No Evangelho segundo São Marcos, capítulo 6, versículo 34, encontramos uma passagem que é um convite à reflexão. Segue o texto sagrado (grifo meu):
– Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-se dela, porque era como ovelhas que não têm pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas.
Ficam claras nessa passagem a compaixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e a preocupação com que Ele vê as pessoas que não têm um referencial seguro pelo qual possam se orientar. A expressão ovelhas que não têm pastor, além de comovente, retrata bem essa triste situação de quem se encontra como que à deriva, deixado à própria sorte. Tal quadro talvez seja hoje mais atual do que nunca. Dificilmente podemos imaginar outro período na História em que o relativismo e o subjetivismo tenham se alastrado de forma tão profunda e abrangente. A própria existência de verdades objetivas é, mais do que questionada, desprezada, descartada como se fosse uma coisa ultrapassada.
Embora essa situação tenha um aspecto epistemológico de suma importância, gostaria de me restringir à esfera religiosa, e mais especificamente, ao âmbito do Cristianismo. Ora, é sabido que dentro do Cristianismo não-católico existe uma quantidade enorme, quase incalculável, de ovelhas, as quais se encontram agrupadas em torno de um ou mais pastores (à exceção, é claro, daqueles que se encontram, temporária ou definitivamente, desvinculados de qualquer comunidade; mas desses se pode dizer que, em última instância, são eles mesmos seus próprios pastores, ainda que creiam ter somente a Deus como pastor…). Essa enorme pluralidade contrasta com uma outra passagem bíblica, que se encontra no Evangelho segundo São João, capítulo 10, versículo 16 (grifo meu):
– Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco. Preciso conduzi-las também, e ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor.
Nessa passagem lemos que era e continua sendo da vontade de Nosso Senhor Jesus Cristo que haja um só rebanho e um só pastor, desejo esse expresso também em outra importante passagem (grifos meus):
– “11. Já não estou no mundo, mas eles estão ainda no mundo; eu, porém, vou para junto de ti. Pai santo, guarda-os em teu nome, que me encarregaste de fazer conhecer, a fim de que sejam um como nós. 12. Enquanto eu estava com eles, eu os guardava em teu nome, que me incumbiste de fazer conhecido. Conservei os que me deste, e nenhum deles se perdeu, exceto o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura. 13. Mas, agora, vou para junto de ti. Dirijo-te esta oração enquanto estou no mundo para que eles tenham a plenitude da minha alegria. 14. Dei-lhes a tua palavra, mas o mundo os odeia, porque eles não são do mundo, como também eu não sou do mundo. 15. Não peço que os tires do mundo, mas sim que os preserves do mal. 16. Eles não são do mundo, como também eu não sou do mundo. 17. Santifica-os pela verdade. A tua palavra é a verdade. 18. Como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo. 19. Santifico-me por eles para que também eles sejam santificados pela verdade. 20. Não rogo somente por eles, mas também por aqueles que por sua palavra hão de crer em mim. 21. Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste. 22. Dei-lhes a glória que me deste, para que sejam um, como nós somos um: 23. eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e o mundo reconheça que me enviaste e os amaste, como amaste a mim” (S. João, 17, 11-23).
Sabemos que nosso Sumo Pastor é Nosso Senhor Jesus Cristo. E se Ele, num primeiro momento, manifestou Seu plano de que formássemos um só rebanho, num segundo momento percebemos, também pela Bíblia, que Cristo quis confiar as Suas ovelhas, na Terra, aos cuidados de São Pedro, e o fez de forma solene, reiterada e inequívoca, conforme o relato que lemos no Evangelho segundo São João, capítulo 21, versículos 15 a 17 (grifos meus):
– “15. Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? Respondeu ele: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros. 16. Perguntou-lhe outra vez: Simão, filho de João, amas-me? Respondeu-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros. 17. Perguntou-lhe pela terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Pedro entristeceu-se porque lhe perguntou pela terceira vez: Amas-me?, e respondeu-lhe: Senhor, sabes tudo, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta as minhas ovelhas“.
Como Nosso Senhor Jesus Cristo poderia ter sido mais claro?! E deve-se ressaltar que não se tratou de uma pergunta apenas, nem de um pedido, mas de uma ordem (e feita três vezes!): Apascenta os meus cordeiros (ou minhas ovelhas). Ademais, o primado petrino está bastante claro na Escritura Sagrada.[1] E enfim, como a missão confiada por Nosso Senhor Jesus Cristo a São Pedro não poderia deixar de ser cumprida após a morte do Apóstolo, e como São Pedro foi Bispo de Roma[2], seus sucessores, passando a ser conhecidos pelo título de Papa, até hoje cumprem o mandado uma vez confiado a Pedro, apascentando (pastoreando, conduzindo) as ovelhas do Senhor.
Não, Nosso Senhor Jesus Cristo não quis que ficássemos à deriva, como ovelhas que não têm pastor. E Ele também, em Sua infinita misericórdia e bondade, não quis também que ficássemos à mercê da nossa própria subjetividade, pois ainda que tal subjetividade se creia imbuída de sinceridade e temor a Deus, ela mergulha num abismo sem fim quando busca, dentro de si mesma, o fundamento objetivo de sua fé. Foi para evitar esse desespero inevitável para todo cristão que busque o fundamento último de sua fé que Deus, em Sua infinita sapiência, bondade e misericórdia, constituiu o Magistério da Igreja, sob a chefia inicial de Pedro e posteriormente dos seus legítimos sucessores.
Sejamos, pois, ovelhas dóceis ao pastoreio de Pedro, isto é, ao pastoreio do Papa. Pois assim, e somente assim, poderemos ter a certeza de que não somos ovelhas que não têm pastor, nem ovelhas que seguem tão-somente o seu próprio entendimento (ainda que com as melhores intenções). Como ovelhas de Pedro, seremos ovelhas de Cristo, pois Cristo confiou Suas ovelhas a Pedro. Que Deus nos dê a graça de nos submetermos, sempre, à vontade expressa de Nosso Senhor Jesus Cristo!
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NOTAS
[1] A esse respeito, a literatura é farta, inclusive na Internet. À guisa de introdução, ver o seguinte artigo: http://www.catolicoporque.com.br/index.php/primazia/ 324-quais-sao-os-principais-fundamentos-biblico-para-o-primado-petrino.
[2] A material escrito a esse respeito também é vastíssimo. Somente para citar alguns textos: http://www.bibliacatolica.com.br/blog/doutrina-catolica/ provas-irrefutaveis-do-episcopado-e-martirio-de-pedro-em-roma/#.USkZ0GcyCSp; http://www.lepanto.com.br/catolicismo/apologetica-catolica/ a-igreja-catolica-e-a-igreja-de-cristo/ ; https://veritatis.com.br/apologetica/105-igreja-papado/ 1247-o-apostolo-pedro-esteve-em-roma ; http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/apologetica/papado/ 454-pedro-realmente-esteve-em-roma ;