Quantos céus existem?

Por James Akin
Na Divina Comédia, Dante é guiado através dos céus pelo seu delicado amor, Beatriz.

Esses céus são baseados nas ideias astronômicas daquele tempo e ela o leva através de nove deles antes que cheguem à morada última de Deus.

A ideia de que existem múltiplos céus não é um conceito que se originou com Dante. Várias fontes antigas, incluindo passagens na Bíblia e outros escritos judeus antigos, falam de múltiplos céus.

De fato, a palavra hebraica para céu – shamayin – é dupla em número, sugerindo dois céus, mas outras passagens sugerem mais. Em particular, São Paulo num ponto fala de ser levado ao “terceiro céu” (II Cor 12:2).

Outras fontes antigas falam de mais céus ainda – até dez deles.

É, com certeza, desta tendência de falar de múltiplos céus que nós temos a expressão “no sétimo céu”, significando um estado supremamente feliz.

Podemos lançar mais luz sobre o número de céus?

O Terceiro Céu de São Paulo

À primeira vista, a referência de São Paulo ao “terceiro céu” poderia parecer fornecer prova de que há múltiplos reinos espirituais, mas isso não é tão certo quanto parece.

Nas linguagens bíblicas, as palavras para céu também são as palavras para o céu físico, e pode ser que Paulo esteja tendo em conta os céus físicos.

Especificamente, foi sugerido que ele possa estar visionando o primeiro céu como o céu “atmosférico” habitado pelos pássaros e o segundo céu como o céu “celestial” habitado pelas estrelas. O terceiro céu seria então o céu “empírico” ou a morada de Deus.

Em caso afirmativo, quando ele fala de ser arrebatado ao terceiro céu, ele simplesmente quer dizer ser arrebatado à presença de Deus, e a passagem não indica que haja múltiplos reinos espirituais no céu.

A Percepção Central

A percepção central atrás das representações de céus de multicamadas é que o céu não é um estado simples no qual todos os santos e anjos são iguais e todas as pessoas recebem a mesma recompensa. É mais complexo do que isso.

A mesma percepção está atrás da maneira que as recompensas dos santos têm sido descritas historicamente.

Em seu livro Escatologia, o futuro Papa Bento XVI escreveu: “Os escolásticos tomaram essas percepções mais além e lhes deram forma sistemática. Tratando, em parte, sobre tradições extremamente veneráveis, eles falaram das “coroas” especiais dos mártires, virgens e doutores. Hoje somos mais circunspectos quando tais asserções estão em causa. É suficiente saber que Deus dá a cada e toda pessoa sua satisfação de uma maneira peculiar a este ou aquele indivíduo, e que desta forma cada um e todos recebem ao extremo.” (Escatologia, 236)

No mesmo lugar, ele vinculou, do indivíduo, a experiência única do céu à passagem no Apocalipse onde Jesus promete àqueles que permanecerem fiéis ao fim, “Ao vencedor darei o maná escondido e lhe entregarei uma pedra branca, na qual está escrito um nome novo que ninguém conhece, senão aquele que o receber.” (Ap 2,17; ver Escatologia, 235)

Apesar de sua presença em boa parte da literatura judaico-cristã, a ideia de que há um pequeno número específico e razoável de céus espirituais não é algo que a Igreja ensine.

Em vez disso, Ela ensina a ideia central do que isso representa – que o céu é experimentado diferentemente pelos indivíduos, baseado no que fizeram em vida e o quanto se abriram ao amor de Deus.

Traduzido por Marcos Zamith, para o Veritatis Splendor, do original em inglês “How Many Heavens Are There?” no website www.catholic.com.

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