Que tipo de mudança?

Tomada de bastilhas, cidades sitiadas, edifícios oficiais cercados, parlamentos invadidos, governantes destituídos, insurreições militares, guilhotinas afiadas… É a Revolução: uma mudança de estruturas, uma tentativa de subvertê-las, exigindo – através da violência – o cumprimento dos próprios direitos desprezados. Forçar o outro a mudar, obrigar aquele que deteve o poder, aniquilar o diferente, aparecer bruscamente na História… Tudo, supostamente, em razão de uma causa nobre.

Revoluções… Em uma delas foi inventado – para acabar com o semelhante – aquele método “mais civilizado” que a decapitação pela espada: a guilhotina. Por ela passou primeiro o inimigo direto; depois, o companheiro de luta, por sustentar algumas pequenas diferenças; por fim, até mesmo o projetista de tão “humanitário” instrumento passou por ele, para que pudesse experimentá-lo em sua própria cabeça.

Todas as revoluções possuem um denominador comum: se exige, se força, se obriga… o outro a mudar. Na escola, nossos filhos devem recitar decor as longas listas de revolucionários e venerá-los como heróis salvadores…

Porém, numa revolução, queira-se ou não, no fundo, em sua essência, quase sempre há ódio, há violência, há atrocidade… Há paixão humana nas suas mais vis manifestações, há mortes… Correm rios de sangue, já que o sangue é convertido em termômetro da vitória; ganha quem faz correr mais litros de plasma do adversário. E sempre acaba com a ruína, o rancor, a desilusão e a dúvida se aquilo valeu mesmo a pena, se o que se obteve compensou tanta barbaridade.

Revolução… palavra perigosa, usada para a conveniência pessoal e ao gosto do freguês. O historiador oficial deve louvar seu romantismo, sua ideologia poetizada, seu veneno meloso.

Em plenos anos de efervescência marxista, quando sua ideologia atraía a muitos, afirmava-se com muita poesia que Jesus Cristo teria sido o primeiro revolucionário. Quanto queria dizer aquelas palavras! Jesus, afinal, não era nada mais que o primeiro comunista, que não tolerava a propriedade privada e lutava para subverter um sistema injusto e imperialista; a única coisa que lhe teria faltado foi tempo, acabando prematuramente pregado numa cruz…

Revolução – palavra perigosa… Não! Que não seja dilacerado o Cristianismo! Que não seja desvirtuado! Que não seja mundanizado! Pobre cristão se por quem dá a sua vida não é nada mais que um revolucionário comunista fracassado!

Quando João Paulo II visitou Cuba – uma das viagens mais destacadas pelos meios de comunicação – apareceu, em um jornal, uma caricatura onde Fidel Castro e o Papa se encontravam. Dialogavam entre si quase que simultaneamente; tanto a pergunta do Papa para Fidel Castro quanto a pergunta deste para o Papa era a mesma: “Como vai a sua revolução?”

Aceitemos por alguns instantes chamar o Cristianismo de “revolução”. Retiremos dessa palavra todos os acidentes e expressões históricas e consideremos apenas o seu significado acadêmico: volta, mudança, giro. Assim, o Cristianismo pode mesmo ser considerado uma “revolução”: faz voltar as coisas, muda, faz a história girar e mudar de direção. De acordo!

Porém, vejamos em que consiste essa “revolução”. Um pagão, ao abraçar o Cristianismo, renuncia ao seu egoísmo. Um cristão passa a trabalhar na virtude, auxiliado por Deus. O cristão começa a ver as coisas de outra forma, as pessoas, as estruturas… O cristão se aventura no terreno misterioso da doação, da entrega, leva amor onde há ódio, perdão onde há rancor, consolo onde há lágrimas, compreensão onde há incompreensão, fé onde não há esperança… É instrumento da paz de Deus!

Esse é o Cristianismo. E quando alguns cristãos não procedem assim é porque estão afastados do Cristianismo.

As revoluções recorrem à violência para obrigar que o outro mude ou desapareça. No Cristianismo o cristão entrega um coração de pedra e recebe, em troca, um coração de carne.

As revoluções obrigam o inimigo a mudar bruscamente. No Cristianismo, o primeiro desafio do cristão, sua primeira grande decisão, é permitir que Deus o mude.

O cristão muda o mundo mudando-se a si mesmo. É, realmente, outro tipo de mudança…

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