PARTE III
DESLIZES DOS SUPOSTOS PAPAS
Neste ponto, inicia-se uma secção de ataque ao papado absolutamente espúria. Os protestantes (usando textos que, às escâncaras, não foram escritos por eles), falam de deslizes morais supostamente praticados por alguns Papas para, daí, retirarem a conclusão de que os mesmos não podem ser sucessores de São Pedro.
É um verdadeiro non sequitur.
A Igreja nunca afirmou que todos os seus Papas foram santos. A santidade não é pré-requisito para que alguém ocupe o Trono de São Pedro. Além disto, jamais foi prometida a santidade àquele que ascendesse à Sé Apostólica. As promessas que Cristo fez a Pedro e que foram transmitidas aos seus sucessores são de outra ordem e subsumem-se na idéia de que tais homens, ainda que imorais e ainda que gananciosos, seriam o sinal da unidade da Igreja e os guardiões da ortodoxia.
É fato notável que nunca houve um único Papa que abraçasse formalmente uma heresia. É fato notável mesmo muitos dos Papas de péssima conduta, quando se viram na contingência de defenderem a fé contra os erros, mantiveram-se firmes.
É fato notável, por fim, que, apesar de alguns Papas ruins, a imensa maioria comandou a Igreja com bravura, abnegação e santidade. Tanto que a imensa maioria dos Papas abaixo citados (conforme se verá) honraram o trono pontifício, sendo que as críticas aos mesmos não possuem qualquer fundamento histórico. O número de Papas notáveis é imensamente maior do que o daqueles que não souberam honrar a Missão para a qual Cristo lhes chamou.
E não há nada de novo nisto.
Cristo chamou, pessoalmente (depois de muito orar a Deus) doze homens para serem coluna da Igreja. Um deles, contudo, não honrou tal chamado. Mostrou-se ganancioso e traidor. E, mesmo ante a ganancia e traição, não deixou de ser um dos doze. Apenas a sua morte é que revogou o chamado de Deus. Até o momento em que sua infeliz vida expirou, Judas Iscariotes continuava sendo um dos doze.
Novamente, não há nada de novo nisto. Os chamados de Deus sempre foram irrevogáveis, não obstante os erros e equívocos dos homens. Abraão mostrou-se um covarde diante do faraó, entregando sua própria esposa para satisfazer os apetites sexuais deste último. No entanto, a promessa não lhe foi retirada.
Jacó comprou sua primogenitura, tapeou seu irmão e seu sogro, resistiu a Deus face a face, e, no entanto, as promessas de Deus não lhe foram retiradas. Seus filhos venderam o próprio irmão por ciúme, e, no entanto, as promessas de Deus não lhes foram retiradas. David, por luxúria, planajou a morte de Urias; Salomão, por conveniência, adorou falsos deuses, e no entanto, nunca se lhes retiraram as promessas de Deus.
Os exemplos poderiam seguir, mas estes bastam por ora.
Analisemos, agora, os fatos “históricos” gentilmente cedidos pelos protestantes do CACP.
O papa Marcelino entrou no templo de Vesta e ofereceu incenso à deusa do paganismo. Foi, portanto, idólatra; ou,pior ainda; foi apóstata!
O espetáculo de inverdades históricas está apenas começando. Marcelino (aliás, São Marcelino,) foi Papa entre os anos 296-304, durante a última grande perseguição de Roma ao cristianismo. Eozébio de Cesaréia, escrevendo poucos anos após o seu pontificado apenas afirmou que a perseguição acabou por atingí-lo.
Isto, e nada mais.
Quase um século depois, inimigos do Papado (notadamente os donatistas) acusaram o Papa Marcelino de ter queimado incenso a deuses pagãos. Santo Agostinho, contudo, veio em sua defesa, afirmando que não havia qualquer prova a este respeito.
De fato, se o bispo de Roma tivesse apostatado durante uma perseguição, tal fato teria provocado profunda comoção e muito cedo se difundiria. No entanto, tal comoção jamais ocorreu e, poucos anos após a morte de Marcelino, o seu túmulo tornou-se ponto de peregrinação dos cristãos. Este dado é incompatível com a teoria da apostasia atribuída a Marcelino.
Portanto, tudo o que dispõem os protestantes para tal afirmação são meras conjecturas levadas a cabo por pessoas que, como eles próprios hoje o são, eram ávidos por denegrir a imagem dos bispos de Roma. Contra tal afirmação levanta-se vários dados concretos e objetivos:
a) Eozébio não a citou, ainda que escrevendo pouco mais de dez anos após a morte de Marcelino;
b) Os detratores deste Papa jamais conseguiram qualquer prova de que o mesmo tivesse, de fato, apostatado;
c) Os cristãos, desde os primeiros anos, reconheceram Marcelino como um santo, o que jamais teria acontecido se ele, como bispo de Roma, tivesse adorado falsos deuses.
Libório consentiu na condenação de Atanásio; depois, passou-se para o arianismo fato este confirmado até por Jerônimo.
A simplicidade franciscana com que os autores deste texto tratam de um dos mais dramáticos episódios da história da Igreja chega a ser repulsivo.
Libório foi Papa entre os anos de 352-366. Neste período, o imperador de Roma, Constâncio, aderiu ao arianismo, doutrina que nega a divindade de Cristo. O grande defensor da ortodoxia, na época, foi Santo Atanásio. Neste cenário, pode-se compreender, perfeitamente o porquê de Constâncio ter usado todo o poder de seu cargo para obter, junto do Papa Libério, uma condenação formal tanto de Atanásio quanto da doutrina por ele defendida.
O Papa Libério defendeu, com todas as suas forças, a ortodoxia. Enfrentou o imperador face a face e foi exilado. O trono de Pedro foi, então ocupado, por dois anos, por um anti-papa de nome Félix, quando, então, dada a resistência oferecida por Libório no exílio, o imperador capitulo e consentiu jo seu retorno. Libório regressou a Roma, tendo entrado na cidade sob aclamação popular. Re-ocupou o Sé Apostólica e passou os últimos anos de sua vida lutando contra o arianismo e defendendo a fé na divindade de Cristo estabelecida no Concílio de Nicéia.
