DEFINIÇÃO
Dízimo: O povo de Israel tinha que destinar ao culto e à manutenção dos sacerdotes e levitas a décima parte de certos frutos e animais (Deuteronômio 14,22; Levítico 27,32). Era um verdadeiro imposto religioso que deveria ser dado uma vez por ano (Deuteronômio 14,22). Os fariseus levaram esta prática do dízimo religioso ao exagero mais ridículo, dando a décima parte das coisas mais diminutas e de valor insignificante, tais como a menta, o endro e o cominho, esquecendo-se, porém, da humildade, da justiça, da misericórdia, da fé e do amor, o que era um grave equívoco (Mateus 23,23; Lucas 11,42; 18,12).
Abramos as Sagradas Escrituras para examinar detidamente tudo o que se relaciona ao dízimo, se os cristãos devem praticá-lo (e, neste caso, como devem praticar), se realmente nos traz bênçãos ao dá-lo etc. Talvez nos assombremos com muitos detalhes que desconhecíamos, mas a Palavra de Deus nos ensinará.
O DÍZIMO NAS SAGRADAS ESCRITURAS
O dízimo não é uma lei destinada à Igreja, mas ao Povo de Israel, pois pertence à Lei, sendo que a Igreja se encontra sob a graça.
“Pois o pecado não terá domínio sobre vós, porque não estais debaixo da Lei, mas debaixo da graça” (Romanos 6,14; cfr. Romanos 3,19; 2Coríntios 3,2-11; Gálatas 3,19; Efésios 2,11-15; Atos 7,11-12).
O cristão não deve estar a serviço do mal (o pecado), mas a serviço do bem, “porque não estais debaixo da Lei, mas debaixo da graça”. Vemos muito claramente como se contrapõe – e o mesmo em outras passagens – a Lei e a graça. Porém há uma aplicação terrível: o que pertence à Lei é o mal, o pecado; o que pertence à graça é o bem.
Deus pediu que a tribo de Levi fosse sustentada com 10% dos frutos do Povo de Israel, para que os sacerdotes levitas se dedicassem em tempo integral ao serviço do tabernáculo; e isto deveriam fazer a partir dos 25 anos até completar os 50, quando então deviam se aposentar (Números 8,24-25).
Deus, para evitar a corrupção dentro do Povo de Israel, ordenou que o dízimo sempre fosse dado em produtos: trigo, vinho, azeite, animais etc., os quais eram guardados no “alfolí”, que era um lugar que havia no templo e que servia de alojamento para armazenar os produtos gerados pelo dízimo.
Já existia dinheiro desde os tempos de Abraão. Ele comprou, com dinheiro, o terreno para o sepulcro de sua esposa. Os operários recebiam “um denário” por dia trabalhado. Nos tempos de Moisés vemos Deus dizer-lhe: “O salário do operário não ficará em teu poder até o dia seguinte” (Levítico 19,13).
A maioria dos operários trabalhavam para os donos das terras; estes donos é que davam o dízimo. O estranho é: por que não se diz na Bíblia que esses operários deveriam entregar mensalmente 3 denários por mês (que corresponderia ao dízimo devido segundo o conceito atual)?
É falso imaginar que agora é possível dar o dízimo em dinheiro ao invés de alimentos pelo fato daquele não ser manejado como na atualidade, sendo então mais natural a entrega de alimentos. Porém, no Gênese, se emprega a palavra “dinheiro” cerca de 44 vezes antes de se mencionar a palavra “dízimo” pela primeira vez em Levítico 27. Por exemplo: com dinheiro se compravam pessoas para torná-las escravas (Gênese 17,12), pagavam-se taxas do santuário (Êxodo 30,12-13) e impostos do censo (Números 3,47) etc. Quando já não se tinha dinheiro, então recorria-se à troca (Gênese 47,15-17).
Não existe, em toda a Bíblia, nenhum decreto, nenhum mandamento, nem sequer um só exemplo de alguma igreja recolhendo o dízimo ou de algum cristão pagando-o.
Muitos líderes cristãos afirmam e dizem: “O dízimo é bíblico porque é apontado muitas vezes na Bíblia”. Isto é verdade, porém o que não dizem é que sempre é apontado para o Povo de Israel, nunca para a Igreja.
Levítico 27:
30. Todos os dízimos do campo, da semente do campo, do fruto das árvores, são do Senhor; são santos ao Senhor.
31. Se alguém do seu dízimo resgatar alguma coisa, acrescentará sobre ele a sua quinta parte.
32. No tocante a todos os dízimos de vacas e ovelhas, de tudo o que passar debaixo da vara do pastor, o dízimo será santo ao Senhor.
33. Não esquadrinhará entre o bom e o ruim, nem o substituirá. Se de algum modo o substituir, ambos serão santos, e não podem ser resgatados.
34. São estes os mandamentos que o Senhor deu a Moisés, no monte Sinai, para os filhos de Israel.
Repetimos: os dízimos bíblicos foram estabelecidos para o Povo de Israel, não para a Igreja de Jesus Cristo.
Atualmente foram incluídos nos cultos [protestantes] preceitos da Lei que trazem algum benefício material, como o dízimo e a festa das primícias. Os evangélicos pentecostais não tiveram interesse em incluir em suas igrejas a Festa de Pentecostes porque nem esta, nem nenhuma outra das seis festas restantes mencionadas em Levítico 23, lhes propiciaria algum benefício econômico. Se lhes é perguntado: “Por que vocês não guardam a Festa de Pentecostes, ou a dos Tabernáculos, ou a Festa das Trombetas?”, não duvidariam em responder: “Porque estas festas eram para o Povo de Israel”. E quanto ao dízimo, então? A Festa das Primícias, como as outras seis festas do calendário judaico, são celebradas também apenas uma vez ao ano.
Alguns líderes tiram as passagens do contexto para infundir medo aos seus seguidores se não derem o dízimo. Por exemplo: “Vós tendes me roubado vossos dízimos” (Malaquias 3,8). Porém, omitem o restante da passagem. Analisemos o que diz esta passagem (leia, porém, todo o capítulo 3 de Malaquias):
Malaquias 3:
3. (…) aos filhos de Levi:
4. E as ofertas de Judá e de Jerusalém serão aceitáveis ao Senhor (…)
6. Eu, o Senhor, não mudo. Por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos.
7. Desde os dias de vossos pais vos desviastes dos meus estatutos, e não os guardastes. Tornai-vos para mim, e eu tornarei para vós, diz o Senhor dos Exércitos. Mas vós dizeis: em que havemos de tornar?
8. Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas alçadas.
9. Com maldição sois amaldiçoados, porque me roubais, vós, a nação toda.
10. Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim, diz o Senhor dos Exércitos; se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança.
11. Repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra; a vossa vide no campo não será estéril, diz o Senhor dos Exércitos.
12. Então todas as nações vos chamarão bem-aventurados, porque vós sereis uma terra deleitosa, diz o Senhor dos Exércitos.
13. As vossas palavras foram agressivas para mim, diz o Senhor. Mas vós dizeis: Que temos falado contra ti?
14. Vós dizeis: Inútil é servir a Deus. O que nos aproveitou termos cuidado em guardar os seus preceitos, e em andar de luto diante do Senhor dos Exércitos?
Os israelitas estavam sob a Lei de Moisés, da qual se tinha a regra de ouro: “fazer algo para receber algo em troca”. A Igreja, porém, não está sob a Lei Mosaica, de modo que este “fazer algo para receber algo” não se aplica; ao contrário, só ofende a Deus.
No v. 6, Deus diz: “Eu, o Senhor, não mudo” e, portanto, muitos dizem que se Javé não muda, sua palavra também permanece para sempre e o que é dito aqui continua vigorando e é de aplicação universal. Porém, é claro que Deus não muda; Ele sempre cumpre a sua parte no trato, sua parte no pacto. Ao contrário, os israelitas sempre infringiram o trato, esse pacto que Deus sempre teve que renovar por causa deles. Nós sim mudamos, porque Ele nos muda quando nos convertemos e nos torna novas criaturas em Cristo; por isso, diz: “Eis que torno novas todas as coisas”. Ademais, o v. 12 diz: “todas as nações vos chamarão bem-aventurados, porque vós sereis uma terra deleitosa” e a Igreja será perseguida e aborrecida neste mundo, nunca será uma terra deleitosa. Esta promessa e a obrigatoriedade do dízimo unicamente concerne ao Povo de Israel, de modo que não é universalmente obrigatório como muitos querem nos convencer.
No v. 7, os israelitas perguntam: “Em que havemos de tornar?”, já que querem saber o que é que não estão cumprindo. E Deus responde que estão lhe roubando (v. 9), porque eles não estavam entregando o dízimo como deveriam, mas que o estavam retendo para eles, o que poderia ocasionar a não sustentação dos levitas. Ou seja: estavam se descuidando daqueles que Deus havia designado para trabalhar por seu povo, o que era contrário ao que Ele havia ordenado. Neste v. 8 muitos dizem que Deus fala dos “homens” para dizer que por isso se aplica a nós e não somente aos judeus; porém, cumpre esclarecer que o v. 6 diz que se dirige exclusivamente aos “filhos de Jacó”, isto é, são a estes homens filhos de Jacó (Povo de Israel) a quem Deus se dirige. Não podemos, nem devemos distorcer as Escrituras.
No v. 10, Deus promete dar “bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança” ao Povo de Israel se, primeiramente, cumprirem a Lei: “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim, diz o Senhor dos Exércitos; se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança”. Os israelitas estavam sob a Lei e deviam cumpri-la para que Deus os abençoasse; assim, os desafia a cumprir a Lei, para que Ele possa provar a sua fidelidade, sua parte do trato. Os judeus a quem se dirigia o profeta não confiavam em Deus; por isso, o Senhor os desafia a que o “provem”. Portanto, esta passagem não possui valor para o cristão, já que estamos sob a graça. E não podemos e nem devemos provar a Deus; Ele não nos abençoará por cumprir uma parte da Lei. Não podemos também provar a Deus porque seria ofendê-lo, principalmente por ter-se dado totalmente por nós, dando-nos seu Filho: “Como não nos dará Ele todas as coisas?” (Romanos 8,32).
Agora, se você acredita que as bênçãos que Deus vai lhe dar por dizimar são espirituais, atente-se para o que Paulo disse: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo” (Efésios 1,3). A bênção que Deus promete ao Povo de Israel no v. 11 é, porém, material: “Repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra; a vossa vide no campo não será estéril, diz o Senhor dos Exércitos.”
Malaquias 4,4 diz: “Lembrai-vos da Lei de Moisés, meu servo, a qual lhe mandei em Horeb para todo o Israel, os estatutos e os juízos”. Insisto em mostrar que Paulo disse: “Para os que estão sem Lei, como se estivessem sem Lei (não estando sem Lei para com Deus, mas debaixo da Lei de Cristo), para ganhar os que estão sem Lei” (1Coríntios 9,21) e não foi no Horeb, mas no Calvário onde Cristo nos libertou pela cruz da maldição da Lei. Muitos dizem que o “Lembrai-vos da Lei de Moisés” significa não esquecê-la, que Jesus não veio para revogar a Lei, mas para cumprí-la, e que Ele disse que não passaria nem sequer um til da Lei. Porém, isto é uma meia-verdade, porque nós não poderíamos cumprir nada; foi Ele quem cumpriu a Lei por nós, porque o objetivo da Lei era Cristo, como diz Paulo, e Cristo nos redimiu da maldição da Lei. Porque se você depende da Lei, diz Paulo: “Todos aqueles que são das obras da Lei estão debaixo da maldição, pois está escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no Livro da Lei, para fazê-las” (Gálatas 3,10). Está sob maldição se não cumpre absolutamente toda a Lei, como diz Tiago: “Pois qualquer um que guardar toda a Lei, mas tropeçar em um só ponto, torna-se culpado de todos” (Tiago 2,10). Portanto, de nada adianta ser um dizimista fiel se não cumprir também os 613 preceitos da Lei.
Por fim, se o bem-estar econômico é conseqüência do dízimo (como muitos afirmam), por que não há evidência de que o Senhor Jesus Cristo pagara o dízimo? Por que Ele era pobre? Por que, se Ele era pobre, seus “servos” do século XXI deveriam ter contas bancárias, dois ou três automóveis, coisas luxuosas e muitas propriedades? Por que não há evidência bíblica de que Paulo, Pedro ou os demais Apóstolos pagaram o dízimo? Por que eles eram pobres? Por que, se eles não cumpriam a Lei, deveríamos nós cumpri-la? Não seria curioso que o Senhor Jesus, sendo pobre, tivesse deixado suas ovelhas ao cuidado de pessoas que tem se enriquecido com o Evangelho?
Disto, concluímos que o Autor Sagrado está se dirigindo àqueles que guardam a Lei: o Povo de Israel, não a Igreja. Em outras palavras: com esta passagem muitos líderes cristãos estão dizendo que se alguém não paga, não será salvo – o que não tem lógica!
Muitos utilizam até estórias que inventam sobre tragédias que se abateram sobre aqueles que não pagaram o dízimo ou dizem que os céus abrem muitas bênçãos para aqueles que o dão. Relacionam todo o bem e todo o mal que o ser humano passa nesta vida terrena diretamente ao dízimo. Mera superstição! As enfermidades fazem parte da nossa natureza humana, da mesma forma como os problemas que enfrentamos dia a dia. Deus não é um deus de interesse econônico, mas espiritual.
