Os jesuítas na América latina

Introdução

Para o brasileiro médio de hoje, é dificílimo sequer imaginar o ambiente mental dos europeus, especialmente íberos, do século XVI. Tudo, na concepção do homem da época, passava pela religião. Não havia sequer a possibilidade mental de imaginar o mundo de maneira materialista ou secular.

Isto não era, entretanto, como hoje em dia é comum acusar, um totalitarismo religioso imposto sobre a população. A religião regrava as vidas não por imposição externa, mas por crença real e livremente aceita. As autoridades religiosas não detinham senão uma parcela ínfima do poder que hoje tem qualquer guarda de trânsito. As autoridades civis no nível nacional espanhol e português estavam apenas começando a ter o seu poder aumentado lentamente, às custas do poder tradicionalmente mantido pelas instâncias inferiores. Mesmo assim, o poder dos reis era infinitamente menor que o poder exercido por um prefeito moderno. Um rei não poderia dizer a uma Universidade o que fazer, o que ensinar, quem contratar e a quem admitir como aluno. Um rei não poderia dizer a um pai de família como e onde educar seus filhos.

Toda a sociedade estava organizada tendo como pólo principal não as leis e regulamentações estatais, mas a religião. Ao contrário de hoje, havia um acordo completo dentro de todos os segmentos da sociedade, até mesmo os criminosos, acerca do que era certo e do que era errado, do que era permissível e do que não era. Os criminosos não viam com orgulho seus atos criminosos, como hoje muitos fazem; os atos desonestos que cometiam eram por eles vistos como atos desonestos e não justificáveis.

Ao mesmo tempo surgia mais ao norte a sombra da Era Moderna; com a Revolta protestante, seguida pelo dito “Iluminismo”, a era de ouro da civilização européia cedia o lugar aos primeiros sinais do que viria a tornar-se a barbárie genocida do século XX. Na Espanha e em Portugal, contudo, a longa batalha, finalmente concluída, contra as tropas muçulmanas instaurava um período de grandeza espiritual e material. O Século de Ouro espanhol se iniciava.

No mesmo ano em que Cristóvão Colombo descobriu a América, foi concluída a Retomada. A Península Ibérica, que passara oitocentos anos sob dominação muçulmana, estava finalmente de volta às mãos dos cristãos. A longa guerra pelo domínio da Península fizera com que a mentalidade espanhola e portuguesa fosse radicalmente diferente da mentalidade do resto da Europa. Enquanto para a maioria dos europeus o mundo era a Cristandade, para os ibéricos a lembrança recente dos duros combates contra os muçulmanos, e até a presença de muçulmanos nos territórios recém-retomados, eram fatores importantes na formação da mentalidade do povo. Os íberos eram povos guerreiros, povos de soldados.

Estes soldados, entretanto, eram profundamente religiosos. Em suas guerras eles cometiam crimes hediondos, como aliás o fazem quase todos os soldados. Raramente, porém, encontraríamos alguém que os quisesse justificar. A noção de “guerra total”, não podemos esquecer, é uma invenção do século XX.

Os Jesuítas

A Societas Jesu, ou Companhia de Jesus, foi fundada em 27.IX.1540 pelo ex-militar espanhol Santo Inácio de Loyola. Um de seus primeiros seguidores foi o jovem São Francisco Xavier. Organizada em moldes militares, era dedicada à obediência à Igreja ao ponto de adicionar um quarto voto, de obediência direta ao Papa, aos tradicionais votos de pobreza, obediência e castidade. Dispensando muitas práticas tradicionais em prol de uma maior mobilidade, a Companhia de Jesus foi a primeira congregação regular a não ter hábito próprio, não ter canto comum dos Horas litúrgicas e não ter eleições internas, adotando um regime monárquico baseado na obediência. O superior Geral da Companhia é chamado “Papa Negro” (por usar a batina negra dos padres diocesanos), e só presta obediência ao Papa. Do mesmo modo, os jesuítas (termo originalmente ofensivo mas depois adotado pelos membros da Companhia) só prestavam obediência ao Papa e a seus superiores dentro da Companhia. Eles também não faziam votos solenes, de modo a poderem ser mais facilmente dispensados pelo Papa em caso de necessidade.

Antes mesmo do reconhecimento canônico da Companhia, seus membros já foram encarregados pelos Papas de várias missões difíceis, especialmente a luta contra as heresias dentro da Cristandade e a evangelização de povos distantes e agressivos. Coube aos jesuítas a evangelização do Japão, da China (onde envolveram-se em uma questão controversa por adotarem uma versão achinesada da liturgia), da Índia, da América do Norte (onde tombaram vários, martirizados pelos índios na Flórida, em Nova Iorque, na Virgínia e no Canadá). A eles também couberam as tentativas de re-catolicização da Inglaterra, onde vários foram martirizados pelos protestantes. A Companhia teve ao todo mais de oitocentos de seus membros martirizados in odium fidei.