Como se vê, dificilmente pode-se atribuir a este Papa o pecado de ter “passado para o arianismo.”
De onde vêm, pois, tais acusações?
Há muitos escritos antigos que nos dão notícia de que Libório, no exílio, e sob a ameaça de morte, teria assinado um credo ariano, supostamente concordando com o mesmo. Ainda que o tivesse feito, tal assinatura foi lançada sob severa coação e, portanto, não representava nem a vontade nem a fé do Papa. Como toda manifestação de vontade emanada sob coação, a mesma foi nula e de nenhum efeito.
Tanto não representava a fé do Papa que, retornando triunfante a Roma, ele dedicou os últimos anos de seu pontificado para varrer o arianismo da Igreja.
No entanto, sempre houve dúvidas acerca da veracidade desta assinatura e de qual credo o Papa teria assinado sob coação. Para alguns, ele assinou um credo “semi-ariano”. Para outros, ele assinou um credo que combinava outros três anteriormente lançados (nenhum dos quais heréticos) e, mesmo assim, inserindo no mesmo a expressão segundo a qual Cristo era “em tudo igual ao Pai”. Se tal corrente for a correta, o Papa simplesmente teria assinado um credo anti-ariano, ainda que sob a pressão dos arianos.
Enfim, ainda que o pior tenha acontecido (e, se de fato aconteceu, jamais saberemos), o fato é que o Papa apenas teria assinado um documento sob coação. Toda a sua vida, antes e depois de tal assinatura, foi uma constante luta contra o arianismo.
Honório aderiu ao maniqueísmo.
A afirmação acima é de uma estultice sem medidas. Chega a ser assombrosa a falta de condições dos autores do texto em discutir fatos históricos acerca da Igreja.
Honório (Papa entre os anos 625-638) reinou em um momento em que a heresia da moda era o monotelismo (tristemente confundida com o maniqueísmo pelos protestantes autores dete texto). Esta heresia, muitíssimo sutil, afirmava que, muito embora houvesse duas naturezas em Jesus Cristo (a humana e a divina), nEle havia apenas uma vontade: a divina. A ortodoxia católica sempre afirmou que em Cristo há duas vontades: a humana e a divina.
O patriarca de Constantinopla, Sérgio, adepto do monotelismo, escreveu uma carta ao Papa, consultando-o sobre a questão. O Papa, então, respondeu-lhe em uma carta em que demonstrou concordar com Sérgio, muito embora condenando a expressão “uma única vontade”. Nesta carta, o Papa não invocou sua autoridade, nem definiu a questão. Ele simplesmente demonstrou concordar com Sérgio, sem, contudo, vincular a Igreja. Portanto, não aderiu, formalmente, à heresia monotelista, nem a ensinou no uso de seu magistério.
Tanto o é que o Concílio de Constantinopla condenou o Papa Honório, em 680 d. C., não por ser herege, mas por não ter, ele próprio, condenado o monotelismo.
Gregório I chamava Anticristo ao que se impunha como Bispo Universal; e, entretanto, Bonifácio III conseguiu obter do parricida imperador Focas este título em 607. Pascoal II e Eugênio III autorizavam os duelos, condenados pelo Cristo; enquanto que Júlio II e Pio IV os proibiram. Adciano II,em 872, declarou válido o casamento civil; entretanto,Pio VII, em 1823, condenou-o.Xisto V publicou uma edição da Bíblia e, com uma, recomendou a sua leitura; e aquele Pio VII excomungou a edição. Clemente XIV aboliu a Companhia de Jesus, permitida por Paulo III; e o mesmo Pio VII a restabeleceu.
Nenhuma das questões acima envolve matéria de fé ou de moral, pelo que em nada desabonam o papado.
Vergílio comprou o papado de Belisário, tenente do imperador Justiniano.
Uma vez que não se conhece nenhum Papa chamado Vergílio, vamos assumir que os protestantes estão se referindo ao Papa Vigílio (537-555). Ele não comprou o Papado de Belisário. A questão é muito mais complexa (novamente, estes protestantes são de uma simplicidade franciscana). Vejamos o que de fato aconteceu.
O Papa Santo Agapito enviou Vigílio como seu representante junto ao patriarcado de Constantinopla. Lá, ele teve contato com a Imperatriz Teodora, adepta do monofisitismo e rancorosa contra o Papa Agapito pelo fato de este ter deposto o Patriarca de Constantinopla Antimos, ele mesmo um monofisita. Teodora prometeu usar sua influência para que Vigílio sucedesse a Agapito na Sé de São Pedro desde que este, uma vez entronado, desse ganho de causa aos monofisitas. Prometeu-lhe, outrossim uma grande soma de dinheiro neste mister.
Quando Agapito faleceu, sucedeu-lhe o Papa Silvério. Sem saber deste fato, Vigílio viajou para Roma munido de cartas da corte imperial que o indicavam para o Papado. Chegando a Roma, contudo, e com desgosto, viu que a Sé de Pedro já estava ocupada.
No entanto, politicamente a situação de Roma era angustiante. Góticos e bizantinos (comandados por Belisário) pelejavam pelo comando da cidade. Belisário, influenciado pelas cartas de Teodora, usou de sua força para depor o Papa Silvério e para conduzir Vigílio ao trono de Pedro. Pouco tempo depois, Silvério morreu e Vigílio, então de forma legítima, foi reconhecido como Papa.
Vê-se, portanto, que ele não comprou o Papado de Belisário. Ao contrário, ele usou a influência que a Imperatriz Teodora exercia sobre Belisário para que este, às forças das armas, depussesse Silvério e o indicasse para o Papado. Um jogo espúrio, sem dúvidas. Mas muito diverso do que afirmam os protestantes.
Na verdade, foi a Imperatriz Teodora quem tentou comprar a consciência de Vigílio para que o mesmo desse ganho de causa à heresia monofisita. Os acontecimentos subseqüentes mostram que, apesar da ganância da Vigílio, as promessas de Cristo ao Papado são perenes e eternas.
