Pergunta sobre a fé e o ensino de alguns “padres modernos”

– Descobri hoje esse site e fiquei admirado com tanta informação contida no mesmo e com muita argumentação. Acho uma maravilhosa iniciativa e gostaria de entender porque nossos padres hoje em dia são tão sem fé. Eu vi padre Fabio dizer em seu programa que Cristo está na eucaristia assim como está em mim ou na Palavra, e que se sente mais tocado por Deus na Palavra que na Eucaristia. Dessa forma explicou que teríamos Jesus em si tão igualmente numa conversa sobre Cristo como na própria Eucaristia e que todas as denominações cristãs são de igual valor. O que vocês acham disso? E são muitos os padres com essa confissão. O que está acontecendo com a nossa Igreja? (Eduardo)

Caro Eduardo,

Que a graça e a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja conosco!

Agradecemos seu contato e elogios ao nosso apostolado, rogando suas orações.

Não vi a entrevista do Pe. Fábio a que se refere, de modo que, nos ateremos aos erros da suposta afirmativa. De forma alguma, pode-se afirmar que Cristo esteja em “nós” ou na “Palavra”, mais do que na Eucaristia. Ora, o Catecismo ensina categoricamente que:

“Cristo Jesus, aquele que morreu, ou melhor, que ressuscitou, aquele que está à direita de Deus e que intercede por nós” (Rm 8,34), está presente de múltiplas maneiras em sua Igreja: em sua Palavra, na oração de sua Igreja, “lá onde dois ou três estão reunidos em meu nome” (Mt 18,20), nos pobres, nos doentes, nos presos, em seus sacramentos, dos quais ele é o autor, no sacrifício da missa e na pessoa do ministro. Mas “sobretudo (está presente) sob as espécies eucarísticas”. (§ 1373)

O modo de presença de Cristo sob as espécies eucarísticas é único. Ele eleva a Eucaristia acima de todos os sacramentos e faz com que da seja “como que o coroamento da vida espiritual e o fim ao qual tendem todos os sacramentos”. No santíssimo sacramento da Eucaristia estão “contidos verdadeiramente, realmente e substancialmente o Corpo e o Sangue juntamente com a alma e a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo e, por conseguinte, o Cristo todo”. “Esta presença chama-se ‘real’ não por exclusão, como se as outras não fossem ‘reais’, mas por antonomásia, porque é substancial e porque por ela Cristo, Deus e homem, se toma presente completo.” (§1374) [destaque nosso]

Outra afirmação absurda é dizer que “todas as denominações cristãs são de igual valor”. Ora, a Igreja Católica, a única fundada por Jesus e entregue ao pastoreio de Pedro e seus sucessores, é a possuidora da “plenitude dos meios da salvação” (UR,3) [1]. Como a única Igreja fundada por Cristo, existente e guiada pelo Espírito Santo há 2000 anos, com uma sucessão apostólica ininterrupta, poderia ter o mesmo valor que qualquer “comunidade eclesial” fruto do pecado humano da divisão? (cf. CIC §817)

A Igreja até reconhece que pode haver elementos de santificação e verdade nas comunidades separadas [2], mas a plenitude encontra-se somente na Igreja Católica.

Sobre sua pergunta “porque nossos padres hoje em dia são tão sem fé?” é preciso compreender, que os sacerdotes são humanos, portanto, passivos de errar. Muitas vezes a formação recebida nos seminários não é satisfatória, às vezes impregnada da “teologia da Libertação”, levando a um esvaziamento da fé. A Igreja na 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino Americano e do Caribe realizada em Aparecida em 2007, assinalou em seu documento final a preocupação e os desafios na formação dos sacerdotes:

A realidade atual exige de nós maior atenção aos projetos de formação dos Seminários, pois os jovens são vítimas da influência negativa da cultura pós-moderna, especialmente dos meios de comunicação, trazendo consigo a fragmentação da personalidade, a incapacidade de assumir compromisso definitivos, a ausência de maturidade humana, o enfraquecimento da identidade espiritual, entre outros, que dificultam o processo de formação de autênticos discípulos e missionários. Por isso, antes do ingresso no Seminário, é necessário que os formadores e responsáveis façam uma esmerada seleção dos candidatos que leve em consideração o equilíbrio psicológico de uma sã personalidade, uma motivação genuína de amor a Cristo, à Igreja, ao mesmo tempo que capacidade intelectual adequada às exigências do ministério no tempo atual (Documento de Aparecida nº 318)

Ao mesmo tempo, o Seminário deverá oferecer uma formação intelectual séria e profunda, no campo da filosofia, das ciências humanas e, especialmente, da teologia e da missiologia, a fim de que o futuro sacerdote aprenda a anunciar a fé em toda a sua integridade, fiel ao Magistério da Igreja, com atenção crítica atento ao contexto cultural de nosso tempo e às grandes correntes de pensamento e de conduta que deverá evangelizar. Simultaneamente, deverá se reforçar o estudo da palavra de Deus no acadêmico nos diversos campos de formação, procurando que a palavra de Deus divina não se reduza só a noções, mas que seja uma verdade de espírito e vida que ilumine e alimente toda a existência. Portanto, será necessário contar em cada seminário com o número suficiente de professores bem preparados. (Documento de Aparecida nº 323)

