Esta é a pergunta fundamental a ser feita a protestantes e católicos deste país.
Nós vemos dia a dia o surgimento de novos “sabores” de cristianismo, todos garantindo representar o verdadeiro seguimento a Cristo.
De tudo quanto propõem, discordantes entre si, percebe-se que o singular ponto em que são unânimes refere-se aos valores católicos, que devem ser excluídos, desprezados e até mesmo combatidos.
Mas será isto representa um real ganho para a sociedade brasileira? Será que a gradual subtração da presença católica fará bem para nós e para nossos filhos?
Faz-se necessário a você que lê estas linhas a reflexão profunda pois as mudanças por que passa o país irão afetar sua vida e a de seus familiares. São mudanças que apesar de ocorrerem no âmbito religioso, não se restringem a ele, mas influenciam uma ampla gama das relações sociais.
Mas, vejamos, a queda da influência católica na sociedade implica necessariamente na queda geral dos valores éticos e morais. Sim, pois a sociedade ocidental está assentada sobre os milenares valores cristãos, e estes, não obstante haja outras instituições que os haja assimilado e promovido, foram semeados e cultivados pela Igreja em primeiro lugar. Uma queda no catolicismo representa, portanto, uma queda geral nos valores éticos e morais originais.
Que valores poderíamos citar e que conseqüência prática se pode atribuir de imediato à queda? Um deles é de suma importância para você, leitor. Trata-se da queda da representatividade do povo pobre perante os interesses dominantes.
A Igreja Católica possui posição bem definida e pública que se resume na declarada opção pelos pobres. Você deveria questionar quais instituições de que faz parte professam esta disposição. E verificar se tal disposição não fica somente no discurso, mas, materializa-se em obras como na Igreja Católica.
O enfraquecimento da voz católica vai sem dúvida refletir na menor defesa da população pobre, e isto é fator que afeta a todos. Mais cedo ou mais tarde, de um modo ou de outro.
Outro valor muitas vezes desprezado, e até ridicularizado, é o sacramento do matrimônio. Valor inestimável da sociedade brasileira, católico e indissolúvel, está sendo substituído por relações instáveis. O que era tido como indissolúvel passa a ser temporário. A máxima hodierna de que o indivíduo “tem direito de ser feliz“, e isto significa em miúdos abandonar uma relação por outra mais conveniente, dita a agora a duração do casamento. Na verdade deixa como fruto uma sociedade de filhos sem pais. Famílias mancas, com filhos carentes de uma formação psicológica completa em seus dois referenciais, pai e mãe.
É perfeitamente notável nas crianças de pais separados as dificuldades de relacionamento. O desequilíbrio, ou melhor, a falta do equilíbrio familiar dentro da ordem natural – que é a família completa – vai sem dúvida repercutir no comportamento desta criança quando exercer, no futuro, sua cidadania. Assim, se numa personalidade bem formada são difíceis de se instalar os vícios, as violências, as más inclinações, também verdade o oposto para as mal formadas. E isto definirá em grande tanto o futuro cidadão.
Ora, é mais do que lógico prever que o desequilíbrio psicológico individual irá gerar o desequilíbrio psicológico coletivo segundo sua maior ou menor representatividade. Quando uma família se via privada de um dos cônjuges por viuvez, estes males poderiam manifestar-se igualmente, mas tratava-se de exceção. Hoje as separações surgem com pretensões de regra. Não é à toa que vemos cada vez mais crimes horríveis acontecerem de filhos contra pais. E também dos atuais pais, por sua vez filhos da desunião, contra sua prole. Não lhes disseram que o casamento é uma decisão para a vida. Na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza. Até que a morte os separe. E se lhes disseram foi tomado apenas como parte das formalidades antes da festa. Não existe amor sem compromisso.
De novo as conseqüências assomam-se à nossa porta.
Há também algo sutil, mas, com desdobramentos nefastos. É o caso da substituição dos modelos de santidade. Outro valor católico muito importante para a formação de uma sociedade harmônica que se vê em vias de abandono. Antes se tinham como referências amplamente aceitas os exemplos dos santos. São Francisco e a caridade, São Basílio e os hospitais, Santa Terezinha e a pureza, e assim por diante. Há tantos santos na Igreja Católica quanto bons valores que se deseje referenciar.
Mas hoje, no Brasil menos católico, quem são as referências? É interessante atinar que os Estados Unidos – país protestante – nos presentearam com o conceito de ídolo musical. Assim, gerações de jovens não olham mais para o altruísmo de São Luiz Gonzaga, mas para as extravagâncias dos seus ídolo do rock.
