Progresso, progresso…

Diz o ditado que a grama do vizinho é sempre mais verde. É verdade: sempre tendemos a achar que alguém que não tem os nossos problemas não tem problema algum.

Gente que tem uma situação financeira confortável frequentemente se vê invejando a vida supostamente simples de gente mais pobre; estes, por seu lado, pensam que alguém que tem dinheiro não tem nenhum problema.

Isto ocorre porque o ser humano tem, dentro de si, um desejo de algo maior, daquilo que se pode chamar de transcendência. Deseja-se, em última instância, uma “vida plena”. Cegados pelos problemas de cada dia, contudo, confundimos a “vida plena” com a geladeira cheia, se a nossa está vazia, ou com a ausência de responsabilidades, se as temos muitas.

Nos últimos duzentos anos, as sociedades ocidentais caíram, em bando, neste erro. Os avanços técnicos inegáveis são considerados sinônimos de “progresso”, como se fosse o conforto físico e as facilidades – telefones, luz elétrica, automóveis, computadores… – que nos dessem uma vida plena. Criou-se a ilusão de que o que vem depois é necessariamente melhor do que o que havia antes, de que toda mudança é boa e necessária.

Antes do surgimento do consumismo, os bens eram duráveis: desejava-se terra, ouro, coisas que passam de uma geração a outra. Agora, contudo, para manter vivo o desejo de mais e mais bens, fazendo da inveja do pobre um modelo de civilização, os bens tornaram-se descartáveis. De nada adianta comprar o último modelo de automóvel, se em breve ele será substituído por outro. O celular de ponta que se compra hoje será amanhã um tijolo do qual se sentirá vergonha.

A sociedade como um todo se entregou a um frenesi de substituições: trabalha-se para trocar o carro por outro mais novo, a roupa por outra da última moda, a TV por outra maior, onde melhor veremos os comerciais que indicam o caminho da felicidade.

E isto passa por progresso.

Ao mesmo tempo, as coisas que realmente apontam para a felicidade – a estabilidade, a estrutura familiar, o temor a Deus, a vida bem vivida e examinada – são deixadas para trás. A riqueza passa a ser não mais um meio para garantir que se tenha o necessário, mas uma corrida para garantir que se tenha o último modelo disso ou daquilo.

Enquanto o fazendeiro de há algumas gerações, rico e respeitado, estava feliz em viver exatamente como seus pais, na mesma casa, com os mesmos móveis, produzindo da mesma maneira, o empresário de hoje se vê forçado a ganhar mais e mais e a dilapidar seu patrimônio em produtos descartáveis, simplesmente para que possa ter o reconhecimento de sua posição social.

Certa feita disse um amigo meu, comentando sobre o carro de outro amigo nosso: “não sou rico o suficiente para poder andar de fusca como ele”. Bem sabia meu amigo que se ele chegasse de fusca no seu trabalho, os empregados temeriam que ele fosse à falência, os fornecedores imporiam condições mais pesadas… Ele é forçado a dilapidar o patrimônio para provar que o tem.

E isso passa por progresso.

O mesmo ocorre, de forma ainda mais daninha, nas relações sociais. As estruturas estáveis que formam a base da civilização, sendo a família a mais importante delas, estão sob ataque incessante. A mesma loucura que leva a ter que trocar de carro e de celular exige que se troque de esposa, de sexo, de religião. O vício em drogas não é punido, assim como o furto e o adultério, mas são cobrados impostos extorsivos sobre a propriedade: o IPTU, o ITR e o IPVA, entre outros; são impostos cobrados sobre a estabilidade, sobre o bem que se mantém, não sobre o lucro que se venha a ter com ele. São maneiras de acelerar ainda mais esta queda no caos que se faz chamar de progresso.

É por isso que, quando ouvimos alguém dizer que este ou aquele ponto de vista é “antiquado” ou “ultrapassado”, devemos parar para pensar. Para que entendamos o que está sendo dito, devemos nos dar conta de que a natureza humana é sempre a mesma, e todas as sociedades que funcionam têm as mesmas bases. A loucura que nos faz consumir freneticamente como quem tenta chegar à linha do horizonte, esta loucura que passa por progresso, está agora atacando também as bases da sociedade.

A união dos casais, a educação dos filhos, o temor a Deus, a honestidade cotidiana não são modelos de telefone celular a descartar assim que aparece outro com mais funções. Olhemos em volta: vejamos os viciados furtando para bancar o vício, sem punição alguma; vejamos as mulheres sozinhas, viúvas de homens vivos, criando filhos como se fossem órfãos; vejamos as pessoas que – com toda a riqueza que conquistaram – precisam de remédios de tarja preta para acordar e para dormir.

Isto não é progresso.

Isto é decadência.

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