Por adotarem intransigentemente a defesa da Fé e a obediência ao Romano Pontífice, muitas foram as inimizades conquistadas pelos Jesuítas. Os protestantes, os jansenistas, os iluministas, os traficantes de escravos; todos, em um ou outro momento, levantaram-se contra estas vozes da pura Fé, que preferiam entregar sua vida a ceder na defesa da verdade.

A questão ética

Quando foram descobertas as novas terras das Américas, os Reis de Espanha e Portugal receberam permissão papal para evangelizar estes territórios. Os soldados que haviam sido enviados, porém, por mais religiosos que fossem, não eram de modo algum a elite moral da sociedade ibérica. Eram bandidos anistiados, eram aventureiros em busca de fortuna, eram, em suma, a escória da sociedade.

Dois foram os modos de exploração econômica e evangelização das novas terras. Portugal manteve-se na costa, buscando primordialmente o comércio com as tribos nativas. A Espanha, que encontrou quase imediatamente grandes impérios, procurou dominá-los e submetê-los à Coroa. O raciocínio que foi empregado para justificar esta dominação era multiforme. Por um lado, os nativos deveriam ser evangelizados, o que fazia com que fosse necessário manter uma presença forte na terra nova para garantir a segurança dos missionários. Por outro, os nativos tinham hábitos que provocavam nos espanhóis uma justa indignação, como o sacrifício humano. Assim, fazia-se necessário intervir violentamente para fazer cessar estes sacrifícios, que atingiam a casa das dezenas de milhares de pessoas por ano. Ao mesmo tempo, a cobiça dos soldados fazia com que estas razões, que por si seriam justas em algumas circunstâncias, fossem freqüentemente invocadas sem razão.

O Rei da Espanha estabeleceu então um sistema de comendas, que deveria assegurar ao mesmo tempo os interesses financeiros dos espanhóis e o bem-estar dos índios. Os índios seriam empregados pelos espanhóis, a força se preciso fosse, mas sendo sempre pagos, alimentados e educados por seus patrões. A escravização deles não seria permitida. Em breve, porém, os supostos “empregos” tornaram-se mais e mais semelhantes a condições de real escravidão, o que provocou a justa indignação do Bispo de Chiapas, D. Bartolomeu de Las Casas, OP, que chegou a excomungar os maus patrões.

A questão do modo como estavam sendo tratados os índios chegou então às Universidades espanholas, centro do pensamento moral e teológico da época. Vivas questões foram suscitadas acerca do tratamento dado aos índios. Os professores que eram ligados à Corte ou que de alguma maneira tinham ligação com as forças colonizadoras procuravam minimizar a gravidade dos crimes. Os teólogos mais independentes, como Francisco de Vitória e Molina, aplicavam de maneira mais justa a Teologia Moral no tocante a estes casos.

A importância destes debates não pode ser hoje menosprezada, assim como não podemos deixar de perceber a enorme importância e gravidade de que era revestida a excomunhão ministrada por D. Bartolomeu, ou uma simples definição de que tal ou tal ação constitui pecado mortal. Mesmo os mais gananciosos e empedernidos criminosos apavoravam-se com a simples idéia de serem excomungados.

As possessões espanholas eram governada por vice-reis, que detinham prerrogativas de Padroado; a eles competia nomear bispos e instalar dioceses e paróquias. O clero que acompanhava estes vice-reis e era posto sob sua tutela direta pertencia predominantemente às ordens mendicantes (franciscanos e dominicanos). Os jesuítas, porém, operavam de maneira bastante diferente. A Companhia de Jesus operava sob as ordens diretas do Papa, não estando portanto sujeita à tutela direta dos vice-reis espanhóis. Os jesuítas eram aceitos de bom grado pelos espanhóis, mas não faziam parte do sistema. Ainda que obedecendo às determinações legais de colocar os índios sob a suserania do Rei de Espanha, eles não procuraram em momento algum mesclar as populações indígenas às populações espanholas, como havia sido e era ainda feito pelo clero diretamente às ordens dos vice-reis.

Tendo percebido os horrores advindos do sistema de comendas e da exploração da mão-de-obra indígena por parte dos colonos espanhóis, os jesuítas preferiram agir em prol dos índios. A entrada de espanhóis nas reduções jesuíticas só podia ocorrer em circunstâncias especiais, requerendo permissão. Os índios não eram entregues aos colonos, nem tampouco o eram as terras indígenas.

Neste contexto histórico, é fácil perceber tanto a importância do trabalho dos jesuítas quanto as dificuldades por eles enfrentadas.