Assumindo legitimamente a Sé Apostólica, e de forma humanamente incompreensível, Vigílio escreveu condenando a doutrina monofisita e, inclusive, re-afirmando a deposição do Patriarca Antimos. Ou seja: os planos de Teodora para que a Sé de Pedro aderisse a uma heresia deram com os burros n’água.
Afinal: as portas do inferno não podem prevalecer contra a mesma!
Por isso, foi condenado no segundo concílio de Calcedônia, que estabeleceu este cânone:O bispo que se eleve por dinheiro será degradado. Sem respeito àquele cânone, Eugênio III, seis séculos depois, fez o mesmo que Vergílio, e foi repreendido por São Bernardo.
Again and again.
Os equívocos históricos destes protestantes chegam a causar fadiga em qualquer pessoa minimamente séria.Eugênio III (pontífice entre os anos 1145-1153) jamais comprou o pontificado de quem quer que seja. Ao contrário, foi homem abnegado, simples e dotado de santidade. Era um monge cistercisence, escolhido de forma surpreendente para ser Papa, e que passou boa parte de seu pontificado exilado de Roma em grandes sofrimentos e aflições. Foi discípulo de São Bernardo, que sempre o amou como a um filho.
Em uma carta cheia de ternura paterna, São Bernardo lhe escreveu: “Quem me dera ver, antes da minha morte, a Igreja de Deus tal como era nos dias antigos quando os apóstolos lançavam suas redes para pescarem almas, e não prata e ouro” É desta citação que os protestantes retiram a conclusão de que Eugênio III comprou o papado e de que São Bernardo o repreendeu.
É de indignar qualquer um!
Em uma carta dirigida a São Bernardo, Pedro de Cluny asseverou acerca do Papa Eugênio III: Eu nunca encontrei amigo mais verdadeiro, irmão mais sincero, pai mais puro. Seu ouvido está sempre pronto para ouvir, sua língua é rápida e poderosa para dar conselhos. Ele não se comporta como um superior, mas como uma pessoa comum e, às vezes, como alguém ainda inferior… Eu nunca lhe fiz um pedido que ele não tenha atendido ou que, quando se negou a fazê-lo, eu não pudesse razoavelmente compreender.”
Seus antigos companheiros, certa vez, afirmaram deste santo Papa: “ele, que externamente brilha nas roupas pontifícias, permanece, em seu coração tal qual um monge.”
Acho que já basta.
Deveis conhecer a história do papa Formoso: Estêvão XI fez exumar o seu corpo, com as vestes pontificais; mandou cortar-lhes os dedos e o arrojou ao Tibre. Estêvão foi envenenado; e tanto Romano como João, seus sucessores, reabilitaram a memória de Formoso.
Relativamente ao Papa Formoso, a história é verdadeira. As razões pelas quais seu corpo foi exumado e cortados os seus dedos, contudo, são meramente políticas.
Barônio o Cardeal chega a dizer que as poderosas cortesãs vendiam, trocavam e até se apoderavam dos bispados; e, horrível é dizê-lo, faziam papas aos seus amantes! Genebrardo sustenta que, durante 150 anos, os papas, em vez de apóstolos, foram apóstatas. Deveis saber que o papa João XII foi eleito com a idade de dezoito anos tão-somente, e que o seu antecessor era filho do papa Sérgio com Marózzia. Que Alexandre XI era… nem me atrevo a dizer o que ele era de Lucrécia;
Vejamos o que há de verdade no parágrafo acima: João XII foi eleito Papa com apenas 18 anos.
Vejamos, agora, as mentiras:
a) O antecessor de João XII era filho de Sérgio III com Marócia. O verdadeiro antecessor de João XII foi Agapito II, homem íntegro e que honrou o trono de São Pedro (aliás, como a imensa maioria dos Papas). Provavelmente, os protestantes referem-se a João XI (por vezes, vemo-nos na contingência de adivinhar o que querem dizer). De fato, há boatos de que este Papa tenha sido filho de Sérgio III com Marócia, no entanto, tais fontes não são confiáveis. Segundo a Enciclopédia Católica: “tais afirmações apenas são feitas por adversários amargos ou mal-informados, e são inconsistentes com aquilo que dele (de Sérgio III) é dito por contemporâneoas respeitáveis.”
b) Que Alexandre XI tinha relações com Lucrécia. Simplesmente nunca exixtiu nenhum Alexandre XI. Possivelmente, por tal razão eles não se atreveram a dizer o que Lucrécia e Alexandre XI tinham entre si…
e que João, o XXII, negou a imortalidade da alma, sendo deposto pelo concílio de Constança.
João XXII (Papa entre os anos 1316-1334) jamais negou a imortalidade da alma. É de estarrecer que tais afirmações possam ser vistas num texto que se supõe sério.
Este Papa, homem bastante austero, chegou a duvidar que os santos tivessem a visão beatífica de Deus antes do Juízo Final. Convenhamos que, entre tal afirmação (que por si só já pressupõe a existência da alma imortal) e aquela a ele imputada pelos protestantes em questão há uma distância abissal.
Antes de ascender à Sé de Pedro, João XXII chegou a escrever negando a visão beatífica anteriormente ao juízo final. Sendo já Papa, num primeiro instante, ele afirmou que, não havando qualquer decisão dogmática a este respeito, os teólogos católicos eram livres para decidir acerca da matéria. No entanto, ele instituiu uma comissão para estudar as Escrituras e os escritos dos Padres. Num consistório, realizado em 03/01/1334, o Papa declarou que jamais quis ensinar nada que ferisse a fé católica e, antes de sua morte, ele expressamente reviu o seu posicionamento.
Ainda bem que João XXII era católico. Se fosse protestante, mandaria às favas a opinião de teólogos, os ensinamentos das Escrituras e, por fim, os escritos dos santos Padres. Após passar por cima de todas estas autoridades, ele fincaria o pé em seu equívoco e, doravante, ninguém mais seria capaz de demovê-lo do erro.
