Refutando as razões pelas quais não sou católico romano (Parte 3/3)

19.NÃO SOU UM CATÓLICO ROMANO, porque a visão católica oficial acerca da justificação é herética. Ao contrário do que desejam os católicos, a justificação não consiste em infusão de justiça (iustiça infusa), mas em imputação de justiça (justiça imputada– ver Gn 15.6; Rm 4). Assim nos ensinam Davi e Paulo, declarando que: “Bem-aventurado o homem a quem Deus imputa justiça, independentemente de obras“(Rm 4.6; Sl 32.2). 

Neste ítem, os autores destas Razões passam a defender a doutrina protestante de “imputação de justiça”, tentando-a contrapor à católica. Resumindo a controvérsia, podemos dizer que, para a Igreja Católica, a conversão do homem opera a justificação. Em outras palavras, por sua conversão, o homem consegue a remissão dos pecados, santifica-se e renova-se interiormente. Assim, paulatinamente, o homem vai conformando-se à vontade de Deus, tornando-se, verdadeiramente, justo a cada dia.

Para os protestantes, a justificação é imputação de justiça. Ou seja, o homem não é justo, e nunca o será, mas (creiam-me ou não) Deus finge que ele é. Ou seja, pela doutrina protestante, Deus como que nos diria: “sei que não sois justos, sei que não tendes boas obras, mas finjo que sois aquilo e que tendes estas”.

A Bíblia afirma (e os protestantes confirmam) que aquele que está em Cristo é uma nova criatura. Isto quer dizer que a justificação, real e verdadeiramente, transforma o homem num ser novo, capaz de abandonar a iniqüidade e abraçar as boas obras. Adotada a doutrina da imputação de justiça, seríamos criaturas novas absolutamente iguais às velhas.

Se preferirem, criaturas novas “velhinhas” em folha…

Antes de começar a adentrar nos erros grotescos dos parágrafos abaixo, convém uma pergunta: por que cargas d’água um protestante prefere acreditar nesta “pantomina divina” do que crer, serenamente, que Deus é poderoso para fazer de nós homens cada dia mais próximos da perfeição?

A resposta é simples. Uma vez que eles crêem no sola fide (doutrina basilar do protestantismo) eles se vêem obrigados a garimpar uma doutrina da justificação que dispense as boas obras. Em outras palavras (como os próprios autores vão dizer linhas abaixo), uma justificação que nos seja externa. Uma justificação que não tenha, no fundo, e no frigir dos ovos, nada a ver com o crente.

Ocorre, que, como se demonstrou acima, a sola fide não encontra qualquer apoio escriturístico, visto que “o homem não se justifica somente pelas fé, mas também pelas obras.” Não é a toa que o próprio Cristo nos mandou: Sede perfeitos, como perfeito é o vosso Pai que está no céu”. Esta frase de Jesus, por si só, demonstra o total descalabro da “imputação da justiça”. O Senhor quer, e exige de nós, que, a cada dia, lutemos para nos parecermos mais e mais com o Pai, que é todo justo.

Demonstrada a falsidade do sola fide, a rigor, torna-se inútil que se prossiga demonstrando o descalabro da doutrina da imputação da justiça. Continuaremos, contudo, a analisar as linhas abaixo.

A justificação não é um processo que inicia-se no batismo e que se estende por toda a vida, sendo desenvolvida através de um sistema sacramental e preservada através das obras, conforme ensina o Catolicismo Romano. Antes, segundo as Sagradas Escrituras, a justificação é o ato de Deus declarando justo a um pecador (Rm 4.7-8; Sl 103.10; Rm 8.33), e isto pela justiça de Cristo (2 Co 5.21), o qual é a propiciação pelos nossos pecados (1 Jo 2.2; 4.10; Hb 2.)17. O sentido da justificação, nas Escrituras, é forense. Ou seja, a justificação é vista como uma absolvição da culpa, uma declaração judicial favorável, sendo antônima de condenação (compare o uso dos termos em Dt 25.1,11 e Rm 5.16; 8.33-34).  