A América Espanhola

Quando os espanhóis chegaram às Américas continentais, eles encontraram civilizações relativamente avançadas, de alto nível de organização: os Astecas e os Incas. Para os padrões europeus, ambas eram extremamente primitivas em termos tecnológicos; a tração animal era-lhes desconhecida, assim como não conheciam nem as armas de fogo nem o ferro, fundamental para a construção das armaduras que tornavam os espanhóis virtualmente imunes às flechas e espadas de obsidiana dos nativos.

Aproveitando-se das rivalidades tribais, os conquistadores espanhóis lograram subjugar, em tremenda inferioridade de números, os numerosíssimos e aguerridos exércitos idólatras. Em sua justa indignação, causada pelo horrendo espetáculo dos morticínios rituais astecas, os conquistadores desfizeram em grande medida as instituições e a hierarquia social presente antes de sua chegada. Esta organização, porém, não tinha uma história muito longa. Os povos do México haviam sido subjugados pelos astecas há relativamente pouco tempo, e o domínio asteca não estava demasiadamente imbricado no tecido social. Cada povo não-asteca ainda tinha seus próprios reis e príncipes, que pagavam aos astecas impostos em homens e mulheres a serem sacrificados aos ídolos.

Havia porém uma sociedade organizada, de tal forma que a chegada dos espanhóis às praias rapidamente chegavam aos ouvidos dos governantes no altiplano. Isso forçou um confronto maior e levou a uma rápida penetração espanhola em território asteca. Esta penetração, seguida por sucessivas vitórias militares com o auxílio dos povos subjugados pelos astecas, incentivados pelos espanhóis a levantar-se contra seus opressores, fez com que uma governança espanhola fosse logo estabelecida.

Devido ao direito de Padroado de que gozavam os reis de Espanha, foram imediatamente estabelecidas circunscrições não apenas administrativas civis e militares, mas também religiosas. As dioceses eram estabelecidas à medida que o era o governo civil. Enviados em autoridade pelo governo espanhol, os vice-reis tinham o poder de estabelecer novas dioceses e paróquias, facilitando tremendamente o trabalho de evangelização.

Quando da chegada espanhola na costa oeste sul-americana, foi igualmente encontrada uma civilização de grande complexidade administrativa. Assim, a chegada dos primeiros espanhóis foi imediatamente levada ao conhecimento dos Incas em Cuzco, nas altas montanhas andinas. Enviados espanhóis foram imediatamente buscar a conversão dos príncipes, sendo recebidos com injúrias e desprezo. Os espanhóis então atacaram com força. Movidos igualmente pelo desejo de reparar o ultraje a Nosso Senhor e pelo desejo do ouro, farto naquelas terras, imediatamente encetaram a conquista dos territórios dominados pelos Incas, destruindo assim o outro grande Império latino-americano pré-colombiano.

Neste primeiro contato com as civilizações mais avançadas das Américas, cabe lembrar, ainda não estavam presentes os jesuítas. As primeiras excursões espanholas tiveram como seus capelães principalmente franciscanos e, em menor quantidade, dominicanos.

A América Portuguesa

Na América Portuguesa a situação foi bastante diferente. Nas terras cuja evangelização foi confiada aos portugueses, a leste das Tordesilhas, não haviam nenhuma civilização avançada. Centenas de tribos indígenas primitivíssimas, inimigas umas das outras, digladiavam-se e entregavam-se ao canibalismo. Nestas circunstâncias, não havia evidentemente um governo central ao qual a chegada dos portugueses fosse noticiada, não houve tropas enviadas do interior para a costa, não houve, em suma, nenhum motivo para uma rápida penetração além da costa. Somando-se ainda o fato de Portugal ser um país pequeno, já engajado em colonização e comércio costeiros com enorme parcela da África e do Sul da Ásia o que fazia com que os recursos humanos portugueses já estivessem esticados ao limite é fácil perceber a razão por que a colonização portuguesa inicialmente restringiu-se a uma estreitíssima faixa costeira. Até a chegada dos primeiros missionários jesuítas, havia apenas dois franciscanos em Porto Seguro, chegados em 1516, e outros dois em São Vicente (litoral paulista), chegados em 1530.

Com a chegada dos jesuítas à obra da evangelização americana, porém, esta situação se modificou em grande parcela. Levados pelo desejo de evangelizar os índios, livrando-os do canibalismo e de similares costumes bárbaros, os jesuítas rapidamente encetaram fascinante obra de evangelização dos territórios em domínio português. Foram eles os primeiros a avançar a pé pelo litoral, buscando evangelizar as tribos indígenas e inculturar para aqueles povos a mensagem do Salvador. Devemos aos jesuítas a fundação e o estabelecimento não só de grande parcela da povoação costeira no Brasil, como a costa capixaba, como também a fundação de São Paulo, o primeiro estabelecimento ocidental no interior brasileiro. Desta vila, porém, em amarga ironia, viriam mais tarde ataques assassinos contra as futuras reduções jesuítas no Paraguai.

