Pe. óscar turrión: viver para a eternidade

 


Sempre me estimulou conhecer como respondem certas pessoas diante a chamada de Deus. Um Pedro colérico e impetuoso, um Paulo apaixonado e zeloso, em São Francisco de Assis pobre e dócil, um Cura de Ars simples e humilde, um jovem rico desgastado de si mesmo e egoísta, um Judas perto de Cristo, mas traidor…A todos eles Deus os chamou em uma situação, em um tempo definido, com umas circunstâncias pessoais específicas.


Eu não sou nenhuma exceção. Deus cruzou meu caminho. Quero lançar por meio destas palavras meu hino de ação de graça a Deus por ter-me escolhido. Gostaria de meditar, como a Santíssima Virgem, em todas essas maravilhas que o Senhor realizou em mim, guardando-as em meu coração para seguir louvando a Ele.


Minha vocação não começou como as grandes histórias de amor, mas sim ao contrário. Minha vocação teve sua faísca em uma briga. Que fácil! Verdade? Deus não realiza grandes prodígios quando chama alguém, Deus se vale do ordinário. E assim foi. O ordinário em minha vida quando garoto eram as brigas…Eu não gostava de perder, e Deus sabia disso muito bem e por aí foi: me ofereceu a possibilidade de ser um ganhador na vida, na minha e na dos demais, convidou-me a ser sacerdote.

Era 1978 em Salamanca, Espanha, quando um grande amigo meu comentou-me a intenção de seus pais de divorciar-se. Era o primeiro caso perto que eu contemplava nessa situação; queria ajudar-lhe, mas não sabia o que lhe dizer. Não sabia, porque não estava preparado; nunca tinha estado. No subconsciente sabia que Deus era a solução, mas não me atrevia a invocar-lo porque nem sequer tinha um trato freqüente com Ele.


Com uma olhada retrospectiva via o porquê dessa indiferença a Deus. E que a primeira década de minha vida tinha se desenvolvido em Zurique, Suíça, uma cidade sob muitos aspectos superficial e materialista. Meus pais, jovens recém-casados, se esforçam por dar-nos o necessário em todas as ordens, mas no espiritual o deixaram em mãos de uns monges. A vida espiritual, que não floresceu em mim até muitos anos depois, não tinha direção nem exercia verdadeira atração para mim. Todavia, não foi com esses monges onde nasceu minha vocação, mas sim onde nasceram minhas ânsias e desejos pela eternidade. Se há algo que recordo daqueles monges é que me diziam que os bons vão para o céu e os maus ao inferno. Aquilo que soava muito cruel e feroz, mas o acreditava: ´os bons vão para cima, os ruins para baixo´.
E, todavia, não foi também anos depois, naquele 1978, e a muitos quilômetros da Suíça, quando pus para marchar toda aquela artilharia e maquinaria espiritual oxidada e enferrujada que de forma apática e fraca ainda latejava em meu coração. Deus era a palavra-chave diante do divórcio de minha amiga e estava disposto a descobri-lo. Foi assim que comecei a rezar. Comecei por medo; todavia, soava em meus ouvidos aquele de ´os maus vão para baixo´ e eu me dizia: ´Oscar, aí estas tu!´. Penetrava-me tal pavor que consegui um livro de orações para rezar todas as orações que pudesse antes de dormir; dava risada, mas em minha ignorância espiritual rezava todas as orações três vezes não sendo que a alguma das divinas Pessoas não chegassem. Dou graças a Deus por esses momentos. Deus me fez uma pessoa próxima e familiar, um Deus bom e até divertido. Deus já havia aberto uma porta em meu coração!


Passou o tempo e um dia durante uma final de jogo da minha equipe de futebol quis ficar para refletir sobre o problema desta amiga. Queria estar só, em intimidade, com Deus. Dou-lhe graças a Deus porque minha equipe perdeu. Que bom! Isto foi a porta de minha vocação. Antonio Riveiro, o capitão da equipe, enfurecido por minha ausência e pela derrota, ao passar por mim disse algumas ´palavrinhas´ mágicas que surtiram um imediato efeito em mim, e a briga já estava servida. O sangue não chegou ao rio, mas sim aos ladrilhos, enquanto os companheiros vinham parar a briga. Pior! Durante dias não podíamos nos ver.


