
A todos os Apóstolos o Senhor pergunta qual a opinião que os homens têm a seu respeito; e a resposta de todos revela de modo unânime as hesitações da ignorância humana.
Mas, quando procura saber o pensamento dos discípulos, o primeiro a reconhecer o Senhor é o primeiro na dignidade apostólica. Tendo ele dito: ‘Tu és Cristo, o Filho do Deus vivo, Jesus lhe respondeu: ‘Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que Te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu” [Mateus 16,16-17]. Quer dizer: ‘És feliz, porque o meu Pai te ensinou, e a opinião humana não te iludiu, mas a inspiração do céu te instruiu; não foi um ser humano que Me revelou a ti, mas sim Aquele de quem sou o Filho unigênito’.
‘Por isso eu te digo – acrescentou – como o Pai te manifestou a minha divindade, também Eu te revelo a tua dignidade: ‘Tu és Pedro’ [Mateus 16,18]. Isto significa que Eu sou a pedra inquebrantável, a pedra principal que de dois povos faço um só [cf. Efésios 2,20.14], o fundamento sobre o qual ninguém pode colocar outro. Todavia, tu também és pedra, porque és solidário com a minha força. Desse modo, o poder, que Me é próprio por prerrogativa pessoal, te será dado pela participação comigo’.
‘E sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la [Mateus 16,18]. Sobre esta fortaleza, construirei um templo eterno. A Minha Igreja destinada a elevar-se até ao céu deverá apoiar-se sobre a solidez da fé de Pedro’.
O poder do inferno não impedirá esse testemunho, os grilhões da morte não o prenderão; porque essa palavra é palavra de vida. E assim como conduz aos céus os que a proclamam, também precipita no inferno os que a negam.
Por isso, foi dito a São Pedro: ‘Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que desligares na terra, será desligado nos céus’ [Mateus 16,19].
Na verdade, o direito de exercer esse poder passou também para os outros Apóstolos, e o dispositivo desse decreto atingiu todos os príncipes da Igreja. Mas não é sem razão que é confiado a um só o que é comunicado a todos. O poder é dado a Pedro de modo singular, porque a sua dignidade é superior à de todos os que governam a Igreja” (Sermão 4: De Natali Ipsius 2-3; PL 54,149-151).