No Ano da Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1549, no dia de Santo Inácio (1o de fevereiro) partiu de Lisboa a primeira missão jesuíta portuguesa para a terra do Brasil. Seis eram os jesuítas que nela vieram, incluindo o superior, Pe. Manuel da Nóbrega. No ano seguinte seis mais padres vieram. Sendo tal número de padres insuficiente para tão vasto território, foram enviados em 1553 mais dois padres e quatro irmãos, dentre eles o Bem Aventurado José de Anchieta (1534-1597), o mais novo da expedição.

Contrariamente ao que ocorria nas terras espanholas, a evangelização do Brasil começou principalmente com os jesuítas. Apesar de terem os reis de Portugal direito também de Padroado, só muito indiretamente era este direito exercido; não foram por estes reis nomeados vice-reis que pudessem exercê-lo, o que fazia com que fossem necessárias ordens vindas da Europa (viagem de meses de barco em cada sentido) para a ereção canônica de uma paróquia. Assim, continuou o Brasil por muito tempo a ser território de Missão. Até 1676 a única diocese em território brasileiro era a da Bahia, fundada em 1551.

A penetração do território português

Em aberta desobediência às determinações da Igreja, era costume entre os portugueses a escravização de indígenas. Somando-se este mau e criminoso hábito às tremendas guerras movidas pelos colonizadores e às doenças provocadas nos índios pelo contato com os brancos, houve rapidamente grande diminuição da povoação indígena no território brasileiro. As tribos do sertão foram exterminadas quando do início da criação de gado na região, com os colonos acusando os nativos de roubar-lhes o gado. Poucas foram as zonas em que a colonização portuguesa foi feita em paz com os índios. Um exemplo é a colonização do Ceará, que nos primeiros anos do século XVII foi pacificado sem morticínios por um jovem capitão, Martim Soares Moreno, acompanhado por apenas cinco soldados e um capelão.

A regra nas terras sob domínio português era a barbárie aberta contra os índios. Contra isso levantaram-se logo os jesuítas, o que lhes causou não poucos problemas. O Pe. António Vieira (1608-1697), nascido em Lisboa mas criado no Brasil desde tenra idade, ao voltar em 1653 de sua formação em Portugal (onde chegou a ser confessor do Rei D. João IV) e ver a situação dos índios no Maranhão e no Pará, causou furor ao dizer com todas as letras aos portugueses que estavam todos em pecado mortal e iriam diretamente para o Inferno.

Quando voltou a Portugal exigiu do Rei que fossem protegidos os índios, conseguindo então em 1655 nova legislação coibindo os fortíssimos abusos cometidos contra estes povos. Com este poderoso auxílio, foi possível para os jesuítas evangelizar e aldear em 54 reduções cerca de duzentos mil índios. O próprio Pe. Antônio Vieira conseguiu pacificar, pela prédica sincera da Palavra, quarenta mil nativos da Ilha de Marajó. Os nativos eram aldeados e dedicavam-se, sob a tutela espiritual dos bons padres jesuítas, à criação de gado. Cedo, porém, a riqueza em gado e em terras dos índios provocou a inveja dos colonos portugueses, que viam seus antigos escravos em situação melhor que a deles próprios. Em 1661, os jesuítas (inclusive Pe. Antônio Vieira) foram expulsos do Maranhão e tiveram que voltar a Portugal. Cedendo aos colonos, o Rei permitiu que os índios fossem distribuídos para o serviço dos colonos. Apenas dezessete anos mais tarde, em 1680, conseguiu Pe. Antônio Vieira do novo Rei, D. Pedro II, nova legislação concedendo a terra aos índios “como senhores originais e naturais dela”.

Em 1684, contudo, estourou nova revolta. Os colonos maranhenses, encabeçados por Manoel Beckman (o “Bequimão”) e Jorge Sampaio, conseguiram novamente expulsar os jesuítas. Depois de debelada a rebelião e devidamente punidos (com a pena de morte) os líderes desta insurreição escravagista, os jesuítas viram-se contudo forçados a ceder parcialmente e permitir que os índios trabalhassem para os colonos seis meses por ano. Infelizmente foram também autorizadas expedições armadas para o interior, que na prática nada mais eram que expedições em busca de escravos em tempo integral.

Pe. Antônio Vieira foi também o responsável pela redação do Regimento das Missões, o regulamento que foi desde 1686 a regra a ser seguida pelos missionários, que passaram a buscar a evangelização e aldeamento dos índios nos seus lugares de origem, mantendo-os longe dos colonos. Quando chegaram outras congregações missionários, foi também por elas adotado este Regimento. A imensa maioria das cidades mais antigas do Norte brasileiro começou como aldeamento jesuíta.