Se lermos Números 18,21-31, que diz em suma: “Eis que dei aos filhos de Levi todos os dízimos de Israel por herança, por seu ministério, porque eles servem no ministério da tenda da congregação…”, veremos que o dízimo é um imposto criado para sustentar os levitas, centralizado no único santuário. Leia isto:
Neemias 10:
36. Como está escrito na Lei, traremos os primogênitos dos nossos filhos, e os do nosso gado, e os primogênitos das nossas manadas e dos nossos rebanhos à casa de nosso Deus, aos sacerdotes que ministram na casa do nosso Deus.
37. Além disso, traremos às câmaras da casa do nosso Deus, aos sacerdotes, as primícias da nossa massa, as nossas ofertas alçadas e o fruto de todas as nossas árvores, do nosso vinho e do nosso azeite; traremos o dízimo da nossa terra aos levitas, pois são eles que recebem os dízimos em todas as cidades onde trabalhamos.
38. Um sacerdote, filho de Arão, deve estar com os levitas quando estes receberem os dízimos, e os levitas devem trazer o dízimo dos dízimos à casa do nosso Deus, às câmaras da casa do tesouro.
39. Àquelas câmaras os filhos de Israel e os filhos de Levi devem trazer ofertas alçadas dos cereais, do vinho e do azeite, porque se encontram ali os utensílios do santuário, como também os sacerdotes que ministram, e os porteiros e os cantores. Não negligenciaremos a casa do nosso Deus.
E, em Neemias 12,44: “No mesmo dia foram nomeados homens sobre as câmaras dos tesouros para as ofertas alçadas, as primícias e os dízimos, para ajuntarem nelas, das cidades, as porções designadas pela Lei para os sacerdotes e para os levitas, pois Judá esta alegre com os sacerdotes e os levitas que ministravam ali”.
As demais passagens da Bíblia – especificamente no Pentateuco, nos livros históricos, Amós e Malaquias – têm a ver com a instituição dos dízimos, sua restauração e não-cumprimento.
Outro dado curioso e que não é cumprido pelos que exigem o dízimo é que, por 2 anos, o dízimo devia ser levado ao tabernáculo, para ser guardado no alfolí; porém, no 3º ano, o dízimo correspondente a esse ano deveria ser entregue diretamente nas aldeias locais e colocado à disposição, não só dos levitas, mas também dos “estrangeiros, órfãos e viúvas”:
“Ao fim de cada três anos porás de lado todos os dízimos da colheita do terceiro ano, e os recolherás na tua cidade, para que, vindo o levita, que não tem parte nem herança contigo, e o estrangeiro, o órfão e a viúva, que estiverem em tua cidade, comerão e se fartarão, e assim o Senhor teu Deus te abençoe em todas as obras que as tuas mãos fizeram” (Deuteronômio 14,28-29; 26,12-14).
Me atrevo a garantir em 100% que [essas pessoas que hoje exigem o dízimo] não cumprem [a ordem acima]. Repito: nenhuma das igrejas que exigem o dízimo cumprem essa ordem. Oferecer 10% do salário mensal não era costume de então, porém querer recalcar em nossos dias a antiga prática do dízimo não seria mal se essas igrejas compartilhassem o dízimo dado a seus ministros com os estrangeiros, os órfãos e as viúvas da população em geral. Ainda que fosse a cada três anos! Porém, devemos recordar que o Novo Testamento possui instruções de como as igrejas e os fiéis devem cuidar das viúvas e dos órfãos.
As referências sobre o dízimo em 1Samuel 8,15.17 dizem respeito a como o rei que Israel pede a Samuel entregaria o dízimo dos bens do povo. É uma passagem que não comentaremos por não vir ao caso.
Outro dado muito mais interessante é este:
Números 18:
20. Disse também o Senhor a Arão: Na sua terra possessão nenhuma terás, e no meio deles nenhuma parte terás; eu sou a tua parte e a tua herança no meio dos filhos de Israel.
21. Aos filhos de Levi dei todos os dízimos em Israel por herança, pelo serviço que exercem, o serviço da tenda da congregação.
22. Nunca mais os filhos de Israel se chegarão à tenda da congregação, para que não levem sobre si o pecado, e morram.
23. Mas os levitas farão o serviço da tenda da congregação, e levarão sobre si a sua iniqüidade. Este será estatuto perpétuo pelas vossas gerações. No meio dos filhos de Israel nenhuma herança terão.
24. Porque os dízimos dos filhos de Israel, que oferecem a o Senhor em oferta alçada, dei-os por herança ao levitas, pois eu lhes disse: No meio dos filhos de Israel nenhuma herança terão.
25. Disse o Senhor a Moisés:
26. Também falarás aos levitas, e lhes dirás: Quando receberdes os dízimos dos filhos de Israel, que da parte deles vos dou como herança, deles trareis uma oferta ao Senhor, o dízimo dos dízimos.
27. Vossa oferta será considerada como grão de eira, e como plenitude do lagar.
28. Assim também trareis ao Senhor uma oferta de todos os vossos dízimos, que receberdes dos filhos de Israel. Destes dízimos dareis a oferta do Senhor ao sacerdote Arão.
Dois pontos que chamam a atenção nestes versículos:
1º) Repete-se que o dízimo é para “os filhos de Israel”.
2º) Por três vezes se repete que os levitas não terão qualquer posse na terra. Se aplicarmos isto à atualidade, nenhum líder poderia possuir nem sequer um terrenozinho. Assim, estaria cumprindo o que foi estipulado por Deus na antiga Lei.
Mais interessante ainda é a seguinte passagem:
2Crônicas 31:
4. Além disso ordenou ao povo, aos moradores de Jerusalém, que desse a parte dos sacerdotes e dos levitas, para que pudessem se dedicar à Lei do Senhor.
5. Logo que esta ordem foi promulgada, os filhos de Israel trouxeram em abundância as primícias de trigo, mosto, azeite, mel e todo produto do campo. Trouxeram também em abundância o dízimo de tudo.
6. Os filhos de Israel e de Judá, que habitavam nas cidades de Judá, também trouxeram o dízimo das vacas e das ovelhas, e o dízimo das coisas consagradas ao Senhor seu Deus, e fizeram muitos montões.
