– “Quisera saber como se explica cientificamente a origem das raças humanas” (Aquaviva – Rio de Janeiro-RJ).
Há quem julgue não poder explicar as raças humanas senão admitindo vários troncos que lhes tenham dado origem (hipótese chamada “polifiletismo”). Será que tal posição condiz realmente com os resultados da ciência moderna?
Esta, entre outras coisas, nos diz que toda espécie vegetal ou animal costuma ter seu berço próprio na face da terra, isto é, em determinado lugar de origem (e não muitos); é a partir de um só tronco ou uma só população que cada espécie se espalha pelo globo, assumindo aqui e ali, segundo as exigências de novos climas e gêneros de vida, modalidades várias. Baseados em tais observações, os zoólogos, por exemplo, afirmam que o cão, o lobo e a raposa, embora não se possam cruzar entre si, procedem de um único tipo animal não diversificado, o qual tinha potencialmente em si as modalidades do cão, do lobo e da raposa hodiernos.
Se assim é, torna-se lógico admitir que as raças humanas provenham todas de um só tronco e um só berço (“monofiletismo”, e não “polifiletismo”). Esta conclusão se recomenda ainda pelo fato de que os indivíduos humanos de raças diferentes constituem um só “syngámeon”, isto é, são fecundos entre si como seres da mesma espécie; existem populações inteiras devidas à cópula de indivíduos pertencentes a raças muito remotas uma da outra; tais são os Boers, homens vigorosos que provêm da união de holandeses com hotentotes; os habitantes da Griqualândia (África do Sul), que descendem de europeus e bosquimãs.
Além do mais, observa-se que as diferenças raciais são profusamente matizadas; há múltiplos tipos humanos que fazem transição entre uma raça e outra; tenha-se em vista, por exemplo, a tez da pele: na raça branca, encontra-se larga escala de matizes, desde o branco róseo dos noruegueses até o moreno escuro dos abissínios; os chineses do norte são de tez amarela quase branca, ao passo que os do sul são de um amarelo quase chocolate; existem faces ou crânios negroides, mongoloides entre os europeus e vice-versa.
Apoiada nestas observações, “a grande maioria dos autores recentes professa teorias monofiléticas”, observam Bergounioux e Glory que, sem visar enumeração completa, nomeiam quatorze antropólogos monofiletistas modernos (“Les premiers honimes”, Paris, 1952, p.89). De passagem, note-se ainda que os estudiosos contemporâneos são muito inclinados a localizar o berço do gênero humano na África e não na Ásia (o texto bíblico, de resto, não nos indica a situação geográfica do paraíso terrestre).
Quais seriam, então, os fatores que acarretaram as diversidades raciais?
1) Em primeiro lugar, enumera-se a influência do ambiente: clima, gênero de alimentação, de trabalho, de vida. Estes elementos marcam o tipo do homem e dele exigem adaptação somática. É de notar, porém, que esta não se faz meramente ao acaso; ao contrário, parece guiada por tendência intrínseca, que sabe adaptar-se sem perder de vista determinado tipo a atingir.
2) Levem-se em conta também as “mutações”. Estas são variantes introduzidas no vivente em virtude de modificação imprevisível do genótipo; em outros termos: são mudanças repentinas do número e da posição dos corpúsculos (genes e cromossomos) que no embrião correspondem a certos caracteres do futuro corpo do vivente: coloração da pele ou do pêlo, formato e cor dos olhos, tamanho do nariz, estatura, fecundidade, etc. Essas mudanças:
a) Produzem-se de modo brusco, de uma geração para outra;
b) Dão-se em um ou poucos indivíduos postos em meio a milhares de irmãos nas mesmas condições de vida (por isto, não podem ser atribuídos exclusivamente a influência do ambiente, sobre o genótipo);
c) São hereditárias e duradouras (observação muito importante).
As causas que acarretam mutações não foram até hoje plenamente elucidadas. Famosas se tornaram as experiências de Morgan, Muller e Timofeeff-Ressowsky, que, aplicando raios-X à mosca do vinagre, a “drosophila melanogaster”, obtiveram cerca de 400 raças deste inseto, diferenciadas imprevisivelmente pela forma das asas, a cor do corpo, o tipo do pelo etc. (“drosophila virilis”, “drosophila simulans”, “drosophila obscura”…).
Já que se conhecem numerosas mutações entre os mamíferos; os cientistas atribuem importância crescente a este fator na formação das raças humanas.
3. Merecem atenção também os fenômenos de degenerescência; a evolução de determinado tipo não se processa indefinidamente, mas apenas dentro dos limites de certo cabedal; esgotado este, o tipo vai definhando e tende a se extinguir. Ora, sabe-se que viveram outrora raças humanas hoje extintas (haja vista o homem de Neandertal).
Ao monofiletismo se objeta que foram encontrados fósseis humanos pertencentes ao mesmo período geológico (portanto, geologicamente contemporâneos entre si), postos, porém, em diverso grau de evolução. Não seria isto indício de que provêm de troncos diversos?
Em resposta, observa-se que a contemporaneidade desses fósseis é muito relativa: cada um dos períodos geológicos em que se situam compreende dezenas de milhares de anos; ora, bastam apenas alguns milênios para que uma espécie se propague pelo globo, sofrendo consequentemente fenômenos de adaptação, mutacionismo e degenerescência. Este prazo, porém, de alguns milênios escapa à verificação experimental dos geólogos que, por conseguinte, dão por estratigraficamente contemporâneos fósseis que em cronologia rigorosa não o são.
A estas considerações da ciência faz eco a doutrina da fé cristã, que ensina estrito monofiletismo, até mesmo monogenismo, ou seja, origem do gênero humano a partir de um só casal.
- Fonte: Revista Pergunte e Responderemos nº 7:1957 – nov/1957