Protestante pergunta sobre a “venda de indulgências”

Protestante pergunta: Início da venda de indulgências pela “igreja” católica começa em 1190. Para que não sabe o que são indulgências, são “Graça concedida pela “Igreja” Católica aos seus membros, perdoando total ou parcialmente a pena devida a um pecado. Perdão de pecados. A venda de indulgências pelo Papado foi a principal causa da Reforma. A “igreja” Católica cobrava para o Católico obter a Salvação”. Qual a base bíblia para tal cobrança se a salvação é DOM GRATUITO DE DEUS?

Cristo deu à Sua Igreja (e não as seitas) o poder de ligar e desligar e o fez especialmente na pessoa de S. Pedro (cf. Mt 16,19), pois a sua autoridade serviria como fonte (cf. Lc 22,31-32) da unidade da fé (cf. Ef 4,5).

O que é ter o poder de “ligar e desligar”. É definir o que é certo, como fizeram os apóstolos em Jerusalém (cf. At 15) e cujos decretos lá determinados foram levados aos demais cristãos para serem observados (cf. At 16,4). Como os apóstolos poderiam determinar o que os cristãos deveriam ou não crer se não tivessem o poder de “ligar e desligar”?

A autoridade dos apóstolos é semelhante à autoridade de Moisés, dos Juízes e Reis, que tinham o poder de dizer o que era certo e errado, poder de julgar, isto é, definir quem está certo e quem está errado. Porém, autoridade do AT encontra toda sua plenitude no Novo, na autoridade dos apóstolos.

O próprio apóstolo S. Paulo ameaça expulsar da Igreja algumas pessoas, fazendo uso de sua autoridade (cf. 2Cor 10,2.8). Por isso, Cristo conferiu também aos apóstolos o poder de perdoar ou reter os pecados (cf. Jo 20,23). Logo, a Igreja que possui legítimos sucessores dos apóstolos, também tem o poder de perdoar pecados e de “ligar e desligar”. Dizer que a autoridade dos apóstolos morreu com ele é negar o testemunho da própria Escritura (cf. At 1,1-26; 1Tm 4,14).

O pecado possui dupla conseqüência ou penas: a eterna e a temporal. O pecado grave (aquele cometido pelo pecador que tem plena consciência do erro que comete e o faz de forma voluntária) gera conseqüências eternas, torna o pecador privado da vida eterna. Esta distinção está muito presente nas palavras de S. João:

Se alguém vê seu irmão cometer um pecado que não o conduza à morte, reze, e Deus lhe dará a vida; isto para aqueles que não pecam para a morteHá pecado que é para morte; não digo que se reze por este. Toda iniqüidade é pecado, mas há pecado que não leva à morte” (1Jo 5,16-17) (grifos meus).

Como se vê a doutrina protestante que afirma que pecado é tudo igual, além de não ter base na Escritura (que dizem seguir somente) é desmentida pelo próprio apóstolo.

Como disse S. João “há pecado que não leva à morte”, isto é, que não é grave. Este tipo de pecado a Igreja chama de venial. O pecado venial não priva o pecador da vida eterna, pois “não leva à morte”, porém ele gera um apego ao pecado, o que é algo prejudicial. A este apego todos nós devemos ficar livres, pois no céu não entra o pecado (Ap 3,5; 7,9.13-14; 21,10-11.27; 22,14).

Se o pecado venial não priva o pecador da vida eterna (não o condena ao inferno), porém no céu só entra quem estiver com a alma perfeita (cf. Hb 12,21-24; Sl 14(13)), significa que a pena associada ao pecado venial é temporária, isto é quem morre tendo o perdão dos pecados graves  poderá ir para o céu, porém, terá que pagar a pena temporal de seus pecados veniais e pagará esta pena até o último centavo (cf. Mt 5,25-26).

A pena temporal do pecado normalmente é paga após a morte (cf. Mt 12,32) no estado de purgatório (1Cor 3,10-15) (1). Porém, o justo poderá estar livre de tais penas através do que a Igreja chama de indulgências.

A Escritura ensina que Deus é indulgente com os homens (cf Jl 2,13). As indulgências nada mais são do que o perdão da pena temporal do pecado. Logo, só pode receber indulgências quem JÁ ESTÁ SALVO, isto é, quem não estiver privado da vida eterna. Conseqüentemente é um erro grave dizer que indulgência é salvação.

Se as penas temporais do pecado servem para terminar a obra de reparação do velho homem no novo homem, estará isento de tais penas aquele que na vida terrena já procurar tal reparação, que só pode se dar através de obras de piedade. Com efeito, lemos no provérbio “O ódio desperta rixas; a caridade, porém, supre todas as faltas” (Pr 10,12).

Cristo também confirma o valor que as obras de piedade possuem para suprir “todas as faltas” (cf. Mt 6,2-18; Mc 9,41; Lc 11,41). Ver ainda 1Pd 4,8; At 10,3-4; 10,31.

Por isso que na antiguidade cristã, depois que o fiel confessava o seu pecado ao sacerdote, este lhe conferia alguma penitência, isto é, uma prática que serviria para reparar a pena temporal do pecado, já que a pena eterna já havia sido concedida pelo sacramento da confissão. Depois de cumprida a penitência, a indulgência era concedida pela Igreja, pois ela dispõe de todos os tesouros espirituais de Cristo e dos Santos, podendo dispensá-lo aos demais fiéis, já que todos somos membros uns dos outros e o bem feito a um afeta o outro (cf. Ef 4,25; 1Cor 6,15; 12,12.26).

O problema é que nem todas as pessoas eram capazes de praticar uma penitência, principalmente os deficientes físicos e os idosos. Por isso, a Igreja a partir do séc. XI (e não XII como sugere o autor da pergunta) permitiu que estas pessoas pudessem receber indulgências. Para isso, deveriam como todas as outras confessar seus pecados, depois a indulgência seria concedida mediante ajuda financeira para obras da Igreja ou para os pobres, visto que tal ajuda também era obra de caridade.

Como se vê isso é bem diverso do que vender salvação ou vender perdão dos pecados. Claro que tal prática sofreu diversos abusos não queridos pela Igreja. Tal modalidade de concessão de indulgência foi cancelada pelo Concílio de Trento no séc. XVI, por causa dos abusos. Como é bem sabido, é próprio do homem distorcer algo que foi estabelecido para o bem de muitos.

Será que um protestante acha que está comprando sua salvação quando ajuda financeiramente a sua seita? Claro que não, ao contrário, pensará que está colaborando com a obra de Deus e que isso lhe será imputado como justiça. Então por que distorcer as coisas quando se trata do Catolicismo?

Dizer que a Igreja vendeu indulgências é o mesmo que dizer que Deus também as vendeu mediante o pagamento de esmolas aos pobres ou o financiamento de outras obras de caridade.

Para saber mais sobre a doutrina das indulgências, recomendamos a leitura da Encíclica Indulgentiarum Doctrina, do Papa Paulo VI (2).

Nota

Disponível em https://www.veritatis.com.br/article/4567. Desde 14/9/2007.

. Disponível em https://www.veritatis.com.br/article/1193. Desde 21/4/2003.

Facebook Comments

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.