– “Qual o significado da vela acesa a uma imagem?” (Pedro – Rio de Janeiro-RJ).
– “Por que os católicos acendem velas durante o dia sobre os altares?” (Júlia – Barbacena-MG).
O fogo tem, por sua natureza, rico valor simbólico. Sendo fonte de luz e calor, está intimamente ligado com a vida, e representa aptamente a alma humana dotada de inteligência (luz) e amor (calor) naturais, ou dotada de fé e caridade sobrenaturais. Além disto, o fogo, ardendo enquanto consome a matéria, é sinal da reverência e homenagem que alguém queira tributar a personagem muito estimado.
Isto explica que o fogo, ardendo em círios ou velas, tenha sido utilizado desde a Era Pré-Cristã para exprimir o senso religioso do homem. Em particular, interessam-nos os testemunhos dessa praxe entre os romanos: Cícero, por exemplo, menciona o incenso e as velas que se acendiam no culto sagrado (De officiis 3,80); o historiador romano Amiano Marcelino (+440 d.C.) refere que o filósofo Asclepíades, em visita ao templo de Apolo em Dafnes, acendeu velas diante da estátua em sinal de veneração (Rer.Gest. 1,22,14). Em dadas ocasiões, velas acesas eram levadas processionalmente diante de dignitários do Império Romano; a imagem do soberano era por vezes exposta sobre uma mesa quadrada, juntamente com quatro velas (julga-se que o uso de se levarem velas processionalmente diante do Santo Evangelho ou diante do Sumo Pontífice e de bispos provém desse costume romano).
Entre os judeus, a Lei mosaica prescrevia solenemente que dia e noite ardesse uma lamparina de óleo na tenda do Senhor (cf. Êxodo 27,20-21; Levítico 24,2-3). Estava igualmente em uso o candelabro de sete braços, confeccionado de ouro puro segundo o modelo indicado a Moisés sobre o monte, objeto de grande estima na piedade de Israel (cf. Êxodo 20,31-40; 39,37; Levítico 24,4; Números 8,4). No templo de Salomão havia o candelabro de ouro puro junto ao “Santo dos Santos” (cf. 3Reis 7,49; 2Crônicas 4,7). A Casa do Senhor restaurada após o exílio (cf. 1Macabeus 4,49) tinha, como outrora, o tradicional candelabro de sete braços. Por fim, são sete candelabros que São João no Apocalipse (note-se bem: temos aqui um texto do Novo Testamento!) vê em torno do Filho do homem, realçando a Majestade do Senhor Jesus (cf. Apocalipse 1,12-13).
Instruídos por estes precedentes, os cristãos não hesitaram, desde os inícios da Igreja, em fazer uso de velas, lamparinas e candelabros para exprimir a fé e o ardor de sua alma. Junto ao altar, principalmente por ocasião do Santo Sacrifício da Missa, as velas acesas atestam a adoração prestada a Deus. Quando se acendem diante de imagens de santos ou simplesmente em honra destes, as velas e lamparinas significam a atitude de alma congruente, ou seja, veneração (não adoração) aos amigos de Deus. Junto aos cadáveres ou túmulos dos defuntos, exprimem o respeito dos vivos perante o mistério da morte, sobre o qual só Deus tem poder; para os católicos, equivalem a uma profissão de fé na imortalidade da alma e na ressurreição dos corpos. Nem mesmo os liberais se recusam a exprimir reverência aos mortos mediante uma lamparina sempre ardente; é o que se verifica em mais de uma nação, por exemplo, junto ao túmulo do “Soldado desconhecido”.
Deve-se mencionar ainda o costume, vigente em famílias católicas, de colocar nas mãos do moribundo uma vela acesa. O que pode significar isto? Supõe-se que a vela tenha sido benta na igreja; tornou-se, destarte, um sacramental, isto é, objeto que a Santa Igreja sequestrou do uso profano, pedindo ao Senhor que todos aqueles que dele usem com fé e devoção obtenham graças para a alma e para o corpo; sobre tal objeto pesa, por assim dizer, o valor da prece da Igreja, a qual não pode deixar de ser agradável a Deus e meritória para os homens. Por conseguinte a fé e a devoção dos fiéis que, diante da morte, recorrem ao sacramental da vela benta, se revestem de nova eficácia para impetrar as graças de um santo desenlace. De modo semelhante, aliás, a água benta, o pão bento, a medalha benta (que são outros tantos sacramentais), usados com piedade, dão novo esteio à oração dos fiéis; a Santa Igreja mesma como que se empenha de modo especial juntamente com quem usa dos sacramentais, por obter efeitos salutares.
Vê-se, pois, que o uso de velas nada tem que ver com superstição. É claro, porém, que se podem verificar abusos; as almas simples lhes atribuem às vezes efeitos desproporcionais; é o que se deve de todo modo evitar nos santuários católicos.
- Fonte: Revista Pergunte e Responderemos nº 6:1957 – out/1957