Reflexões sobre Lanciano: um desafio

“Porque, se em Sodoma tivessem sido feitos os milagres que no meio de ti foram feitos, até hoje ela existiria. Digo-vos, pois: No dia do juízo, a terra de Sodoma será tratada com menos rigor do que tu”. (Mt 11,23-24).

Se o leitor ainda não conhece o “O Milagre de Lanciano”, sugerimos que leia esse nosso artigo antes de prosseguir na leitura deste outro texto. Assim pedimos porque nos limitaremos a breves reflexões sobre tal fato, supondo que o leitor já bem o conhece.

Já leu o outro texto? Prossigamos, então.

DISCUSSÕES TEOLÓGICAS

A presença de Deus na Eucaristia, conforme ensina a Igreja Católica, constitui-se um verdadeiro abismo entre a fé católica e as diversas crenças protestantes.

De ambos os lados, teólogos de boa fé (ou nem tanto!) discutem sobre este ponto da doutrina cristã, usando de todos os recursos válidos, desde as Sagradas Escrituras até a retórica. Óbvio que são meritórias estas discussões, como é toda e qualquer atitude dirigida a conhecer a verdade… mas o que dizer diante de Lanciano ?

Lanciano chega a ser constrangedor! Goste-se ou não, aqui estamos diante de um fato consumado e que pode ser verificado facilmente. Pão e vinho se tornaram carne e sangue, e estas espécies perduram incorruptas ao longo de séculos. Qualquer cientista pode muito bem examinar estas substâncias, para ver se é mesmo carne e sangue de um ser humano, se há conservantes, etc.

Mais ainda: não precisa ser nenhum expert para saber que pão não se transforma em carne. Alguma parcas noções de química e física já são suficientes para que alguém saiba disso.

Mas voltemos à discussão dos teólogos, que aqui resumidos através de trechos retirados do livro “Os Milagres e a Ciência” (de Oscar G. Quevedo, s.j. , p. 28, Ed. Loyola):

SIGNIFICADO

O milagre de Lanciano (e todos os outros numerosos milagres eucarísticos) confirma clarissimamente a Revelação sobre a Eucaristia como a entendem os católicos. São rejeitadas, não combinam de maneira nenhuma com o Milagre de Lanciano, as diversas interpretações protestantes e cismáticas, enquanto divergentes da Igreja Católica.

1) Na Eucaristia, está realmente presente Jesus Cristo sob as aparências de pão e vinho (transubstanciação). Não se trata somente de “presença” pela graça significada pelo sacramento, nem se trata de um ato meramente de comemoração simbólica como afirmam os protestantes.

2) E Jesus Cristo permanece realmente nas Hóstias consagradas conservadas nos sacrários. Não” presença” só durante o momento da comunhão como interpretam os protestantes.

Fazemos uma breve pausa apenas para advertir que entre os protestantes não há unanimidade doutrinária quando se trata da Eucaristia. Assim, nem todas as afirmações aqui feitas, ao se referir genericamente aos protestantes, aplica-se a todo e qualquer grupo oriundo da Reforma. De fato, basta ver que algumas denominações praticam um “memorial para relembrar a Última Ceia” (?!), enquanto outros grupos ignoram totalmente o Pão da Vida.

Destaque-se agora um outro aspecto bem interessante sobre Lanciano, e que toca mais diretamente aos cismáticos orientais, que se dizem ortodoxos:

3) O milagre de Lanciano aconteceu antes do cisma de Bizâncio, mais de meio século antes do cisma de Fócio, três séculos antes do cisma encabeçado pelo patriarca Cerulário. O milagre, portanto, aconteceu confirmando a interpretação católica, pois até então não existia a interpretação cismática.

4) O milagre de Lanciano aconteceu precisamente no momento da consagração. Assim consta de todos os documentos antigos. Esse é, portanto, o momento da transubstanciação. Contra os cismáticos. Bem depois da epíclese (invocação do Divino Espírito Santo) no rito latino; bem antes da epíclese no rito oriental.

5) A Igreja Grega cismática rejeita como inválido para a Eucaristia o pão ázimo [sem fermento] na confecção das hóstias. Com o milagre, portanto, confirma-se o pão usado pela Igreja Católica.

6) A igreja cismática considera inválida a comunhão sob uma só espécie. Mas sob uma só espécie, a de pão, dava-se a comunhão na época em que o Milagre foi realizado, como também geralmente hoje, no Catolicismo.