7. No terceiro mês começaram a fazer os primeiros montões, e no sétimo mês acabaram.
8. Vindo Ezequias e os príncipes, e vendo aqueles montões, bendisseram ao Senhor e ao seu povo Israel.
9. Perguntou Ezequias aos sacerdotes e aos levitas acerca daqueles montões.
10. E Azarias, o sumo sacerdote da casa de Zadoque, respondeu-lhe: Desde que o povo começou a trazer suas ofertas à casa do Senhor, tem havido o que comer e de que se fartar, e ainda há sobra em abundância, porque o Senhor abençoou ao seu povo, e sobrou esta grande quantidade.
11. Então Ezequias deu ordens para que se preparassem câmaras na casa do Senhor, e as prepararam.
12. Ali recolheram fielmente as ofertas, os dízimos e as coisas consagradas. Conanias, o levita, tinha o cargo disto, e Simei, seu irmão, era o segundo.
Esta passagem nos mostra que quando os ministros de Deus cumprem as ordens que Ele deu, o povo é abençoado e ajuda generosamente. Até Moisés teve que pedir para que não dessem mais, de tanto que se tinha: “Assim o povo foi proibido de trazer mais, porque o material que tinham era suficiente para toda a obra que se devia fazer, e ainda sobrava” (Êxodo 36,3-7). Alguém já ouviu alguma vez algum ministro pedir à sua congregação que deixe de ofertar?
Também o rei Davi deu ao povo a oportunidade de participar com ofertas voluntárias; e houve uma generosa contribuição para o templo de Jerusalém: “O povo se alegrou com as ofertas voluntárias que seus chefes fizeram, pois de coração íntegro deram eles ao Senhor” (1Crônicas 29,9). Como se soubesse que Paulo um dia diria “tudo é vosso, e vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus”, Davi exclama: “Mas quem sou eu, e quem é o meu povo, que pudéssemos dar voluntariamente estas coisas? Tudo vem de ti, e somente devolvemos o que veio das tuas mãos” (1Crônicas 29,14).
Há muita diferença entre um sacerdote levita e um “levita espiritual”, como se autointitulam muitos líderes religiosos. Eis, contudo, as funções dos levitas:
Números 3:
5. Disse o Senhor a Moisés:
6. Faze chegar a tribo de Levi, e põe-na diante de Arão, o sacerdote, para que o sirvam.
7. Cumprirão eles os seus deveres e os de todo o povo, diante da tenda da congregação, para ministrar no tabernáculo.
8. Terão cuidado de todos os utensílios da tenda da congregação, cumprindo as obrigações dos filhos de Israel, ao ministrarem no tabernáculo.
9. Darás os levitas a Arão e a seus filhos; dentre os filhos de Israel lhes são dados.
10. Mas a Arão e a seus filhos ordenarás que guardem o seu sacerdócio, e o estranho que nele tomar parte será morto.
Entre as funções, então, encontramos: fazer expiação pelo povo, ser oferecidos em oferenda a Javé, lavar-se (aspergir com água, raspar a cabeça, lavar suas vestes). As três espécies de ofertas e sacrifícios que executavam eram a oferta de expiação, a oblação e o holocausto.
Não se encontra [na Bíblia] nem sequer que os profetas pedissem o dízimo para servir em seu ministério, ou que tivessem mais direito que os próprios levitas. Pois bem: que direito tem, então, os chamados “levitas espirituais”? Os cristãos não têm uma classe sacerdotal levítica porque “todos vós sois irmãos”, como disse Jesus (Mateus 23,8). O Ministro do Evangelho não deve ser assalariado porque “o mercenário foge porque é mercenário, e não tem cuidado com as ovelhas” (João 10,13).
Todos reconhecem que a Lei cerimonial ditada por Moisés, os ritos e mandamentos cerimoniais, foram revogados por Jesus. Por que o dízimo, que pertence a esta Lei, não teria sido revogado?
“E se o que desvanecia teve sua glória, muito mais glória tem o que permanece” (2Coríntios 3,11).
“E não somos como Moisés, que punha um véu sobre a sua face para que os filhos de Israel não fitassem o fim daquilo que desvanecia” (2Coríntios 3,13).
“Dizendo ‘Nova Aliança’, ele tornou antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido, perto está de desaparecer” (Hebreus 8,13).
“Dizei-me, os que quereis estar debaixo da Lei: não ouvis vós a Lei? Pois está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava, e outro da livre. Todavia, o que era da escrava, nasceu segundo a carne; mas, o que era da livre, por promessa. O que se entende por alegoria, pois estas mulheres são as duas alianças. Uma aliança é do monte Sinai, gerando filhos para a escravidão, que é Hagar. Ora, esta Hagar é Sinai, um monte da Arábia, que corresponde à Jerusalém atual, porque é escrava com seus filhos. Mas a Jerusalém que é de cima é livre, a qual é mãe de todos nós” (Gálatas 4,21-26).
Concretamente, a Antiga Aliança era entre o Povo de Israel e Javé, que os abençoaria se guardassem sua parte do pacto; caso contrário, lhes amaldiçoaria. Era tudo ou nada. Ninguém podia mudar essa convenção, elegendo e fazendo o que quisesse: “Pois qualquer que guardar toda a Lei, mas tropeçar em um só ponto, torna-se culpado de todos” (Tiago 2,10). Quem quiser impor o dízimo da Lei Mosaica aos outros também terá que apedrejar sua filha ou filho rebelde: “Quando alguém tiver um filho contumaz e rebelde, que não obedecer à voz de seu pai e à voz de sua mãe, e, castigando-o eles, lhes não der ouvidos, então seu pai e sua mãe pegarão nele, e o levarão aos anciãos da sua cidade, e à porta do seu lugar; E dirão aos anciãos da cidade: Este nosso filho é rebelde e contumaz, não dá ouvidos à nossa voz; é um comilão e um beberrão. Então todos os homens da sua cidade o apedrejarão, até que morra; e tirarás o mal do meio de ti, e todo o Israel ouvirá e temerá” (Deuteronômio 21,18-21). Levítico e Números estão cheios de preceitos aos quais a maioria de nós, cristãos, não gostaríamos de nos sujeitar. (…) Se o esposo de uma mulher morresse sem deixar filhos, seu cunhado deveria gerar-lhe filhos. E insiste-se: “Pois qualquer que guardar toda a Lei, mas tropeçar em um só ponto, torna-se culpado de todos” (Tiago 2,10).
Prestemos atenção ao que nos diz Paulo: “Porque a Lei do espírito de vida em Cristo Jesus livrou-me da lei do pecado e da morte” (Romanos 8,2). Um pacto acarreta a morte; o outro sempre traz vida. Leia o que diz Paulo sobre os Dez Mandamentos em 2Coríntios 3,4-18.