O erro básico destes autores, e que os levou a aderir à heresia que ora comentamos, é o mesmo que, linhas atrás, os levou a aderir ao sola fide. Ao lerem os escritos de São Paulo, não percebem que ele está se opondo, não às obras de caridade, nem à justiça cristã, mas às obras da Lei de Moisés e à justiça que os judaizantes julgavam dela brotar (veremos, com muita nitidez, este ponto mais abaixo).

Este, aliás, é o erro básico de todo o protestantismo.

De fato, é por meio da fé que o homem, abrindo-se à graça, encontra a justificação. Isto é o que São Paulo está dizendo. Aliás. Quando São Paulo nos afirma que Deus “credita justiça” a alguém, ele o faz pela ótica negativa. Não é que Deus nos impute justiça, mas Ele não leva em conta os nosso pecado (isto é, não leva em conta a nossa injustiça). Veja-se o texto completo

Quem, ao invés, não trabalha, mas crê naquele que justifica o ímpio, é sua fé levada em conta de justiça, como aliás também Davi proclama a bem-aventurança do homem a quem Deus credita a justiça, independentemente das obras (da Lei): ‘Bem-aventurados aqueles cujas ofensas foram perdoadas, e cujos pecados foram cobertos. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não leva em conta o pecado. (Rm 4, 5-8

Por sua natureza judicial, a justificação nunca é descrita nas Sagradas Escrituras como um longo processo. Pelo contrário, a justificação sempre é descrita como sendo algo concluído num instante de tempo (cf. Jo 5.24; 6.47; Lc 18.14; 23.43; At 16.31; Rm 4.3-8; 5.1; Gn 15.6); no momento em que cremos em Jesus para salvação (cf. At 13.39; Rm 3.26,28), somos eternamente e irrevogavelmente justificados (Jo 10.28; Rm 5.9; 8.30-33; 1 Co 6.11).

Nenhum destes texto indicados pelos autores afirma que a justificação é imediata e eterna. Até porque, se a justificação nos vem por meio da fé em Jesus, como é que os autores nos citam livros do Antigo Testamento (onde, até o que se sabe, ninguém cria em Jesus)? Como é que o Antigo Testamento nos fala de “justificação” e de “justos”, se Deus ainda não podia “imputar” justiça a quem quer que fosse?

Simples: Deus nunca “imputou” justiça a quem quer que seja. Ao contrário, ajudou os crentes do Antigo e do Novo Testamento, infundindo-lhes a Sua graça e justificando-os.

Isso significa que, ao cremos em Jesus para salvação, os méritos, a justiça e a perfeita obediência de Cristo (que em tudo satisfaz a perfeita justiça divina) nos são imputadas (Jr 23:6; Rm 4.23-25; 5.1-2; 5.17-18; 8:33; 1 Co 1:30; 2 Co 5:21). O termo Imputar significa lançar algo na conta de alguém ou considerar algo como sendo de alguém (compare o uso do termo, por exemplo, em At 7.59-60; Rm 4.8; Fm 1.18; 2 Tm 4.16). Assim, no contexto da justificação, a imputação de justiça consiste simplesmente em Deus creditando a nosso favor a justiça de Cristo (ver Epístola aos Romanos, cap 4) e assim nos declarando judicialmente justos; algo que é, portanto, extrínseco (i.e, fora de nós, externo). Por isso dizemos que a justificação é a imputação ou atribuição da justiça de Cristo ao crente (cf. Rm 4.3-8) e não a infusão da justiça de Cristo no crente.

É significativo reconhecermos que a justificação não é para os justos, até porque, os sãos não precisam de médico, mas sim os doentes (Mt 9.12-13; Mc 2.17; Lc 5.31-32). De tal forma que são os pecadores que necessitam ser declarados justos diante de Deus (Lc 19.13-14; Ef 2.1-7), ao crerem depositando toda confiança “naquele que justifica o ímpio“(Rm 4.5).

