Papas corruptos em uma Igreja infalível? (Parte 2/4): Pecadores e infalíveis no Novo Testamento

  • Autor: Jesús Urones
  • Fonte: Blog Convertidos Católicos-Religion en Libertad
  • Tradução: Apostolado Veritatis Splendor

PECADORES E INFALÍVEIS NO NOVO TESTAMENTO

No Novo Testamento, a mecânica continua sendo a mesma: Cristo escolhe discípulos, porém todos eles são pecadores – alguns mentem para ele, outros o negam, outros o traem e todos fogem dele.

Os Apóstolos do Senhor eram impecáveis? Obviamente, como nos demonstram as Escrituras, não o eram.

Podemos mencionar os escândalos e fragilidades humanas do próprio círculo que rodeava Jesus:

  • “Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus; edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina” (Efésios 2,19-20).

Eles são seus Apóstolos, individualmente escolhidos por Ele, os próprios fundamentos da Sua Igreja. Mas vejamos como estes fundamentos pecaram:

  • “E Jesus lhe disse: ‘Judas, com um beijo trais o Filho do homem?'” (Lucas 22,48).

Um deles O traiu, como bem reflete São Lucas.

  • “Ora, Pedro estava assentado fora, no pátio; e, aproximando-se dele uma criada, disse: ‘Tu também estavas com Jesus, o galileu’. Mas ele negou diante de todos, dizendo: ‘Não sei o que dizes’. E, saindo para o vestíbulo, outra criada o viu, e disse aos que ali estavam: ‘Este também estava com Jesus, o Nazareno’. E ele negou outra vez com juramento: ‘Não conheço tal homem’. E, daí a pouco, aproximando-se os que ali estavam, disseram a Pedro: ‘Verdadeiramente também tu és deles, pois a tua fala te denuncia’. Então começou ele a praguejar e a jurar, dizendo: ‘Não conheço esse homem’. E imediatamente o galo cantou. E lembrou-se Pedro das palavras de Jesus, que lhe dissera: ‘Antes que o galo cante, três vezes me negarás’. E, saindo dali, chorou amargamente” (Mateus 26,69-75).
  • “Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe, pois, os outros discípulos: ‘Vimos o Senhor’. Mas ele disse-lhes: ‘Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser o meu dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei’. E oito dias depois estavam outra vez os seus discípulos dentro, e com eles Tomé. Chegou Jesus, estando as portas fechadas, e apresentou-se no meio, e disse: ‘Paz seja convosco’. Depois disse a Tomé: ‘Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e chega a tua mão, e põe-na no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente’. E Tomé respondeu, e disse-lhe: ‘Senhor meu, e Deus meu!’ Disse-lhe Jesus: ‘Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram'” (João 20,24-29).

Tomé duvidou Dele.

Quase todos o abandonaram no Calvário e, antes, dormiram no horto do Getsemani.

E, como vimos, todos eles hoje – exceto um – são Santos!

Os discípulos de Emaús, tão logo iniciada a Igreja, já estavam desmotivados (cf. Lucas 24,17). Por que deveríamos nos escandalizar hoje, 2000 anos depois, existirem não só pessoas desmotivadas como, inclusive, apóstatas?

Quando Jesus caminhava na terra, havia o maior escandalizador humano de todos os tempos: Judas. Este foi um dos Doze escolhidos pelo próprio Jesus Cristo, de modo que a porcentavem de escândalo entre os discípulos mais íntimos de Cristo era em torno de 8,5%!

Em Mateus 24, lemos sobre o servo que o Mestre colocou como encarregado da casa:

  • “Quem é, pois, o servo fiel e prudente, que o seu senhor constituiu sobre a sua casa, para dar o sustento a seu tempo? Bem-aventurado aquele servo que o seu senhor, quando vier, achar servindo assim. Em verdade vos digo que o porá sobre todos os seus bens. Mas se aquele mau servo disser no seu coração: ‘O meu senhor tarde virá’; e começar a espancar os seus conservos, e a comer e a beber com os ébrios, virá o senhor daquele servo num dia em que o não espera, e à hora em que ele não sabe, e separá-lo-á, e destinará a sua parte com os hipócritas; ali haverá pranto e ranger de dentes” (Mateus 24,45-51).