Exatamente como ocorre em qualquer igrejola protestante em nosso país…
O papado continuou tendo seus períodos sombrios, marcados por imoralidade e corrupção. Um desses períodos ocorreu entre o final do século IX e o início do século XI, quando a instituição papal foi controlada por poderosas famílias italianas. A história revela que um terço dos papas dessa época morreu de forma violenta: João VIII (872-882) foi espancado até a morte por seu próprio séquito;
Isto é de uma falsidade histórica grotesca. João VIII (872-882) teve um difícil e glorioso pontificado, empreendendo amplos esforços para a conversão dos eslavos e para deter o avanço sarraceno (inclusive gastando sua própria fortuna neste intento) sobre a Europa.
A versão de que ele teria sido morto com marteladas na cabeça simplesmente não é aceita por nenhum historiador moderno (à exceção, claro, dos nossos amigos protestantes autores deste texto, todos de uma seriedade a toda a prova…).
De qualquer forma, ainda que a versão forjada (e adotada pelos protestantes em questão) fosse verdadeira, o assassino de João VIII teria sido um dos seus conhecidos que visava roubar seu dinheiro. Ele teria, simplesmente, sido uma vítima da ganância humana. Não há rigorosamente nada nesta história forjada que possa arranhar a imagem do papado.
Estêvão VI (885-891), estrangulado;
Tal é verdade.
Leão V (903-904), assassinado pelo sucessor, Sérgio III (904-911);
A causa da morte de Leão V permanece absolutamente obscura. Aliás, muitíssimo pouco se sabe da sua vida, da sua eleição, de seu pontificado e das causas da sua morte.É certo que ele foi preso (por motivos desconhecidos) e que há uma lenda atribuindo a sua morte a Sérgio III, mas, conforme nos assevera a Enciclopédia Católica (tradução minha com grifos acrescentados): “é mais provável que Leão tenha morrido de causas naturais na prisão ou em um monastério”.
De Leão V foi escrito: “ele foi um homem de Deus e de uma digna de louvores e de santidade.
“Novamente: não há nada em Leão V que macule o papado.
João X (914-928), asfixiado;
João X (914-928) empreendeu um belo papado. No entanto, por razões políticas, poderosos de Roma (notadamente Alberico e Marócia, sua mulher) investiram contra o Papa e meteram-no na prisão, onde ele faleceu pouco tempo depois. A versão dada pelos protestantes (morte por asfixia) é muitíssimo pouco confiável, vista que foi escrita por Liutprant, um “historiador” conhecido por seu ódio a Roma. Outras versões mais confiáveis nos dão conta de que João X morreu de ansiedade na prisão.
De qualquer forma, este Papa foi, pura e simplesmente, vítima de perseguição política. Novamente, nada neste fato depõem contra o papado.
e Estêvão VIII (928-931), horrivelmente mutilado, para não citar outros fatos deploráveis.
Francamente, os protestantes em questão devem dispor de fontes mediúnicas para fazer afirmações tã peremptórias quanto estas. Assevera-nos a Enciclopédia Católica que: “Excetuando o fato de (Estêvão VIII) ter sido um romano, filho de Teudmond, cardeal por um período de St. Atanásia, e que, quando Papa, concedeu certos privilégios para os monastérios na França e Itália, e que foi enterrado em São Pedro, nada mais se sabe a seu respeito.”
Parte desse período é tradicionalmente conhecida pelos historiadores como “pornocracia”, numa referência a certas práticas que predominavam na corte papal.
Se este período é conhecido ou não como “pornocracia” é fato de todo duvidoso. O único fato inconcusso que, exceção feita a Estêvão VI e João XII, os protestantes apenas têm, a seu favor, lendas e deturpações históricas.
Um verdadeiro fiasco…
HISTÓRIAS QUE OS CATÓLICOS NÃO SABEM
Ora, a sucessão do bispado de Roma foi interrompida por mais de uma vez, como se convencerá o Leitor pela narração da História Eclesiástica do Cardeal Hergenroeter, completada pelo Mons. J P Kirsch e traduzida para italiano pelo P. Enrico Rosa, jesuíta. Eis quanto nos contam esses conspícuos personagens, romanos como os que mais o sejam. No Terceiro Volume da Soterrai dela Cheias, edição da Liberaria Fiorentina, de 1905, páginas 247 e seguintes:
Com a morte do papa Formoso, a 4 de abril de 896, começou uma era de profunda depressão para a Sé romana, como nenhuma houve antes, nem depois… As facções políticas dela se apossaram, ameaçando de arrastá-la a barbárie dos tempos. Dentro de oito anos (896-904) sucederam-se nove Pontífices, BONIFÁCIO VI, eleito tumultuariamente, só reinou por quinze dias, pois que o partido Spoletano entronizou um dos seus – ESTEVÃO VI (propriamente VII). Este ultrajou a memória de Formoso com cego furor… Mandou desenterrar seu cadáver e apresentá-lo perante um Tribunal Eclesiástico, que o declarou papa ilegítimo, e nula sua eleição! Em seguida atiraram o cadáver no Rio Tibre… Em uma arruaça, Estevão foi apanhado e estrangulado no cárcere, em Junho ou Julho de 897*
Sucedeu-lhe um sacerdote ancião de nome Romano, o qual só pontificou quatro meses.
Verdadeiramente tal ocorreu. No entanto, mais uma vez, tudo indica que ele foi, como tantos outros papas, vítima de perseguições políticas, uma vez que a cidade de Roma estava vivendo em verdadeira guerra de facções. No entanto, um historiador contemporâneo (Frodoardo) escreveu três linhas a seu respeito, afirmando ser o mesmo um homem de virtude.
Assumiu então o papado THEODORO II. que só durou vinte dias. JOÃO IX ficou até o estio de 900. BENTO IV até 903. LEÃO V foi, antes de um mês de pontificado precipitado por CRISTÓVÃO, e este. no fim de Maio de 904, teve o mesmo fim às mãos de SÉRGIO III.
De fato, Cristóvão depôs Leão V e, após a sua morte foi aclamado como Papa, vindo a ser ele mesmo deposto pelos romanos desgostosos da forma pela qual ele depôs um legítimo sucessor de São Pedro. Também ele morreu na prisão, ao que tudo indica, de causas naturais .
