Por que a Igreja não se empenha em divulgar os milagres eucarísticos?

Gostaria de saber a opinião dos responsáveis por este belo site a respeito dos grandiosos milagres ocorridos dentro da Igreja Católica. Estou me referindo, em especial, aos Milagres Eucarísticos e à preservação inexplicável dos corpos de diversos santos, entre outros. A minha principal dúvida é a seguinte: Por que a Igreja não se empenha em divulgar estes tão grandiosos Milagres ao grande público, a fim de que muitos venham a saber que tremendas maravilhas ocorrem dentro da verdadeira Igreja de Cristo?
Basta assistir a qualquer programa “evangélico” na TV para vermos a enorme importância que os “pastores” atribuem a qualquer alegação de “dor no braço” que teria “sumido” durante as orações feitas no culto. E sabemos bem que esta tremenda valorização dos alegados “milagres” que ocorrem nos templos evangélicos atrai muitíssimas pessoas, solapando inclusive muitos frequentadores da Igreja Católica. Digo “frequentadores” porque bem sei que não se tratam de verdadeiros fiéis; – porque estes, os verdadeiros fiéis, como o próprio nome diz, não abandonariam o Corpo místico de Cristo por nada.
Mesmo assim, persisto no meu ponto de vista de que seria muito importante a divulgação maciça de Milagres tão tremendos quanto os que ocorreram e ocorrem em ambiente católico para o grande público. Por diversas vezes, em debates amigáveis com protestantes, percebi que eles ficavam sem palavras quando eu os confrontava com o Milagre Eucarístico de Lanciano, por exemplo. Notei também que muitos deles, a partir daí, até se viam obrigados a reconhecer a ação de Deus dentro da História da Igreja Católica, coisa que, antes de tomar conhecimento destas Maravilhas, seria para eles impensável.
Finalizando, gostaria de deixar aqui o meu próprio testemunho: minha própria conversão ao catolicismo se deu, em grande parte, por ter conhecido, através de Pe Quevedo, os maravilhosos Milagres ocorridos dentro da Igreja Católica, Maravilhas estas confirmadas inclusive pela própria ciência humana e que acabam agindo como uma espécie de confimação para aqueles que se encontram em dúvida sobre qual caminho espiritual seguir.
Fica aqui a minha questão e a minha dúvida. Muito obrigado e a Paz seja com todos. (Henrique)

Prezado Henrique,

A Paz !

Primeiramente, agradeço, em nome de nosso apostolado, a confiança e o carinho. Você pergunta a nossa opinião sobre milagres. Passemos, inicialmente, à definição de milagre:

O Milagre em sentido estrito é “um fenômeno estranho ao curso natural das coisas, fenômeno que Deus produz como sinal de sua presença e ação neste mundo. O milagre é um sinal, um testemunho em favor de uma verdade ou de uma pessoa: a Divindade de Cristo, a autenticidade de sua Igreja, a santidade de uma alma, a eficácia da oração, etc.” (PERGUNTE E RESPONDEREMOS, ANO I – Nº 06, JUNHO DE 1958)

Conforme diz o padre Oscar Quevedo, SJ, em uma entrevista na revista O Mensageiro de Sto. Antônio, Ano XLI, no. 9, Novembro de 1998, páginas 19 a 21: “… a ciência comprovou que os únicos fenômenos supra-normais verdadeiros, os ditos milagres, só ocorreram em ambientes do antigo judaísmo e no ramo cristão católico”. O milagre é a assinatura de Deus para demonstrar onde está a verdadeira revelação.

O Pe. Oscar González-Quevedo por meio de seu apostolado que se baseia na Parapsicologia, tem procurado diferenciar os falsos milagres dos verdadeiros milagres, e escreveu dois ótimos livros a respeito, a saber:

– “Os Milagres – A Ciência Confirma a Fé”, Edições Loyola, São Paulo, 1996.

– “Os Milagres e a Ciência”, Edições Loyola, São Paulo, 1998.

