As questões do artigo original estão em preto. As respostas seguem em azul e itálico.
Por Paulo Cristiano da Silva do, CACP
1. Se a igreja Católica Romana deu a Bíblia ao mundo, sendo infalível em suas decisões, então por que muitos membros de seu clero rejeitaram os livros apócrifos?Roma rejeitou ou pôs em dúvida a canonicidade e autoria das epístolas de Tiago e Hebreus. Então porque mais tarde veio aceitá-los? E como ela pode aceitar livros como sagrados sendo que mais tarde estes vieram a ser rejeitados?
Para responder estes questionamentos, recheados de erros, temos de ir por partes:
Ao contrário do que o texto supõe, a Igreja Católica não é “infalível em suas decisões”, no que diz respeito a toda e qualquer “decisão” que ela venha a tomar. A infalibilidade da Igreja de Cristo é uma característica legítima e obrigatória para a credibilidade da “coluna e fundamento da verdade”. Quando sob a chefia do Papa, o sucessor de Pedro, e dos Bispos, os sucessores dos apóstolos, as decisões da Igreja são infalíveis. Mas, mesmo assim, essa infalibilidade é limitada a questões concernente à fé doutrinária e à moral no âmbito da Igreja e de seus membros. Portanto, ser “infalível em suas decisões” não é, como o texto pretende que o leitor entenda, uma infalibilidade universal e absolutista, mas um dom divino dado por Cristo e preservado na Igreja pelo Espírito Santo.
O fato de que “muitos membros rejeitaram os livros apócrifos” em nada abala a veracidade do cânon cristão. Todo mundo, hoje, amanhã e há 2000 anos atrás teve e têm o direito de questionar assuntos que dizem respeito à sua fé, e o cânon do Antigo e do Novo Testamento, alvo de debates por séculos, não é uma exceção. São Jerônimo, por exemplo, não reconhecia alguns livros “apócrifos”, porém reconhecia a autoridade a quem cabia, de fato, essa decisão: a Igreja. E então Jerônimo terminou por aceitar tais livros. Então, o questionamento dos membros da Igreja serviram, e ainda servem, para por em debate o alvo em questão, para que faça nascer no meio da confusão a verdade mais pura. Por isso, os “membros do clero”, mesmo agindo de boa fé, mesmo sendo nomes de peso, não podem responder pela Igreja isoladamente. À Igreja cabe a decisão final, e quem a rejeita, rejeita a verdade da fé, e, então, se torna um herege.
“Roma” não “rejeitou a canonicidade e autoria das epístolas de Tiago e Hebreus”, tanto é que tais livros estão e sempre estavam na lista oficial de livros do Novo Testamento. Heresiarcas antigos, como Marcião, aceitavam apenas o evangelho de João e as cartas de Paulo como dignas de fé. Diversos questionamentos envolvendo os autores do Novo Testamento são responsáveis pelas tantas dúvidas a respeito de sua inspiração e, portanto, canonicidade. Hebreus é uma delas, assim como Apocalipse, Judas, Atos dos Apóstolos e mesmo os Evangelhos. Na verdade, a comunidade científica, cética até a última molécula, não vai descansar até encontrar evidências de que os livros do Novo Testamento, ou pelo menos alguns deles, não foram escritos pelos que dão seu nome (Pedro, João, Paulo, etc…), mas por meros seguidores. Fato é que logo nos primeiros séculos da Igreja muita confusão a respeito de qual livro era inspirado e, portanto, deveria ser lido e seguido pelas comunidades, ocorreu, exigindo uma análise de quem possuía autoridade para tal decisão: A Igreja. Por isso os Concílios.
O que o autor não fala, por má fé ou por ignorância, é que os livros de Tiago e Hebreus jamais foram alvo de tamanha controvérsia, dentro da Igreja Católica, quanto no protestantismo. Quem nunca leu, em nossos textos e de outros sites de apologética católica, que, ao retirar os livros deuterocanônicos do Antigo Testamento, Lutero, alegando confiar mais nos judeus do que nos cristãos para decidir o cânon (na verdade, confiou em si mesmo…), também quis retirar os mesmo livros que o texto coloca, e ainda outros, negando sua autenticidade e inspiração divina? Quem não se lembra de ter lido que Lutero, “iluminado pelo Espírito santo”, após ter descoberto “a verdadeira doutrina cristã da salvação somente pela fé”, reconheceu que o livro de Tiago não continha “nada de evangélico” e, portanto, era uma “epístola de palha” (se era mesmo o Espírito Santo, deu uma fugida nessa hora, se era outro “espírito”, agiu como deveria…)? Portanto, as “dúvidas” a respeito da canonicidade dos livros do Novo Testamento foram discutidas e resolvidas pela Igreja com autoridade, e aceita por toda a Igreja. Mas foi o protestantismo quem mais atentou contra a aceitação de tais livros.