Tal afirmação de que Sérgio III tenha assassinato seus dois predecessores (Leão V e Cristóvão) não encontra amparo histórico em fontes sérias (até porque Leão V morreu antes de Sérgio III ascender ao poder). Portanto, devem ser rechaçadas como falsas. Quanto aos demais Papas citados, os protestantes sequer conseguiram afirmar a causa de suas mortes. Eles simplesmente narraram a sucessão dos Papas, como se o simples fato dos pontífices se sucederem fosse indício de alguma irregularidade relativamente ao papado.
No entanto, tal não o é.
Este (Sérgio) já desde o reinado de Teodoro II havia tentado apoderar-se do trono pontifício, sendo, porém, expulso e exilado. Depois de sete anos de exílio, chegou finalmente ao termo de suas ambições. Ele havia sido sagrado bispo de Cere pelo papa formoso, o qual assim tentara afastá-lo da Corte romana, por ser elemento indesejável. Entretanto, tão logo assentado na curia pontifícia, declarou ilegítimas todas as ordenações conferidas por Formoso (portanto também a própria sagração episcopal!) perseguindo com ódio feroz a quantos daquele houvessem recebido a imposição das mãos. Sérgio III faleceu em Agosto de 911.
O leitor atento já deve ter percebido que Sérgio III é um dos mais caluniados papas da história. Como ocorreu nas outras acusações, não há qualquer base histórica para se afirmar que o mesmo tenha sido ordenado por Formoso. Fosse tal fato verdadeiro, o mesmo seria um estulto estupendo se declarasse nulas todas as ordenações feitas sob Formoso.
Tal acusação é falsa e incompatível com o caráter astuto deste Papa.
Paremos um momento para… respirar. Estes senhores que se sucederam mediante o assassinato uns dos outros; estes senhores que foram eleitos (?) à força de traições, de violências inqualificáveis; estes serão sucessores legítimos dos santos mártires Lino, Cleto e clemente? OH! NÃO! O bispado de Roma vagou nesse tempo, e os bispos posteriores já não podem ser considerados sucessores de aqueles aos quais os Apóstolos Pedro e Paulo confiaram a cura espiritual da Igreja Romana.
Estamos diante de um verdadeiro non sequitur. A imoralidade de alguns Papas não anula o fato de os mesmos serem sucessores de São Pedro, da mesma forma como a imoralidade de Judas Iscariotes não anula o fato de ter ele sido escolhido por Deus para ser um dos doze.
Além disto, os protestantes sequer conseguiram provar que os Papas citados sucederam-se mediante o assassinato uns dos outros. Rigorosamente falando, em nenhum dos casos mencionados isto ocorreu, conforme se demonstrou acima.
A Sérgio III sucedeu Anastácio III de Agosto de 911 a Outubro de 913; depois veio LANDÃO, até Abril de 914, e JOÃO X , filho da DITADORA MARÓCIA e do papa SÉRGIO III, primo do primeiro marido dela, o Príncipe ALBERICO,
Na verdade, o suposto filho de Sérgio III com Marócia seria João XI (e não João X). Como visto acima, tal é falso.
Marócia casara-se no ano de 905 em primeiras núpcias com este Príncipe da linhagem dos Condes de Túsculo, liquidando-o no mesmo ano, para se casar com GUIDO, Marquês de Toscana, JOÃO X, que passava por filho do primeiro leito de Marócia, não podia ter mais de dez anos de idade, quando recebeu a sagração suprema, em 914. Durante 14 anos empunhou o Báculo Pastoral, até que, tendo veleidades de independizar-se, foi metido no cárcere, onde expirou em Junho de 928. No ano seguinte Marócia liquidou o segundo marido, e se fez reconhecer como SENADORA E PATRICIA, imperando sozinha.
A João x sucedeu LEÃO VI, e, sete meses depois, ESTEVÃO VII. Em 931, outro filho de Marócia subiu ao trono, com o nome de JOÃO XI. Em 932, Marócia casou-se com o Rei Hugo, irmão de seu segundo marido. João XI foi liquidado em 936, sucedendo-lhe LEÃO VII (936-939). ESTEVÃO VIII (propriamente IX), de 939-942; MARINO II, de 943-946; AGAPITO II, de 946-956; e finalmente OTAVIANO, neto de Marócia, e que foi o primeiro a mudar de nome ao galgar o trono papal. Tinha ele 18 anos de idade, e tomou o nome de JOÃO XII.
Novamente, apenas narram-se ou a sucessão dos Papas (a afirmação de que João XI foi “liquidado” -como, quando, por quem? – é absolutamente gratuita) e as aventuras de Marócio, mulher que, de fato, logrou ter um grande poder político em Roma.
No entento, objetivamente, nada há aqui que macule o Papado (e olhe que este foi o período mais conturbado da gloriosa história dos Papas).
Em toda primeira metade do Século X, tudo parecia fora dos eixos; a corrupção do século inundará a igreja (romana) e nesta não mais existia disciplina… Roma, então envelhecida como Capital de um pequeno Principado, devia retornar pouco a pouco à sua antiga dignidade de Capital do Mundo e à sua sublime Missão – É o que se lê à página 252 do Volume acima citado da STORIA DELLA CHIESA. Pois bem, assim com o OTÃO I, (Imperador desde o ano de 936) não se pode considerar sucessor de Constatino o Grande, e nem mesmo de Carlos Magno; assim, os bispos que se seguiram a estes, não podem razoavelmente ser tidos e havidos como legítimos sucessores dos Bispos de Roma dos tempos apostólicos.
Leiamos agora a página 271 do mesmo Volume da STORIA: – *JOÃO XIX, acusado de negligente e de avaro, reinou até 1032. A maior desgraça da igreja (romana) era que a sua família (dos Condes de Túsculo) mostrava-se convencida de que para sempre o pontificado (romano) era um bem hereditário de sua propriedade. E sem atender ao mérito de quem o ocupasse, esforçava-se por conservá-lo. Desta progênie haviam já saído seis papas, e agora o sétimo, rapaz ainda não de vinte anos, filho de Alberico, e irmão dos papas anteriores, chamava-se TEOFILACTO. Não foram ouvidos os Cardeais, e o povo (que então tinha voz ativa nas eleições) foi comprado por bom dinheiro, sendo assim eleito em modo totalmente tumultuário, esse jovem licencioso, que com o nome de BENTO IX, devia por onze anos (desde 1033 a 1044) ser o vitupério da igreja (romana) *. Até aqui os nossos Autores (os parênteses são nossos). Agora vamos resumir a história.