Primeiro, vemos que Jesus fala do servo “que constituiu sobre a sua casa” (que representa a Igreja). Este servo pode agir bem ou mal; se é desobediente e “espanca os seus conservos” (abusa da sua autoridade), será castigado – mas Jesus não lhe retira o poder por ser um mau servo, nem nos permite sair da casa em atitude de rebeldia, pois Ele mesmo irá castigar as autoridades más da Igreja.

A Igreja primitiva foi destruída por causa destas gravíssimas infidelidade? Obviamente que não! Jesus não prometeu a impecabilidade aos membros da sua Igreja, por maior que fosse sua relevância. Ele afirmou que o poder do demônio ingressaria na Igreja, mas não prevaleceria contra ela (cf. Mateus 16,18). Quanto mais nos aproximamos do fim dos tempos, mais Satanás intensificará seus ataques contra a Igreja e ingressará nela (cf. Mateus 24,15); a apostasia surgirá (cf. 2Tessalonicenses 2,2), porém sempre haverá um remanescente fiel, ainda que alguns a abandonem e a ataquem.

  • “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; o Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós. Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós” (João 14,16-18).
  • “Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém” (Mateus 28,20).

Como vemos, a promessa do Senhor continua vigente: durante 2000 anos sempre esteve com a sua Igreja. A Igreja primitiva era católica desde os seus primórdios e já então houve escândalos, mas Cristo não a abandonou. Como é dito em Efésios, “a glória da Igreja” é porque verdadeiramente esta Igreja é santa.

Com os olhos da fé e o testemunho da História, podemos ver que a Igreja Católica sempre foi a mais odiada e atacada, a partir de dentro (apostasias, heresias etc.) e a partir de fora. Durante seus 2000 anos de existência, foi criticada, blasfemada, atacada e, inclusive, tentaram exterminá-la; mas tudo sem sucesso: estes envelheceram e morreram, e a “noiva”, a cada dia que passa, está mais bela, aguardando o seu esposo, o Senhor. A todos estes que odeiam a Igreja Católica, a Bíblia lhes diz:

  • “Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela” (João 8,7).
  • “Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à Igreja de Deus” (1Coríntios 10,32).
  • “Porque eu sou o menor dos Apóstolos, que não sou digno de ser chamado Apóstolo, pois que persegui a Igreja de Deus” (1Coríntios 15,9).
  • “Não temas, porque Eu sou contigo; não te assombres, porque Eu sou teu Deus; Eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a destra da minha justiça. Eis que, envergonhados e confundidos serão todos os que se indignaram contra ti; tornar-se-ão em nada, e os que contenderem contigo, perecerão” (Isaías 41,10-11).

O “Justo” defendeu a sua Igreja todos os dias, por todos os séculos, durante quase 2000 anos. Confundidos estão todos os que a atacam: protestantes, hereges, sectários etc.

Por acaso, por este pecado de Pedro, todos os Apóstolos foram apóstatas? Pedro perdeu a sua autoridade e a sua liderança por ter mentido sobre o Senhor? Lembre-se: a Bíblia tem duas cartas de Pedro que, se não fossem guiadas pelo Espírito Santo, não estariam na Bíblia! Mas como o Espírito Santo vai guiar um pecador, um “apóstata” segundo alguns, porque mentiu e pecou???

Um Apóstolo negou a Cristo (cf. Mateus 26,69-75); um o traiu (cf. Mateus 26,25), outro duvidou Dele (cf. João 20,25) e todos o abandonaram (cf. Mateus 26,56). Isto abrange todos os Doze, não é? Contudo, a Igreja que Jesus Cristo fundou, sobreviveu como um só rebanho, com um só Pastor, e todos os Apóstolos – exceto um – se tornaram Santos!

Saulo perseguiu duramente a Igreja, prendeu muitos cristãos e aprovou o assassinato de pelo menos um, como lemos em Atos 7,58-59 e 8,1-2. No entanto, a Igreja se manteve unida e fiel a Pedro, e Saulo se converteu em Paulo, um de seus maiores Apóstolos.

O que observamos aqui? Que a autoridade da Igreja não depende das obras de nenhum dos seus membros.

A Igreja é maior que qualquer um dos seus membros, é maior que qualquer Papa ou Bispo, Padre da Igreja ou Santo.

Por que a Igreja é maior que qualquer um dos seus membros? Porque ela é o Corpo Místico de Cristo; Ele é a sua Cabeça. E pelo que eu saiba, é a cabeça que diz ao corpo o que fazer e não o contrário! Não é verdade? Os ramos sem frutos podem ser podados, porém a videira segue viva!

Isto nos leva ao próximo ponto…

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