A opinião prudente da Igreja agora é descartada pela mais apimentada proclamada nos talking shows e reality shows. E seus apresentadores honrados com a idolatria da audiência. Leitor, já parou para analisar criticamente a conduta pessoal dos seus apresentadores. Quais valores lhe propõem? Pense nesta sociedade abalizada pelos atuais modelos de referência, pessoas cuja preocupação comum resume-se em uma única e pequena palavra: “EU“. Será que poderemos esperar para o futuro, na sociedade menos católica, uma sociedade mais altruísta, mais caridosa?…
Podemos ainda contemplar o diluir da orientação religiosa no país, fragmentada nas incontáveis dissensões, sobretudo entre protestantes. É a queda da autoridade. Um valor histórico, não só no Brasil, mas no mundo, é a figura do Bispo. Baliza segura com o múnus de pastorear, ensinar e santificar o povo de Deus. Pessoa autorizada pelo poder bi milenar da Igreja através da imposição das mãos que vem dos apóstolos, hoje é trocada por qualquer um que auto intitule-se bispo, ou pastor. Não obstante existam instituições que formem pastores de maneira idônea, a nenhum pode-se atribuir equivalência ao Bispo legitimamente ordenado. Nenhum tem lastro histórico para isto. E tratando-se de algo importante como a Sucessão Apostólica há que questionar-se o lastro teológico. Esta é mais uma questão que fica para você, leitor.
Na Idade Média costumava-se dizer “é bom viver à sombra do báculo“. Será que a miríade de líderes religiosos de hoje possui a envergadura moral e histórica para realmente se por em defesa dos mais fracos?… Ou mesmo a disposição para isto?…
A Igreja Católica é também a grande muralha histórica de defesa contra o paganismo. Creio que é patente que a civilização ocidental como a conhecemos se deu pela disseminação do cristianismo, substituindo as crenças pagãs. Neste terreno fértil, livre das superstições e das múltiplas divindades do paganismo, floresceram as artes, as técnicas e as ciências. Pois bem, hoje há um refluxo em que a cultura pagã insere-se em nossa sociedade tentando empurrar de volta o cristianismo. Daí se vê, por exemplo, a proliferação do uso de tatuagens. Daí também se ouve com freqüência locutores esportivos referirem-se a jogadores como deuses e deusas daquela modalidade. Isto é puro paganismo. Neste ponto, sejamos francos, a índole protestante é bastante permeável. Vide a sociedade americana repleta de ídolos de cinema, televisão, etc.
Poderíamos ainda enumerar muitos outros aspectos e resultados deste fenômeno atual. Basta olhar em volta, sobretudo em Estados de maior influência evangélica (protestante) como o Rio de Janeiro. O afastamento da fé católica – que para muitos pastores e crentes significa perdição – tornou aquele Estado mais pacífico, ou mais violento? Mais saudável, ou ao invés disto, mais doente?
Os valores católicos são gradualmente abolidos, daí temos a televisão mais suja e mal formadora do mundo. Deixa-se a Santa e santificadora Eucaristia no domingo de manhã para com maior disposição à tarde ater-se com as perversões dos programas televisivos.
Na televisão facilmente nota-se que há uma antipatia generalizada ao que é católico. Como se não fosse valor. Ao que é católico rapidamente se antepõe outras opiniões, pretensamente mais confiáveis e normalmente mais agradáveis ao ouvido. Com o brilho da mídia, emolduradas por vinhetas eletrônicas de alta qualidade. Proferidas por celebridades do momento. Fundamentadas por informações cujas fontes não raro são omitidas. Não serão anti-valores, que prestam-se mais ao serviço do mundo que ao da Verdade?
Resumindo, este artigo é um apelo ao senso crítico. Ao seu senso crítico. Se nos pronunciamos cristãos é mais do que natural que tenhamos fé na afirmação dos Evangelhos “a Verdade vos libertará“, e ainda nesta outra “pelo fruto que se conhece a árvore“. Assim, com a faculdade que Deus nos deu para tudo pesarmos, façamos uma crítica profunda a todo este ruído que ecoa nos meios de comunicação e nas ruas.
Aos católicos fica o convite para reavivar a chama do amor antigo. Trazer de volta toda a riqueza vivida pela Igreja na liturgia para a rotina da família. E sobretudo viver os sacramentos que são fontes de felicidade.
Aos protestantes fica o convite para analisar com mais acuidade tudo quanto se diz da Igreja e verificar, separando o joio do trigo, para saber o que é verdade e o que é mito. Em todo o caso dever-se-ia olhar a Igreja Católica com olhos mais gratos pois é dela que veio o fruto do qual se alimentam, a Bíblia.
Fica também o sempre reiterado convite para volta à comunhão fraterna.
Grato
Jorge Deichmann Miguel