Políticos na Igreja

Recebi uma carta perguntando-me sobre a postura que devemos ter diante de políticos que buscam aproveitar-se da Igreja. O texto da carta está em negrito, e minhas respostas em letra normal.

Gostaria que você me orientasse a cerca de qual postura uma Comunidade Católica deve ter com relação ao apoio a candidatos. Qual deve ser o limite (no que diz respeito a campanha)? Te pergunto isso porque tenho visto uma série de grupos de oração fazendo verdadeiros “currais eleitorais” com sua ovelhas. Levando estas a uma verdadeira privação do livre arbítrio.

Bom, esta é uma questão bastante complexa, principalmente porque a Doutrina Social da Igreja não considera (como o fazem os princípios teóricos da democracia) que o poder de um governante lhe seja dado pelo povo. A Igreja aceita a democracia, as eleições, etc., mas simplesmente como uma forma de escolher o governante, cujo poder virá de Deus, não do povo.

Assim, a participação em eleições é – pela Doutrina Social da Igreja, não pela lei brasileira – facultativa. Em alguns casos específicos já houve até mesmo proibiçõa de voto, com excomunhão de todos os votantes. Não é este o caso agora, em absoluto. Vc pode votar, mas não é obrigado. O que não pode é votar em um candidato que vá contra a Lei Divina.

No campo oposto, o que não pode ser feito é associar uma candidatura a uma suposta vontade divina (ou seja, dizer que Deus quer que todos votem em Fulano).

As leis promulgadas pelo governante devem estar de acordo com a Lei Divina. Assim, caso a pessoa vá votar, deve escolher um candidato que não irá tentar legislar contra a Lei Divina (propondo aborto, parceria na sodomia legalizada, etc.). Digo “tentar” porque, como ele recebe de Deus o seu poder de legislar, uma lei contrária à lei divina é plenamente nula e não pode ser obedecida. Assim sendo, não é mau que todos votem em um candidato católico ativo, mas também não é obrigatório.

O que ele não pode fazer, entretanto, é colocar-se como “candidato da Igreja”, “ungido de Deus” ou qualquer coisa no gênero. Por uma questão de ética, ele também não deve misturar sua candidatura com sua ação na Igreja, ou seja, não deve fazer de grupos de oração comícios ou “currais eleitorais”. Caso o faça, ele está tirando de Deus o que compete a Deus (o louvor e a oração, o tempo usado nestes…) em proveito próprio.

Então, como uma Comunidade Cristã pode apoiar ativamente a candidatura de um político sem ferir os princípios éticos e cristãos? Por favor, dê exemplos positivos e negativas desse apoio.

Pela ação *pessoal do laicato*. Assim, cada pessoa pode panfletar pelo candidato, propor o voto nele aos amigos, agir pessoalmente em prol dele. Pode ser também montada uma estrutura paralela à estrutura do Grupo de Oração (ou seja, chamar as pessoas que dele participam, pessoalmente e fora da igreja ou salão paroquial) para dirigir a campanha… O essencial é que não se use nem o espaço físico nem o nome da Igreja para apoiar Fulano em detrimento de Beltrano. O padre tampouco pode envolver-se em apoio a candidaturas.

A não ser que Beltrano seja um candidato pró-aborto, pró-sodomia, etc. (caso em que é permissível fazer campanha *contra* Beltrano, mas não *a favor* de Fulano dentro do ambiente eclesial), a comunidade eclesial deve manter-se igualmente aberta para todos os candidatos.

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