O que os autores estão dizendo é que (perdoem-me a ironia, mas é irresistível) Jesus é semelhante ao médico que, vendo o doente, declara (segundo os autores, com a fleugma forense): “tu estás doente, mas o Pai fingirá, graças à minha obediência, que estás vendendo saúde. Rigorosamente, é nisto que eles crêem.

Ora, é óbvio que, se para Deus, nós homens estávamos todos doentes, e se Ele nos mandou o médico de todas as almas, é para que tais almas fossem curadas e adquirissem a sanidade.

Perceba que o apóstolo Paulo declara que “Deus justifica o ímpio“. Isto é tremendamente conflitante com o entendimento católico romano acerca da justificação, porque demonstra que Deus não justifica os crentes porque eles são pessoalmente ou interiormente justos, mas por causa da imputação da perfeita justiça de Cristo. E não é de se admirar que o apóstolo Paulo nos ensine isto! Afinal, “Cristo veio ao mundo salvar os pecadores“(1 Tm 1.15; cf Mt 18.11; Lc 19.10), visto que “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”(Jo 3.16).

Ora, Deus justifica o ímpio porque, de fato, e verdadeiramente, derrama nele Sua própria justiça, de modo que os mesmos passam a ostentá-la. Ora, se é pelo sacrifício de Cristo que nos vem a justiça de Deus, então, conformem-se os autores com a seguinte passagem: “Incessantemente, e por toda parte, trazemos em nosso corpo a agonia de Jesus, a fim de que a vida de Jesus seja também manifestada em nosso corpo” (2 Co 4, 10). Ou seja, uma vez que também nós participamos da Morte e da Ressurreição de Cristo, uma vez que o que faltou para o sacrifício de Cristo se completa em nós, pela obediência ao Pai, então, a justiça de Cristo também nos é dada.

Somos um com Cristo. É impossível que o injusto seja um com o Justo.

É evidente, portanto, que não somos salvos por qualquer justiça que tenhamos em nós (Rm 3.10; Is 64.6), nem antes (Ef 2.1; Tt 3.3; Rm 5.6-8) e nem depois da conversão (Rm 7.18; 1 Co 4.4; Fp 3.9; 1 Jo 1.8; Tg 2.10; Pv 20.9; Jó 9.2,3; 25.4-6; Sl 143.2; Lc 17.10). Por isso o apóstolo Paulo nos diz que somos “justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus”(Rm 3.24; cf. Ef 2.8-9; 2 Co 5.18-19; Gl 3.11-13; Ef 1.7). Porque pela obediência de Cristo, mediante seu sacrifício vicário, ele pagou completamente (e portanto para sempre) a dívida dos justificados (Cl 2.14; Hb 10.14; 1 Pd 1.18-19; Is 53.5-6). 

A confusão é tão grande que fica até difícil que se fale alguma coisa. Para os autores destas Razões, solenes desconhecedores do Catolicismo, a Igreja ensinaria que somos salvos pela “justiça que existe em nós”. Ledo engano! A justificação infunde justiça no cristão, que, no entanto, continua sendo salvo pelos méritos de Cristo, cooperando (e apenas cooperando) com suas próprias boas obras.

Realmente, esta teologia parece estar fora do alcance destes autores…

Os autores citaram, neste parágrafo, dois textos bastante interessantes, textos estes que, na verdade, desmentem a tese que, supunha-se, deveriam estar sustentando. O primeiro deles é Rm 7, 18, que, tomado no seu contexto, afirmam que Jesus Cristo nos liberta da injustiça e nos permite fazer o bem. Vejamos: “Eu sei que o bem não mora em mim, isto é, na minha carne. Pois o querer fazer o bem está ao meu alcance, mas não porém praticá-lo. (…) Infeliz de mim! Quem me libertará deste corpo de morte? Graças sejam dadas a Deus, por Jesus Cristo, nosso Senhor. (Rm 7, 18. 24)

São Paulo é muito claro. O homem velho (nascido de Adão), não é capaz de praticar o bem. No entanto, o homem novo (regenerado pelo batismo), pela graça de Jesus Cristo o pode. Afinal, é uma nova criatura.

