Preparação para o Matrimônio (Parte 1/3)

Um dos maiores problemas na evangelização atual é a preparação para o sacramento do Matrimônio. Há a falsa esperança que todos os membros do grupo de oração ou da catequese serão sacerdotes, religiosos ou religiosas. Os responsáveis pelas pastorais esquecem-se que grande parte das vocações é matrimonial e descuidam da formação específica para este sacramento. Por causa desse erro de julgamento, ou se começa a tratar do assunto tarde demais (já no noivado), ou de modo improvisado (com palestras desconexas e – muitas vezes – controversas). O sacramento do Matrimônio deve ser preparado ainda na infância, com a educação para a generosidade.

Neste primeiro momento de reflexão, deve-se lembrar que o chamado à família é um dom natural. Sem embargo, o vínculo familiar é o único que jamais foi desfeito na história, o que significa que o tratamento teórico sobre essa instituição deve abranger assuntos e problemas naturais, os quais antecedem os sobrenaturais e destes são fundamento. Em nome dos temas e problemas da Revelação Cristã, não se pode ignorar que, para o pacto conjugal dar certo, importa preparação humana adequada. Não basta agir à mercê dos sentimentos e desejos, por mais nobres que sejam, para que a família seja auxílio na busca de felicidade de seus membros. Se, com efeito, o matrimônio foi elevado à dignidade de Sacramento, tal união se orienta naturalmente para a felicidade dos esposos e para a geração e educação da prole (cf. CIC, 1601). Por isso, alguns pontos precisam ser meditados por qualquer um que busque o Matrimônio, cristão ou pagão.

1. O relacionamento humano que ocorre no matrimônio exige unidade.

O homem busca a mulher e a mulher o homem para que sejam um. Unidade de corpos, sem dúvida, mas principalmente união de corações e de almas. Não raro, quando os corpos não mais podem se unir, é a alma (sentimentos, ambições, metas, objetivos) que une dois cônjuges que se amam e se deram em matrimônio. Para que o pacto conjugal alcance êxito, os que se preparam para este momento precisam estar aptos a essa unidade de corpos, mas também é necessário desejar a unidade de corações e almas. Encontrada esta intimidade, os corpos não mais serão dois, mas um só!

A unidade exigida pelo matrimônio fará com que os cônjuges não descuidem do seu corpo, ainda que saibam que o princípio unitivo do casal é o coração. No entanto, como o homem é um ente composto por matéria e forma, corpo e alma, a união dos corpos é mais que um sinal da união das almas.

2. O relacionamento humano que ocorre no matrimônio exige fidelidade.

É certo que nem todo cidadão(ã) que habita com companheiro(a) aceita ser exigido ou exige fidelidade; mas também é certo que todos os que buscam o Matrimônio, civil ou religioso, exigem de si e do outro fidelidade ao compromisso assumido. A razão de tal característica se encontra no coração humano, que não admite rival quando o assunto é doação. Se me dou a outra integralmente, preciso ter certeza que a outra se entregará a mim de modo integral. Nenhum ser humano, ao buscar este vínculo publicamente, aceita menos que tudo na relação matrimonial.

Muitas vezes, a fidelidade conjugal limita-se apenas a não consumação de uma traição concreta, física. No entanto, de acordo com o princípio de que a união entre os esposos não é só carnal, mas principalmente espiritual, há infidelidade também quando as partes não mais sonham os mesmos sonhos, almejam os mesmos objetivos, quando não têm as mesmas metas. Um esposo que não é cúmplice da esposa no concurso que esta pretende fazer, pode estar sendo infiel; a esposa que não apoia aquela atividade do marido porque não tem a ver com a profissão, pode estar sendo infiel; o casal que superestima a vida conjugal em detrimento do seu papel educador e formativo dos filhos, com certeza está sendo infiel aos filhos.

3. O relacionamento humano que ocorre no matrimônio exige perenidade.

Por ser integral e exigente, é da natureza humana que este relacionamento não seja volúvel. A fidelidade não admite exceções. Portanto, a estabilidade matrimonial é a marca do relacionamento humano e a extinção desta aliança só se dá por força maior. Apesar de, na vida cotidiana, a maioria das decisões serem passíveis de revisão, o matrimônio (mesmo o matrimônio pagão!) não aceita esse tipo de simplificação. Quando os esposos prometem dar-se integral e totalmente, tal decisão não está condicionada a elementos exteriores (doenças, pobreza, viagens) ou interiores (sentimentos ou instintos), pois assim não seria uma entrega integral e total. E mais: ainda que o outro não cumpra sua parte no pacto conjugal (por exemplo, sendo violento física ou moralmente contra uma das partes), o cônjuge fiel não está livre para contrair novo pacto, a não ser que fique patente que o primeiro vínculo jamais existiu.

4. O relacionamento humano que ocorre no matrimônio é sempre aberto à vida.

O amor tende naturalmente a expandir-se. O amor é fecundo e deseja espalhar um pouco de si aonde passa. Muitos temos essa experiência ao conviver com pessoas que amam seu trabalho, amam sua fé ou amam sua vida: como é bom estar junto delas! Parece que saem faíscas de amor de seus olhos. No amor conjugal não é diferente. A relação unitiva entre um homem e uma mulher tende, naturalmente, à geração de filhos, os quais sempre são sinais do amor dos esposos. Por este motivo, a paternidade e a maternidade nunca são um dever, pois não há deveres quanto ao amor. Os filhos são, sempre, testemunho do amor generoso dos pais, os quais estão abertos à vida.

Em uma sociedade pouco generosa como a que vivemos, não é impossível entender os motivos da pequena porcentagem de famílias com mais de 3 filhos. Pais pouco generosos; poucos filhos. Obviamente, há situações difíceis, a respeito das quais a ética trata e que normatiza a geração da prole. Via de regra, porém, tomar a iniciativa de tornar impossível a geração de filhos jamais pode ser uma hipótese ordinária e irrefletida pelos cônjuges, cristãos ou não.

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