O direito de não ter direito

Se a mesma notícia se referisse ao comportamento das tartarugas marinhas certamente teria impactado muito mais a opinião pública. Mas como alude ao comportamento humano, e mais particularmente a um problema diretamente causado por uma das vedetes da revolução-cultural feminista (diga-se sem rodeios, o direito ao aborto) passou batida mesmo.

Trata-se da constatação aterradora feita pela organização britânica ActionAid de que na Índia o número de meninas caiu ao seu nível histórico. Graças à cultura seletiva e à política pró-aborto quase irrestrita indiana, a proporção de meninas em províncias como a de Punjab chegaram a incríveis 300 para cada mil meninos. Significa dizer que em algumas regiões 2/3 das meninas que deveriam existir simplesmente não estão lá. Escolas, pátios, ruas, e só se encontram meninos. Estima-se que na Índia em 20 anos cerca de 10 milhões de meninas foram voluntariamente abortadas.

Não é preciso grande esforço para concluir que as perspectivas para este país são desesperadoras. Qualquer sociedade em desequilíbrio de gênero segue mal das pernas e em vias de caos social. O raciocínio é simples: se há escassez de homens ou mulheres, famílias não se formam, crianças não nascem, a economia retrai e o colapso conseqüente segue com a eclosão do sistema previdenciário. Muitos vivem, poucos trabalham, ninguém para pagar as contas.

O que é mais curioso nesta tragédia humanitária toda é notar como o direito ao aborto, que na ideologia feminista existe para defender os direitos da mulher, está ele mesmo a dizimar os direitos da mulher. No afã de um igualitarismo irrestrito e de direitos femininos ilimitados ao próprio corpo, vai-se conhecendo a maior discriminação prática à mulher que já se ouvir falar, àquela aonde não lhes foram concedidas nem o direito a própria existência.

Aonde estão as feministas, aonde estão os defensores apaixonados dos direitos da mulher? Silenciosos. À parte. Mas não lhes neguemos uma parcial coerência. Claro, porque uma vez que se quebrou o valor íntrinseco e objetivo do ser humano pelo simples fato de ter sido concebido, atrelou-o ao valor do relativo e do subjetivo. À luz desse novo código de ética pragmático aonde cada um tem direitos na medida da sua utilidade, quem poderá condenar uma pessoa ou uma sociedade que decide por fim a um gênero específico apenas porque no seu contexto é mais prático e rentável ter apenas um deles?

Na vida real a expressão “aborto como direito da mulher” tende assim a pura contradição, pois não pode, em absoluto, contemplar direito algum à mulher já gerada e prestes a nascer. Aliás, a esta só lhe resta a sorte e o ocaso. A prova? Grita silenciosamente através dessas milhares de mulheres indianas que deixaram de existir pelo simples fato de não serem convenientes.

É hora de entendermos, como dizia Aristóteles, que “o menor desvio inicial na verdade multiplica-se ao infinito à medida que avança“; ou contemos agora o avanço da mentira do aborto como direito da mulher, ou será a vida humana corrompida em morte multiplicando-se sem fim e sem volta para todos nós e para o nosso futuro.

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