Para os protestantes, e pela teoria da imputação de justiça, esta “nova criatura” é igualzinha à velha…

O outro trecho é Fl 3, 9. Vou citar todo o contexto, pois ele absolutamente conclusivo e, por si só, bastaria para rechaçar toda a imensa quantidade de equívocos que estes autores acumularam neste ponto de suas Razões:

“Por Jesus Cristo, eu perdi tudo e tudo tenho como esterco, para ganhar a Cristo, e ser achado nele, não tendo a justiça que vem da Lei, mas tendo a justiça que vem de Deus, apoiada na fé, para conhecê-lo, conhecer o poder de Sua ressurreição e a participação nos Seus sofrimentos, conformando-me com Ele na Sua morte. Não que eu já O tenha alcançado ou que eu já seja perfeito, mas vou prosseguindo, para ver se o alcanço, pois que também eu já fui alcançado por Cristo Jesus. Irmãos, eu não julgo que eu mesmo O tenha alcançado, mas uma coisa faço: esquecendo-me do que fica para trás e avançando para o que está adiante, prossigo para o alvo, para o prêmio da vocação do alto, que vem de Deus em Cristo Jesus. (Fl, 3, 8-14)

Só isto bastaria…

Em primeiro lugar, fica muito claro o que já havíamos dito acima. São Paulo não aceita que alguém seja justo praticando as obras da Lei Mosaica (“não tendo a justiça que vem da Lei”). Esta justiça ele, com razão, despreza. Mas a justiça que vem de Deus (e não a justiça que Deus finge que tenhamos), esta ele o quer e se esforça por consegui-la (“mas tendo a Justiça que vem de Deus”). Ele é muito claro ao falar que devemos TER a justiça que vem de Deus, buscando sermos PERFEITOS.

Será que os autores continuarão a ler e a não entender nada?

Mas o texto é, ainda, mais delicioso, ao deixar claro que esta justificação não é instantânea, mas é um processo (“vou prosseguindo para ver se o alcanço”; “não julgo que eu já o tenha alcançado”; “avançando, prossigo para o alvo”).

Por fim, como se já não bastasse, São Paulo afirma, mais uma vez, com toda a clareza, que cooperamos para a nossa salvação com as boas obras, pois espera o “prêmio” que vem de Deus. E prêmio é algo que, de alguma forma merecemos.

E pensar que os autores citaram este texto para defender seus pontos de vista…

Uma vez que a base da nossa justificação é a obra redentora de Cristo (Rm 4.22-25) – onde ele pagou definitivamente pelos nossos pecados (1 Co 15.3; 1 Pd 2.24; Rm 8.1)- e não as nossas obras (Rm 5.17-21; Ef 2.9; Tt 3.5), entende-se melhor o porquê da justificação ser gratuita (Tt 3.7; Rm 8.32; Ef 1.7; At 15.11) e somente pela fé em Jesus (cf. Hc 2.4; At 10.43; 13.39; Rm 1.16-17; 3.20-22,26,28; 4.5-8; Rm 10.4-11; Gl 2.16; Fp 3.9); não sendo, portanto, algo a ser desenvolvido por qualquer sistema sacramental ou preservado pelo esforço humano. Mesmo porque, falando da soberania de Deus, o apóstolo Paulo nos diz que “não depende de quem quer, ou de quem corre, mas de Deus usar a sua misericórdia“(Rm 9.16).

O texto de Fl 3, 8-15, como eu já disse, responde, categoricamente a este parágrafo.

Esta compreensão da distinção existente entre infusão de justiça (o que o Catolicismo ensina) e imputação de justiça (o que a Bíblia ensina) é fundamental para que possamos compreender a diferença entre santificação e justificação. Do contrário pode-se cair no erro do Catolicismo Romano, o qual pateticamente confunde santificação (Ef 2.10; 2 Pd 3.18) e justificação (Rm 3.28 – Rm 4.6), as quais são coisas distintas! Biblicamente, a justificação é a obra de Deus por nós em Cristo; enquanto a santificação é a obra de Deus em nós mediante o Espírito Santo.

