Os Livros Sagrados das religiões monoteístas

Autor: Pedro Gaudiano

Depois de termos analisado (…) O Conceito de Deus nas Religiões Monoteístas, vamos agora focar em outro dos elementos básicos para a análise de qualquer religião – neste caso, as monoteístas – ou seja, seus livros sagrados:

1. LIVROS SAGRADOS DO JUDAÍSMO

A Bíblia hebraica ou “Tanak” é composta por livros inspirados por Deus, que contêm o que Ele revelou. Consta dos livros do Antigo Testamento (com exceção de Judite, Tobias, 1-2Macabeus, Sabedoria, Baruc e Eclesiástico, não aceitos pelos judeus – nem pelos protestantes – como inspirados por Deus), escritos em hebraico e aramaico desde o séc. XVI até séc. II a.C. O nome “Tanak” provém das três divisões da Bíblia judaica em hebraico:

a) A “Torá” (Lei): compreende os 5 livros do chamado “Pentateuco”: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. No entanto, a palavra “Torá” pode ser usada em referência à Bíblia judaica integral, assim como a Lei Oral e o Talmud;
b) Os “Nebi’im” (Profetas): recolhem a história e os ensinamentos dos profetas de Israel. Inclui os profetas maiores (Isaías, Jeremias e Ezequiel) e os 12 profetas menores (de Oseias a Malaquias);
c) Os “Ketubim” (Escritos): incluem os demais livros do Antigo Testamento: as obras poéticas (Salmos, Provérbios, Jó, Cântico dos Cânticos e Lamentações), além de livros como Rute, Eclesiastes, Ester, Daniel, Esdras, Neemias, [1-2Reis] e 1-2Crônicas.

A partir do ponto de vista gentílico, a “Tanak” é o mais importante dos escritos sagrados judaicos. No entanto, o ponto de vista judaico é diferente: muitos judeus concordariam com o comentário do rabido Adin Steinsaltz: “Se a Bíblia é a pedra angular do Judaísmo, então o Talmud é a coluna central, que se eleva desde a base e sustenta todo o edifício espiritual e intelectual (…) Nenhuma outra obra teve igual influência na teoria e prática da vida judaica” (“The essential Talmud” [“O Talmud Essencial”]).

Então, o que é o “Talmud”? Os judeus ortodoxos não creem apenas que Deus deu a Moisés a Lei escrita, ou Torá, no monte Sinai, mas que também lhe revelou explicações específicas de como observar aquela Lei e que então deveriam ser transmitidas oralmente. A isto se chamou “Lei oral”; o Talmud é o resumo escrito, com comentários e explicações posteriores, dessa Lei oral, compilada por diversos rabinos. O Talmud geralmente é dividido em 2 seções principais:

a) A “Misná”: uma coleção de comentários que complementam a Lei das Escrituras, baseadas nas explicações dos rabinos chamados “Tannain” (Mestres). Foi colocada por escrito em finais do séc. II e começos do séc. III d.C.;
b) A “Guemará” (originalmente chamada “Talmud”): uma coleção de comentários sobre a Misná, feita por rabinos de um período posterior (do séc. III ao séc. VI d.C.).

Além destas duas divisões principais, o Talmud também pode incluir comentários sobre a “Guemará” feitos por rabinos já durante a Baixa Idade Média; entre estes rabinos, se destacam Rashi (Salomão ben Isaac, 1040-1105), que tornou muito mais compreensível a difícil linguagem do Talmud, e Rambam (Moisés ben Maimon, mais conhecido como Maimônides, 1135-1204), que reorganizou o Talmud em uma versão concisa (Misné Torá), tornando-o assim acessível a todos os judeus.

2. LIVROS SAGRADOS DO CRISTIANISMO

A Bíblia reúne quase 2.000 anos de História: começa com a figura de Abraão (por volta do ano 1.900 a.C.), percorre toda a História do Povo de Israel, narra o nascimento e a vida de Jesus e termina com os acontecimentos dos primeiros cristãos (em finais do séc. I d.C.).

A palavra “Bíblia” provém do grego; é o plural da palavra “biblion”, que significa “livro”; desta forma, a palavra “bíblia” significa “livros”. A Bíblia usada pelos católicos, ainda que seja um único livro, é na verdade como que uma pequena biblioteca: contém 73 livros diferentes, que foram escritos durante centenas de anos. Originalmente foram escritos em duas línguas: hebraico e grego, ainda que existam alguns fragmentos em aramaico.

Todas as Bíblias usadas hoje são uma tradução. Por isso, há algumas diferenças entre elas, pois cada uma matiza de forma diferente a tradução do original.

