Reflexão Patrística – “Exposição sobre o ‘Magnificat'” (São Beda Venerável, +735)

“E Maria disse: ‘A minha alma engrandece o Senhor e exulta meu espírito em Deus, meu Salvador’ [Lucas 1,46-47] – ‘O Senhor’ – diz ela – ‘elevou-me por um dom tão grande e inaudito, que nenhuma palavra o pode descrever e mesmo no íntimo do coração é difícil compreendê-lo. Por isso dedico todas as forças do meu ser ao louvor e à ação de graças, contemplando a grandeza Daquele que é eterno, e ofereço com alegria minha vida, tudo o que sinto e penso, porque meu espírito rejubila pela divindade eterna de Jesus, o Salvador, que concebi e é gerado no meu seio’.

‘O Poderoso fez em mim maravilhas, e santo é o seu nome!’ [Lucas 1,49] – Estas palavras se relacionam com o início do cântico que diz: ‘A minha alma engrandece o Senhor’. De fato, só a alma em quem o Senhor se dignou fazer maravilhas pode engrandecê-Lo e louvá-Lo dignamente, e dizer, exortando os que compartilham seus desejos e aspirações: ‘Comigo engrandecei ao Senhor Deus. Exaltemos todos juntos o Seu Nome’ [Salmo 33,4].

Quem conhece o Senhor e é negligente em proclamar a Sua grandeza e santificar o Seu Nome, será considerado o menor no Reino dos Céus [cf. Mateus 5,19]. Diz-se que ‘Santo é o Seu Nome’ porque, pelo Seu poder ilimitado, transcende toda criatura e está infinitamente separado de todas as coisas criadas.

‘Acolhe Israel, seu servidor, fiel ao seu amor’ [Lucas 1,54] – Israel é, com razão, denominado ‘servidor do Senhor’ porque, sendo obediente e humilde, foi por Ele acolhido para ser salvo, como diz Oseias: ‘Quando Israel era criança, eu já o amava’ [Oseias 11,1]. Aquele que recusa humilhar-se não pode certamente ser salvo, nem dizer com o Profeta: ‘Quem me protege e me ampara é meu Deus; é o Senhor quem sustenta a minha vida!’ [Salmo 53,6]. ‘Mas, quem se fizer humilde como uma criança, esse é o maior no Reino dos Céus’ [cf. Mateus 18,4].

‘Como havia prometido a nossos pais, em favor de Abraão e de seus filhos para sempre’ [Lucas 1,55] – Trata-se da descendência de Abraão segundo o espírito e não segundo a carne, isto é, não apenas dos filhos segundo a natureza, mas de todos que seguiram o exemplo da sua fé, fossem eles circuncidados ou incircuncidados. Pois o próprio Abraão, ainda incircunciso, acreditou e isto lhe foi imputado como justiça.

A vinda do Salvador foi, portanto, prometida a Abraão e a seus filhos para sempre, isto é, aos filhos da Promessa, dos quais se diz: ‘Sendo de Cristo, sois então descendência de Abraão, herdeiros segundo a Promessa’ [Gálatas 3,29].

É com razão que antes do nascimento do Senhor e de João suas mães [Maria e Isabel] profetizam, para que, tendo o pecado começado pela mulher, os bens começassem igualmente por ela; e se foi pela sedução de uma só mulher que a morte foi introduzida no mundo, agora é pela profecia de duas mulheres que se anuncia ao mundo a Salvação” (Exposição sobre o Evangelho de São Lucas 1,46-55; CCL 120,37-39).

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