Uma questão curiosa é essa última: “como ela pode aceitar livros como sagrados sendo que mais tarde estes vieram a ser rejeitados”? Quais livros são esses, que a Igreja considerou sagrados, e que foram rejeitados? O autor silencia quanto a essa fonte, provavelmente porque, pela facilidade de questionar, mas pela dificuldade e pesquisar, preferiu soltar essa dúvida com base na primeira opção, deixando a segunda a cargo de quem se habilite a responder, não é verdade? Nada mais destituído de responsabilidade de quem pretende confirmar uma doutrina, a “Sola Scriptura” no caso, algo que, pelo andar destes questionamentos, pouco ou quase nada é defendido. Quem rejeitou livros sagrados foram os protestantes, não os católicos. Desde Cartago os livros oficialmente canônicos estão registrados e até hoje estão onde devem estar: na Bíblia cristã. Livros como “O Pastor de Hermas” e “1ª Carta de Clemente aos Coríntios” eram lidos, entre outros, por comunidades isoladas, e por eles considerados canônicos, mas isso não quer dizer, de forma alguma, que a Igreja os considerava sagrados, e depois os rejeitou, pois a Igreja se pronunciou oficialmente somente a partir dos Concílios de Cartago e Hipona, e sucessivamente em outros Concílios. Portanto, a Igreja não rejeitou o sagrado, mas os protestantes, claro, sim.
2. Se a igreja Católica realmente é dirigida pelo Espírito Santo de modo que os católicos podem confiar nela como sendo ” a única igreja verdadeira”, por que ela errou em coisas tão simples assim?
Mais um questionamento que não questiona em nada sobre a “Sola Scriptura”, mas vejamos. A Igreja é, realmente, dirigida pelo Espírito Santo, promessa do próprio Cristo e evidência bíblica no Concílio de Jerusalém. E, caso o autor pense que resolver a questão de quais livros devem ser reconhecidos pelos cristãos como dignos de fé, por serem sagrados, inspirados pelo Espírito Santo, e, por isso, contendo a mensagem pura de Deus para a salvação de toda a humanidade, seja uma tarefa “tão simples assim”, deveria, então, existir um modo mais fácil do que debates seculares para resolver a questão, não é mesmo? Fácil é pra quem já chegou no mundo com tudo pronto, encadernado. Mas numa época primitiva, onde o conhecimento humano ainda não era versado nas ciências que hoje facilitam, e muito, o estudo bíblico, e onde circulavam dezenas de evangelhos, epístolas e apocalipses, a tarefa não foi fácil, e exigiu da Igreja, a única autoridade legítima responsável pela pureza e pela confirmação da doutrina cristã, a organização e identificação dos livros que hoje compõem a Bíblia Cristã.
Para os protestantes dizer que uma tarefa é “tão simples assim” se baseia no fato de que foi criada em suas consciências a idéia de que o cânon da Escritura, para ser reconhecido, não exige uma Igreja, um papa, ou um ou mais bispo. Exige uma pessoa apenas, “eu”, ou seja, a própria pessoa. Isso se deve à hipótese de que o cristão protestante, inundado por uma “inspiração interna do Espírito Santo”, saberia, facilmente, identificar os livros sagrados. Por isso, para o protestante, identificar o que é ou o que não é Escritura seja uma tarefa “tão simples assim”. É só abrir o olho e “puft”, sabe se o que está lendo é ou não é sagrado. Assim é fácil. Mas não é nada fácil a vida dos protestantes que acreditam nessa doutrina, porque ela, pela simples evidência prática, é falsa. O próprio Lutero ou não soube usar dessa “inspiração do Espírito Santo” ou na verdade não tinha “Espírito Santo” nenhum, porque não soube identificar a canonicidade de diversos livros do Novo Testamento. Ora, “por que ele errou em coisas tão simples assim” explica-se pelo fato de o “Espírito” que o guiava era o seu mesmo, e querendo dar razão às suas próprias novidades, fez o que fez, e deu no que deu: heresia.
3. Se a igreja Católica Romana definiu o cânon em 397 d.C. então por que versões diferentes daquele mesmo cânon continuou a circular tempos depois?
Porque a mudança não ocorreu da noite pro dia. A definição do cânon não significou o recolhimento de versões diferentes, mas somente o que deveria ser seguido dali em diante. Existiam versões diferentes, mas não oficiais. “Versões diferentes” da Bíblia sempre existiram e sempre vão existir, pelos mais diversos motivos, entre eles a heresia é a principal. É o que vemos hoje com a bíblia protestante e, a partir dela, com a Bíblia dos Testemunhas de Jeová, entre outras versões “não-autorizadas” da Bíblia.
4. Se a igreja Católica Romana definiu o cânon em 397, por que então a iniciativa foi de dois Sínodos africanos: Hipona (393 d.C) e Cartago, (397 d,C) e não de Roma? Obs: mesmo que o concílio de Cartago em 393 tenha consultado Roma sobre o assunto do cânon não prova que Roma teve alguma participação direta ou iniciativa em determinar o cânon.
Ademais os dois concílios mencionados estavam sobre o controle das igrejas que mais tarde iriam tornar-se o que hoje conhecemos como ” igreja ortodoxa”. Como podem dizer que foi a igreja Católica Romana quem determinou o Cânon? Sendo assim, seria a Igreja Ortodoxa e não a católica romana que realmente deu a Bíblia.