É impressionante notar a relação direta entre a atividade missionários jesuíta e a formação étnica das regiões brasileiras. Nas regiões onde o contato inicial foi feito pelos jesuítas e por eles mantido (ou ao menos segundo o Regimento jesuítico), a imensíssima maioria da população é de origem étnica indígena; nas regiões onde os jesuítas chegaram após os colonizadores brancos, a população é mestiça de índio e branco; onde os jesuítas foram expulsos cedo, ou onde não houve presença jesuíta, a população indígena foi praticamente dizimada.

O mesmo pode ser dito acerca das regiões espanholas em que as tribos indígenas não estavam organizadas. Enquanto nas áreas sob domínio Inca e Asteca foi possível aos espanhóis a manutenção de uma estrutura hierárquica local, reformada para ser posta a serviço da Coroa espanhola, nas áreas anteriormente ocupadas por índios selvagens só persiste um largo componente étnico ameríndio nas regiões cuja evangelização foi feita pelos jesuítas. No Paraguai, território de responsabilidade quase exclusiva dos jesuítas, não apenas foi mantida ilesa a população nativa, como sua língua nativa é até hoje a língua comum.

As técnicas de penetração

Aos jesuítas não agradavam as técnicas espanholas que os franciscanos e dominicanos em geral aceitavam. A simples leitura por um intérprete de um texto que poderia ser resumido grosseiramente em “aceite a Deus e ao Rei como seus superiores por bem ou o faremos aceitar por mal” não lhes condizia em absoluto. As técnicas dos colonizadores portugueses eram-lhe ainda mais repulsivas. O objetivo dos jesuítas era, antes de mais nada, a conversão verdadeira dos índios. Tanto espanhóis quanto portugueses queriam reduzir os índios a escravidão; a única diferença era a maior honestidade dos portugueses, que não disfarçavam sob títulos pomposos e pseudo-misericordiosos os seus intentos.

Assim, os jesuítas procuraram manter-se longe dos colonizadores, trabalhando por conta própria. Armados apenas com seus utensílios sacros e alguns instrumentos musicais, os jesuítas adentravam as matas e caminhavam enormes distâncias, de modo a serem os primeiros a encontrar os índios. Encontrando-os, tocavam música para atraí-los. Atraindo-os, procuravam contar a eles a Boa Nova e convencê-los, sem jamais usar da força, a aderir à religião cristã.

Para isso eles aprenderam as línguas indígenas, compilaram dicionários e gramáticas, e chegaram ao ponto de criar uma língua nova, amálgama das línguas faladas pelos índios da costa brasileira, para que se tornasse possível a comunicação entre todas as tribos. A esta língua foi dado o nome de “Nheengatu”, ou Língua Geral.

O objetivo dos jesuítas era a evangelização, não a europeização dos índios. Isso causou enormes dificuldades com os colonizadores, pois apesar da aceitação geral pelos índios evangelizados da suserania do Rei eles não se tornavam pequenos espanhóis ou pequenos portugueses. Não aprendiam a falar as línguas européias e mantinham todos os seus hábitos culturais que não fossem contrários à Lei Cristã. Era, em suma, criada uma nova cultura cristã de base indígena.

As missões e reduções

Em 1604, pregando aos colonizadores espanhóis em Assunção, o Pe. jesuíta Lorenzana despertou o ódio geral ao ameaçar com a cólera divina os espanhóis se não libertassem os índios que haviam escravizado em incursão pelo interior. Esta foi a gota d’água. A situação tornou-se tensa demais entre os jesuítas e a população espanhola; calúnias surgiram por toda parte, e algo precisava ser feito.

Por mais desagradável que tenha sido, entretanto, este incidente causou indiretamente um grande bem. Afinal, o Rei D. Felipe III já havia proibido em 1601 a escravidão indígena. Em 1606 ele exigiu o desenvolvimento do sistema reducional nos novos contatos com nativos, e reiterou esta ordem em 1609. Três anos depois, em 1607, o superior geral da Companhia, Pe. Cláudio Aquaviva, erigiu uma província nova da Companhia de Jesus: a Província do Paraguai, dedicava à evangelização dos índios no interior. Esta província, que começou com oito padres, já contava com 113 sacerdotes sete anos depois. Seu primeiro superior provincial foi o Pe. Torres, a quem o Visitador do Rei , D. Francisco de Alfaro, sugeriu a vinculação direta das novas reduções à Coroa, para libertar os jesuítas dos entraves causados pelos colonizadores e pelas autoridades cúmplices do tráfico de escravos.

Partindo assim das regiões dominadas pela Espanha, missionários jesuítas avançaram rumo ao sudeste, adentrando as amplas planícies dos Pampas e do Chaco. Nestas planícies, encontraram tribos indígenas semelhantes às existentes no território dominado pelos portugueses, não culturas desenvolvidas e hierarquizadas como haviam anteriormente encontrado os espanhóis no México e nos Andes.

