Absolutamente infeliz a declaração do Presidente Lula quando da morte do Papa João Paulo II. Disse o nosso desastrado supremo mandatário que entre ele e o Romano Pontífice há pouco falecido existiam apenas pequenas divergências.
Das duas uma: ou o Presidente da República não entendeu nada do que seja a doutrina católica, ou, com a mais tremenda das caras-de-pau, aproveitando-se do luto da Igreja, tenta sensibilizar o condoído povo católico brasileiro em manobra eleitoreira sorrateiramente executada. Talvez tenta querido suavizar as notáveis diferenças de posição que tem em relação ao Santo Padre, fazendo com que os que sentem a perda de João Paulo II acabem por considerá-lo um seu seguidor. As conseqüências de tão sofismática identificação são claras, e ofende a inteligência pormenorizá-las.
Como quem não quer nada, perguntamos: que divergências seriam essas? E são, de fato, pequenas, conforme caracterizou Lula?
A Igreja, bem o sabemos, condenou inúmeras vezes o socialismo, por exemplo, tendo inclusive, por obra desse último Papa, colaborado na queda dos Estados comunistas da Europa Oriental. Lula, por sua vez, é o maior líder da esquerda latino-americana, filiado e sustentado pelo PT, partido historicamente marxista ou tendente ao marxismo. Defende Fidel Castro, cultua Che Guevara, alinha-se com ditaduras comunistas como, v.g., a da China e a do Gabão, e implementa programas socialistas de reforma agrária, cotas raciais, aumento de tributos, ideologização do ensino e da polícia, mesmo mascarados com uma capa democrática; apóia o MST, movimento radical e incontestavelmente igualitário, francamente maoísta; é associado ao Foro de São Paulo, organização que reúne todos os grupos esquerdistas da América, como as FARC, o PC cubano, os grupelhos de Chávez, os zapatistas do México, os piqueteros argentinos, a Frente Ampla do Uruguai etc, com fins de recuperar no Novo Mundo o que perderam os vermelhos com a queda da União Soviética.
O Papa, outrossim, como guardião da doutrina da Igreja, sempre condenou o aborto, o homossexualismo e os métodos artificiais de anticoncepção. Já o PT de Lula e o próprio Presidente estão empenhados em legalizar o aborto, em estabelecer políticas de regularização do casamento gay, e patrocina as ações que, desde FHC, o Ministério da Saúde executa em distribuir camisinhas no Carnaval, incentivando a promiscuidade. E Lula não esconde seus propósitos de ninguém!
Suponhamos que a Igreja Católica esteja errada em todas essas questões, e o Presidente brasileiro correto. Ainda assim, só por uma questão de coerência, caberia indagar: as divergências entre Lula e João Paulo II são, com efeito, tão pequenas assim?
Mentir é feio, Senhor Presidente! Ainda mais, abusando da dor dos católicos para fazer política, sem nem ao menos respeitar a memória do Santo Padre!