Congregação para a Doutrina da Fé
OBSERVAÇÕES SOBRE O DOCUMENTO DA ARCIC II: “A SALVAÇÃO E A IGREJA”
PREÂMBULO
As seguintes observações constituem um juízo doutrinal autorizado, oferecido aos Membros da Comissão em vista da continuação do diálogo. Foram redigidas pela Congregação para a Doutrina da Fé em entendimento com o Secretariado para a União dos Cristãos.
1. Juízo Geral
No seu conjunto, embora não apresente um ensinamento completo sobre a questão e contenha muitas fórmulas ambíguas, o documento da segunda Comissão Internacional Anglicano-Católica (ARCIC-II), intitulado A salvação e a Igreja, pode ser interpretado dum modo conforme à fé católica. Ele apresenta muitos elementos satisfatórios, sobretudo sobre pontos tradicionalmente controversos.
O juízo da Congregação para a Doutrina da Fé é, pois, substancialmente positivo. Não o é, porém, até ao ponto de ratificar a afirmação conclusiva (n. 32), segundo a qual a Igreja católica e a Comunhão anglicana se encontram de acordo sobre os aspectos essenciais da doutrina da salvação e sobre o papel da Igreja no seio dela.
2. Observações principais
a) O documento está redigido numa linguagem de natureza prevalentemente simbólica, que torna difícil uma interpretação unívoca, necessária porém lá onde se entende chegar a uma declaração definitiva de acordo.
b) A respeito do capítulo Salvação e fé:
a importância, na discussão com os protestantes, da problemática geral da sola fides tornaria desejável um desenvolvimento mais amplo sobre este ponto controverso;
conviria precisar a relação entre a graça e a fé, enquanto initium salutis (cf. n. 9);
a relação fides quae fides qua, bem como a distinção entre garantia e convicção ou certeza, deveriam ser melhor elaboradas.
c) A respeito do capítulo Salvação e boas obras:
conviria determinar melhor a doutrina da graça e do mérito em relação à distinção entre justificação e santificação;
se se quer conservar, a fórmula simul iustus et peccator deveria ser ulteriormente esclarecida, evitando qualquer equívoco;
em geral, a economia sacramental da graça na reconquista da liberdade resgatada do pecado deveria ser posta em evidência de modo melhor (p. ex. nos nn. 21 e 22).
d) A respeito do capítulo Igreja e salvação:
o papel da Igreja na salvação não é apenas o de dar-lhe testemunho, mas também e sobretudo de ser instrumento eficaz em particular por meio dos sete sacramentos da justificação e da santificação: este ponto essencial deveria ser elaborado melhor, a partir principalmente da Lumen Gentium;
é importante, em particular, fazer uma distinção mais clara entre a santidade da Igreja, enquanto sacramento universal de salvação, e os seus membros que, em parte, cedem ainda ao pecado (cf. n. 29).
3. Conclusão
As divergências que, à luz deste documento, permanecem ainda entre a Igreja católica e a Comunhão anglicana, referem-se principalmente a certos aspectos da eclesiologia e da doutrina sacramental.
A visão da Igreja como sacramento da salvação e a dimensão propriamente sacramental da justificação e da santificação do dom continuam muito vagas e fracas, para que seja permitido afirmar que a ARCIC-II chegou a um acordo substancial.
- Fonte: Vaticano