Notemos um coisa muito importante: em toda a Bíblia se observa que o dízimo era dado pelos proprietários das terras e dos animais; e era disto o que se recebia como dízimo. Os servos e os operários não pagavam dízimo, já que eles recebiam remuneração em dinheiro, do qual nada davam. Também quando se percorriam longas distâncias e não se podia levar o dízimo em espécies, por comodidade se vendia tudo, carregava-se o dinheiro e então se compravam [as espécies] no lugar; e até podia-se dispor de algumas coisas conforme ditasse o coração: “E quando o caminho te for tão comprido que os não possas levar, por estar longe de ti o lugar que escolher o SENHOR teu Deus para ali pôr o seu nome, quando o SENHOR teu Deus te tiver abençoado; Então vende-os, e ata o dinheiro na tua mão, e vai ao lugar que escolher o SENHOR teu Deus; E aquele dinheiro darás por tudo o que deseja a tua alma, por vacas, e por ovelhas, e por vinho, e por bebida forte, e por tudo o que te pedir a tua alma; come-o ali perante o SENHOR teu Deus, e alegra-te, tu e a tua casa” (Deuteronômio 14,24-26).
No Novo Testamento, o relativo ao dízimo quase não aparece.
Em Lucas 11,42, Jesus repreende os fariseus hipócritas e lhes diz: “Mas ai de vós fariseus, que dizimais a hortelã, a arruda e todas as hortaliças, e desprezais o juízo e o amor de Deus”. Jesus está repreendendo os fariseus (que eram israelitas e não cristãos), para reprovar-lhes sua hipocrisia de se preocuparem mais com o dízimo do que pela justiça e amor de Deus. Os fariseus cumpriam a Lei na máxima minúcia até nas coisas pequenas, porém a quebravam quando se tratava de exigências importantes. Exteriormente se mostravam irrepreensíveis, porém, interiormente, estavam muito distantes de cumprir verdadeiramente a Lei. Os fariseus davam o dízimo “da hortelã, da arruda e de todas as hortaliças”, que não eram grãos nem frutos das árvores mencionadas por Levítico 27,30; eram, porém, ervas usadas como espécies aromáticas.
Os fariseus buscavam a aprovação das pessoas devotas e evitar escândalos, porém seu interior era sujo. A estes era aplicada a reprimenda que Jesus dirigiu aos seus discípulos: “Ai de vós quando todos os homens de vós disserem bem, pois assim faziam seus pais aos falsos profetas” (Lucas 6,26).
Na passagem paralela de Mateus, Jesus diz a estes fariseus hipócritas: “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas negligenciais o mais importante da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé. Devíeis, porém, fazer estas coisas sem omitir aquelas” (Mateus 23,23). Isto é, sem deixar de fazer a justiça, a misericórdia e a fé, porque eles se preocupavam apenas com o material: o dízimo. O ensinamento de Cristo nesta passagem é claro: ante este esmero para coisas tão mínimas, dever-se-ia dar um passo mais forte para as coisas fundamentais. Porém, não era assim entre os fariseus; faziam estas coisas “para serem notados pelos homens” (Mateus 23,5). A prática do dízimo era, portanto, pura hipocrisia. Jesus menciona o dízimo aqui para revelar a hipocrisia dos escribas e fariseus (judeus que, todavia, viviam sob a Lei e eram obrigados a dar o dízimo). O Senhor não pede para que os fariseus dêem o dízimo; isto já estavam fazendo! Chama-lhes “hipócritas” porque só fazem isto e esquecem-se do mais importante. Se você dá o dízimo e esquece o que é mais importante para o Senhor, será igualzinho àqueles fariseus a quem o Senhor chama de “hipócritas”.
No tocante à misericórdia, Jesus nos ensinou: “‘Qual destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos assaltantes?’ Ele disse: ‘O que usou de misericórdia para com ele’. Disse Jesus: ‘Vai e faze da mesma maneira'” (Lucas 10,36-37).
Assim, você deve se perguntar: É um ato de misericórdia dar 10% do seu salário a alguém que possui mais do que você?. Não seria injusto dar a quem tem mais e negar a quem realmente necessita? Muitos cristãos crêem que, porque dão o dízimo e se congregam em sua igreja, já cumpriram os mandamentos de Deus. Crêem que porque cumpriram isto Deus irá abençoá-los. Crêem assim porque foram condicionados a pensar assim. O problema que enfrentam estas pessoas é que são guiadas por líderes cegos: “Condutores cegos, que coais um mosquito e engolis um camelo!” (Mateus 23,24). Deve-se ter muito cuidado e discernir, pois Jesus disse: “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito e depois de o terdes feito, o tornais filho do inferno duas vezes mais do que vós!” (Mateus 23,15).
A Lei do dízimo do Antigo Testamento deixou de existir quando Cristo morreu na cruz e não antes: “Havendo riscado o escrito de dívida que havia contra nós nas suas ordenanças, o qual nos era contrário, tirou-o do meio de nós, cravando-o na cruz” (Colossenses 2,14). E: “Cristo nos libertou para que sejamos de fato livres. Estai, pois, firmes e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da escravidão” (Gálatas 5,1; v.tb. Tiago 1,25; 2,12; 2Coríntios 3,17). O Novo Testamento não tinha validade enquanto Cristo estava vivo, mas entrou em vigor quando derramou seu sangue na cruz: “E por isso é Mediador de um novo testamento, para que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia debaixo do primeiro testamento, os chamados recebam a promessa da herança eterna. Porque onde há testamento, é necessário que intervenha a morte do testador. Porque um testamento tem força onde houve morte; ou terá ele algum valor enquanto o testador vive?” (Hebreus 9,15-17).
Em Hebreus 7,5, torna-se a assinalar que o dízimo era da Lei. Diz textualmente “segundo a Lei”: “E os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm ordem, segundo a Lei, de tomar o dízimo do povo, isto é, de seus irmãos, ainda que tenham saído dos lombos de Abraão”. O dízimo era um preceito estabelecido na Lei. Neste mesmo capítulo 7 de Hebreus, indica-se também, com muita precisão, que agora, na graça, não existem sacerdotes levitas porque houve uma mudança de sacerdócio e de lei: “Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei” (Hebreus 7,12).
Alguns distorcem Hebreus 7,8 [“E aqui certamente tomam dízimos homens que morrem; ali, porém, aquele de quem se testifica que vive.”] para apontar que os “homens que morrem” são os ministros de Cristo que recebem dízimos ou que o “ali, porém” se refere a Cristo (ali = no céu) que hoje recebe dízimos. Porém, ao estudar o contexto, é óbvio que nada tem a ver os dízimos para os ministros [do Evangelho] ou para Cristo. Os versículos 5 e 9 dizem que os que têm ordem para tomar os dízimos são os filhos de Levi. Estes são os “homens que morrem” do versículo 8, não os ministros cristãos. A lei do dízimo era débil e ineficiente (Hebreus 7,18) e a Nova Aliança, com sua oferta voluntária, anulou o dízimo e o destinou ao desaparecimento: “Dizendo Nova aliança, envelheceu a primeira. Ora, o que foi tornado velho, e se envelhece, perto está de acabar” (Hebreus 8,13; 10,9). Por que retomar uma lei inferior, pela qual Cristo morreu para retirá-la? Atentemos que quando foi escrita a Epístola aos Hebreus, o Templo [de Jerusalém] ainda estava de pé e [os judeus] continuavam cumprindo o que estipulava a Lei; se se referisse aos pregadores da Igreja, o texto não se harmonizaria!
