– Engrandece o Senhor a alma daquele que consagra todos os sentimentos da sua vida interior ao louvor e ao serviço de Deus; e, pela observância dos Mandamentos, revela pensar sempre no poder da majestade divina.
– Exulta em Deus, seu Salvador, o espírito daquele que se alegra apenas na lembrança de seu Criador, de quem espera a salvação eterna.
Embora estas palavras se apliquem a todas as almas santas, adquirem contudo a mais plena ressonância ao serem proferidas pela Santa Mãe de Deus. Ela, por singular privilégio, amava com perfeito amor espiritual Aquele cuja concepção corporal em seu seio era a causa da sua alegria. Com toda razão pôde ela exultar em Jesus, seu Salvador, com júbilo singular, mais do que todos os outros Santos, porque sabia que o Autor da Salvação eterna havia de nascer da sua carne por um nascimento temporal; e sendo uma só e mesma pessoa, havia de ser ao mesmo tempo seu Filho e seu Senhor.
‘O Poderoso fez em mim maravilhas, e Santo é o seu Nome!’ [Lucas 1,49] – Maria nada atribui a seus méritos, mas reconhece toda a sua grandeza como dom Daquele que, sendo por essência poderoso e grande, costuma transformar os seus fiéis pequenos e fracos em grandes e fortes. Logo acrescentou: ‘E Santo é o seu nome!’; exorta assim os que a ouviam, ou melhor, ensinava a todos os que viessem conhecer suas palavras, que pela fé em Deus e pela invocação do Seu Nome também eles poderiam participar da santidade divina e da verdadeira salvação. É o que diz o Profeta: ‘Então, todo aquele que invocar o Nome do Senhor, será salvo’ [Joel 3,5]. É precisamente este o Nome a que Maria se refere ao dizer: ‘Exulta meu espírito em Deus, meu Salvador’.
Por isso, se introduziu na liturgia da Santa Igreja o costume belo e salutar, de cantarem todos, diariamente, este hino na Salmodia vespertina. Assim, que o espírito dos fiéis, recordando frequentemente o mistério da encarnação do Senhor, se entregue com generosidade ao serviço divino e, lembrando-se constantemente dos exemplos da Mãe de Deus, se confirme na verdadeira santidade. E pareceu muito oportuno que isto se fizesse na hora das vésperas, para que nossa mente, fatigada e distraída ao longo do dia por pensamentos diversos, encontre o recolhimento e a paz de espírito ao aproximar-se o tempo do repouso” (Homilia 1,4; CCL 122,25-26.30).