– Bom dia. Me perguntaram por que os santos ficam cobertos durante a Quaresma e por que a Verônica canta durante a procissão do enterro do Senhor. Vocês poderiam me responder ou indicar onde localizo estas informações? Obrigada! (Eliana)
Caríssima Eliana,
Que a graça e a paz de N. Senhor Jesus Cristo esteja sempre conosco!
Obrigado pela confiança depositada em nosso apostolado, que com a graça de Deus busca em meio às suas limitações defender e propagar a fé da Igreja.
Respondendo às suas dúvidas, é costume muito antigo na Igreja, a partir do quinto Domingo da Quaresma também chamado de Primeiro Domingo da Paixão, na forma extraordinária do Rito Romano, (sendo na verdade o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, o Segundo Domingo da Paixão) cobrir com pano roxo as cruzes, quadros e imagens sacras. As cruzes ficam cobertas até o final da liturgia da Sexta Feira Santa, os quadros e demais imagens até a celebração da noite de Páscoa.
O sentido profundo desse ato de cobrir as imagens sacras, fundamenta-se no luto pelo sofrimento de Cristo Nosso Senhor, levando os fiéis a refletir, ao contemplar esses objetos sagrados cobertos do roxo, que simboliza a tristeza, a dor e a penitência. O ápice do despojamento ocorre após a Missa da Ceia do Senhor na Quinta-Feira Santa, quando retiram-se as toalhas do altar. A cruz coberta lembra-nos a humilhação de N. Senhor Jesus Cristo, que teve de ocultar-se para não ser apedrejado pelos judeus, como nos relata o Evangelho segundo São João:
Os judeus pegaram pela segunda vez em pedras para o apedrejar. Disse-lhes Jesus: Tenho-vos mostrado muitas obras boas da parte de meu Pai. Por qual dessas obras me apedrejais? (…). Procuraram então prendê-lo, mas ele se esquivou das suas mãos. Ele se retirou novamente para além do Jordão, para o lugar onde João começara a batizar, e lá permaneceu. (Jo 10, 31-32.39-40)
A sua segunda dúvida versa sobre o cântico de Verônica durante a procissão do enterro do Senhor. Primeiramente, falemos um pouco sobre Verônica, cujo nome deriva-se de veros icona (imagem verdadeira), pelo fato de segundo a Tradição da Igreja, ela ter enxugado o rosto de Cristo a caminho do Calvário, e a imagem do rosto de Cristo ter ficado gravada milagrosamente no véu. Este episódio não consta na Sagrada Escritura, apenas na Tradição da Igreja (1). O nome de Verônica é mencionado no livro apócrifo Atos de Pilatos (século VI), no capítulo VII, fazendo crer que se trata da mesma mulher curada por Jesus da hemorragia (cf. Lucas 8,43-48).
Pois bem, na procissão Verônica canta a lamentação: Ó vós todos que passais pelo caminho, parai e vede se há dor igual à minha dor. Ressaltando a dor do Cristo que padece pela humanidade. Note-se que é comum cânticos e lamentações em velórios, conforme o testemunho de São Marcos e S. Mateus:
Ao chegar à casa do chefe da sinagoga, viu o alvoroço e os que estavam chorando e fazendo grandes lamentações.Ele entrou e disse-lhes: Por que todo esse barulho e esses choros? A menina não morreu. Ela está dormindo. (Mc 5,38-39) [grifo nosso]
Chegando à casa do chefe da sinagoga, viu Jesus os tocadores de flauta e uma multidão alvoroçada. Disse-lhes:Retirai-vos, porque a menina não está morta; ela dorme. Eles, porém, zombavam dele. (Mt 9,23-24). [grifo nosso]
Esperando tê-la ajudado me despeço,
in caritate Christi,
Leandro.
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NOTA:
(1) Este episódio é relatado na VI estação da Via Sacra.
- Fonte: Veritatis Splendor