TEOFILACTO que, ao ser eleito (?) papa em 1033, contava apenas 12 anos de idade, só veio a morrer em 1065, com 44 anos. Em 1044, rebentou uma revolta geral contra ele, BENTO IX se escapuliu, e em seu lugar foi coroado papa, JOÃO, bispo de Sabina, que tomou o nome de SILVESTRE III. Mas, em Abril do mesmo ano, BENTO IX conseguiu voltar ao trono e excomungou todos os rebeldes, mandando muitos deles para o outro mundo. Vendo-se, porém, em perigos contínuos, renunciou, no dia 1 de Maio de 1045, deixando a Cátedra de S. Pedro (incrível, mas verdadeiro!) a um Arcipreste chamado João Graciano, o qual tomou o título de GREGÓRIO VI, e gratificou com *Grossa somma di dinaro* ao seu abnegado e digno Antecessor! (Graciano era um consumado jurista, e conhecia perfeitamente o valor dos argumentos áureos!)*
BENTO IX, com a bolsa bem recheada, se retirou para um dos Castelos de sua nobre família, depois de assinar renúncia formal da Santa Sé, Pouco depois, porém, se arrependeu do mau passo e, apoiado pelos seus poderosos parentes, pretendeu voltar ao Trono. Nada mais natural! Rapaz de 22 anos, cheio de vida e de santidade papal, que renunciara ao seu sublime Cargo não tanto pelo dinheiro (que lhe sobrava), quanto pelo amor de uma filha do Conde Gerardo de Sasso (que lhe fazia muita falta) nada mais natural, digo, – que pretendesse reassumir a Tiara, para repartir os graves encargos da mesma com a sua direitíssima e digníssima Amásia, com a qual tentara se casar quando ainda era papa. Mas os cardeais o impediram.
Assim ficou a Cátedra de S. Pedro com três Titulares: BENTO IX, que retirara a renúncia; SILVESTRE III, que recusava renunciar; e GREGÓRIO VI, que havendo adquirido por *grossa soma di dinaro* o Sólio Pontificio, julgava-se de pleno direito senhor do mesmo.
A ÁGUIA DA GERMANIA (o Rei Henrique III) olfatando fácil e pingue presa, desceu em amplo remigio até a Itália, e se fez coroar Rei da Lombardia a 25 de Outubro de 1046, em Pavia, solicitando de Gregório VI uma entrevista em Placência. Desta cidade seguiram ambos com grande pompa para Sutri, onde se reuniu um Concílio sob a Alta Direção de Henrique III. Neste Concílio, Gregório VI renunciou ( espontaneamente, já se vê!); de Bento IX não se disse palavra (para não magoar sua nobre família, certamente!); e Silvestre III foi aprisionado e recolhido ao aljube de um Mosteiro, em castigo do seu pecado de simonia. Henrique III mandou então a Suidgero de Bamberga, que subiu a Cátedra de S. Pedro com o título de CLEMENTE II. Este foi o segundo papa alemão. No mesmo dia da sua Coroação, 25 de Dezembro de 1046, CLEMENTE II, coroou a Henrique III e sua esposa Inês Imperadores do restaurado Sacro Romano Impero.
Embora os protestantes em questão tenham usado de toda a sua, digamos, “graciosidade” para narrar este episódio da história da Igreja, novamente os mesmos faltaram com a verdade histórica em muitos pontos e, em outros, cometeram crassos equívocos (como a afirmação de que o anti-papa Silvestre III foi castigado pelo crime de “simonia”, quando, pela própria e graciosa narrativa dos autores se percebe que tal acusação cairia apenas sobre Gregório VI). Enfim (e outra vez), uma lástima.
Comecemos com Bento IX. A afirmação de que ele foi eleito Papa com apenas 12 anos de idade somente tem espaço na cabeça vazia de alguns protestantes. Seria incabível e inverossímel que um jovenzinho (ainda sem chegar à idade da razão) viesse a ocupar, por obra e graça de sua família, a Cátedra de São Pedro naquele conturbado período.
É praticamente certo que tal eleição ocorreu quando Bento IX contava com 20 anos.
Jamais qualquer historiador negou que o mesmo foi uma desgraça para a Sé Apostólica. O mesmo, caindo em franca libertinagem, conspurcou o papado e colocou-o em sérias dificuldades. Foi expulso de Roma por uma das facções que disputavam o controle da cidade e, em seu lugar, foi coroado Sivestre III.
Não há qualquer possibilidade de que a eleição de Silvestre III tenha sido válida. Assim, apesar do esforço empreendido pela facção romana que expulsou Bento IX (e apesar da libertinagem deste), Silvestre III jamais ocupou o trono de Pedro. Ele nunca foi Papa e, durante o curto período em que se arvorou este título, o Papa seguia sendo o jovem Bento IX.
Este “detalhe” já elimina metade das dificuldades levantadas pelos protestantes.
Vamos, agora, à sucessão de Bento IX por Gregório VI. Este era homem (cujo nome de batismo era João Graciano) íntegro e de ilibada reputação. Era, igualmente, padrinho de Bento IX, que, desejoso de se casar, resolveu consultá-lo acerca da possibilidade de renunciar ao pontificado. Afirma a Enciclopédia Católica (grifos acrescentados): “Quando ele (Bento IX) convenceu-se da possibilidade (de renunciar), ele ofereceu entregar o Papado nas mãos de seu padrinho por uma grande soma de dinheiro. Desejoso de livrar a Sé de Roma de pontífice tão indigno, João Graciano, com toda a boa fé e simplicidade, pagou-lhe o dinheiro e foi reconhecido Papa em seu lugar. Infelizmente, a ascenção de Graciano, que tomou o nome de Gregório VI, embora saudada com alegria até mesmo por um estrito defensor do direito como São Pedro Damião, não trouxe paz para a Igreja.”