É indispensável confirmar que os candidatos sejam capazes de assumir as exigências da vida comunitária, o que implica diálogo, capacidade de serviço, humildade, valorização dos carismas alheios, disposição para se deixar interpelar pelos outros, obediência ao bispo e abertura para crescer em comunhão missionária com os presbíteros, diáconos, religiosos e leigos, servindo à unidade na diversidade. A Igreja necessita de sacerdotes e consagrados que nunca percam a consciência de serem discípulos em comunhão. (Documento de Aparecida nº 324) [destaques nossos]

Não obstante aos sérios problemas que a Igreja enfrenta, não é novidade, que provações surgirão antes do advento do Cristo. Afinal, o próprio Cristo nos pergunta no Evangelho: “Quando o Filho do homem voltar, encontrará a fé sobre a terra?” (Lc 18, 8)

Antes do advento de Cristo, a Igreja deve passar por uma provação final que abalar a fé de muitos crentes. A perseguição que acompanha a peregrinação dela na terra” desvendará o “mistério de iniqüidade” sob a forma de uma impostura religiosa que há de trazer aos homens uma solução aparente a seus problemas, à custa da apostasia da verdade. A impostura religiosa suprema é a do Anticristo, isto é, a de um pseudo-messianismo em que o homem glorifica a si mesmo em lugar de Deus e de seu Messias que veio na carne. (CIC 675)

Esta impostura anticrística já se esboça no mundo toda vez que se pretende realizar na história a esperança messiânica que só pode realiza-se para além dela, por meio do juízo escatológico: mesmo em sua forma mitigada, a Igreja rejeitou esta falsificação do Reino vindouro sob o nome de milenarismo, sobretudo sob a forma política de um messianismo secularizado, “intrinsecamente perverso”. (CIC 676)

A Igreja só entrará na glória do Reino por meio desta derradeira Páscoa, em que seguirá seu Senhor em sua Morte e Ressurreição. Portanto, o Reino não se realizará por um triunfo histórico da Igreja segundo um progresso ascendente, mas por uma vitória de Deus sobre o desencadeamento último do mal, que fará sua Esposa descer do Céu. O triunfo de Deus sobre a revolta do mal assumirá a forma do Juízo Final depois do derradeiro abalo cósmico deste mundo que passa. (CIC 677)

Espero que sua dúvida tenha sido sanada. Aproveito o ensejo de sua pergunta, para convidar a todos a unirem-se em oração com o Papa Bento XVI, pelos Sacerdotes, cujo Ano Sacerdotal foi inaugurado no último dia 19 de junho.

In caritate Christi,
Leandro.

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NOTAS:

[1] “A única Igreja de Cristo (…) é aquela que nosso Salvador depois de sua Ressurreição, entregou a Pedro para que fosse seu pastor e confiou a ele e aos demais Apóstolos para propagá-la e regê-la… Esta Igreja, constituída e organizada neste mundo como uma sociedade, subsiste na (“subsistit in”) Igreja Católica governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele”: O Decreto sobre o Ecumenismo, do Concílio Vaticano II, explicita: “Pois somente por meio da Igreja católica de Cristo, ‘a qual é meio geral de salvação’, pode ser atingida toda a plenitude dos meios de salvação. Cremos que o Senhor confiou todos os bens da Nova Aliança somente ao Colégio Apostólico, do qual Pedro é o chefe, a fim de constituir na terra um só Corpo de Cristo, ao qual é necessário que se incorporem plenamente todos os que, de que alguma forma, já pertencem ao Povo de Deus”. ( CIC § 816) [destaque nosso]
[2] Os que hoje em dia nascem em comunidades que surgiram de tais rupturas “e estão imbuídos da fé em Cristo não podem ser argüidos de pecado de separação, e a Igreja católica os abraça com fraterna reverência e amor… Justificados pela fé recebida no Batismo; estão incorporados em Cristo, e por isso com razão são honrados com o nome de cristãos e merecidamente reconhecidos pelos filhos da Igreja católica como irmãos no Senhor”. Além disso, “muitos elementos de santificação e de verdade existem fora dos limites visíveis da Igreja católica”: “A palavra escrita de Deus, a vida da graça, a fé, a esperança, a caridade, outros dons interiores do Espírito Santo e outros elementos visíveis” O espírito de Cristo serve-se dessas igrejas e comunidades eclesiais como meios de salvação cuja força vem da plenitude de graça e de verdade que Cristo confiou à Igreja católica. Todos esses bens provêm de Cristo e levam a Ele e chamam, por eles mesmos, para a “unidade católica”. (CIC § 818-819) [destaque nosso]

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