Os filhos pródigos

“Não pode ter Deus por Pai quem não tem a Igreja por mãe. Como ninguém se pode salvar fora da arca de Noé, assim ninguém se salva fora da Igreja”. (Cipriano de Cartago (+258) in: De Ecclesiae Unitate VI,3)

É simplesmente inconcebível, que após uma vida na Igreja Católica, do dia para a noite muitos de seus filhos simplesmente a abandonem, por terem finalmente “encontrado a verdade” ou até mesmo, como muitos alardeiam “encontrado Jesus”. Será que faziam o quê na Igreja durante toda essa vivência? Não tinham ainda o contato com a Verdade revelada pelo Evangelho? Não conheciam Jesus, presente realmente em corpo, sangue, alma e divindade na Santa Eucaristia?

É muito triste observar a realidade dessas pessoas que não souberam separar as “pessoas da Igreja ” – que muitas vezes prestam um mau testemunho – e a Santa Igreja.

Um fator que pode levar muitos a afastar-se da Verdade, é justamente a falta de conhecimento da fé católica, de sua história bi – milenar, de sua sã doutrina, e assim, incitados por falsos profetas e falsas doutrinas, o incauto acaba por ser enganado, perdendo o rumo. São Paulo já alertava:

“Porque virá tempo em que os homens já não suportarão a sã doutrina da salvação. Tendo nos ouvidos o desejo de ouvir novidades, escolherão para si, ao capricho de suas paixões, uma multidão de mestres. Afastarão os ouvidos da verdade e se atirarão às fábulas”(II Tim 4,2-4).

O que mais me deixa perplexo, não é o caso dos que se afastam da Igreja por ignorância, mas, sim o caso daqueles que tendo consciência e conhecimento, renegam a fé abandonando a Esposa do Cordeiro.

É bom que saibam que ao desprezar a Santa Igreja, passam assim a serem considerados apóstatas e, portanto excomungados:

“O apóstata da fé, o herege ou o cismático incorre em excomunhão latae sententiae (…)” (Cód. Dir. Canônico, Cân. 1364 § 1)

Um Católico que foi batizado, recebia a Santa Comunhão, fora Crismado, de repente dá as costas a Deus, renegando a Fé recebida dos apóstolos… Julga ter “encontrado Jesus”, justamente agora onde apenas em encenação se lembra a “Santa Ceia”, — enquanto outrora ele participava da presença Real de Cristo na Eucaristia –, julga ter “descoberto a Verdade”, justamente agora onde a leitura da Santa Palavra é baseada em subjetivismos fundamentalistas, desprovidos da autoridade apostólica sem consonância com a Tradição e o Magistério da Igreja.

E se o apóstata era casado na Igreja, além de renegar a fé, traiu e mentiu a Deus, pois, diante do Santo Altar disse outrora, bem claro –- e em público! — que educaria os filhos que Deus lhe desse na fé da Igreja, fé que afirmava professar! Quantas vezes tal apóstata não mentiu a Deus ao proferir a Profissão de Fé que agora tanto ojeriza e despreza?

Tal comportamento só nos faz lembrar da parábola do filho pródigo (cf. Lc 15,11-32), que tendo tudo na Casa do Pai, recolhe seus bens e parte para o mundo. Aqueles que cresceram na Igreja e a abandonam são como filhos pródigos que abandonam a Casa do Pai em busca de novidades… Queira Deus que caiam em si e voltem para onde nunca deveriam ter saído.

Aqueles que já nasceram e cresceram apartados da Santa Igreja, não tem culpa do pecado dos seus antepassados, são reconhecidos pela Santa Igreja como “irmãos no Senhor”, e podem alcançar a salvação de forma extraordinária por meio dos elementos de santificação e verdade que possam existir em tais comunidades eclesiais. Fato este que de forma alguma exime a Igreja do seu dever de evangelizar a todos! Visto ser ela, a portadora da plenitude dos meios que nos levam à salvação que é Jesus.

“Os que hoje em dia nascem em comunidades que surgiram de tais rupturas “e estão imbuídos da fé em Cristo não podem ser argüidos de pecado de separação, e a Igreja católica os abraça com fraterna reverência e amor… Justificados pela fé recebida no Batismo; estão incorporados em Cristo, e por isso com razão são honrados com o nome de cristãos e merecidamente reconhecidos pelos filhos da Igreja católica como irmãos no Senhor”. Além disso, “muitos elementos de santificação e de verdade existem fora dos limites visíveis da Igreja católica”: “A palavra escrita de Deus, a vida da graça, a fé, a esperança, a caridade, outros dons interiores do Espírito Santo e outros elementos visíveis” O espírito de Cristo serve-se dessas igrejas e comunidades eclesiais como meios de salvação cuja força vem da plenitude de graça e de verdade que Cristo confiou à Igreja católica. Todos esses bens provêm de Cristo e levam a Ele e chamam, por eles mesmos, para a “unidade católica”. (Catecismo da Igreja Católica § 818-19)

Diante te tais fatos, não há muito mais o que dizer, somente lamentar e rezar pela alma e verdadeira conversão dos apóstatas, que a cada dia estão aumentando, seja por ignorância, ganância ou por comodidade.

O fato é que a Santa Igreja Católica é o meio pleno, ordinário e seguro que nos une a Jesus, ou seja, a Salvação:

“Apoiado na Sagrada Escritura e na Tradição, [o Concílio] ensina que esta Igreja peregrina é necessária para a salvação. O único mediador e caminho da salvação é Cristo, que se nos torna presente em seu Corpo, que é a Igreja. Ele, porém, inculcando com palavras expressas a necessidade da fé e do batismo, ao mesmo tempo confirmou a necessidade da Igreja, na qual os homens entram pelo Batismo, como que por uma porta. Por isso não podem salvar-se aqueles que, sabendo que a Igreja católica foi fundada por Deus por meio de Jesus Cristo como instituição necessária, apesar disso não quiserem nela entrar ou nela perseverar”. (Catecismo da Igreja Católica § 846)

Por fim, termino com uma citação de Santo Agostinho, que teve uma vida oposta ao dos apóstatas, após caminhar anos nas trevas, finalmente por graça de Deus, encontrou a Luz e o alimento na Santa Igreja Católica, na qual perseverou até o fim:

“Visitai esta Mãe que vos gerou. Vede o que ela vos deu: Uniu a criatura ao Criador, dos servos fez filhos de Deus, dos escravos dos demônios irmãos de Cristo. Não sereis ingratos a tão grandes benefícios se lhes oferecerdes a alegria de vossa presença. Ninguém pode sentir que Deus o ama se despreza a Igreja mãe. Esta mãe santa e espiritual prepara-vos cada dia alimento espiritual… Ela não quer que seus filhos tenham fome desse alimento. Não abandoneis esta mãe, para que ela vos sacie da abundância de sua casa… vos recomende a Deus Pai como filhos dignos e vos conduza, livres e com saúde, à pátria Eterna, depois de vos ter alimentado com Amor.” (Santo Agostinho [PR nº545])

“Quem quiser salvar-se deve antes de tudo professar a fé católica. Porque aquele que não a professar, integral e inviolavelmente, perecerá sem dúvida por toda a eternidade.” (Credo de Santo Atanásio, n.º 1-2)

In caritate Christi,

Leandro Martins de Jesus.

24 de janeiro de 2008, dia de São Francisco de Sales (1567-1622).

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