Questões sobre o Batismo (Parte 7/12): Será a imersão na água necessária ao Batismo?

  • Autor: São Tomás de Aquino
  • Fonte: Suma Teológica, Parte III, Questão 66
  • Tradução: Dercio Antonio Paganini

Objeção 1: Parece que a imersão na água é necessária ao Batismo porque está escrito (Ef 4,5): “Uma fé, um Batismo”; mas, em muitas partes do mundo, o processo comum de Batismo é por imersão; todavia, parece que o Batismo pode ser feito sem imersão.

Objeção 2: Enquanto o Apóstolo diz (Rm 6,3-4): “Todos aqueles que nós batizamos em Cristo Jesus, estão batizados em Sua morte, pois nós morremos junto com ele, pelo Batismo na morte”. Mas isto é feito por imersão e Crisóstomo diz sobre João 3,5: “Se a pessoa não renascer da água e do Espírito Santo…” e “quando mergulhamos nossas cabeças sob a água como numa espécie de túmulo, nossa velha pessoa fica morta e, estando submergida, está escondida abaixo, e então, ela sobe novamente, renovada”. Assim sendo, parece que a imersão total é necessária ao Batismo.

Objeção 3: Todavia, se o Batismo é válido sem a total imersão do corpo, segue-se que seria suficiente derramar água sobre qualquer parte do corpo. Mas isso parece irracional uma vez que o perdão do pecado original, que é o principal propósito do Batismo, não está apenas em uma parte do corpo. Assim sendo, parece que a imersão total é necessária ao Batismo.

Ao contrário, está escrito (Hb 10,22): “Deixe-nos ficar próximo a um verdadeiro coração repleto de fé, tendo nossos corações limpos de toda má consciência e nossos corpos lavados com água limpa”.

Eu respondo que, no Sacramento do Batismo, a água é colocada em uso para lavar o corpo, por meio da qual significará a limpeza interna dos pecados. Assim sendo, a limpeza pode ser feita com água, mas não apenas pela imersão, mas também por aspersão ou infusão.

Todavia, sendo válido batizar por imersão, pois esta é a forma mais comum, o Batismo pode ser conferido por simples imersão ou também por derramamento de água, de acordo com Ez 36,25 : “Derramarei sobre você a água limpa”, como também o Abençoado Lourenço relatou que assim realizou Batismos.

Este tipo de Batismo deve ser especialmente utilizado em casos de urgência: tanto porque haja um grande número de pessoas a serem batizadas, como ficou claro o caso relatado em At 2 e 4, onde podemos ler que em um dia foram batizados três mil e, no outro dia, cinco mil, ou por haver uma quantidade muito pequena de água, ou por motivo de fraqueza do ministro, ou por doença do batizando, cuja vida poderá correr perigo se houver imersão.

E, dessa forma, podemos concluir que o Batismo não necessitará ser feito obrigatoriamente por imersão total.

Réplica à Objeção 1: O que é acidental para uma coisa, não diversifica sua essência. A lavagem corporal com água, é essencial para o Batismo, todavia, o Batismo é chamado “lavagem (limpeza)”, de acordo com Ef 5,26: “purificando-a com a lavagem da água pela palavra da vida”; mas porquanto a purificação pode ser feita desta ou daquela maneira, ela é acidental ao Batismo, e consequentemente, esta diversidade não destrói a unidade do Batismo.

Réplica à Objeção 2: O sepultamento de Cristo é mais claramente representado pela imersão, então, este modo de batizar é mais freqüentemente utilizado e o mais recomendado. Atualmente, nos outros processos de Batismo não é simbolizada, depois da fórmula, embora não claramente, de nenhum modo como é feita a lavagem: se o corpo da pessoa ou alguma parte dele, deve ser colocado sob a água como o corpo de Cristo foi colocado sob a terra.

Réplica à objeção 3: A principal parte do corpo, especialmente em relação aos membros exteriores, é a cabeça, onde todos os sentidos, tanto interiores como exteriores, florescem. Além disso, se o corpo não pode ser coberto pela água, devido à escassez de água ou por qualquer outra razão, será necessário derramar água sobre a cabeça, na qual o principio da vida animal se manifesta.

Porém, o pecado original é transmitido através dos membros que servem à procriação; Mas esses membros não são molhados em preferência à cabeça porque, pelo Batismo, a transmissão do pecado original à descendência não é apagada, mas a alma da pessoa estará livre da corrosão e do débito do pecado o qual havia sido contraído. Consequentemente, a cabeça precisa ser lavada preferencialmente, pois é nela que o trabalho da alma é manifestado.

Jamais na Velha Lei, o remédio contra o pecado original foi destinado ao membro da procriação porque aquele através do qual o pecado original deveria ser removido teria nascido da semente de Abraão, cuja fé significava a circuncisão, de acordo com Rm 4,11.

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