O sentido das gotas de água no vinho na Celebração da Santa Missa

No momento da Liturgia eucarística, as oblações dos fiéis são recebidas pelo sacerdote, ajudado pelo acólito ou outro ministro. O pão e o vinho para a Eucaristia são levados para o celebrante, que as depõe sobre o altar. Ao altar, o sacerdote recebe a patena com pão e a mantém levemente elevada sobre o altar com ambas as mãos, dizendo em silêncio: “Bendito sejais, Senhor”. E depõe a patena com o pão sobre o corporal.

“Em seguida, de pé, no lado do altar, derrama vinho e um pouco d’água no cálice, dizendo em silêncio: ‘Por esta água’, enquanto o ministro lhe apresenta as galhetas.” (IGMR n. 142).

Segundo ensino de Frei Alberto Beckhauser, OFM, o padre no momento em que derrama vinho e um pouco d’água no cálice, diz em voz baixa a seguinte fórmula: “Pelo ministério desta água e deste vinho possamos participar da divindade do vosso filho, que se dignou assumir a nossa humanidade”.

Este rito tem um significado profundo, pois relaciona Cristo e a Igreja, Cristo e a Humanidade. Os judeus não usavam vinho puro em suas refeições, mas, sempre misturado com um pouco de água; assim, provavelmente, Jesus Cristo na última Ceia deve ter utilizado vinho misturado com água também.

No século III, no tempo de São Cipriano de Catargo, surgiram alguns grupos de cristãos com o costume de celebrar a Missa apenas com pão e água, sendo por isso chamados de “aquaristas”. São Cipriano, contrário a este desvio, exorta-os nos seguintes termos: “Se houver apenas água, sem vinho, nós estamos sozinhos, sem Cristo. E se houvesse só vinho sem água estaria Cristo sozinho sem nós” (cf. “A Liturgia da Missa”, pág. 57).

“(…) Eis que a água, nossa bebida mais comum, ganha pela ação de Cristo um novo caráter: torna-se vinho, portanto uma bebida, de certa forma, mais valiosa. O sentido deste símbolo – da água e do vinho – encontra a sua expressão na Santa Missa. Durante o Ofertório, unindo um pouco de água ao vinho, pedimos a Deus através de Cristo participar da sua vida no Sacrifício Eucarístico (…)” (Papa João Paulo II, Homilia em Missa na Catedral de São Sebastião, Rio de Janeiro em 04.10.1997).

A água e o vinho misturados, nos mostram que a Santa Missa é um sacrifício de Cristo e da Igreja:

– “Memorial da Paixão e da Ressurreição do Senhor. Santo Sacrifício, porque atualiza o único sacrifício de Cristo Salvador e inclui a oferenda da Igreja; ou também santo sacrifício da Missa, “sacrifício de louvor” (Hb 13,15), sacrifício espiritual, sacrifício puro e santo, pois realiza e supera todos os sacrifícios da Antiga Aliança.” (CIC 1330)

A Eucaristia é também o sacrifício da Igreja. A Igreja, que é o corpo de Cristo, participa da oferta de sua Cabeça. Com Cristo, ela mesma é oferecida inteira. Ela se une à sua intercessão junto ao Pai por todos os homens. Na Eucaristia, o sacrifício de Cristo se torna também o sacrifício dos membros de seu Corpo. A vida dos fiéis, seu louvor, seu sofrimento, sua oração, seu trabalho são unidos aos de Cristo e à sua oferenda total, e adquirem assim um valor novo. O sacrifício de Cristo, presente sobre o altar, dá a todas as gerações de cristãos a possibilidade de estarem unidos à sua oferta (CIC 1368).

Eis o grande significado deste rito de suma importância, que por vezes passa-nos despercebido na Celebração:

“O vinho é considerado bebida nobre. Assim como a água se mistura ao vinho e toma gosto de vinho, é assumida pelo vinho, assim pela Eucaristia também nós somos assumidos por Cristo, somos transformados em Cristo. Nessa perspectiva importa que deixemos dignificar por Cristo e em Cristo” (cf. A Liturgia da Missa, pág.58).

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BIBLIOGRAFIA:
– BECKHAUSER, Frei Alberto. A Liturgia da Missa: Teologia e Espiritualidade da Eucaristia. 6ª edição. Petrópolis-RJ, Vozes, 1988.
– Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Loyola,2000
– JOÃO PAULO II, Papa. HOMILIA DA SANTA MISSA COM COM OS BISPOS, SACERDOTES, RELIGIOSOS E RELIGIOSAS E DELEGADOS DO CONGRESSO TEOLÓGICO-PASTORAL, Catedral de São Sebastião, Rio de Janeiro Sábado, 4 de Outubro de 1997. © Copyright 1997 – Libreria Editrice Vaticana.
– MISSAL ROMANO RESTAURADO POR DECRETO DO CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, PROMULGADO PELA AUTORIDADE DE PAULO VI E REVISTO POR MANDADO DO PAPA JOÃO PAULO II – Tradução portuguesa para o Brasil da separata da terceira edição típica preparada sob os cuidados da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Roma, 2002 (Edição e-book do site www.pastoralis.com.br)

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