Porque não há a necessidade de se estar em Roma para a Igreja de Roma confirmar qualquer decisão tomada por um de seus Concílios. Em Hipona e Cartago, ambos Concílios Católicos, foram discutidos pela primeira vez pela Igreja a questão acerca do que deveria ou não constar na lista de Escrituras Sagradas. A Igreja Católica tanto aceitou plenamente tais Concílios como legítimos como em reuniões posteriores confirmou a mesma lista apresentada em Hipona e Cartago. O fato de ambos os Concílios estarem localizados em áreas que hoje pertencem à Igreja Ortodoxa Oriental, e, por isso, o crédito deveria ser delas e não da Igreja Católica é vazio, porque, quando a questão foi colocada, não havia a divisão que existe hoje, iniciada no século XII. O patrimônio da doutrina da Igreja é universal, e não limitada à cidade natal de sua definição.
5. Se a igreja Católica, deu a Bíblia ao mundo, por que ela não reclamou isto logo nos primeiros séculos? Por que teve de esperar até o século VXI no Concílio de Trento, para oficialmente juntar os livros apócrifos ao Cânon?
Muito simples: porque até lá, ninguém havia cometido a atrocidade de questionar o cânon das Escrituras, afrontando a autoridade da Igreja e, ainda por cima, criando o seu cânon pessoal. O que talvez o autor desta pergunta queira deixar entendido é que a Igreja, quando reuniu os livros sagrados, deveria, por motivos de direitos autorais ou por medo, talvez, de um processo por plágio (Dan Brown que o diga…), tivesse anexado um documento dizendo: Esta lista quem elaborou foi a Igreja Católica. Oras, nada mais ridículo. Não havia necessidade disso porque a autoridade da Igreja nos tempos primitivos era muito clara, e suas decisões foram aceitas por toda a Igreja.
Não há registro histórico de revolução alguma pelos cristãos primitivos por motivos da definição do cânon pela Igreja (sim, os cristãos primitivos não eram um poço de tolerância com heresias…). Isso mostra que a lista foi aceita e praticada por toda a Igreja, como oficial. Não havendo questionamentos, a Igreja não vê necessidade de uma declaração pública sobre suas definições ou doutrinas. Segue o exemplo do dogma da Trindade. Somente 3 séculos depois da morte de Cristo houve a necessidade da Igreja se pronunciar oficialmente, porque as heresias que estavam surgindo a respeito de tal entendimento exigiram, para abolir as confusões, uma voz de autoridade. Como Martinho Lutero foi aquele alguém que afrontou a autoridade da Igreja, repartindo o cânon à mercê de suas idéias, a Igreja precisou, mais uma vez, definir o cânon das Escrituras. Nada mais fez do que, na verdade, reafirmar o que já havia escrito em diversas ocasiões anteriores.
6. É interessante notar que ambos: Católicos Romanos e Ortodoxos reclamam ser os guardiões da Bíblia. Cada qual dizem que foi sua igreja quem deu a Bíblia ao mundo. Mas se ambos fazem a mesma reclamação por que então possuem livros diferentes em cada uma de suas Bíblias? Se ambas reclamam para si esta autoridade, então a autoridade de qual igreja nós deveríamos aceitar? E se ainda isto for caso de tradição, qual tradição nós deveríamos seguir neste caso?
7. Os católicos poderiam fornecer o exemplo de uma única doutrina que teve origem na tradição oral apostólica a qual a Bíblia se silencia?
8. Os católicos podem fornecer provas de que sua tradição doutrinaria é apostólica em sua origem?
9. Os católicos poderiam fornecer um único exemplo de uma inspirada ” revelação oral” apostólica (tradição inspirada) que difere da escrita (sagradas escrituras) ?
Juntei as três perguntas porque na verdade são uma só: Mostre uma só doutrina genuinamente cristã que tenha origem exclusivamente na Tradição Oral.
Para responder precisamos, antes, esclarecer um ponto: este tipo de pergunta mostra que o protestante (no mínimo, o autor do texto) não sabe o que a Igreja Católica entende por ser a Sagrada Tradição Apostólica. Ela não é uma outra revelação ou uma outra fonte doutrinária. A Palavra de Deus, em sua plenitude, não se encontra somente na Bíblia (Sola Scriptura), mas nos seus componentes oral e escrito. Quando analisados conjuntamente, produzem a direção à verdade da doutrina cristã. A Tradição não é um amontoado de costumes ou práticas enraizadas ao ponto de virarem doutrinas. Todo o conjunto de estudos e conclusões dos Pais da Igreja e dos Santos Concílios compõem a Sagrada Tradição da Igreja. Por isso não pode haver um exemplo de revelação oral que difere da escrita, pelo simples fato de que uma não difere da outra. Na verdade, uma complementa a outra. Isto vai de encontro formidável à doutrina da auto-suficiência das Escrituras, e de sua clareza de entendimento, motivo pelo qual é difícil a idéia de uma ferramenta de elucidação Bíblica, devidamente munida da autoridade divina para filtrar as doutrinas incoerentes com o cristianismo.