Logo se vê que quem permaneceu na verdadeira Fé de Cristo, confirmada por Lanciano e inúmeros outros fatos, foram os católicos e não os cismáticos orientais. Portanto, realmente ortodoxos (Orto=reto;doxia=fé) são os católicos e não os filhos da rebelião.

Quanto aos cismáticos, de toda e qualquer natureza, convêm cessar os preconceitos e estudar, procurando a verdade [“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8,32)] a fim de que se convertam. Quanto aos católicos, também a mesma atitude, a fim de que permaneçam no caminho da salvação e busquem a santificação.

DEUS NÃO JOGA DADOS

Afastando-se um pouco de Lanciano, mas passando a um tema correlato, é de se observar que Deus não faz milagres simplesmente por fazer, destituído de qualquer sentido. Lendo as passagens bíblicas que relatam os milagres de Jesus, percebemos que havia algumas finalidades, como melhor divulgar a fé, converter as pessoas em volta, etc. Com Lanciano, também se faz presente esta realidade, ainda mais por tocar precisamente em um ponto da doutrina que seria alvo de controvérsias, em tempos posteriores.

Caso semelhante é o do Sudário de Turim, confirmando a Ressurreição, outro ponto essencial da doutrina cristã.

Destaca-se também a maravilhosa realidade que é Guadalupe, que acabou convertendo milhões de grupos indígenas (incluindo astecas, altamente ciosos da sua fé). Embora muitos desconheçam, e também não haveremos de entrar em detalhes aqui, as figuras milagrosamente formadas no tecido do Índio Juan Diego foram uma “verdadeira aula de teologia” para os índios da época. Todo o esforço dos missionários espanhóis não alcançara o resultado esperado, mas Deus e Nossa Senhora entraram como poderoso “reforço”, gerando inúmeras conversões.

À TODA PROVA

E porque destacamos aqui Lanciano, bem como o Santo Sudário e Guadalupe ? Porque estes fatos guardam mais um ponto em comum: são milagres permanentes. Tais fatos puderam ser investigados por pessoas de ontem (desde simples fiéis até cientistas), mas igualmente podem ser analisados por nossos contemporâneos. A fim de que haja melhor compreensão, sugerimos a leitura destas narrações.

É muito comum, principalmente em denominações pentecostais e centros espíritas, e mesmo em certos grupos católicos, pessoas atribuírem milagres a Deus, ao “além”. Até se compreende que estas pessoas, movidas por intensa piedade, assim o façam, mas tal pode se constituir um erro, vulgarizando o papel de Deus na intervenção da história humana. Exagero também é pecado! Bem vimos que Jesus não agia à torta e à direita, mas ordenadamente, e com finalidades em vista.

Além disso, boa parte destes “milagres” não resiste a qualquer estudo científico mais cuidadoso, se é que são submetidos a alguma análise, senão ao subjetivismo da pessoa envolvida. Tome-se por exemplo as curas. Quantas destas curas foram estudadas? Houve investigação do “antes” e do “depois”? Eram doenças de origem psíquicas ou unicamente somáticas? Fraudes? Etc, etc.

Alguém conhece, no mundo, curas tão investigadas quanto em Lourdes (França)? Um verdadeiro “consultório aberto”, pelo qual já passaram milhares de cientistas (médicos, biólogos, químicos…) de diversos países, crenças (inclusive ateus), origens, etc. Por que estes “pastores milagreiros” e “médiuns canalizadores de bons espíritos” não fazem o mesmo?

A VERDADE COAGE, MAS PARA LIBERTAR!

Mas regressemos a Lanciano, apenas para efeito de colocar um ponto final neste texto.

É impossível deixar passar em brancas nuvens um fato como este, ainda mais considerando as circunstâncias envolvidas.

Não estamos falando de alguém que diz se comunicar com ET´s; ou que Nossa Senhora lhe aparece; ou que não sente mais a dor que incomodava; ou que o espírito tal lhe serve de guia; etc. Nada de subjetivismos emocionais ou fatos impossíveis de serem investigados.

Qualquer alma com um mínimo de boa vontade pode (e deve ?!) ponderar os fatos então apresentados, separando o joio do trigo.

E que o recado final seja dado pelas Sagradas Escrituras, antes já citadas:

“Porque, se em Sodoma tivessem sido feitos os milagres que no meio de ti foram feitos, até hoje ela existiria. Digo-vos, pois: No dia do juízo, a terra de Sodoma será tratada com menos rigor do que tu”. (Mt 11,23-24).

Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (Jo 8,32)

“Quem tiver ouvidos, que ouça.” (Mt 11,15)

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