Paulo confrontou pedro. isto não refuta a doutrina da infalibilidade papal?

– Sejam honestos: Gálatas 2,11-14 não refuta a doutrina da infalibilidade papal? Vejam: o Apóstolo Paulo claramente indica que Pedro – o primeiro Papa, segundo vocês – estava ensinando a heresia judaizante. (Anônimo)

Paulo não fez isso. Nem as palavras empregadas por ele, nem o contexto [da passagem] suportam tal idéia.

Você está certo em reconhecer que em sua Carta aos Gálatas Paulo está combatendo os judaizantes, que ensinavam que as leis cerimoniais mosaicas, incluindo as leis alimentares e a circuncisão, ainda vigoravam. Mas observe que nos dez versículos anteriores (Gálatas 2,1-10) Paulo se esforça para garantir a seus leitores que tanto ele quanto Pedro tinham a mesma visão quanto a esta matéria.

(Observe ainda que, no decorrer destes capítulos, Paulo se refere a Simão Pedro como “Cefas” – a transliteração [grega] do aramaico “Pedra” – em reconhecimento da inabalável firmeza doutrinal conferida a Pedro por Nosso Senhor, em conformidade com Mateus 16,18).

O problema em Antioquia surgiu quando Pedro agiu de uma maneira inconsistente com a sua fé. Isto não era um erro em matéria doutrinária, mas hipocrisia (esta é, aliás, a palavra grega usada por Paulo no versículo 13) que significa a não-prática daquilo que se prega. Se Pedro se afastasse da comunhão por comer alimentos “kosher” diante dos gentios e isto fosse uma falta teológica, ele não teria sido apontado por Paulo como culpado de hipocrisia.

Mesmo se antepondo frontalmente a Pedro, Paulo testemunha exclicitamente a sua conformidade doutrinária: “Nós somos judeus de nascimento […] Sabemos [você e eu, Pedro] que um homem não é justificado por observar a Lei de Moisés” (Gálatas 2,15-16).

Com efeito, não existe nada nessa passagem que negue a doutrina da infalibidade papal. Na verdade, a passagem nega o conceito de impecabilidade papal (ou seja, a impossibilidade de o Papa pecar), mas isto é exatamente o que a Igreja Católica NÃO ensina.

Se fosse uma resposta ao que o nosso comportamento acaba ensinando, poderíamos concordar; contudo, esse “ensinar” no sentido amplo nunca foi incluído nas afirmações que a Igreja Católica faz a respeito da infalibilidade papal, de modo que é muitíssimo temeroso querer criticar esse ponto [da matéria].

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