Tendo em mente que o milagre é um sinal da presença e ação de Deus, analisemos as seguintes citações, que falam por si:

“Uma grande multidão seguia Jesus porque as pessoas viram os sinais que ele fazia, curando os doentes.” (Jo 6,2)

“As pessoas viram o sinal que Jesus tinha realizado e disseram: ‘Este é mesmo o Profeta que devia vir ao mundo’.” (Jo 6,14)

“De todos eles se apoderou o temor, pois pelos apóstolos foram feitos também muitos prodígios e milagres em Jerusalém e o temor estava em todos os corações.”(Atos 2,42)

“Depois Jesus começou a censurar as cidades, onde tinha feito grande número de seus milagres, por terem recusado arrepender-se: Ai de ti, Corozaim! Ai de ti, Betsaida! Porque se tivessem sido feitos em Tiro e em Sidônia os milagres que foram feitos em vosso meio, há muito tempo elas se teriam arrependido sob o cilício e a cinza. Por isso vos digo: no dia do juízo, haverá menor rigor para Tiro e para Sidônia que para vós! E tu, Cafarnaum, serás elevada até o céu? Não! Serás atirada até o inferno! Porque, se Sodoma tivesse visto os milagres que foram feitos dentro dos teus muros, subsistiria até este dia. Por isso te digo: no dia do juízo, haverá menor rigor para Sodoma do que para ti! Por aquele tempo, Jesus pronunciou estas palavras: Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequenos.”(Mt 11, 20-25)

“A estima exagerada dos milagres, cujo poder lhe foi dado, desvia-o muito do hábito substancial da fé que por si mesma é hábito obscuro; e assim, ondem abundam os prodígios e os fatos sobrenaturais, há menos merecimento em crer” (São João da Cruz. A subida do Monte Carmelo, Livro III, Capítulo XXXI, parágrafo 8)

Dessa forma, ao mesmo tempo em que o milagre confirma a fé, sendo um sinal da presença e ação de Deus entre nós, a nossa fé não pode depender e ser impulsionada apenas por milagres, nem se deve supervalorizá-los.

“O Cristão não crê necessariamente por causa de milagres, mas por uma atração íntima de Deus sobre o coração da criatura; essa atração, no entanto, não tira a liberdade do homem. A fim de que creia inteligentemente, e não de forma cega, o cristão é apoiado por credenciais das verdades da fé; entre essas credenciais está certamente o milagre.” (PERGUNTE E RESPONDEREMOS, ANO XXXV – Nº 383, ABRIL de 1994)

“Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o atrair; e eu hei de ressuscitá-lo no último dia.” (Jo 6,44)

“Não obstante, para que a homenagem de nossa fé estivesse em conformidade com a razão [cf. Rm 12,1Rm 12,1: Eu vos exorto, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, a oferecerdes vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus: é este o vosso culto espiritual.], quis Deus ajuntar ao auxílio interno do Espírito Santo os argumentos externos da sua revelação, isto é, os fatos divinos, e sobretudo os milagres e as profecias, que, por demonstrarem abundantemente a onipotência e a ciência infinita de Deus, são sinais certíssimos da revelação divina, acomodados que são à inteligência de todos [cân. 3 e 4]. Foi por isso que Moisés, os profetas e principalmente o próprio Jesus Cristo fizeram muitos e manifestíssimos sinais e profecias; (…). Embora, porém, a adesão da fé não seja de modo algum um movimento cego do espírito, ninguém, contudo, pode “crer na pregação evangélica”, como se exige para conseguir a salvação, “sem a iluminação e a inspiração do Espírito Santo, que a todos faz encontrar doçura em consentir e crer na verdade” [Concílio II Arausicano]. Pelo que, [já] a própria fé em si, embora não opere pela caridade [cf. Gl 5,6Gl 5,6: Estar circuncidado ou incircunciso de nada vale em Cristo Jesus, mas sim a fé que opera pela caridade.], é um dom de Deus, e o seu exercício é um ato salutar, pelo qual o homem presta livre obediência ao próprio Deus, prestando consentimento e cooperação à sua graça, à qual poderia resistir [cân. 5]”.(CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA DEI FILIUS, CONCÍLIO VATICANO I, §§ 1790 e 1791)

Por fim, respondendo a sua pergunta: “Por que a Igreja não se empenha em divulgar estes tão grandiosos Milagres ao grande público, a fim de que muitos venham a saber que tremendas maravilhas ocorrem dentro da verdadeira Igreja de Cristo?”