Atraindo-os pacificamente, os jesuítas lograram construir o que já foi chamado “a utopia de mais longa duração”: a República das Missões. “Reduzindo” os índios, ou seja, convencendo-os a viver em “reduções”, em cidades construídas de pedra, os jesuítas edificaram uma verdadeira civilização cristã indígena em um território que hoje faz parte do Paraguai, Uruguai e Brasil. A língua dos índios – o guarani, até hoje falado por ampla parcela da população paraguaia – foi mantida; a autoridade de seus caciques foi respeitada; suas regras de vida, quando não contrárias ao Evangelho, permaneceram em prática. Uma nova civilização começou a desenvolver-se.

Estas missões, ou reduções, foram certamente um fenômeno único na história da América Latina. Afastando-se dos bárbaros colonos europeus, os jesuítas avançaram da antiga terra dos Incas a oeste, penetrando no atual território paraguaio, uruguaio, brasileiro e argentino. A “República Guarani”, estabelecida pelos jesuítas sob a suserania do Rei da Espanha, tinha características administrativas ímpares. Séculos antes de qualquer outro Estado proibir a pena de morte, já era tal a regra nas Missões. A música, as artes, os ofícios mais variados eram ensinados pelos jesuítas aos índios. O talento natural dos nativos para as artes foi descoberto e desenvolvido à perfeição por seus mestres jesuítas. Basta dizer que foram construídas belíssimas catedrais, dotadas de órgãos de tubos; que foram organizados, treinados e ensaiados à perfeição corais de por vezes mais de mil cantores; que foram feitas orquestras; que até hoje a harpa, instrumento aristocrático por excelência, é no Paraguai instrumento popular entre os descendentes dos índios missioneiros.

Nas missões era a priori proibida a entrada de brancos; apenas os padres e irmãos jesuítas transitavam livremente por estes territórios. Esta medida visava evitar não apenas a captura dos índios pelo escravagistas espanhóis, como também a proteção dos nativos evangelizados contra o deletério efeito da pouquíssima moral da ralé colonizadora. Este foi um trabalho dificílimo em seu início; os feiticeiros, evidentemente, buscavam rebelar os índios contra os jesuítas; freqüentemente os índios que não haviam nascido nas reduções relapsavam em antigos hábitos e entregavam-se à embriaguez, ao canibalismo, ao assassinato. Com o tempo, porém, à medida que as novas gerações foram crescendo e suplantando os antigos, que lembravam da vida selvagem, estes problemas foram acabando, apenas para serem substituídos pelos choques com os espanhóis e, mais grave, com as criminosas excursões dos bandeirantes com o propósito de seqüestrar índios missioneiros e reduzi-los à escravidão.

A organização social das missões era, inicialmente, uma versão cristianizada da organização tribal; os caciques mantinham a sua autoridade, que pouco a pouco diminuía até ser atingida uma quase igualdade entre os índios. O padre não participava diretamente da administração secular senão como consultor com poder de veto. Suas sugestões eram evidentemente acatadas, mas as minúcias do governo eram deixadas nas mãos dos índios, que elegiam livremente seus líderes (os caciques viram-se aos poucos transformados em uma nobreza honorífica, sem direito de mando real).

Este não foi um trabalho fácil. Os padres chegavam a pé, sozinhos, armados apenas com seus utensílios litúrgicos, e atraíam os nativos pela música. Falando com eles em suas próprias línguas – para isso foram compostas pelos jesuítas gramáticas e dicionários -, era-lhes anunciada a Boa Nova. Atraídos então pelos padres para uma vida sedentária, os índios construíam, sob a orientação dos missionários, aldeias e cidades cujas ruínas até hoje não deixam de impressionar os visitantes. Estas cidades de pedra eram feitas do nada; cada ferramenta, cada martelo, era construído pelos índios com os materiais de que pudessem dispor, sob as instruções de mestres jesuítas.

As missões eram completamente auto-sustentadas. Criava-se gado, plantava-se o necessário, minerava-se e fundia-se o ferro. Os impostos eram pagos à Coroa espanhola em espécie, visto não circular dinheiro nas Missões. Tudo nestas vastas cidades indígenas era comum; não havia bens particulares, não havia selvageria. Os raros criminosos eram levados, ou melhor, iam de bom grado ao padre, que determinava sua punição. Após serem punidos, normalmente voltavam os índios para agradecer ao sacerdote.

Não se trata de pequenas comunidades de hippies com algumas dezenas de pessoas; o território missioneiro contava em 1700 com 73 religiosos nas 30 reduções já fundadas: 8 no atual Paraguai, 15 na atual Argentina e 7 no atual Rio Grande do Sul. Nelas viviam noventa mil índios, que formavam vinte e três mil famílias. Nos 158 anos que durou a República Guarani, houve apenas sete visitações episcopais.