Muitos dirão, porém, que Jesus disse: “Não pensei que vim para abolir a Lei ou os profetas; não vim para abolir, mas para cumprir” (Mateus 5,17). Entretanto, Jesus aqui se refere à sua própria pessoa. Ele sim cumpriu toda a Lei como nenhum ser humano jamais cumpriu. E quando diz: “Qualquer que violar um destes mais pequenos mandamentos, e assim ensinar os homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus” (Mateus 5,19), claramente se refere aos Dez Mandamentos, como bem dá a entender os versículos anteriores. Logo, Jesus ensina que toda a Lei e os Profetas dependem destes dois grandes mandamentos: “Amarás o Senhor, teu Deus, com todo teu coração e com toda tua mente” e “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22,37-40).
A obrigação de dar o dízimo, sempre foi para os judeus, para os que estão sob a Lei. A única vez que se menciona o dízimo fora da Lei – e foi uma vez apenas – foi quando Abrão deu o dízimo de sua vitória sobre os reis que haviam levado seu sobrinho Lot como prisioneiro. E o deu apenas uma vez – não foi um pagamento mensal – já que se diz que “deu” nessa oportunidade o dízimo; nunca diz, jamais, que “pagou o dízimo”. Fica muito claro que estes bens ou despojos não eram de Abrão, mas de reis que havia derrotado; não foi fruto do seu trabalho, nem das suas terras. Deve-se atentar também que, por fim, Abrão não ficou com nada; deu tudo a Melquisedec (“Jurando que desde um fio até à correia de um sapato, não tomarei coisa alguma de tudo o que é teu; para que não digas: Eu enriqueci a Abrão”, cf. Gênese 14,23) e foi a única vez que deu algo; não se menciona em nenhuma outra passagem que continuou dando nem o dízimo, nem nenhuma outra contribuição. Deve-se observar também que não existe nenhuma disposição na Bíblia autorizando que alguém venha a tomar o lugar de Melquisedec para exigir dízimos.
Gênese 14:
17. E o rei de Sodoma saiu-lhe ao encontro (depois que voltou de ferir a Quedorlaomer e aos reis que estavam com ele) até ao Vale de Savé, que é o vale do rei.
18. E Melquisedec, rei de Salém, trouxe pão e vinho; e era este sacerdote do Deus Altíssimo.
19. E abençoou-o, e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra;
20. E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos. E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo.
Cabe ressaltar aqui 4 coisas:
1. Sabe-se que os cultos pagãos da antigüidade na Índia, China, Grécia e Roma praticavam o dízimo para sua sustentação, porém sem forçar seus fiéis a dá-lo. Nas batalhas, os vencedores costumavam a entregar o dízimo dos despojos aos sacerdotes dos deuses em agradecimento a estes deuses, por terem tornado possível a vitória. Por exemplo: na Grécia, no templo de Zeus se encontra uma inscrição, junto de uma Medusa, que diz assim: “O templo tem um escudo de ouro, e de Tanagra os lacedemônios e seus aliados o ofertaram, um presente de argivos, atenienses e jônios: o dízimo pela vitória na guerra”[1]. Vemos, assim, que era uma prática comum entre os vencedores das batalhas de guerreiros, que não conheciam nada além de deuses pagãos. Reparemos que, nesse momento, Abrão ainda não conhecia a Deus.
2. Não é Abrão que vai entregar o dízimo ao sacerdote Melquisedec, como se quisesse dá-lo, mas é Melquisedec que “saiu” ao encontro de Abrão. Mas também não saiu para cobrar o dízimo, mas para abençoá-lo.
3. Em toda a Bíblia, especialmente do Gênese até Hebreus, é apenas nesta única oportunidade que se diz que Abrão entregou o dízimo. Reparemos que Abraão viveu 175 anos, mas nunca mais se registrou que permanecesse dando [o dízimo].
4. O dízimo de Abrão não é usado como exemplo em nenhum lugar da Bíblia para apoiar o dízimo.
Hebreus 7,2 diz que Abraão deu “os dízimos de tudo” a Melquisedec, porém Gênese 13,2 diz: “E era Abrão muito rico em gado, em prata e em ouro”. Porém – que surpresa! – de toda esta grande riqueza, Abraão não deu a Melquisedec um só pêlo de seu gado, nem um só pedacinho de sua prata e ouro. Deu apenas os “dízimos dos despojos” (cf. Hebreus 7,4). Este pequeno e único detalhe basta para alterar todo o panorama.
Também devemos notar que Jacó, o neto de Abraão, voluntariamente fez um voto especial de dar o dízimo sob certas condições. Isto prova que eles não estavam acostumados a dar o dízimo (Gênese 28,22) e tampouco foi registrado se Jacó cumpriu ou não a sua promessa, já que talvez tenha se perguntado: “A quem devo dar? Onde? E para quê?”, não tendo encontrado uma resposta razoável. Talvez por isso não tenha sido registrado o cumprimento da sua promessa.
Estas são as únicas passagens em todo o Novo Testamento em que se menciona o dízimo. E foram basicamente para repreender os fariseus por sua hipocrisia e para recordar Abraão quando em certa ocasião “deu” o dízimo. Contudo, nunca se pediu a nenhum cristão que se pagasse o dízimo. No Sermão da Montanha, onde Jesus ratificou as verdadeiras exigências da Lei, não fez nenhuma menção ao dízimo. Jesus teria se esquecido desse detalhe tão importante, se fosse uma obrigação para o cristão? Não parece estranho que não seja mencionado nem uma única vez em todo o Novo Testamento? Então por que as igrejas exigem o dízimo?
O dinheiro não tem qualquer poder ou benefício para as bênçãos ou dons de Deus: “Então Pedro lhe disse: ‘Teu dinheiro pereça contigo, porque pensaste que o dom de Deus se obtém com dinheiro'” (Atos 8,20). E quantos hoje em dia dão dinheiro não por caridade mais por interesse, para que tenham uma boa vida (para conseguir saúde, obter um emprego, resolver um problema familiar ou até amoroso)!