São Paulo diz claramente que a Igreja deve se manter firme seguindo as tradições cristãs, seja aquela oral ou aquela escrita. A própria Bíblia nasceu da Tradição Oral. As primeiras décadas do cristianismo se basearam exclusivamente na Tradição Oral para transmitir os ensinamentos de Cristo. Isso mostra que a legitimidade e autoridade da Tradição Oral, que sempre existiu dentro da Igreja, não desapareceram quando a Bíblia tomou forma. Os protestantes não podem identificar, na Bíblia, evidência para tal acontecimento. Se o apóstolo Paulo afirmou que a mensagem divina está contida tanto na Palavra Escrita quanto na Palavra Oral, não há necessidade de uma evidência visual de uma doutrina exclusivamente oral para acreditar que ela existe. Para os católicos, basta a evidência Bíblica de que a Sagrada Tradição é legítima e necessária para a proteção e plenitude da doutrina cristã.
10. Se [os católicos afirmam que] não é permitido fazer interpretações particular da Bíblia, como saberemos então quem está dizendo a verdade quando as duas igrejas afirmam ao mesmo tempo que a ” tradição apostólica” apóia suas doutrinas, quando na verdade nós sabemos que elas são opostas entre si?
A própria Bíblia afirma, pelas palavras de Pedro, que nenhuma profecia é de particular interpretação. Por isso os católicos não estão sozinhos em afirmar que não é permitido fazer interpretações particulares da Bíblia.
Exatamente pelo fato de duas ou mais Igrejas alegarem que possuem doutrinas apostólicas é que a confusão se instalou no cristianismo protestante. Não há autoridade nem critério legítimo para uma igreja alegar autenticidade. Vale, tão somente, o é porque é ou é porque a Bíblia diz que é. Todo mundo pode abrir uma igreja e fundamentar suas idéias em alguma passagem mal interpretada da Bíblia. Todo mundo menos aquela que foi munida da autoridade direta de Cristo da proteção e condução divina, como coluna e fundamento da verdade e guiada na terra por Pedro, detentor do privilégio de ser a rocha sob a qual a Igreja se fundamenta. Nenhuma igreja protestante, por mais alto que grite Aleluia, não passa pelo crivo da história ou da interpretação bíblica apurada.
11. Se porventura o cânon hebraico foi definido somente no concílio de Jâmnia [como afirmam oscatólicos]. Então isto levanta a seguinte indagação: será que Deus deixaria de dar uma lista dos livros inspirados a Israel quando ainda estava em sua terra, para repentinamente fornecer esta lista em 70 d.C depois que Israel havia sido destruído?
Pela pergunta podemos ver que o autor se perdeu na história. O cânon judeu não foi dado por Deus, nem Ele deu uma lista dos livros inspirados a Israel. A Lei e os Profetas formam a base do cânon judeu, que foi reunido de forma sistemática e patriótica, com critérios históricos e regionais. Entretanto o cânon judeu não era homogêneo, porque os judeus descendentes da diáspora formularam um cânon diferente dos que residiam na Palestina. Esse cânon Alexandrino continha os livros hoje inclusos na Bíblia Católica como deuterocanônicos. E existem diversas evidências de que a Escritura utilizada pelos primeiros cristãos e pelo próprio Cristo e os Apóstolos derivava dessa versão, dada a grande quantidade referências destes no nos livros do Novo Testamento.
Há, também, a questão ainda aberta de que os judeus do Concílio de Jabnes (Jamnia) não encerraram de uma vez por todas o cânon judeu, pois homilias ainda eram feitas baseadas em livros não listados por Jabnes.
Uma alegação protestante é de que Lutero rejeitou o cânon cristão do Antigo Testamento, preferindo ceder ao conhecimento de autoridade dos judeus para selecionar as suas próprias Escrituras, e assim aderir a um cânon, digamos, mais fiel a respeito do Antigo Testamento. O problema é que Lutero não percebeu que confiar na autoridade dos judeus para definir o que deveria ser lido pelos cristãos seria como dar razão aos próprios judeus quanto à sua negação de que Jesus era o Messias, pois fizeram isso baseados exatamente nas Escrituras que Deus os havia munido de autoridade. Seria um grande paradoxo. Os judeus daquela época não aceitaram o Cristo, por isso não possuem autoridade alguma sobre o que os cristãos devem ou não devem crer. Ainda mais estranho é o fato de Lutero ser claramente anti-semita, com base nas evidências de seus escritos. Estranha é, então, esta confiança no cânon judeu, enquanto jogou fora o cânon cristão.
Na realidade, tudo não passou do interesse de Lutero de ter suas doutrinas confirmadas, e, reinventando o cânon do Antigo Testamento, excluía qualquer fonte de contestação de suas doutrinas (pelo menos, a negação do purgatório e a intercessão dos santos, porque tantas outras inovações suas exigiram que ele rejeitasse livros do Novo Testamento, assim como adulterar uma passagem de Romanos)
12. Se a Igreja Católica Romana e a Ortodoxa se consideram cada qual o “pilar e o fundamento da verdade” e por isso protegida de erros, então por que elas mesmas ensinam doutrinas tão diferentes umas das outras? E como explicar os muitos erros e heresias feitos durante todos estes tempos por tantos papas e a igreja católica em geral?
