicar-se à sua missão de Pastor Universal do rebanho de Cristo sem se preocupar com o que não lhe foi explicado.
Apesar disso, note-se que o próprio evangelista S. João afirma: “Jesus, porém, não disse que ele (=João) não morreria, mas apenas: ‘Se Eu quero que ele permaneça até que eu venha, o que isto te importa?'”, de modo que ele próprio tem para si que realmente irá morrer (o que, de fato, também ocorreu, como é constatado por unânime Tradição e confirmado documentalmente pela carta do bispo Polícrates, seu 8º sucessor na sé de Éfeso, transcrita por Eusébio de Cesareia).
Por outro lado, considerando todos os dados acima, podemos constatar que Jesus chegou de alguma forma a responder a curiosidade de Pedro, só que de uma maneira indireta, tendo então predito que João atingiria uma idade bem avançada (o que, de fato, também aconteceu, visto que João, ao escrever o seu Evangelho, as suas Cartas e o seu Apocalipse já era mesmo quase centenário).
Não seria, pois, de se estranhar que corressem boatos entre os cristãos do século I afirmando que o Apóstolo João não morreria – como, aliás, ele mesmo fez questão de observar (cf. Jo. 21,23a) -, até porque ele já ultrapassara em muito a média da expectativa de vida daquele tempo (cerca de 60 anos) e saíra ileso de diversas punições infringidas pelas autoridades públicas que perseguiam os cristãos (como aponta Eusébio de Cesareia e outros historiadores eclesiásticos do Período Patrístico).
E-Mail nº 3
– Obrigado pela resposta, Carlos. Os protestantes deveriam ler mais a Tradição antes de sair com os seus livres exames. Aliás, a Tradição ajuda muito na compreensão dos textos bíblicos, o que evitaria essa verdadeira Babel Teológica que é o Protestantismo. In Caritas Christi!
Amém! 🙂
[]s,Fique com Deus!