Pe. Alexandre Paciolli: vários anos fugindo de Cristo

Vários anos fugindo de Cristo

É muito recente em meu coração e em minha mente aquele momento do dia 2 de janeiro de 2001, mais ou menos às 11h da manhã, quando o Cardeal Darío Castrillón Hoyos iniciou a oração de consagração ao sacerdócio.

Antes do chamado

Nasci na cidade de Fortaleza, Brasil, em 12 de dezembro de 1968. Tenho a graça de ser guadalupano e a Ela ? a Maria ? devo minha vocação legionária, coisa que agradeço dia e noite.

Em minha família somos atualmente cinco: meu pai, minha irmã e outros dois irmãos. Meus pais nasceram no interior do estado onde se encontra Fortaleza. Viveram em um ambiente de fé e de luta para se superarem na vida. Com eles sempre aprendi a amar o desafio e a não me conformar com o já alcançado.

Eu era muito travesso. Mas depois de tantas travessuras quis me redimir. Comecei a estudar e passei em um difícil concurso para ingressar no colégio militar, somente com dez anos de idade. Lá comecei aprender o que era disciplina e a me portar melhor. Depois de quatro anos no colégio militar de Fortaleza, decidi ser oficial militar. Queria especialmente estar na força aérea, pois meu irmão era piloto de aviões de guerra e minha irmã estava casada com um piloto também. Comentei a idéia com meus pais e eles gostaram muito. Fiz o concurso para a Marinha e fui aprovado, depois fiz para o exército de terra e fui aprovado, para a força aérea e…não fui aprovado. Deus já tinha tudo planejado. Decidi, portanto, ingressar na Marinha. Com isto começaram novas aventuras e também se iniciava a revelação do plano de Deus para a minha vida.

A chegada da vocação sacerdotal

Cheguei à Academia Naval com 15 anos e fui viver sozinho no Rio de Janeiro. Tudo era um desafio. Tinha que caminhar com minhas próprias forças e tinha que estar à altura do que meus pais esperavam de mim.

O primeiro ano na Academia Naval foi difícil. Encontrei na capela um refúgio e uma saída para o árduo ritmo de vida. Deus, infinitamente mais inteligente que eu, se aproveitou da situação para semear em meu coração o amor até Ele.

Em 1987, o padre capelão me convidou a organizar um retiro. Tudo era um desafio! Dei uma palestra sobre o ´filho pródigo´ (de fato nem sabia onde estava esta passagem na Bíblia). Quando dei esta palestra todos começaram a chorar por seus pecados e eu também pelos meus. A experiência de minha mediocridade foi muito forte e a graça de Deus, todavia, mais ainda. O retiro passou, mas a graça ficou no meu coração.


Uns dias mais tarde um amigo me disse:

´Alexandre, acaba de vir a minha mente, por que não o sacerdócio?´. Justamente naqueles dias também tinha vindo a minha mente essa idéia. Ele seguiu e me perguntou: ´E tu, iras ser sacerdote?´. Eu respondi: ´jamais´.


Deus x Alexandre


Aqui começou a luta Deus versus Alexandre Paciolli. Eu não quis de maneira nenhuma aceitar o chamado de Deus. Ele seguiu insistindo. Estava na metade do segundo ano de a academia. Era o ano de 1987. A maneira como tentei escapar foi praticando esporte. Comecei no atletismo: lançamento de bala, de disco, de dardo, 100 metros sem obstáculos. Não gostei muito e comecei a praticar voleyball. Fazia muito pouco movimento. Passei então ao water-polo. Era o goleiro da equipe de a academia. Todavia, o chamado vinha sempre a minha mente. Deus não me deixava.


Comecei então a praticar esportes mais absorventes como a pesca submarina, acampar em ilhas de difícil acesso ou com muitos perigos, etc., tudo com o intuito de não escutar a voz de Deus. Mas a voz interior seguia perseguindo-me.


Optei pelo windsurfe pensando que com os veleiros oceânicos poderia escapar definitivamente Dele. Este esporte me encantou e Deus me deu a graça de me destacar cada vez mais nas competições. Estava feliz. Ganhei vários campeonatos, e logo fui nomeado como encarregado da equipe de vela. Todavia, nada me tirava da mente a idéia que Deus havia posto em meu coração.


