Assim como Eva foi seduzida pela conversa de um Anjo e afastou-se de Deus, desobedecendo à Sua palavra, Maria recebeu a boa-nova pela anunciação de outro Anjo e mereceu trazer Deus em seu seio, obedecendo à Sua palavra. Uma deixou-se seduzir de modo a desobedecer a Deus; a outra deixou-se persuadir a obedecer-Lhe. Deste modo, a Virgem Maria tornou-se advogada da virgem Eva.
Por conseguinte, recapitulando em Si todas as coisas, o Senhor declarou guerra contra o nosso Inimigo. Atacou e venceu aquele que no princípio, em Adão, fez de todos nós seus prisioneiros; e esmagou sua cabeça, conforme estas palavras, ditas por Deus à serpente, que se lêem no Gênesis: ‘Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça enquanto tu tentarás ferir o seu calcanhar’ [Gênesis 3,15].
Desde esse momento, pois, foi anunciado que a cabeça da serpente seria esmagada por Aquele que, semelhante a Adão, devia nascer de uma Virgem. É este o Descendente de que fala o Apóstolo na sua Carta aos Gálatas: ‘A Lei foi estabelecida até que chegasse o Descendente para quem a promessa fora feita’ [Gálatas 3,19].
Na mesma Carta, o Apóstolo se exprime ainda com mais clareza, ao dizer: ‘Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher’ [Gálatas 4,4]. O Inimigo não teria sido vencido com justiça se o Homem que o venceu não tivesse nascido de uma mulher, pois desde o princípio ele tinha se oposto ao homem, dominando-o por meio de uma mulher.
É por isso que o próprio Senhor declara ser ‘o Filho do homem’, recapitulando em Si aquele primeiro homem a partir do qual foi modelada a mulher. E assim como pela derrota de um homem o gênero humano foi precipitado na morte, pela vitória de outro homem subimos novamente para a vida” (Contra as Heresias 5,19,1;5,20,2;5,21,1; SCh 153,248-250,260-264).