“Observações sobre o documento ‘A salvação e a Igreja’, da ARCIC” (18.11.1988)

Congregação para a Doutrina da Fé
OBSERVAÇÕES SOBRE O DOCUMENTO DA ARCIC II: “A SALVAÇÃO E A IGREJA”

PREÂMBULO

As seguintes observações constituem um juízo doutrinal autorizado, oferecido aos Membros da Comissão em vista da continuação do diálogo. Foram redigidas pela Congregação para a Doutrina da Fé em entendimento com o Secretariado para a União dos Cristãos.

1. Juízo Geral

No seu conjunto, embora não apresente um ensinamento completo sobre a questão e contenha muitas fórmulas ambíguas, o documento da segunda Comissão Internacional Anglicano-Católica (ARCIC-II), intitulado “A salvação e a Igreja”, pode ser interpretado dum modo conforme à fé católica. Ele apresenta muitos elementos satisfatórios, sobretudo sobre pontos tradicionalmente controversos.

O juízo da Congregação para a Doutrina da Fé é, pois, substancialmente positivo. Não o é, porém, até ao ponto de ratificar a afirmação conclusiva (n. 32), segundo a qual a Igreja católica e a Comunhão anglicana “se encontram de acordo sobre os aspectos essenciais da doutrina da salvação e sobre o papel da Igreja no seio dela”.

2. Observações principais

a) O documento está redigido numa linguagem de natureza prevalentemente simbólica, que torna difícil uma interpretação unívoca, necessária porém lá onde se entende chegar a uma declaração definitiva de acordo.

b) A respeito do capítulo “Salvação e fé”:

— a importância, na discussão com os protestantes, da problemática geral da “sola fides” tornaria desejável um desenvolvimento mais amplo sobre este ponto controverso;

— conviria precisar a relação entre a graça e a fé, enquanto “initium salutis” (cf. n. 9);

— a relação “fides quae – fides qua”, bem como a distinção entre “garantia” e “convicção” ou “certeza”, deveriam ser melhor elaboradas.

c) A respeito do capítulo “Salvação e boas obras”:

— conviria determinar melhor a doutrina da graça e do mérito em relação à distinção entre justificação e santificação;

— se se quer conservar, a fórmula “simul iustus et peccator” deveria ser ulteriormente esclarecida, evitando qualquer equívoco;

— em geral, a economia sacramental da graça na reconquista da liberdade resgatada do pecado deveria ser posta em evidência de modo melhor (p. ex. nos nn. 21 e 22).

d) A respeito do capítulo “Igreja e salvação”:

— o papel da Igreja na salvação não é apenas o de dar-lhe testemunho, mas também e sobretudo de ser instrumento eficaz – em particular por meio dos sete sacramentos – da justificação e da santificação: este ponto essencial deveria ser elaborado melhor, a partir principalmente da Lumen Gentium;

— é importante, em particular, fazer uma distinção mais clara entre a santidade da Igreja, enquanto sacramento universal de salvação, e os seus membros que, em parte, cedem ainda ao pecado (cf. n. 29).

3. Conclusão

As divergências que, à luz deste documento, permanecem ainda entre a Igreja católica e a Comunhão anglicana, referem-se principalmente a certos aspectos da eclesiologia e da doutrina sacramental.

A visão da Igreja como sacramento da salvação e a dimensão propriamente sacramental da justificação e da santificação do “dom” continuam muito vagas e fracas, para que seja permitido afirmar que a ARCIC-II chegou a um acordo substancial.

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