Confrontos e inimizades

O maior inimigo das missões em seus primeiros anos foram os bandeirantes paulistas. As incursões escravagistas destes mercenários provocavam tamanho terror entre os índios que aqueles eram comparados por estes a demônios encarnados. Há até mesmo uma interessante amostra desta percepção – não de todo errônea – a ser vista ainda hoje em uma igreja gaúcha: uma escultura de S. Miguel Arcanjo em que ao invés de representar o Santo pisando em um demônio vencido ele é mostrado pisando em um bandeirante.

Os ataques bandeirantes tinham na verdade duas causas. Além da busca de escravos, objetivo primeiro dos aventureiros na ausência de ouro e pedras preciosas, havia por trás de tudo uma dura questão política. Os bandeirantes não eram mais portugueses; consideravam-se antes de mais nada paulistas. Somando-se a esta identidade primordialmente local o fato de que o Trono de Portugal esteve em mãos espanholas de 1580 a 1640, diminuindo mais ainda qualquer reconhecimento de autoridade superior por parte dos aventureiros, e o apoio dos colonos portugueses e espanhóis, que não viam com bons olhos as reduções cheias de índios enquanto eles trabalhavam sem auxílio escravo, as incursões bandeirantes eram também afirmações do domínio territorial que desejavam ter naquelas regiões. A Coroa Espanhola, que acabaria por lucrar mais cedo ou mais tarde com os frutos das minerações bandeirantes, fechava normalmente os olhos a tais incursões. Estavam assim os índios e os jesuítas forçados a defender-se por sua própria conta e risco, com as armas que pudessem fabricar e valendo-se apenas de suas próprias forças, sem esperança de auxílio exterior.

Durante o período de união das coroas ibéricas foram muitos os ataques dos bandeirantes. A partir de 1628 eles foram se tornando progressivamente mais graves; em uma só incursão, certa feita, foram capturados e escravizados pelos paulistas trinta mil índios missioneiros. No período de dois anos que vai de 1628 a 1630 foram raptados ao todo cerca de sessenta mil índios. As reduções da região de Guaíra, no atual território brasileiro, tiveram que ser abandonadas em 1631, quando os padres Montoya e Mendoza encabeçaram uma multidão de doze mil índios, atravessando selvas e lugares onde até hoje não há estradas para fugirem da sanha bandeirante e refugiar-se nas missões situadas juntos aos rios Paraná e Alto-Uruguai.

Em 1639, às vésperas da separação de Portugal e Espanha, a Coroa espanhola permitiu que os índios usassem armas de fogo. Foram então fabricados arcabuzes e outras armas leves, com as quais poderiam finalmente defender-se das incursões predadoras dos bandeirantes.

A maior batalha entre os missioneiros e os paulistas, com avassaladora derrota destes, foi a Batalha de Mbororé, no dia 11 de março de 1641. No Rio Uruguai enfrentaram-se 800 bandeirantes acompanhados por seis mil índios tupis, seus aliados, e quatro mil guaranis missioneiros. Os bandeirantes portavam todos armas de fogo; os tupis usavam azagaias e flechas, e os guaranis tinham, ao todo, 57 arcabuzes. A estes, porém, somavam-se engenhosos canhões feitos de bambu grosso envolto em couro, que atiravam balotes de pedra com peso e força suficiente para fazer naufragar uma canoa.

Ao ver aproximarem-se os bandeirantes, o líder guarani, Cacique Inácio Abiaru, avançou com poucos guerreiros e bradou ser uma vergonha que gente que se dissesse cristã quisesse escravizar a outros cristãos. A isso nada respondeu o chefe bandeirante, capitão-mor Manoel Pires. A batalha então começou. Dois dias de batalha ininterrupta depois, vendo as balas de pedra dos canhões de bambu arrasando suas tropas; recebendo o fogo certeiro dos arcabuzes dos guaranis; sofrendo tamanha chuva de flechas que mal podiam sair de seus abrigos, os bandeirantes procuraram convencer os missioneiros que não eram escravagistas, estavam apenas em busca de outros bandeirantes desaparecidos naquela região. De nada lhes valeu a artimanha. Foram desbaratados, e fugiram de volta ao planalto paulista com os guaranis em seus calcanhares. Durante muito tempo não voltaram os bandeirantes a atacar as reduções.

Começava então a fase áurea das reduções. A maior parte dos índios já havia nascido nas missões; os antigos hábitos de canibalismo, roubo, estupros já haviam sido abandonados, e tudo isso já não mais ocorria.