Para tentar esquecer definitivamente Dele, queria realizar um de meus sonhos: ter uma namorada de Copacabana. Tudo era perfeito, pois um dos meus melhores amigos me convidou a ir com ele. Lá conheci uma garota que foi de grande importância em minha vocação. Essa garota foi minha namorada e chegamos inclusive a ter planos sérios de casar-nos. Mas Deus não me deixava: ´Alexandre, te quero sacerdote´. E eu seguia fugindo de Deus.


Como conheci a Legião de Cristo


Chegou então uma etapa da minha vida onde estava já tranqüilo, pois havia conseguido esconder-me bem de minha vocação. Mas um dia, durante a missa dominical, estando com minha namorada, conheci um sacerdote que me chamou a atenção por sua alegria e seu fervor na Santa Missa. Era o P. Javier Sicília, L.C. Ele me apresentou ao P. Eduardo Robles Gil, L.C., quem dirigia a seção de jovens do Movimento Regnum Christi no Rio de Janeiro.


Primeiro acidente


A primeira chamada de atenção de Deus foi enquanto treinava para uma regata muito importante na qual ia participar no Rio de Janeiro. Desatou uma tormenta muito forte que meu barco virou, perdendo também toda a equipe que levava. Nesse momento vinha um barco petroleiro muito grande em minha direção. Salvei-me por um milagre, pois meu primo foi resgatar-me em um barco com motor.


Incorporação ao Regnum Christi


O P. Eduardo Robles Gil nos ajudou muito através de a direção espiritual e, quando menos esperava, já estava fazendo grandes apostolados por Cristo e tendo um verdadeiro pastor de almas interessado pessoalmente pela minha santificação. Identifiquei-me muito com o Regnum Christi, e sentia o chamado ao sacerdócio, mas…meu namoro e a Marinha me atavam.

Segundo acidente


Então aconteceu o segundo acidente de barco. Convidaram-me a participar do campeonato sul-americano de vela. Do caminho ao local da regata, fomos surpreendidos por uma tormenta duríssima. O veleiro estava a 20 quilômetros da costa. As ondas chegavam a 6 e a 7 metros, em que nós parecíamos folhas de papel arrastados pelo vento tão forte.


Chegou um momento no qual não podíamos agüentar a pressão do vento e o veleiro de aproximadamente 20 metros de altura se virou. Eu estava na proa e não estava com cinto de segurança. Caí e por graça de Deus meu pé ficou atado em uma corda. Fui arrastado por vários minutos, mas consegui voltar ao barco. Depois de muito esforço conseguimos colocar novamente o veleiro de pé. Foi uma tremenda experiência. Ganhamos o campeonato de vela da América do Sul. Todavia, vimos a morte a 10 centímetros. Tempo e eternidade. Neste momento me decidi: vou ser sacerdote!

O empurrão final de Deus e minha decisão


Quando chegamos ao Rio de Janeiro, felizes por ter ganhado o campeonato, via todas as honras e os convites para participar da regata para dar a volta ao mundo. Desisti da idéia de ser sacerdote. Uma vez mais meu egoísmo queria me superar. Mas Deus tinha tudo pronto.


Surgiu então o golpe final de Deus. Fui com minha namorada a um parque e enquanto falávamos, ela me perguntou: ´Alexandre, sempre quis dizer-te algo, posso?´. Eu lhe respondi que sim. E ela me disse: ´Nunca pensou em ser sacerdote?´. Não podia acreditar! Foi como um balde de água fria. O golpe amoroso de Deus que me gritava forte: ´Te quero sacerdote, filho, por favor, responda a esta grande missão!´.


Depois de muita luta me decidi: ´aqui estou, Senhor, teu servo´. A meus pais e a meu comandante lhes custou muito minha partida. Minha família em um primeiro momento não estava de acordo.


Como legionário


Perguntam-me hoje se sou feliz. Respondo que NÃO. Não sou feliz, sou MUITO feliz! Minha família aceitou minha vocação depois de uns seis anos e tive a graça de celebrar depois de dois meses de ordenado o enterro de minha mãe que faleceu de câncer. Faleceu feliz e incorporada ao Regnum Christi. Deus espera de todos nós uma resposta. Basta não ter medo e Ele fará a obra. 

Facebook Comments

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.