Reflexão Patrística – “Com a vinda de Cristo, Deus torna-se visível aos homens” (Santo Ireneu de Lião, +202)

“Há um só Deus que, por Sua Palavra e Sabedoria, criou e harmonizou todas as coisas.

Sua Palavra é Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos últimos tempos Se fez homem entre os homens, para unir o fim ao princípio, isto é, o homem a Deus.

Por isso, os Profetas, que tinham recebido dessa mesma Palavra o carisma profético, anunciaram Sua vinda segundo a carne; mediante essa vinda, realizou-se a união e a comunhão de Deus com o homem, conforme a vontade do Pai. Desde o começo, a Palavra de Deus tinha anunciado que Deus seria visto pelos homens, que viveria e conversaria com eles na Terra, que Se faria presente à sua criatura, para salvá-la e ser percebido por ela, ‘livrando-nos das mãos de todos os que nos odeiam’ [Lucas 1,71], isto é, de todo o espírito de pecado, e fazendo que O sirvamos em justiça e santidade ‘enquanto perdurarem nossos dias’ [Lucas 1,74-75]; e assim, unido ao Espírito de Deus, o homem tenha acesso à glória do Pai.

Os Profetas anunciavam que Deus seria visto pelos homens, conforme diz também o Senhor: ‘Felizes os puros de coração, porque verão a Deus’ [Mateus 5,8].

Contudo, ninguém pode ver a Deus na Sua grandeza e glória inenarrável e continuar vivendo [cf. Êxodo 33,20], porque o Pai é inacessível. Mas em Seu amor, Sua bondade e Sua onipotência, Ele chega a conceder aos que O amam o dom de ver a Deus; é isto que anunciavam os Profetas, pois ‘o que é impossível aos homens, é possível a Deus’ [Lucas 18,27].

O homem, por si mesmo, não poderá ver a Deus. Mas Deus, se quiser, será visto pelos homens, por aqueles que Ele quiser, quando e como quiser. Deus, que tudo pode, foi visto outrora em visão profética por meio do Espírito; deixa-Se ver agora por meio de seu Filho, graças à adoção filial; e será visto finalmente no Reino dos Céus como Pai. Com efeito, o Espírito prepara o homem para o Filho de Deus; o Filho conduz o homem para o Pai; e o Pai lhe dá a imortalidade na vida eterna, que é fruto da contemplação de Deus.

Assim como os que vêem a luz estão na luz e recebem a sua claridade, também os que vêem a Deus estão em Deus e recebem a sua claridade. A claridade de Deus vivifica: portanto, os que vêem a Deus recebem a vida” (Contra as Heresias 4,20,4-5; SCh 100,634-640).

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