Desta narrativa, tiram-se desde já algumas conclusões bastante óbvias. Em primeiro lugar, Bento IX renunciou ao pontificado e, desde este momento, deixou de ser Papa. Além disto, a elevação de Gregório VI, embora pudesse ser vista como um ato de simonia, foi absolutamente regular segundo o direito canônico da época. Por fim, frise-se, de simonia não se tratou, visto que Gregório VI agiu de absoluta boa-fé, jamais tendo desejado “comprar” o Papado, como afirmam (sempre com a exatidão histórica que lhes é peculiar) os protestantes autores do tenebroso texto sob comento.
Mas, de fato, a eleição de Gregório VI não pacificou a Igreja. A confusão aumentou, visto que o anti-papa Silvestre III (que jamais foi Papa) seguia afirmando ser o legítimo sucessor de Pedro. Para piorar, Bento IX (que deixou de ser Papa com o seu ato de renúncia) não conseguiu casar e arrependeu-se do ato praticado. O mesmo pretendeu retornar à Sé Romana, mas jamais pretendeu levar sua “amásia” consigo (como, com certeza por mera desinformação, afirmaram os autores do texto) pois, simplesmente, ele não tinha amásia para levar. Aliás, se ele quisesse ser, ao mesmo tempo, Papa e amásio de quem quer que fosse, ele não teria renunciado ao trono pontifício.
Possivelmente, mais este “detalhe” não foi percebido pelos protestantes…
Alguns membros da hierarquia, e alguns leigos, contudo, percebendo que a situação era delicada, pediram para Henrique III intervir e colocar ordem na bagunça criada não pelo Papa Gregório, mas pelos dois outros anti-papas (Bento IX e Silvestre III). O mesmo, atendendo a este pedido, desceu até a Itália. Segue afirmando a Enciclopédia Católica (grifos acrescentados):
“Convencido da sua própria inocência, Gregório foi ao seu (de Henrique III) encontro. Foi recebido pelo rei com todas as honras devidas a um Papa, e, de acordo com o pedido real, convocou um Concílio para Sutri. Dos anti-papas, apenas Silvestre apresentou-se no sínodo, que foi aberto a 20 de Dezembro, 1046. Tanto a sua pretensão ao papado quanto à de Bento IX foram logo rejeitadas. Despojado de seus títulos clericais e considerado um usurpador desde o princípio, Silvestre foi condenado ao confinamento em um monastério para o resto de sua vida. O caso de Bento igualmente não trouxe qualquer dificuldade. Ele não tinha nenhum direito ao papado, uma vez que renunciou ao mesmo. Já com Gregório, outra era a situação. Contudo, quando os bispos do Sínodo o convencerão que o ato pelo qual ele se tornou o suprmeo pontífice foi, em si mesmo, simoníaco, chamando-o a renunciar, Gregório, percebendo que tinha poucas chances, por sua própria vontade despiu-se de seu ofício. Um alemão, Suidger, bispo de Bainberg (Clemente II), foi eleito em seu lugar.”
Portanto, e às escâncaras, o trono de Pedro jamais teve três ocupantes. Silvestre nunca o foi; e Bento deixou de sê-lo com sua própria renúncia.
Não é tão difícil de se entender.
Reflitamos um momento. Ou a venda da Cátedra de S. Pedro, feita por bento IX a Graciano foi válida, ou não foi. Se foi válida, já ninguém pode falar em pecado de simonia; e ficam plenamente justificadas as compras de bispados e as vendas das melhores Paróquias e dos Santuários (Aparecida do Norte, Bom-Fim de Salvador, etc) a frades estrangeiros, que se negociam em vários países (menos no Brasil!). Se aquela negociata de Bento IX não foi válida, segue-se que BENTO IX continuou papa legítimo, havendo sido injustamente esbulhado por seis papas intrusos, postos na Sé Romana pelo Imperador Henrique III, durante a vida de Bento IX.
Como foi dito acima, Bento IX deixou de ser Papa com a sua renúncia. Ainda que se entendesse que a coroação deGregório VI não tenha sido correta, o fato é que a renúncia o foi. Portanto, todos os Papas que o seguiram no transcorrer de sua vida foram legítimos. Ilegítima, a partir de sua renúncia, foi a pretensão de Bento IX de retornar à Sé Apostólica.
Mais outra: – Ou o Imperador tinha direito de nomear os papas, ou não! Se sim! Então houve ocasião em que muitos eram papas legítimos ao mesmo tempo. Se não! Houve tempos em que a Cátedra de S. Pedro ficou vacante, não obstante estar ocupada por vários apaziguados do Imperador.
Primeiramente, as afirmações acima são absolutamente espúrias e de uma desonestidade sem medida. Dizer que “houve ocasião em que muitos era papas legítimos ao mesmo tempo” sem mostrar que ocasião foi esta impede qualquer exercício do direito de defesa e de debate sério. O mesmo mesmo ocorre com afirmações do tipo “houve tempos que a Cátedra de S. Pedro ficou vacante”, sem mencionar, exatamente, que tempos foram estes.
A esta altura, contudo, penso que ninguém mais está levando muito a sério o texto protestante sob comento.
O fato é que, no episódio da renúncia de Gregório VI, não foi o imperador Henrique III que o elegeu. Ele indicou alguns candidatos, sendo que, destes, Clemente II foi eleito, segundo as normas canônicas da época, o novo Papa. Como afirma a Enciclopédia Católica: “Uma vez que Henrique ainda não fora coroado, ele não tinha direito canônico de participar da nova eleição; mas os romanos não tinham candidato a propôr e pediram ao monarca que sugerisse alguém de confiança.”
Com Henrique III viera o MONGE BENEDITINO ainda simples HILDEBRANDO, o qual desde então foi o verdadeiro Chefe da igreja Romana manobrando a seu bel-prazer meia dúzia de papas-titeres, e fazendo-se aclamar papa somente em 1078. Foi o celebérrimo GREGÓRIO VII, santo canonizado romano.
HILDEBRANDO, porém, não obstante dotado de notável senso político e de admirável audácia, não possuia o poder de afugentar a MORTE! Bento IX, Conde de Túsculo, fazia desaparecer a todos os alemães indicados por Hildebrando e entronizados por ordem de Henrique III, na Cátedra de S. Pedro.