Um problema de natureza diferente, porém, impedia o pleno florescimento desta belíssima civilização cristã guarani. A incerteza das fronteiras traçadas pelo Tratado de Tordesilhas fazia do direito de posse o verdadeiro indicador de soberania. Portugal e Espanha cobiçavam aquelas terras férteis, consideradas como suas de direito por ambos os lados. Como os jesuítas que povoaram a região haviam saído de território espanhol e pertenciam a uma província eclesiástica sediada em Assunção, cidade incontestavelmente pertencente à Espanha, a vassalagem da República Guarani era prestada aos Reis de Espanha. Seus impostos iam para a Coroa Espanhola, e pela Coroa Espanhola foram nomeados defensores da fronteira oriental.

Isso não era visto com bons olhos pela Coroa portuguesa, que ambicionava aquelas terras. Durante cem anos persistiu a questão de fronteira, com os índios guaranis das Missões defendendo ardorosamente seu território contra os ataques das tropas portuguesas e paulistas e dos maus colonizadores espanhóis.

O fim das Missões e da Companhia

Os colonizadores portugueses e os paulistas, como já vimos, não viam com bons olhos aquele gigantesco enclave armado e auto-suficiente em uma terra que consideram sua por direito. Os colonizadores espanhóis, porém, tampouco aceitavam de bom grado a presença das reduções, que os privavam de mão-de-obra escrava (ilegal, mas amplamente utilizada). Além disso, quando de uma sublevação em Assunção em 1753, quando se instaurou uma Comuna independente, o exército guarani sitiou a cidade e a fez retornar à submissão à Coroa, o que evidentemente não contribui para aumentar sua popularidade entre os habitantes. As acusações foram tamanhas que foi ordenada em Madri uma investigação completa, cujo resultado foi favorável aos guaranis.

Em 1750, finalmente, foi assinado o Tratado dos Sete Povos, que expulsou do atual território brasileiro as sete reduções jesuíticas. Foram expulsos de nosso território os trinta mil habitantes que se viram forçados a abandonar os corpos de seus ancestrais em cemitérios tomados depois pelo mato, a abandonar suas imensas plantações, a esvaziar edifícios lindíssimos construídos pelo trabalho de gerações de índios cristãos. Foi forçado a sair do atual território brasileiro, por medo de ser escravizado, o único povo que não tinha pena de morte em sua legislação, o povo que fazia as mais belas obras de arte, o povo que produziu os primeiros impressos de toda a América.

Doze anos depois, em 1762, o Tratado foi revogado e o território dos Sete Povos voltou à Coroa espanhola. Os índios puderam voltar, mas por pouco tempo. Em 1767, o Conde de Aranda determinou a expulsão dos jesuítas dos territórios da Coroa da Espanha. O Marquês de Bucarelli, governador de Buenos Aires, recebeu a incumbência de efetuar a expulsão, com instruções determinando que ele fosse morto se ao fim do ano restasse algum jesuíta, ainda que doente ou à beira da morte, em sua área. Esquadrões de cavalaria fizeram ser cumprida a ordem, levando embora os jesuítas – muitos dos quais já haviam esquecido suas línguas nativas e só sabiam o guarani e o latim – em meio às lágrimas dos valentes índios, que não ousavam levantar-se contra o Rei de Espanha que tantas vezes haviam defendido.

As reduções passaram à administração colonial espanhola, terminando com o belo trabalho de já mais de século e meio dos jesuítas. Os índios aos poucos foram se afastando, e hoje as Missões são apenas as impressionantes ruínas de elevadíssima civilização.

Nos territórios submetidos à Coroa portuguesa, a queda dos jesuítas foi quase simultânea. O Marquês de Pombal, maçom fervoroso e iluminista às raias da caricatura, ordenou a expulsão sumária dos jesuítas de todo o território português, acusando-os de tentativa de regicídio. Em 19.I.1759 foram confiscados todos os bens da Companhia nos territórios portugueses. Em 3.IX.1759, foram expulsos todos os padres. Isso foi feito de maneira tão violenta e brutal que o próprio Voltaire afirmou que “l’excès du ridicule et de l’absurdité y fut joint à l’excès d’horreur”.

A campanha contra os jesuítas, na verdade, era universal. Alvo dos mais ferozes ataques de todos os hereges, dos protestantes aos iluministas, os filhos de Santo Inácio de Loiola acabaram por sofrer o mais baixo de todos os golpes pela mão do Papa Clemente XIV (1769-1774), que fôra eleito com apoio dos governos antijesuítas. O irmão do Marquês de Pombal foi feito Cardeal, e a Companhia de Jesus foi extinta. O superior Geral da Companhia, Pe. Lourenço Ricci (1758-1773), foi encarcerado no Castel Sant’Angelo, onde passou o resto de seus dias. Foi o momento mais negro da história do Papado, e o fim da Companhia de Jesus tal como estabelecida por Santo Inácio. O caminho estava livre para Revolução que alguns anos mais tarde banhou a França em sangue. Abriram-se as portas para a lenta transformação da Cristandade na barbárie do Século XX.

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