Quais são as doutrinas tão diferentes umas das outras que a Igreja Católica Romana e a Igreja Ortodoxa ensinam o autor não se deu o trabalho de listar, o que mostra quão apurado deve ter sido escrever estes questionamentos. Outro ponto relevante é a ignorância de escrever que a Igreja é protegida de erros, seja lá o que for que o autor queira dizer por erros.
Com toda a certeza, a grande maioria das doutrinas cristãs são partilhadas pelas Igrejas Latina e Orientais, diferindo em poucos pontos. A autoridade do Papa e alguns dogmas Marianos são exemplos. Entretanto estão muito longe de disputas acerca da autoridade da Igreja e da interpretação bíblica, assim como não se discute a rejeição ao protestantismo. A diferença entre as duas tradições tem raízes históricas e teológicas muito complexas, mas a semelhança doutrinal e intelectual de ambas as correntes são suficientes para se considerarem irmãs ao invés de rivais, como ocorre entre o protestantismo e o catolicismo/ortodoxia.
É curioso notar que, ao que tudo indica, o fato de haver erros na Igreja Católica desautoriza esta a ser a verdadeira Igreja de Cristo. Parece que a Igreja Cristã não deve conter pecadores ou, então, erros. Se a existência de erros dentro da Igreja dá a ela o descredenciamento divino, então a Igreja Cristã não existe mais, e há muito tempo. A Igreja, pelo contrário, a exemplo dos seus fundamentos, os apóstolos, os primeiros a darem mancadas (a negação de Pedro, a traição de Judas) é composta por joio e trigo, e assim Jesus permite que seja, até o fim dos tempos. A Igreja terrena está submetida às leis naturais, e nisto se inclui a curva de aprendizado humano do erro e acerto em diversas esferas do conhecimento. A falta de conhecimento astronômico por parte da Igreja fez com que Galileu fosse investigado e levado a desconsiderar seus estudos. Mas a evolução do conhecimento tratou de mostrar o contrário. E é submetida a essa lei que os cristãos sofrem também com seus erros, inclusive religiosos. Porém a Igreja é livre de ensinar o erro no que diz respeito às coisas divinas, quando reunidos o Papa e os Bispos em Concílio, dirigidos à toda a Igreja. A Infalibilidade da Igreja, prometida por Cristo e cumprida pelo Espírito Santo, é critério necessário para a preservação doutrinal e os erros cometidos pelos seus membros em nada alteram essa característica.
13. Se as ambas as igrejas Católicas e Ortodoxas seguem exatamente a verdadeira tradição oral apostólica , como podem ensinar doutrinas tão diferentes aponto de uma não se comunicar com a outra se excomungando mutuamente?
Sobre as tais doutrinas diferentes já vimos acima. A excomunhão mútua entre o oriente e ocidente foi retirada pelo Papa Paulo VI e Athenágoras I, patriarca de Constantinopla (respectivamente, sucessores de Pedro e André) em 7 de dezembro de 1965, algo que não aconteceria se ambas não se comunicassem
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14. Ambos Tertuliano e Jerônimo deu uma lista de tradições orais que não foram encontradas na Bíblia. (Tertuliano em De Corona, ch 3-4) e (Jerônimo, Diálogo Contra os Luciferianos, 8) Tertuliano chegou a afirmar que muitas práticas ensinadas por ele não tinham base bíblica sendo sustentadas apenas pela tradição oral, por exemplo: batizar por imersão três vezes, dando ao batizando um pouco de “leite e mel” então proibindo a pessoa de tomar banho por uma semana; até mesmo o trabalho aos domingos foi proibido, e o sinal da cruz era para ser feito na testa. Jerônimo, seguindo Tertuliano, disse que essas “observâncias são derivadas da tradição, e tem adquirido até mesmo autoridade de lei escrita”. Nossa pergunta é:
a) porque a igreja católica não segue estas tradições ?
b) Por que a igreja Católica não pratica o batismo por imersão ?
c) Por que ela não imerge três vezes seus membros durante o ato batismal?
d) Por que o católico Romano e as igrejas Ortodoxas não guardam quaisquer destas tradições, com a exceção de imersão três vezes feito pela igreja Ortodoxa?
e) Se a ” tradição apostólica” ensina fazer o sinal da cruz na testa, por que ambas fazem-no no abdômen, tórax e cabeça, mudando assim esta prática?
f) Se devemos seguir as tradições orais da igreja , então por que ambas as igrejas que defendem esta mesma tradição não mais praticam estas coisas?
Veja algumas práticas consideradas “tradição oral” que nenhum católico pratica hoje em dia:
*Negar o diabo antes do batismo
*Batizar imergindo o fiel três vezes na água.
