Este fato leva-nos a considerar quão forte era o amor que inflamava o espírito dessa mulher, que não se afastava do túmulo do Senhor, mesmo depois de os Discípulos terem ido embora. Procurava a quem não encontrara, chorava enquanto buscava e, abrasada no fogo do seu amor, sentia a ardente saudade Daquele que julgava ter sido roubado. Por isso, só ela O viu então, porque só ela O ficou procurando. Na verdade, a eficácia das boas obras está na perseverança, como afirma também a voz da Verdade: ‘Quem perseverar até o fim, esse será salvo’ [Mateus 10,22].
Ela começou a procurar e não encontrou nada; continuou a procurar, e conseguiu encontrar. Os desejos foram aumentando com a espera, e fizeram com que chegasse a encontrar, pois os desejos santos crescem com a demora; mas se diminuem com o adiamento, não são desejos autênticos. Quem experimentou este amor ardente, pôde alcançar a verdade. Por isso afirmou Davi: ‘Minha alma tem sede de Deus, e deseja o Deus vivo. Quando terei a alegria de ver a face de Deus?’ [Salmo 41,3]. Também a Igreja diz no Cântico dos Cânticos: ‘Estou ferida de amor’ [Cântico 5,8]; e ainda: ‘Minha alma desfalece’ [Cântico 5,6].
‘Mulher, por que choras? A quem procuras?’ [João 20,15]. Ela é interrogada sobre o motivo da sua dor, para que aumente o seu desejo e, mencionando o Nome de quem procurava, se inflame ainda mais o seu amor por Ele.
Então Jesus disse: ‘Maria’ [João 20,16]. Depois de tê-la tratado pelo nome comum de ‘mulher’ sem que ela o tenha reconhecido, chama-a pelo próprio nome. Foi como se lhe dissesse abertamente: ‘Reconhece Aquele por quem és reconhecida. Não é entre outros, de maneira geral, que te conheço, mas especialmente a ti’.
Maria, chamada pelo próprio nome, reconhece Quem lhe falou; e imediatamente exclama: ‘Rabuni’, que quer dizer ‘Mestre’ [cf. João 20,16]. Era Ele a quem Maria Madalena procurava exteriormente; entretanto, era Ele que a impelia interiormente a procurá-Lo” (Homilia 25,1-2.4-5; PL 76,1189-1193).