Rigorosamente falando, nunca houve nenhum Papa alemão assassinado por Bento IX como afirma o texto. A facilidade com a qual estes protestantes conspurcam a história é de estarrecer até o mais calmo dos espíritos. Senão vejamos:
a) Clement II faleceu de morte natural e a afirmação de ter sido envenenado pelos partidários de Bento IX não passa de boataria sem qualquer fundamento histórico.
b) Dâmaso II morreu de malária (como abaixo se demonstra);
c) São Leão IX, morreu em Roma de causas naturais e, acerca do mesmo, nem boatos existem acerca de um possível assassinato por Bento IX.
CLEMENTE II morreu a 9-10-47. Bento IX se prontificou para reassumir o Pontificado, mas os romanos, depois de terem conhecimento dos desejos de Henrique III, de reservar o Pontificado a seus súditos alemães, lhe pediram que houvesse por bem mandar sagrar um novo papa por ele escolhido livremente, Henrique III enviou da Alemanha a POPPONE, bispo de Brixen. Depois de muitas peripécias suscitadas pela oposição da família de Bento IX, Poppone foi entronizado em Julho de 1048, com o nome de DAMÁSIO II. Mas… faleceu repentinamente, por esse tempo, na Alemanha.
A maneira absolutamente desonesta com a qual os protestantes escreveram este texto dá a entender (embora não o dizendo às escâncaras, até para não serem desmascarados) que o Papa Dâmaso II (por eles chamado de “Damásio II”) teria sido assassinado. No entanto, o pobre morreu, naturalmente, vítima de malária.
Henrique III viu-se então em talas para encontrar um novo papa… Nenhum alemão queria aceitar a honra de ser Sucessor de S. Pedro!… O Imperador nomeou então a BRUNO, bispo de Toul, e seu parente (da família dos Condes de NORDGAU, na Alsácia). Este só se resignou a ser papa, com a condição de ser aceito pelos romanos em eleição popular, livre e pacífica. De Toul, seguiu ele para Besanón, onde recebeu a guarda toda poderosa de Hildebrando, que se lhe fez companheiro de viagens desde Cluny até Roma. Entrou ele na Cidade a pé, descalço e com túnica de peregrino, sendo muito bem recebido, e coroando-se Sumo Pontífice com o nome de LEÃO IX.
Em Maio de 1053, São Leão IX, Papa, envergando a farda de General, pôs-se a testa de aguerrido exército para combater os Normandos, que haviam invadido o Sul da Itália. A 18 de Junho seu exército foi totalmente derrotado e desbaratado, e o Sumo Pontífice, a-pesar-de santo e general, caiu prisioneiro. Nessa condição ficou detido em Benevento até que cedesse a todas as imposições dos seus vencedores. Depois de completa Capitulação, foi posto em liberdade a 12-8-1054, reentrando no Palácio do Latrão a 3 de Abril. A 18 do mesmo mês pontificou solenemente na Basílica de S. Pedro, mas… no dia seguinte faleceu misteriosamente!… Assim foi-se São Leão IX, Patrono dos Generais derrotados!
O fato, puro e simples, de ter sido São Leão IX derrotado pelos normandos não implica, em absoluto, qualquer mancha para o papado. Os protestantes esqueceram-se de dizer (curiosamente, eles esquecem cada detalhe importante…) que os normandos estavam oprimindo violentamente a população de todo o sul da Itália. Foi esta população oprimida que pediu, como única esperança, o auxílio do Papa, visto que mais ninguém vinha em seu auxílio.
De fato, o Papa foi derrotado. No entanto, ao contrário do que asseveram os autores desta peça bufa, não houve capitulação completa de São Leão IX. Os normandos, mesmo tendo vencido o exército do Papa, “trataram-no com o maior respeito e consideração, e professaram ser seus soldados.” (Enciclopédia Católica). Convenhamos, este não é o cenário de um Papa capitulado e vencido…
Aliás, embora tenha ocorrido a derrota militar, o Papa foi vitorioso em seus intentos, fazendo cessar a perseguição normanda ao sul da Itália. Como assevera a mesma Enciclopédia Católica, o Papa conseguiu mais na derrota do que teria conseguido na vitória.
Assim foi-se a última acusação infundada, mentirosa e espúria perpetrada por este texto marcado por profunda desonestidade intelectual de seus autores!
Bastem estes fatos. Não é aqui o lugar de rememorar todos os casos em que a Sede Romana esteve em desordem; por exemplo, no começo do século 15, em que quatro papas legítimos excomungavam; cada um deles excomungava três papas legítimos, e era declarado excomungado por cada um de seus três colegas Sucessores de São Pedro, infalíveis, Vigários de Cristo, etc, etc… (Veja o II Apêndice).
Responda agora o Leitor: – Será o papa Pio XII legítimo Sucessor de S. Pedro? (Poderá ser legitimamente eleito papa, quem se acha incurso na excomunhão fulminada pelo Canon 2335?
Vejamos estes últimos dois parágrafos.
O primeiro deles não merece uma resposta, visto que não elencou os fatos. Por algumas vezes (como no caso acima esclarecido de Bento IX, Silvestre III e Gregório VI) houve anti-papas. O Sumo Pontífice, contudo, sempre foi um só, e sempre o primeiro eleito validamente.
O segundo parágrafo é impossível de ser respondido, visto ser totalmente ininteligível. Ao que tudo parece, o texto colado pelos protestantes do CACP é bastante antigo, datando da época em que Pio XII ainda pontificava. Ao que tudo indica, os verdadeiros autores do texto acusaram o Papa de estar incurso em algum dos Cânones do CDC vigente à época. Possivelmente, o texto original esclarecia a questão.
Como os protestantes do CACP nem colacionaram a totalidade do texto, nem fizeram a gentileza de citar as fontes pesquisadas (como qualquer pessoa idônea faria) é impossível sabermos, ao certo, qual a acusação feita a Pio XII.
A ter por base, contudo, o teor das acusações que aprecederam, poder-se-ia esperar mais um espetáculo de inverdades e mentiras.