*Beber leite e mel depois do batismo
*Não tomar banho por uma semana depois do batismo
*Não trabalhar aos domingos
*Fazer o sinal da cruz na testa
O tamanho desta questão é inversamente proporcional ao da devida resposta: porque todas essas tradições são apenas costumes adotados pelas diversas igrejas, podendo deixar de ser praticadas a qualquer momento, à dependência das autoridades. O autor confundiu, ou por má fé ou por ignorância mesmo, a tradição que significa costumes religiosos e/ou culturais, com a Sagrada Tradição Apostólica o que é completamente diferente.
15. Por que os católicos romanos sempre usam 2 Timóteo 2:2; 3:14 como prova bíblica de uma extra-bíblica tradição oral dada através de sucessão apostólica, quando esta mesma tradição diz que Timóteo foi bispo de Éfeso, que pela sucessão, faz parte da igreja Ortodoxa Grega e não da romana?
Simples: porque a sucessão não morreu com Timóteo. Naquela época não havia a divisão entre oriente e ocidente, e os sucessores de Paulo e Timóteo também transmitiram a mesma autoridade para pessoas idôneas que não limitaram a difusão do Evangelho ao oriente.
Agora, se os leitores não perceberam, respondam para mim: qual a relação entre o versículo bíblico apresentado pelo autor, atentando a legitimidade da Tradição Oral, com o fato de o sucessor de Paulo ser bispo de Éfeso? Se Timóteo fosse bispo do Zimbábue ou da Transilvânia, 2 Timóteo, ainda assim, seria uma forte evidência da existência de uma Tradição Oral autorizada. Uma coisa não exclui a outra.
16. Se 2 Timóteo 2:2 prova uma suposta linha de sucessão, [pelo argumento acima] isto então prova também que a igreja Católica Romana está separada daquela sucessão, já que ambas não têm comunhão uma com a outra?
Idem a resposta acima.
17. Por que quando o católico encontra a palavra tradição na Bíblia ele sempre interpreta como sendo a chamada “tradição oral” em vez de ser corretamente entendido como se referindo as palavras escritas dos apóstolos, sendo que a Bíblia chama as Escrituras de tradicao em 2 Tess. 2:15, e Atanasio chama de tradição as Escrituras?
Obs: Atanásio falava sobre “a tradição Apostólica ensinada nas abençoadas palavras de Pedro”, que dizia “Assim como Cristo sofreu por nós na carne” então cita: 1 Pedro 4:1; Tito 2:13; Heb 2:1 (Atanásio, Aos Adelphius, 60, 6).
Sempre não. 2 Ts 2,15, os cristãos são enfaticamente advertidos: Assim, pois, irmãos, ficai inabaláveis e guardai firmemente as tradições que vos ensinamos, de viva voz ou por carta. Não há como não entender que Paulo está falando sobre tradição oral nesta passagem.
18. Os Pais da Igreja acreditavam que Paulo havia dito em Ef. 3:3-5, que a Escritura podia ser compreendida através de uma mera leitura. Eles falavam que até mesmo os heréticos poderiam entender as Escrituras por apenas lê-la. Se até mesmo aqueles heréticos eram capazes de compreender a Bíblia, como então os católicos romanos ensinam que nós precisamos de um magistério eclesiástico para tal? (Tertullian, A Carne de Cristo, c. 20), (Atanásio, A Encarnação do Verbo, 56), (Hilario de Poitiers, A Trindade, Livro 1, 35 e 7,16)
Creio que seja um tanto confusa esta afirmação de que até mesmo os heréticos poderiam entender as Escrituras. Sem dúvida acredito que heréticos lêem e entendem a Bíblia. Mas o que deve-se salientar é que, se são heréticos, é porque entenderam, mas entenderam errado. E é isso que os faz criar heresias. O que está em jogo não é apenas a capacidade de ler e entender o que está escrito. Muitos lêem a mesma bíblia, mas entendem de forma diferente. O entendimento correto, de acordo com o que ensina a Igreja que detém o ensinamento dos apóstolos, reside apenas na Igreja Católica, e, se existem heréticos, é porque entenderam mal o que está escrito na Bíblia. Devemos lembrar que Pedro escreveu que na Bíblia existem passagens difíceis de entender que são deturpadas por espíritos ignorantes (2Pd 3,15). Por isso não se pode alegar que a Bíblia é fácil de entender porque até heréticos a entendem.
19. Os católicos alegam que para a doutrina da Sola Scriptura ser verdadeira seria necessário que todos os protestantes fossem alfabetizados. Se possuir uma cópia das Escrituras é uma pré condição essencial ao Sola Scriptura, então o que dizer dos católicos analfabetos? Como eles irão saber que os ensinamentos de seus catecismos é verdadeiro? Se os católicos [analfabetos] podem entender o Catecismo por ter alguém que leia para eles, então por que não pode acontecer o mesmo com a Bíblia?
