Curta análise da revolução indigenista contemporânea à luz dos levantes ameríndios históricos
Multiplicam-se pela América Latina os movimentos indigenistas, o que vem sendo amplamente divulgado pelo noticiário internacional. Ponto comum a todos esses grupos contestadores é a forte matriz socialista que impulsiona seu pensamento e sua ação.
Justamente aqui reside sua principal diferença em relação a outros levantes indígenas, dos séculos XIX e XX. Ainda que muitos não saibam – entorpecidos pela falsa historiografia marxista ministrada como se ciência fosse em livros didáticos escolares -, e outros finjam não saber, grande parte dos que se opuseram à independência dos territórios americanos de Espanha era formada pelos índios. Ao contrário do Brasil, que alcançou sua soberania de modo natural – eis que já estava maduro para que se constituísse em Estado -, a América Hispânica violentou sua própria alma ao desvincular-se da Metrópole européia da maneira como fez – e antes da hora. Não que devesse ficar para sempre sob controle espanhol: os erros foram o processo e as motivações.
Nunca o Brasil, por causa dos eventos de 1822, rejeitou seus laços com Portugal, e a herança lusa foi até mesmo aprimorada com o Império que surgia. De outra sorte, os antigos vice-reinados espanhóis no Novo Mundo pretendiam, mais do que simples independência, a derrubada dos grandes valores da Europa profunda.
Quase todos maçons eram os líderes das guerras independentistas, e enfureciam-se contra a benéfica influência da cultura cristã clássica na consciência ibérica, contra as leis que, desde Francisco de Vitória e a Rainha Isabel de Castela, protegiam as populações autóctones. Em suma, não buscavam a soberania de novos países, e sim o rompimento com as tradições mais caras à alma hispânica. A independência da América Espanhola, do modo como foi feita, caracterizou-se como uma continuidade do processo revolucionário do Iluminismo.
Evidente, dessa maneira, que os maiores interessados em sua promoção fossem os arautos daquele liberalismo laicista que dominava a mente dos filósofos de vanguarda. A elite criolla, i.e., hispano-americana, em hipótese alguma poderia ser chamada conservadora. Era, isso sim, liberal, extremamente revolucionária. Equivoca-se o que pensa que as classes abastadas são obrigatoriamente defensoras de qualquer tipo de pensamento conservador. Esse papel de proteção dos valores tradicionais na Ibero-América foi reservado, sobretudo, aos índios, provando-se, assim, que sua evangelização e civilização fora eficaz e de tal maneira os primeiros habitantes do Novo Continente assimilaram a cultura dos descobridores – mesclando-a com sua própria no que tinha de positivo -, que se bateram por ela contra os descendentes destes. Noutras palavras, os descobertos é que defenderam a Europa tradicional – a cultura da Espanha da Reconquista, do Medievo, ainda presente na época das grandes navegações – contra os propugnadores da Europa iluminista – a cultura revolucionária defendida pela elite liberal decadente.
Não foi outro o caso do México. As grandes forças de oposição ao laicismo de Juárez, Carranza, Obregón e Calles encontravam-se entre o povo indígena autenticamente católico. Os chamados cristeros nada mais eram que exércitos formados por brancos de uma verdadeira e sadia elite tradicional e índios conscientes da beleza trazida pela Europa de sempre, que lutaram contra um governo de brancos liberais, de uma elite revolucionária e antenada com a ideologia anticatólica de 1789, e de índios de terras mais setentrionais mexicanas, influenciados pelas lojas maçônicas dos Estados Unidos e da Inglaterra e pelas sementes de comunismo que se iam disseminando.
Não estranha que índios sejam usados, no século XXI, como massa de manobra de grupelhos anarquistas como os zapatistas e os seguidores de Evo Morales, pois eles são herdeiros daquela parcela de suas populações que se rendeu ao canto da sereia da Revolução, já nas guerras de independência e na Cristiada. O pior de tudo é esconder dos próprios índios que sua luta não precisa ser fincada no socialismo, ou fazê-los brigar com o que é certo (iniciativa privada, propriedade particular, sociedade de classes etc), quando a maioria de seus pais lutou com o que é errado (secularismo, Iluminismo, socialismo). Verdadeira canalhice intelectual é colocar todos os índios no mesmo barco, como se entre seus antepassados não houvesse quem seria exatamente contra o programa radical de seus descendentes, hoje não mais vermelhos só na pele, mas também nas idéias.
Os movimentos indigenistas de hoje defendem exatamente o que os de ontem repudiaram. Patrocinados por ONGs esquerdistas, nem neles podemos achar esperança de resistência à Revolução, eis que, nas mãos de missionários modernistas e “teólogos da libertação”, principalmente, converteram-se no seu mais extremista propulsor.