É bastante curioso os rompantes de triunfalismo que os autores, volta e meia, apresentam. Para eles, a doutrina católica da justificação é patética, pois confunde santificação com justificação.

Com todo respeito, e para usar os termos dos próprios autores, patético é alguém se arvorar de juiz de uma causa que desconhece. Patético é criticar o que se ignora. Quem o faz, expõe-se ao ridículo de se ver, subtamente, pego em seus erros. Deixemos que o Catecismo da Igreja Católica fale por si só: “Sob a moção da graça, o homem se volta para Deus e se aparta do pecado, acolhendo, assim, o perdão e a justiça do alto. A justificação comporta a remissão dos pecados, a santificação e a renovação do homem interior”. (CIC, § 1999)

Portanto, e que os autores engulam isto, a Igreja não confunde “justificação” com “santificação”. Aquela engloba esta; esta está contida naquela; cada uma delas tem um conceito distinto.

Acho que não preciso alongar-me mais neste ponto.

20.NÃO SOU UM CATÓLICO ROMANO, porque a “pedra“(ref Mt 16.18) sobre a qual a Igreja está construída não é outra senão o verdadeiro e bendito “Cristo, Filho do Deus vivo“, que fora confessado por Pedro (Mt 16.16; cf. Sl 118.11; Is 28.16; Mt 21.42 e Lc 20.17-18; Rm 9.32-33; 1 Co 3.11).  

Isto é o que nos ensina o apóstolo Pedro de uma forma muito clara e enfática acerca desta pedra: “Este Jesus é a pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por cabeça de esquina“… “Ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa,  também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. Pois isso está na Escritura: Eis que ponho em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será, de modo algum, envergonhado. Para vós outros, portanto, os que credes,é a preciosidade; mas, para os descrentes, A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular  e: Pedra de tropeço e rocha de ofensa“(At 4.11 e 1 Pd 2.4-8). 

Na Epístola aos Efésios, também podemos ler o testemunho do apóstolo Paulo, o qual igualmente afirma que a pedra sobre a qual a Igreja está edificada, referida em Mateus 16, é Cristo. Está Escrito: “Não somos estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular. Nele todo o edifício bem ajustado cresce para templo santo no Senhor; e nele também vós juntamente sois edificados para morada de Deus no Espírito” (Ef 2.19-22). 

Sabendo disto e valorizando a verdade da Palavra de Deus, eu jamais poderia crer na pueril, estapafúrdia e anti-escriturística “interpretação católica” acerca de Mt 16.18, segundo a qual o Romanismo (desprezando totalmente a exegese bíblica) afirma que Pedro é a pedra fundamental da Igreja. Quando, na realidade, pelo que já vimos, a expressão “esta pedra” faz referência a Cristo, segundo o testemunho do próprio Pedro e do mesmo Jesus em Mt 21.42; Mc 12.10-11; Lc 20.17-18.

A famosa passagem de Mateus merece ser integralmente transcrita para que possamos responder ao ítem acima. Vejamos:

Jesus perguntou-lhes: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Simão Pedro, respondendo, disse: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.” Jesus respondeu-lhe:”Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne ou o sangue quem te revelaram isso, e sim o meu Pai que está no céu. Também eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra eu edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus. (Mt 16, 15-19).

Para os protestantes, Jesus, ao afirmar que construiria Sua Igreja sobre “esta pedra”, na verdade queria dizer que a construiria sobre si mesmo. Argumentam afirmando que assim é porque, em outros trechos das Escrituras, afirma-se, claramente, que a pedra da Igreja é Cristo.

Este, em suma, é o argumento usado pelos protestantes, ao qual aderiram os autores destas Razões.