Embora a simples informação sobre os milagres por meio de anúncios em revistas, jornais, livros e afins possa ajudar as pessoas a valorizar mais a religião católica, se não houver fé e boa vontade interior tais informações serão desconsideradas. Jesus, que é perfeito homem e perfeito Deus, realizava milagres não para se exibir, mas para mostrar que a sua palavra provinha realmente de Deus. Muitos, porém, mesmo presenciando os milagres de Jesus, não os aceitaram como provenientes de Deus porque não tinham boa disposição interior.

Para aquele que tem reta intenção bastam os milagres descritos nos Evangelhos para alimentar a sua fé. A Igreja Católica não nega a existência dos milagres, mas é muito rigorosa para concluir se um fato foi ou não milagre – e tem que ser assim, porque milagre é coisa séria.

A Igreja Católica tem divulgado os milagres ocorridos em sua história após a ascensão de Jesus ao Céu, mas o faz de modo sereno, sem chamar muita atenção, porque assim é o modo de Jesus agir. Quem tem interesse em conhecer realmente a religião católica, descobrirá os inúmeros milagres que Jesus tem realizado em Sua Igreja (una, santa, católica, apostólica) nestes últimos 2000 anos e se maravilhará com eles (há além dos livros do Pe. Quevedo muitos outros livros sérios publicados a respeito, e também informações na Internet), quem não tem interesse não se informará a respeito e se não tiver fé e boa vontade interior não acreditará mesmo se for testemunha do milagre. O milagre realizado por Deus é um auxílio para nos fortalecer em nossa fé débil, não um fim em si mesmo.

Em resumo, queremos católicos com uma fé madura, não pessoas deslumbradas com fatos extraordinários. Nosso Papa Bento XVI já deixou claro, em diversas ocasiões, a opção da Igreja pela qualidade e não pela quantidade de fiéis. Uma exposição exagerada dos milagres poderia levar à sua banalização, ou a uma enxurrada de “conversões”, que, motivadas unicamente pela emoção, durariam pouco. Nisso também, como em tudo na vida, o equilíbrio é o melhor caminho a seguir; logo, os milagres podem e devem acompanhar, mas não serem únicos “protagonistas” do processo de conversão. Há uma busca, um questionamento interior anterior ao conhecimento dos milagres, e como bem disse, estes “acabam agindo como uma espécie de confirmação para aqueles que se encontram em dúvida sobre qual caminho espiritual seguir”.

“Oito dias depois, estavam os seus discípulos outra vez no mesmo lugar e Tomé com eles. Estando trancadas as portas, veio Jesus, pôs-se no meio deles e disse: A paz esteja convosco! Depois disse a Tomé: Introduz aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos. Põe a tua mão no meu lado. Não sejas incrédulo, mas homem de fé. Respondeu-lhe Tomé: Meu Senhor e meu Deus!Disse-lhe Jesus: Creste, porque me viste. Felizes aqueles que crêem sem ter visto! Fez Jesus, na presença dos seus discípulos, ainda muitos outros milagres que não estão escritos neste livro. Mas estes foram escritos, para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome.” (Jo 20, 26-31)

Posto isso, não se preocupe: Jesus não vai perder nenhum dos que o Pai lhe confiou… para Jesus não existem portas trancadas – como quando apareceu, ressuscitado, para os discípulos, Nosso Senhor se faz presente no nosso meio, sempre ! Ele oferece todos os dias, Seu Corpo e Seu Sangue, e mais que milagre, isso é mistério, o mistério da nossa fé, que encanta e atrai pessoas há cerca de dois mil anos…

Um abraço e fique com Deus,

Ad Majorem Gloriam Dei,

Maite
“Filia Reginae”

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