A Bíblia bateu vários recordes:

– Foi o 1º livro a ser impresso, por Gutemberg, em 1456;
– É o livro mais traduzido: desde a invenção da imprensa, foi publicada em cerca de 1.800 línguas e dialetos diferentes;
– É o livro mais difundido: entre 1815 e 1975, foram distribuídas mais de 2,5 bilhões de Bíblias.
– A “Bíblia Poliglota”: a palavra “poliglota” provém do grego e se compõe, por sua vez, de 2 palavras: “polys” (muitos) e “glotta” (língua); com efeito, as Bíblias poliglotas são Bíblias impressas em várias línguas, sendo a Complutense a mais antiga. Ela foi produzida em Alcalá de Henares, por ordem do Cardeal Cisneros; foi editada entre 1502 e 1517; contém 4 línguas: hebraico, aramaico, grego e latim.

A Bíblia Católica é composta de 2 partes:

a) O Antigo Testamento, com 46 livros, reúne a História do Povo de Israel desde as suas origens até o nascimento de Jesus. É constituído pela Bíblia judaica (Tanak), à qual se somam os 7 livros mencionados no início deste artigo;

b) O Novo Testamento, com 27 livros, contém 4 Evangelhos que narram a vida e os ensinamentos de Jesus; os Atos dos Apóstolos e as Epístolas, que descrevem a vida dos primeiros cristãos; e o Apocalipse, último livro da Bíblia.

Os livros que compõem a Bíblia foram escritos em épocas bastante diversas e sob vários gêneros literários. Chamam-se “gêneros literários” as diferentes maneiras de expressão dos autores, segundo a intenção que tiveram; os mais empregados na Bíblia são: histórico, jurídico, profético, lírico, sapiencial, epistolar e apocalíptico.

O que há de mais importante na Bíblia é a mensagem religiosa que transmite; por isso, não deve ser considerado um livro de história ou um livro científico. A intenção dos seus autores era bem outra: queriam transmitir uma mensagem religiosa; daí que, às vezes, a Bíblia é chamada “Sagradas Escrituras”: Deus, que é o autor principal da Bíblia, se serviu de diferentes autores humanos para se comunicar com as pessoas. Por isso, diz-se que a Bíblia é a Palavra de Deus; nela se encontram mensagens para a vida pessoal, como por exemplo: vivo para quê? como devo agir? o que há depois da morte? etc.

3. LIVROS SAGRADOS DO ISLAMISMO

O mais importante é o “Corão”, palavra árabe que significa “recitação”. É, [segundo o Islamismo,] a palavra de Alá reunida por Maomé, seu profeta, que a transmitiu para os seus companheiros. No Corão, [Alá] fala em primeira pessoa. A tradição muçulmana considera o Corão como própria obra de Deus. Segundo a tradição, o anjo Gabriel ditou o Corão a Maomé, tal como estava previamente escrito no céu. Foi ditado em árabe, motivo pelo qual esta língua se converteria no idioma de Deus. Todo muçulmano, seja qual for a sua língua materna, deve lê-lo e recitá-lo em árabe. Para os muçulmanos, qualquer tradução do Corão para outra língua desfigura o texto. Alguns eruditos islâmicos se recusam a traduzí-lo para não trar seu conteúdo.

Creem que as revelações foram dadas a Maomé durante um período de 20 a 23 anos, desde aproximadamente o ano 610 d.C. até a sua morte em 632 d.C. As fontes muçulmanas explicam que Maomé não sabia ler e que, portanto, precisou memorizar cada revelação para depois repetí-la e recitá-la. Isto não foi difícil para ele, já que os árabes eram bons de memorização.

O Corão consta de 6.226 versículos ou “aleias”, agrupados em 114 capítulos ou “suras/açoras”. Seu estilo literário é uma mistura de prosa e poesia sem métrica. Constitui para o fiel não apenas uma referência religiosa que lhe diz o que deve crer, como também um código onde se descreve tudo o que deve fazer em seu comportamento social. Por isso, em muitos países muçulmanos, o Corão é adotado também como lei que rege o país.

O Corão menciona personagens do Antigo Testamento: Adão, Noé, Abraão, Ismael, Lot, José, Moisés, Saul, Davi, Salomão, Elias, Jó e Jonas; e também do Novo Testamento: Zacarias, João Batista, Jesus (que é considerado como um profeta nascido milagrosamente de Maria, a Virgem, que é considerada a mulher mais pura da Criação).

Outro dos livros sagrados do Islão é o chamado “Hadiz” ou “Suna” que, ainda que não seja considerado um livro revelado por Deus, contém informação sobre comportamentos que a tradição atribui a Maomé. Assim, a forma de agir de Maomé passou a ser a de todos os muçulmanos.

A terceira fonte de ensino e guia para o Islão é a “Sharia”, seu direito canônico. Baseia-se em princípios do Corão e regulamenta toda a vida do muçulmano, religiosa, política e socialmente.

  • Fonte: Revista Fe y Razón nº 8 – set/2006
  • Tradução: Carlos Martins Nabeto

 

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