O dízimo foi uma prática divina para sustentar os sacerdotes levitas e devia ser entregue em espécies, jamais em dinheiro. Os judeus deviam cumprí-lo primeiramente para depois receber a bênção. As bênçãos que recebiam os judeus por primeiramente cumprirem com esta disposição eram coisas materiais: “E virá sobre ti estas bênçãos: (…) mais terras, mais animais, mais frutos, mais filhos, mais servos” (Deuteronômio 28,2). Diferentemente disto, agora não existe o dízimo nem a promessa de que receberemos maior prosperidade terrestre; muito pelo contrário, agora não nos é pedido que juntemos tesouros aqui na terra, mas no céu. Os primeiros cristãos deram todos os seus bens para repartí-los entre a igreja (=comunidade), contudo nenhum deles chegou a ser rico.
Se alguém diz que você deve pagar o dízimo, você não estaria dando livremente o que foi proposto pelo seu coração, mas seria isto uma imposição.
Vejamos outras passagens: “Não sabeis vós que os que administram o que é sagrado comem do que é do templo? E que os que de contínuo estão junto ao altar, participam do altar? Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho” (1Coríntios 9,13-14). Muitos interpretam o “assim ordenou também” no sentido de que o dízimo deve ser usado para pagar o ministro do evangelho. Paulo explicou que o operário é digno de seu salário. Ele, porém, diferencia o operário do templo, que obtém seu alimento do altar (ou seja, como o levita, que tinha esta função como cargo), e o pregador do evangelho, que vive do Evangelho (tal como o profeta, que nunca viveu do dízimo – e acredito que tinha muito mais direito que qualquer líder cristão!). O dízimo não é mencionado como meio de pagamento, nem se diz que o ministro do evangelho deve obter seu sustento do altar. Além disto, basta ler o v. 12, onde Paulo não diz que a congregação deve sustentá-lo, preferindo sustentar-se por conta própria.
Ademais, que o “Assim ordenou também” faz referência aos levitas citados no v.13 e que este levitas receberam o dízimo do Povo de Israel, de modo que os ministros do evangelho TAMBÉM devam receber os dízimo do novo Povo de Deus (os cristãos), não é um silogismo[2] válido. Primeiro porque, ao se interpretar isto literalmente, as [modernas] mulheres ministras não gozariam de tal privilégio como assinala Paulo: “Todo varão entre os sacerdotes o comerá” e deveriam consumí-lo dentro do edifício em que congregam. Se a idéia dos dízimos por parte dos levitas se equipara igualmente por parte dos ministros do evangelho, por analogia estes ministros ficariam impedidos de ser proprietários até de um único metro quadrado de terra! Ah! E teriam ainda que cumprir o requisito da circuncisão! Em suma, os versículos 12 e 18 nos dizem: “não colocar nenhum obstáculo ao Evangelho de Cristo”, “não abusar de meu direito no Evangelho”.
E se aplicássemos os versículos 13 e 14 aos operários do evangelho, eles teriam que se alimentar da forma como registra a Bíblia.
Levítico 7:
1. E esta é a lei da expiação da culpa; coisa santíssima é.
2. No lugar onde degolam o holocausto, degolarão a oferta pela expiação da culpa, e o seu sangue se espargirá sobre o altar em redor.
3. E dela se oferecerá toda a sua gordura; a cauda, e a gordura que cobre a fressura.
4. Também ambos os rins, e a gordura que neles há, que está junto aos lombos, e o redenho sobre o fígado, com os rins se tirará;
5. E o sacerdote os queimará sobre o altar em oferta queimada ao SENHOR; expiação da culpa é.
6. Todo o varão entre os sacerdotes a comerá; no lugar santo se comerá; coisa santíssima é.
Não creio que algum ministro do evangelho obedeça isto, especialmente se for vegetariano. Então como devem ser sustentados os operários do evangelho? “Os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina; Porque diz a Escritura: Não ligarás a boca ao boi que debulha. E: Digno é o obreiro do seu salário” (1Timóteo 5,17-18). Se Paulo estivesse dizendo aos cristãos (judeus e gentios recém-convertidos) que dessem seus dízimos para os operários do evangelhos ao invés de darem aos levitas, os judeus teriam declarado guerra aberta a Paulo.
Que nunca, assim, ninguém trate você como “maldito” por não dar o dízimo, já que “todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las” (Gálatas 3,10), sabendo que para o homem isto é impossível “porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos” (Tiago 2,10).
Seria bom refletir sobre as seguintes passagens e perguntar se você é cristão ou fariseu:
– A Lei foi dada à nação de Israel (Romanos 9,4);
– A graça foi dada a toda a humanidade (Romanos 10,12-13).– A Lei: faça isto e viverás por isto (Deuteronômio 27,26);
– A graça: crê e serás salvo (Atos 16,31).– Se não guardas a Lei, és maldito (Gálatas 3,10b);
– Cristo nos redime da maldição (Gálatas 3,13).– Sob a Lei, vives pelas obras (Gálatas 3,12);
– Sob a graça, vives pela fé (2Coríntios 5,7).– Na Lei, estás sob maldição (Gálatas 3,10a);
– Na graça, sois bendito com toda bênção espiritual (Efésios 1,3).– Sob a Lei, devias ir à casa de Deus (o templo) com teus dízimos e ofertas (Malaquias 3,10);
– Sob a graça não existe templo para onde possas levar teus dízimos, mas cada fiel faz parte da casa de Deus (1Coríntios 6,19; Efésios 2,21-2; 1Timóteo 3,15 etc.).
Guardar a Lei é algo que ofende a Deus porque as obras da Lei são obras mortas (Hebreus 6,1), isto é, obras meramente cerimoniais.
Então como se financia a Igreja, se não pode ser com o dízimo? Paulo diz: “Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza [por obrigação], ou por necessidade [p.ex.: para ser curado ou para obter outro favor]; porque Deus ama ao que dá com alegria” (2Coríntios 9,7; v.tb. 2Coríntio 8,1-12). Em 1Coríntios 16,2, acrescenta: “No primeiro dia da semana [domingo] cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade”. Os recursos arrecadados podem ser usados para socorrer os necessitados (“Porque pareceu bem à Macedônia e à Acaia fazerem uma coleta para os pobres dentre os santos que estão em Jerusalém”, cf. Romanos 15,26) e para suprir as necessidades dos ministros do reino (cf. Filipenses 4,10-20).