Aos analfabetos, na Igreja Católica, não se ensina apenas o catecismo, mas a Bíblia. É isso que se faz no rito da palavra que ocorre em todas as missas. Se os analfabetos não são surdos (para estes existe a libra, a linguagem dos sinais), estes podem sem problema aprender os ensinamentos bíblicos nas celebrações e em vários outros grupos organizados pela Igreja. Vale lembrar que as imagens na Igreja Católica, além de ornamentação, também têm a função de ensinar. É célebre a frase de São Gregório Magno, que disse A imagem é o livro daqueles que não sabem ler (epist. XI 13). Portanto analfabetos católicos não encontram problemas em receber os ensinamentos bíblicos. Já para o protestantismo o analfabetismo é, sim, uma curiosa pedra no sapato da Sola Scriptura, posto que há a explícita necessidade de um entendimento pessoal sobre a Bíblia, que não pode ser seguramente obtida se não se pode ler a Bíblia e se esse ensinamento é passado por outra pessoa, o que na verdade seria algo parecido com um ensinamento extra-bíblico, completamente vetado no protestantismo (apenas na teoria, devemos salientar, pois na prática, a Sola Scriptura não se aplica aos membros das igrejas, apenas aos seus líderes, posto que qualquer entendimento pessoal contrário ao de determinada liderança representa o embrião de uma nova igreja, com outras doutrinas, surgindo)
20. Os católicos alegam que para a doutrina da Sola Scriptura ser verdadeira seria necessário a distribuição universal da Bíblia em toda a terra. Ora, se isto é uma pré condição essencial de Sola Scriptura, então como os católicos sabiam que era verdade os ensinamentos do papa antes da época moderna da imprensa?
Porque ensinamentos não se passam apenas por meio de carta ou livros, mas por meio verbal também, e foi desta forma que a Igreja cresceu nos tempos apostólicos, através da palavra de Deus transmitida pela forma oral. Mas agora, se uma doutrina ensina que os ensinamentos divinos que são necessários à salvação estão exclusivamente contidos em um livro, que no caso é a Bíblia cristã, como se salvará uma humanidade onde não se pode distribuir Bíblias para todos? Como dizer a um povo primitivo, onde a mínima parcela era letrada, onde as Escrituras eram copiadas a mão e que uma cópia durava anos, que para serem salvos teriam todos de ter Bíblias, e ainda mais, deveriam ser, todos, alfabetizados? Estariam gerações da história da humanidade condenadas ao inferno apenas porque não tiveram a sorte de viver numa época onde existe a impressão e comercialização das Bíblias?
21. Se a capacidade para ler é uma pré-condição essencial ao Sola Scriptura, então como fazem os católicos analfabetos para saber seu catecismo? A mesma lógica não poderia se aplicar äs analfabetos católicos de ambas as igrejas? Se o católico pode “saber a verdade católica” por escutar leitura do catecismo por terceiro, então por que não podemos aplicar a mesma lógica quanto aos evangélicos em relação à Bíblia?
22. Se a capacidade para ler é uma pré-condição essencial ao Sola Scriptura, então como faz o católico analfabeto para saber o que o padre está ensinando é certo e está realmente de acordo com os dogmas católicos e decretos dos Concílios e dos papas se eles não podem ler os documentos?
Segue a resposta 19.
23. Os católicos alegam que o método protestante de poder interpretar as Sagradas Escrituras pessoalmente com a ajuda do Espírito Santo não é um método válido de determinar a verdade por causa das inúmeras denominações que se dividiram usando este método. Mas se isto é verdade, então também é verdade que a sucessão apostólica e as tradições orais da igreja são igualmente inválidas como método correto de saber a verdade, porque a igreja Romana e a Ortodoxa são duas denominações que usam este método e ainda assim são divididas doutrinariamente. Ora, se a diversidade de doutrina e a diversidade de igrejas protestantes provam que a interpretação pessoal das Escrituras é um método falho não se dá o mesmo com os católicos e ortodoxos que usam o método baseado nas tradições da igreja, mas que mesmo assim permanecem divididos?
Não. O que ocorre entre a Igreja Católica Romana e as Igrejas Ortodoxas orientais não é o mesmo que ocorre entre as milhares de denominações protestantes. A divisão existente entre os católicos romanos e ortodoxos é, principalmente, política e cultural. Mesmo existindo algumas doutrinas diferentes entre um e outra essas não se excluem como contraditórias, pois muitas dessas diferenças tem suas origens por causa do isolamento provocado pelo cisma de 1054. Vemos que essas diferenças não interferem e muito menos anulam a autoridade da sucessão apostólica e da Tradição oral da Igreja, como demonstram a retirada das excomunhões, o fato de se poder receber a comunhão em igrejas ortodoxas em algumas ocasiões e a contínua busca de unidade destas duas Igrejas.
Algo completamente diferente do que ocorre entre as igrejas protestantes. As doutrinas são literalmente contraditórias, e mesmo que digam que existem diferenças somente questões que estes julgam secundárias, não faltam embates sobre o batismo e a eucaristia, só para citar alguns exemplos. O entendimento da Bíblia mediante o mesmo Espírito jamais ocasionaria confusão, apenas unidade.
24. Os católicos podem provar que além das Escrituras outra fonte de autoridade doutrinária seja theopneustos (inspirada)?
