O Cérebro é o Espírito (Veja, 26.10.2007)

A revista Veja, edição de 26/10/2007, pp. 98-99, propõe o seguinte título de reportagem: “O Cérebro é o Espírito”; e na sua folha de rosto “A Mente é o Espírito”. Os três substantivos são utilizados de maneira confusa ou mesmo contraditória.

O cérebro é um volume de massa cinzenta que integra o corpo humano, tendo peso dimensionável, tamanho maior ou menor.

Ao contrário, o espírito é um ser imaterial, que possui intelecto e vontade; está em contraste com o cérebro, que é material. No ser humano existem as duas realidades distintas uma da outra: o cérebro e a alma espiritual, que possui duas faculdades – a inteligência (ou intelecto) e a vontade.

A noção de espírito é difícil de ser compreendida, pois tudo o que conhecemos com os nossos sentidos externos é material; porém, existe no homem esse ser espiritual intelectivo que não é o cérebro:

Quem olha para a cavidade bucal de um homem e a de um macaco, é propenso a dizer: “se o homem fala, o macaco também fala”, pois organicamente este dispõe de tudo o que o homem possui para falar. Não obstante, o macaco não fala…

Isto só se pode explicar pelo fato de que no homem há algo mais do que no macaco; esse algo a mais é a sua alma espiritual.

Com efeito, o homem só pode falar porque é capaz de distinguir entre o som concreto e o conceito universal, imaterial; por exemplo, o conceito universal de genitor, para nós, está ligado à palavra “pai”, mas podemos distinguir do vocábulo “pai” o conceito universal, usando os termos “father”, “pater”, “‘ab”…

Em outras palavras: o que entendemos por “pai” é: “aquele que gera um(a) filho(a)”. Podemos então guardar o conceito assim formulado e deixar de lado a sonorização brasileira correspondente (=”pai”) para usar a sonorização concreta inglesa “father” ou a alemã “vater”.

Isto denota no homem a presença de uma alma espiritual ou imaterial; imaterial porque abstrai das realidades concretas materiais.

O “conceito universal” é o que abstrai de notas concretas e contingentes de diversos indivíduos e apreende o que há neles de essencial. Assim vemos uma criança, um ancião, uma mulher, um homem…; apesar de possuírem aparências bem diversas, o intelecto percebe que possuem a mesma essência: são viventes racionais ou têm a racionalidade como característica essencial. Quando vemos água doce, água salgada, água com gás, água mineral…, dizemos: o essencial não é nem o gás, nem o mineral, mas o H2O. A partir de muitas coisas belas com suas diversas configurações, formamos o conceito universal de “beleza”.

O universal só existe na mente humana; fora desta só temos coisas concretas, materiais. Se o agir é imaterial, também o sujeito desse agir é imaterial. Logo, o cérebro não é o espírito.

  • PARA SABER MAIS: Revista Pergunte e Responderemos nº 548, fev./2008, pp. 56-60.
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