Em poucos dias o diretor do Instituto permitiu a um sacerdote Legionário entrar em nossa classe falar-nos das missões. Eu não tinha nenhum interesse, mas isso estava melhor que as combinações, permutações e variáveis de a aula de matemática. Ao final o padre passou uma ficha para que facilitasse nossa informação pessoal e os comentários sobre o tema. Não fiz grandes comentários, mas disse que não estava interessado, pois tinha outros ideais em minha vida mais importantes que o de ser missionário. Eu tinha outros ideais, mas Deus não. Nem tampouco o Riveiro. Ele passou sua ficha com as minhas informações e reflexões sobre meu desejo de ser sacerdote, mas dignas de um monge em clausura que de um jovem de nossa idade. A vingança foi sutil e astuta. Em poucos dias, veio o padre falar comigo. A vergonha que passei diante de toda classe foi monumental. O padre me comentou que só queria saber que ficha era a minha, e que havia recebido duas com minha direção e informação, mas com comentários totalmente opostos. Quando vi a ficha de Riveiro, creio que fiquei com febre da mudança de temperatura que sofri. Entendi a brincadeira como uma vingança e com tranqüilidade, pouco usual em mim, comentei o episódio ao padre. Obviamente lhe abri o problema desta menina e ele me deu uns conselhos que ainda hoje recordo e, todavia, tento colocar em prática.

Um dia, falando-me das qualidades e benções que Deus havia me concedido, perguntou se não estava disposto a fazer algo por Ele. Eu lhe disse um ´SIM´. Nesse momento, cérto que não sabia o que estava dizendo, mas Deus levou a sério e aceitou. No ano seguinte estava entrando no seminário menor de os Legionários de Cristo no norte da Espanha.

São várias páginas que posso escrever sobre o que sucedeu desde então, mas me centrarei nos dois motivos essenciais que moveram minha vida e continuam dando-me verdadeiro sentido: Jesus Cristo e as almas.

Jesus Cristo! Nunca tive dúvidas Dele, nem dúvidas de seu amor de predileção até mim. É a força que me mantém, continuamente e que me fortalece diante das transformações de a vida. Eu gosto de ver-lo como Amigo. Sim, como meu Criador e Redentor, mas, sobretudo, como Amigo. Uma frase da epístola do P. Maciel, L. C. condensa muito bem esta atitude: ´Quando tudo me falta: amizades, ajuda dos homens, quando a perseguição bate em minha porta, então a única coisa que me sustenta é a figura adorada e real de Cristo. E o dia de amanhã, quando os homens esquecerem de nós , somente uma cruz, e nela Cristo, seguirá abraçando nossa sepultura como guardiã eterna de uma amizade iniciada nesta terra´.


A outra grande realidade que ferve em minha alma são as almas. As almas são o eixo no qual me convenci de minha vocação sacerdotal. Minha vocação nasceu em mim diante a consideração de a eternidade e cada dia se fortalece e se afirma diante da busca de a eternidade para as almas. Tive muitas experiências ao longo dos meus anos de preparação para o sacerdócio. Estou tremendamente agradecido a Deus por elas porque me ajudou a ver qual é a verdadeira missão do sacerdote: as cruzes, o sofrimento, os desgostos e fracassos, tudo tem sentido quando se vive de face às almas, a todas essas pessoas que Deus quer salvar através de mim.


Não me sinto um herói por seguir minha vocação e lutar por ser fiel todos os dias. Só tento devolver a Deus o que lhe pertence. Quero oferecer meu sacerdócio, estes anos que Deus me conceda para lutar, primeiramente a Ele de quem o recebi. E também oferecer-lo pelas almas, por esse mar de gente cujos corações Deus toca através de mim, para que seja Ele, também para eles, o guardião eterno de uma amizade iniciada nesta terra.

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