Recordemos ainda que os primeiros cristãos tinham a obrigação de dar hospedagem aos ministros da Palavra: “Amado, procedes fielmente em tudo o que fazes para com os irmãos, e para com os estranhos, que em presença da igreja testificaram do teu amor; aos quais, se conduzires como é digno para com Deus, bem farás; porque pelo seu Nome saíram, nada tomando dos gentios. Portanto, aos tais devemos receber, para que sejamos cooperadores da verdade” (3João 1,5-8; v.tb. Atos 6,14-15; 18,1-3.7). Ademais, quando Cristo enviou os Doze e, depois, os Setenta, não lhes ensinou a cobrar o dízimo, mas a ficar com os justos e comer o que lhes fosse dado (Mateus 10,5-15; Lucas 10,1-12).
Muitos que lêem isto agora mesmo, provavelmente se assombrarão do pouco que conheciam acerca do dízimo nas Sagradas Escrituras. Agora já sabe. Agora já responde pelo que sabe.
Em resumo, até aqui:
1. O dízimo foi ordenado por Deus e deveria ser entregue em produtos aos sacerdotes levitas, jamais em dinheiro, porque estes não podiam possuir propriedade e também para que não houvesse corrupção.
2. O dízimo “era” da Lei (Mateus 23,23), “segundo a Lei” (Hebreus 7,5).
3. Na graça devemos ofertar todos os domingos, livremente, como cada um propôs em seu próprio coração, sem que a sua mão esquerda saiba o que deu a sua direita.
O verdadeiro Cristianismo se baseia no que Deus disse, jamais no que Ele não disse. Hoje, muitos dizem: “Mostre-me um versículo da Bíblia que proíba cobrar o dízimo”; porém, isto seria o mesmo que um drogado tentar se justificar, dizendo que não existe na Bíblia nenhum versículo proibindo o uso da maconha.
Aprendamos a ofertar livremente e por amor, sem esperar nada em troca. Façamos isto sem que a mão esquerda saiba o que deu a direita. Não devemos esperar nada em troca, porque não é possível “comprar” o favor de Deus. Não podemos manipular Deus, muito menos com dinheiro. É até possível dar o mesmo que o dízimo ou até mais, porém, a grande diferença está no fato de que não será um encargo imposto; então sim, poderá advir recompensas da parte de Deus. Não se engane pensando que o dízimo que você dá hoje é uma oferta ao Senhor, porque você apenas estaria participando de um mandamento imposto por homens. Lembre-se que o que foi disposto pelo Senhor à Igreja foi a oferta e não o dízimo, que era da Lei.
Não seja cúmplice de algo que não foi ordenado pelo Senhor, porque você deverá prestar constas um dia de como gastou o que o Senhor lhe confiou.
[Outra coisa interessante:] Os judeus atuais não dão o dízimo.2Pedro:
1. E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição.
2. E muitos seguirão as suas dissoluções, pelos quais será blasfemado o caminho da verdade.
3. E por avareza farão de vós negócio com palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não dormita.
Os rabinos judeus, que teoricamente conhecem e sabem aplicar muito melhor a Lei Mosaica, não cobram dízimos porque eles sabem que apenas os levitas podem cobrar o dízimo. Por causa da destruição dos arquivos genealógicos na destruição do Templo, no ano 70 d.C., não são mais capazes de identificar os verdadeiros levitas. Com efeito, fazem uso de um sistema diferente para se sustentarem economicamente, cobrando certa quantia de dólares por cada assento em suas sinagogas e, assim, dar manutenção e sustento econômico. E então? Poderia algum líder [cristão] provar que é descendente direto de Arão para ter o direito de pedir o dízimo (ainda mais para pedir em dinheiro e não em espécies)?
Por isso, apresento, a seguir, comentários sobre o dízimo feitos por judeus:
– “O mandamento do dízimo não é obrigatório atualmente, pois não contamos mais com o Templo de Jerusalém, e o dízimo é um dos preceitos que, para ser cumprido como o Senhor mandou, é imprescindível sua existência e funcionamento”.
– “O separar o dízimo (10% da arrecadação bruta anual) e entregá-lo com caridade é um mandamento que o Senhor ditou exclusivamente para os membros da nação judaica, nos tempos em que o Templo estava em funcionamento”.
SOBRE A ESMOLA
A esmola era muito praticada pelos fiéis, os quais temiam a Deus e eram bastante generosos: “Havia em Jope uma discípula chamada Tabita, que quer dizer Dorcas. Era rica em boas obras e esmolas que praticava” (Atos 9,36). E: “Piedoso e temente a Deus, como toda sua família, dava muitas esmolas ao povo e continuamente orava a Deus” (Atos 10,2).
A esmola era, com o jejum e a oração, um dos pilares da vida religiosa, segundo nos ensinou Jesus (Mateus 6,1-18). Vemos que Jesus pede que: “Quando deres tua esmola, não saiba a tua [mão] esquerda o que fez a tua direita, para que tua esmola seja em segredo; e teu Pai, que vê no segredo, te recompensará publicamente” (Mateus 6,3-4). Nestes versículos sim, receberemos bênção se aplicarmos o que Jesus nos ensinou: dando esmola, sem interesse algum. “E serás bem-aventurado, porque eles não podem te recompensar; mas serás recompensado na ressurreição dos justos” (Lucas 14,14).
Com Cristo nunca houve dízimo sem esmola e muita caridade: “Então Zaqueu, de pé, disse ao Senhor: ‘Eis aqui, Senhor, a metade dos meus bens que dou aos pobres; e se cometi fraude contra alguém, devolverei quadruplicado'” (Lucas 19,8). Atente que você é cristão, seguidor de Cristo, não de Moisés. E embora seja muito mais difícil seguir a Cristo, ou melhor dizendo, cumprir seus mandamentos, devemos fazê-lo: “Porque sempre tereis pobres convosco” (Mateus 26,11). E ninguém se despoja de tudo para entregá-lo: “Todos os que tinham crido estavam juntos e tinham em comum todas as coisas” (Atos 2,44).
Repassemos outras passagens para ver o que foi que Jesus nos mandou fazer com nosso dinheiro: “Porém, dai esmola daquilo que tens, e então tudo vos será limpo” (Lucas 11,41). “Vendei o que possuís e dai esmola; fazei para vós bolsas que não se envelheçam, tesouro nos céus que não se esgote, onde o ladrão não chega, nem a traça corrói” (Lucas 12,33). “Jesus, ouvindo isto, lhe disse: ‘Ainda te falta uma coisa: vende tudo o que tens e dai aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-me” (Lucas 18,22). Assim agiu Jesus que, “sendo rico, se fez pobre por vós, a fim de vos enriquecer com sua pobreza” (2Coríntios 8,9).
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Notas:
[1] http://www.uned.es/fac-geog/web/planesestudio/historia/449082/guia.pdf
[2] A definição de “Silogismo” da Real Academia Espanhola é: “1. m. Fil. Argumento que consta de três proposições, sendo que a última se deduz necessariamente das outras duas”.