– “Quisera saber quem são os Batistas? Serão discípulos de São João Batista?” (Sílvio – Rio de Janeiro-RJ).
Os Batistas constituem uma das seitas protestantes hoje em dia mais ativas (haja vista a diferença entre Igreja e Seita indicada [no artigo] “Quem são os assim chamados ‘protestantes’?”.
Os Batistas em geral não têm ideias muito claras sobre as origens do seu credo religioso. O fato, porém, é que não se prendem nem a São João Batista nem a discípulos do Precursor; não há em absoluto documentos nem indícios de continuidade. Ao contrário, claros testemunhos da história apontam os inícios do movimento batista no séc. XVI d.C.
Contemporaneamente a Lutero, um grupo de cristãos, chefiado por Thomas Münzer, Balthasar Hübmaier, George Blaurock, Ludwig Hoetzer, julgava que o “Reformador” não ia suficientemente longe nos seus propósitos. Na Alemanha e na Suíça começaram então a preconizar uma Igreja, em grau máximo, espiritual, destituída de hierarquia visível e constituída exclusivamente pela adesão consciente dos homens à Palavra de Deus. O sinal característico dessa nova igreja seria o batismo a ser administrado aos adultos, não às crianças, de sorte que os membros do grupo batizavam de novo os fiéis que lhes aderiam (de onde o nome de Anabatistas [=”Rebatizadores”], que lhes foi dado).
O movimento anabatista sofreu forte represália por parte de Lutero, Zwínglio e dos príncipes alemães. Desencadeou revoltas fanáticas, das quais a mais famosa é a dos camponeses, cujo chefe, Thomas Münzer, foi decapitado em 1525. Não poucos anabatistas, fugindo à perseguição, começaram a propagar suas ideias na Itália, na Boêmia, na Morávia, na Alsácia, nos Países Baixos, na Escandinávia, na Inglaterra, subsistindo até hoje em pequenos grupos.
Mais importantes são as ramificações que procederam do tronco anabatista. Eis, aliás, uma das características ou quase leis do movimento protestante: Lutero se atribuiu o direito de derrogar a Tradição, para fazer prevalecer suas intuições religiosas individuais; em consequência, é imitado periodicamente por homens que se julgam iluminados à semelhança de Lutero, e então se separam do bloco luterano ou da seita protestante a que pertencem para dar origem a novo tipo de Cristianismo baseado no senso subjetivo do fundador.
Conhecem-se hoje, como derivações do grupo anabatista, as seitas dos Menonitas (de Meno Simons, +1559), a dos Irmãos Hutterianos (de Tiago Hutter), a Igreja dos Irmãos nos Estados Unidos da América do Norte, a Igreja dos Irmãos Evangélicos Unidos e a Igreja Batista, de todas a mais numerosa.
Os Batistas têm por fundador o inglês John Smyth (+1617). Foi primeiramente pastor anglicano. Movido por espírito reacionário, que agitava não poucos cristãos de sua pátria, queria uma reforma ainda mais radical que a anglicana; em particular, não se conformava com a organização hierárquica (episcopal) e a liturgia da Igreja Anglicana, que ele julgava supérfluas. Por isto, formou em Gainsborough uma pequena comunidade dissidente do Anglicanismo, no ano 1604; foi, porém, obrigado a se exilar com seus companheiros, indo ter a Amsterdam (Holanda), onde o calvinismo predominava. No degredo viveu em casa de um padeiro menonita, que o persuadiu de que era inválido o batismo conferido às crianças (tese anabatista!); Smyth então administrou a si mesmo um segundo batismo, de cujo valor, porém, começou em breve a duvidar. Em consequência, seus companheiros por ele convencidos da tese anabatista, o expulsaram da comunidade; Smyth não conseguiu ser admitido nem mesmo entre os menonitas, aos quais pedira acolhimento. Em 1612, um grupo de seus discípulos voltou à Inglaterra, e lá fundou a primeira Igreja dita Batista (não mais Anabatista), também chamada “dos Batistas gerais”, porque, contrariamente à doutrina calvinista, ensinava que Cristo pela cruz salvou todos os fiéis. Outro grupo se formou, pouco depois, dito “dos Batistas regulares” (ou “particulares”); com efeito, em 1641, outra pequena comunidade de dissidentes do Anglicanismo em Londres se convenceu da tese anabatista; mandou então um de seus membros, Ricardo Blount, a Rijnsburg, na Holanda, a fim de pedir o batismo de adultos à seita de Dompelaers (cisão menonita) e levar à Inglaterra o “verdadeiro batismo”; Blount desincumbiu-se da sua missão; voltando em 1641, rebatizou por imersão (única forma de batismo reconhecida pela seita) 55 membros da comunidade de Londres e aceitou do calvinismo holandês a doutrina de que Cristo salva somente os predestinados, donde o nome de “Batistas particulares” que lhes coube.
Hoje em dia, contam-se cerca de vinte seitas batistas, que em 1905 se uniram de maneira um tanto vaga na “Liga Mundial Batista”; são, entre outros, os batistas calvinistas, os batistas congregacionalistas, os batistas primitivos, os batistas do livre pensamento, os batistas dos seis princípios (porque aceitam como único fundamento da fé e da vida cristã os seis pontos mencionados em Hebreus 6,1-2: arrependimento, fé, batismo, imposição das mãos, ressurreição dos mortos, juízo eterno), os batistas tunkers, os batistas campbellitas, os batizantes a si mesmos, os batistas abertos, os batistas fechados, os batistas do sétimo dia, etc.
Cada comunidade batista é independente de qualquer autoridade visível, seja eclesiástica, seja civil; rege-se diretamente por Jesus Cristo e pelo Espírito Santo, que age na assembleia; não há, pois hierarquia nem jurisdição eclesiástica. Todo o poder de governo reside na assembleia dos fiéis, que elege os que por ela respondem (pastores e diáconos).
Em sua doutrina, os batistas seguem teses calvinistas: Deus predestina diretamente não só para a glória, mas também para a condenação eterna; a justificação ou a graça é obtida mediante a fé; não apaga, mas apenas recobre o pecado; os sacramentos (Batismo e Ceia) não são meios comunicadores da graça, servem apenas para a corroborar em quem os recebe com fé. Como em geral no Protestantismo, a Bíblia é tida como única fonte de doutrina.
Entre os membros das comunidades batistas, nota-se fervor; infelizmente, porém, demais apoiado no subjetivismo, que orienta a religiosidade protestante e leva, consciente ou inconscientemente, os seus adeptos a rejeitar o próprio Cristo em nome do Cristo!
- Fonte: Revista Pergunte e Responderemos nº 7:1957 – nov/1957