O Brasil é conservador

O dado mais importante dentre os divulgados pelo IBGE acerca do Censo de 2010 está nas entrelinhas: é o conservadorismo do povo brasileiro. Além das estatísticas evidentes, como a que mostra que os ateus são um porcentual minúsculo da população – um passageiro em cada sete ônibus lotados é estatisticamente ateu –, a própria variação intrarreligiosa mostra o crescimento das denominações mais conservadoras.

A Igreja Católica, ainda às voltas com a crise que a fez perder a identidade social de 1970 para cá, perde fiéis para as denominações protestantes mais conservadoras, como as “assembleias de Deus”. As novas religiões orientais – em geral formas exóticas de “religiosidade” desestruturada, na leitura feita por seus membros – não chegam a um quarto do número de ateus.

Sendo o Brasil um país de cultura católica, no entanto, vale mostrar que aqui se é “assembleiano” ou “seicho-no-iê” de forma muito mais católica que a dos países de origem destas religiões. O protestante brasileiro é mais católico, na sua forma de ver o mundo, que o católico americano; seu protestantismo é, geralmente, uma expressão de temperamento pessoal que encontraria facilmente lugar na Igreja Católica, se ela não estivesse ainda predominantemente nas mãos do misto de hippies velhos e revolucionários comunistas que se apoderou de sua hierarquia há 40 anos. Ao mesmo tempo, a cultura de massa, dominada por uma minoria ínfima de ateus e vagos “espiritualizados”, trata a massa de conservadores como ignorantes a “educar”. Na política, esta ínfima minoria também domina a prática legisladora (parlamentar e, agora, judicial).

Esta maioria esmagadora de conservadores, contudo, está se elevando socialmente com a criação de uma nova classe média. A classe média tradicional, cujos filhos abandonaram os valores da sociedade ocidental e compõem quase exclusivamente a minoria ateia, encontra-se assediada por conservadores, oriundos das classes mais baixas.

Dentre os muitos universitários cujos pais não cursaram ensino superior – os recém-chegados à classe média –, a maioria é religiosa e conservadora. A nova classe média abraçaria feliz o udenismo abandonado pela classe média tradicional, ou mesmo alguma forma ainda mais forte de conservadorismo. Enquanto isso, a mídia e a política continuam com as portas fechadas para o pensamento conservador; enquanto isso, a revolução que não se conseguiu fazer pelas armas é feita por decisões judiciais e votações secretas.

A elite perdeu o bonde, e é um bonde conservador.

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