Por que temes, Herodes, ao ouvir que nasceu um Rei? Ele não veio para te destronar, mas para vencer o demônio. Como não compreendes isso? Tu te perturbas e te enfureces; e, para que não escape o único Menino que procuras, tens a crueldade de matar tantos outros.
Nem as lágrimas das mães, nem o lamento dos pais pela morte dos seus filhos, nem os gritos e gemidos das crianças te comovem. Matas o corpo das crianças porque o medo matou o teu coração; e julgas que, se conseguires teu propósito, poderás viver muito tempo, quando precisamente é a própria Vida que queres matar!
Aquele que é a fonte da graça, pequenino e grande ao mesmo tempo, reclinado num presépio, apavora o teu trono. Por meio de ti, e sem que o saibas, realiza os Seus desígnios e liberta as almas do cativeiro do demônio. Recebe como filhos adotivos os filhos dos que eram seus inimigos.
Essas crianças morrem pelo Cristo, sem saberem, enquanto seus pais choram os mártires que morrem. Cristo faz suas legítimas testemunhas aqueles que ainda não falam. Eis como reina Aquele que veio para reinar. Eis como já começa a conceder a liberdade Aquele que veio para libertar, e a dar a salvação Aquele que veio para salvar.
Tu, porém, Herodes, ignorando tudo isto, te perturbas e te enfureces; e enquanto te enfureces contra o Menino, já lhe prestas homenagem, sem o saberes.
Ó imenso dom da graça! Que méritos tinham aquelas crianças para obterem tal vitória? Ainda não falam e já proclamam o Cristo. Não podem ainda mover os membros para a luta e já ostentam a palma da vitória” (Sermão 2; Do Símbolo; PL 40,655).