Pelo o que sabemos, o Apóstolo Tomé nunca escreveu um Evangelho. O escrito a que você se refere é espúrio e foi composto por um membro de uma seita gnóstica, provavelmente no final do século II, o que explica a razão de não constar na Bíblia. Ele foi descoberto, juntamente com vários outros escritos, em 1946, próximo do vilarejo de Nag Hammadi, no Egito. Sua versão nos chegou em copta, mas parece que por detrás dele existiu um original grego.
O assim chamado "Evangelho de Tomé" não é realmente um Evangelho, mas uma coleção de 114 sentenças (ou "logia") atribuídas a Jesus. Cerca de 1/4 dessas sentenças são as mesmas que encontramos nos Evangelhos canônicos. Do restante, algumas são bem semelhantes àquelas existentes nos nossos Evangelhos, mas adaptadas para fins gnósticos. Outras sentenças são totalmente gnósticas na origem e na forma.
Embora o Evangelho de Tomé afirme ter sido escrito por esse Apóstolo, não há nada que ofereça suporte a essa afirmação e existe um grande consenso [científico] contrário a isso. Para mencionar apenas um exemplo (e este exemplo se aplica aos escritos gnósticos em geral), o meio está totalmente errado. As peculiares expressões atribuídas a Jesus no Evangelho de Tomé estão, em sua grande maioria, anos-luz de distância daquilo que um rabi judeu poderia ter ensinado na Palestina do ano 30 d.C. Basta contrastar essas expressões com as palavras de Jesus encontradas nos Evangelhos canônicos, estas sim com um sabor bem judaico.
Por esta única razão, somos obrigados a concluir que o Evangelho de Tomé não se compara com os Evangelhos canônicos quando pretende dizer aquilo que Jesus realmente falou.