Levantemo-nos, enfim, pois a Escritura nos desperta dizendo: ‘Já é hora de levantarmos do sono’ [Romanos 13,11]. Com os olhos abertos para a luz deífica e os ouvidos atentos, ouçamos a exortação que a Voz divina nos dirige todos os dias: ‘Oxalá, ouvísseis hoje a sua voz: ‘não fecheis os corações” [Salmo 94,8]; e ainda: ‘Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas’ [Apocalipse 2,7].
E o que Ele diz? ‘Meus filhos, vinde agora e escutai-me; vou ensinar-vos o temor do Senhor’ [Salmos 33,12]. ‘Correi, enquanto tendes a luz da vida, para que as trevas não vos alcancem’ [João 12,35].
Procurando o Senhor o seu operário na multidão do povo ao qual dirige estas palavras, diz ainda: ‘Qual o homem que não ama sua vida, procurando ser feliz todos os dias?’ [Salmos 33,13]. E se tu, ao ouvires este convite, responderes: ‘Eu’, dir-te-á Deus: ‘Se queres possuir a verdadeira e perpétua vida, afasta a tua língua da maldade; e teus lábios, de palavras mentirosas. Evita o mal e faze o bem; procura a paz e vai com ela em seu caminho’ [Salmo 33,14-15]. E quando fizeres isto, então ‘meus olhos estarão sobre ti e meus ouvidos atentos às tuas preces; e antes mesmo que me invoques, eu te direi: ‘Eis-me aqui” [Isaías 58,9].
Que há de mais doce para nós, caríssimos irmãos, do que esta voz do Senhor que nos convida? Vede como o Senhor, na sua bondade, nos mostra o caminho da vida!
Cingidos, pois, os nossos rins com a fé e a prática das boas ações, guiados pelo Evangelho, trilhemos os Seus caminhos, a fim de merecermos ver Aquele que nos chama a Seu reino [cf. 1Tessalonicenses 2,12]. Se queremos habitar na tenda real do acampamento desse reino, é preciso correr pelo caminho das boas ações; de outra forma, nunca chegaremos lá.
Assim como há um zelo mau de amargura, que afasta de Deus e conduz ao inferno, assim também há um zelo bom, que separa dos vícios e conduz a Deus. É este zelo que os monges devem pôr em prática com amor ferventíssimo, isto é, ‘antecipem-se uns aos outros em atenções recíprocas’ [Romanos 12,10]. Tolerem pacientissimamente as suas fraquezas, físicas ou morais; rivalizem em prestar mútua obediência; ninguém procure o que julga útil para si, mas sobretudo o que o é para o outro; ponham em ação castamente a caridade fraterna; temam a Deus com amor; amem o seu abade com sincera e humilde caridade; nada absolutamente prefiram a Cristo; e que Ele nos conduza todos juntos para a vida eterna” (Regra Prólogo 4-22.72,1-12; CSEL75,2-5.162-163).