25. Onde está escrito nas Escrituras que a tradição é igulamente theopneustos?
Vejamos a seguinte passagem: Por esta razão é que sem cessar agradecemos a Deus por terdes acolhido sua Palavra, que vos pregamos não como palavra humana, mas como na verdade é, a Palavra de Deus que produz efeito em vós, os fiéis (1Ts 2,13). Claramente a pregação, oral, de Paulo é Palavra de Deus.
Devemos destacar um detalhe que sempre fica oculto quando protestantes falam sobre theopheneustos. Essa palavra não deve ser entendida como termo que diferencia tecnicamente a natureza infalível da Escritura em detrimento a uma suposta falível tradição oral. Não é nada disso. Esse termo, theopheneutos, significa que a Escritura, apesar de escrita por homens, é na realidade a combinação única entre a palavra de Deus e a palavra do homem. A Escritura é inspirada por Deus, num sentido análogo ao sopro de vida de Deus no ato da criação. Portanto, afirmar simplesmente que a palavra oral da Sagrada Tradição não é igual à Escritura por que a palavra theopheneustos não é usada para designar uma Tradição oral é usar seu conceito fora de contexto.
26. Porque nem Jesus e nenhum dos apóstolos nunca incentivaram ou usaram a tradição oral para definir doutrinas?
Jesus não escreveu uma linha, até onde temos notícia. Nem Jesus nem os apóstolos tinham Bíblias cristãs (apenas as escrituras judaicas) para definir ou ensinar doutrinas. A forma como Jesus e os apóstolos ensinaram foi por meio da transmissão oral.
Jesus ou os apóstolos nunca incentivaram que os seus ensinamentos fossem passados adiante (usando, claro, a tradição oral)?
Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei (Mt 28,19-20)
O que de mim ouviste na presença de muitas testemunhas, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para ensiná-los a outros (2Tm2,2)
27. Pode algum católico provar que as doutrinas do papado, indulgência, imaculada conceição, assunção do corpo e alma de Maria ao céu, virgindade perpétua, batismo infantil, os sete sacramentos, purgatório, e as demais doutrinas extra-bíblicas catóicas foram ensinadas pelos apóstolos?
Pode, pois tais doutrinas, apesar de algumas não estarem explicitamente declaradas nas Escrituras dos Apóstolos, são derivadas dos ensinamentos destes. A doutrina cristã não nasceu pronta, e até hoje estamos passando pelo desenvolvimento da doutrina. Toda revelação já foi feita, porém o entendimento acerca da revelação cresce constantemente através dos tempos. Você não encontrará uma linha na Bíblia sobre a doutrina da Trindade, mas toda a doutrina trinitariana é desenvolvida a partir dos ensinamentos e entendimentos ao longo da história da Igreja. É assim que funciona. A necessidade de aceitar uma doutrina que esteja contida explicitamente na Bíblia é um dos fundamentos da Sola Scriptura que, ironicamente, não ensina, nem explícita nem implicitamente, a Sola Scriptura.
28. Pode algum católico provar que em todas as tradições alegadas acima os pais da igreja [todos eles] estavam de pleno acordo?
29. Porque havia divergências sérias entre os pais da Igreja em torno de pontos doutrinários católicos que hoje se tornaram dogmas?
As doutrinas da Igreja não repousam sua autoridade sobre o consenso unânime dos pais da Igreja (unanimem consensum Patrum). Os pais são um elemento desse fundamento.
Uma definição simples sobre esse assunto: Quando os pais da igreja forem moralmente unânimes em seu ensino de que uma determinada doutrina é uma parte da revelação, ou é aceita pela igreja universal, ou que o seu oposto é uma heresia, então seu testemunho conjunto é um determinado critério de revelação divina. Não sendo os pais pessoalmente infalíveis, o testemunho contrário de um ou de dois não seria destrutivo ao valor do testemunho coletivo; basta uma simples unanimidade moral. (Maryknoll Catholic Dictionary, pg. 154)
Pelo fato de a defesa das Escrituras dever ser conduzida com vigor, todas as opiniões que um determinado padre ou um intérprete dizem para explicações não necessitam ser idênticas. Pois eles, interpretando passagens onde assuntos foram julgados de acordo com o conhecimento de suas épocas, e nem sempre de acordo com a verdade, podem ter produzido opiniões que não são atualmente aprovadas.Portanto, devemos estar atentos e cuidadosamente aprender a discernir o que neles realmente pertence à fé e o que apenas está conectado a ela, e o que estabeleceram como consentimento unânime, pois nos assuntos que não estão sob a obrigação da fé, os santos são livres para expressar opiniões diversas, assim como nós, de acordo com a opinião de Santo Tomás( Papa Leão XIII (Estudo sobre as Sagradas Escrituras, Providentissimus Deus, nov. 1893).
30. Porque a tradição oral católica precisou ser posta em forma escrita? Porque ela não permaneceu na forma oral? Isso não é prova de que a forma escrita é mais confiável que a oral?
Não. A forma escrita nunca foi sinônimo de confiabilidade de transmissão de informações. Existem adulterações tanto em uma como em outra forma. O que dá autoridade à palavra, seja ela escrita ou oral, não é sua forma de transmissão, mas quem é o seu autor.