Pergunto: existe, no texto de São Mateus, transcrito acima, qualquer elemento sintático ou lógico que permita ao leitor concluir que a expressão “esta pedra” refere-se ao próprio Cristo? Em outras palavras, quais os elementos neste texto que permitem ligar esta expressão à pessoa de Jesus?

A resposta é muito simples: nenhum. Não há qualquer elemento de sintaxe ou de lógica que permita esta conclusão. Aliás, não há qualquer elemento que permita a conclusão de que a expressão “esta pedra” refere-se a qualquer outra pessoa ou coisa que não o próprio Pedro. Jesus falava com Pedro e de Pedro antes de usá-la, e segue falando dele e com ele depois de o fazer.

Os protestantes, para se safarem desta enrascada, afirmam que a pedra é Cristo não com elementos do próprio texto, mas com elementos de outros. No entanto, se o próprio texto não sustentar outra interpretação senão aquela segundo a qual a expressão “esta pedra” se refere a Pedro, então temos, nas Escrituras textos afirmando que a pedra é Cristo e outros afirmando que a pedra é Pedro.

Cabe ao intérprete averiguar em que sentido Pedro é pedra da Igreja e em que sentido Cristo o é. O que não pode é dizer que Pedro não é pedra porque em outras passagens a mesma é Cristo.

E, se tal fosse possível, poder-se-ia, sem maiores dificuldades, e usando deste mesmo argumento, chegar à conclusão diametralmente oposta.

Ora, suponhamos que fosse possível a um protestante afirmar que, em Mt 18, 18 a “pedra” a que Jesus se refere é ele mesmo, e não Pedro, dado o fato de que, por exemplo, em 1 Pe 2, 4 o próprio Pedro afirma que a pedra é Jesus.

Neste tenebroso cenário, seria igualmente possível a um católico afirmar que, em 1 Pe 2, 4, São Pedro está falando de si mesmo e não de Jesus, sob o argumento de que, em Mt 16, 18, o próprio Jesus afirma que a pedra é Pedro.

Trata-se do mesmíssimo argumento, pelo que esta segunda exegese é tão válida quanto a primeira. E, diga-se de passagem, nenhuma delas vale coisa alguma.

Pensemos em outro exemplo. Numa passagem “A” Jesus afirma: “eu sou a luz do mundo”. Já na passagem “B”, falando com Seus discípulos, ele afirma: “vós sois a luz do mundo”. Utilizando-se da exegese protestante, poderíamos, sem sombra de dúvida, afirmar que, na passagem “A”, Nosso Senhor, ao dizer “eu sou a luz do mundo”, está, na verdade, referindo-se aos seus discípulos, pois, na passagem “B”, claramente, Ele diz serem estes a luz do mundo.

Por outro lado, e com igual validade, poderíamos dizer que, na passagem “B” , ao dizer, “vos sois a luz do mundo”, Jesus falava de si mesmo, pois, na passagem “A”…

Acho que já basta. Poder-se-ia citar uma infinidade de exemplos, mas acho que estes dois já mostram o descalabro da exegese protestante de Mt 16, 18. Aliás, adotado o princípio do desprezo absoluto pela sintaxe dos textos bíblicos, pode-se tirar, de qualquer texto, qualquer conclusão, por mais estapafúrdia que seja.

Cabe, como eu já disse, ao intérprete averiguar em que sentido Pedro é a pedra, e em que sentido Cristo o é. Pedro é a pedra visível da Igreja; Cristo, a invisível. Assim como Cristo é a fonte de luz que ilumina o mundo, enquanto Seus discípulos refletem, sobre o mundo, a Sua luz.

Quis traçar os comentários acima apenas para demonstrar o mais absoluto descomprometimento dos protestantes ao, utilizando-se do livre exame, lerem a Bíblia. Mas, a rigor, um único argumento bastaria para desmontar suas conclusões enviezadas. Na verdade, o texto grego não deixa qualquer dúvidas a quem Jesus se referia. A expressão grega para “esta pedra” é tautee tee petra. A exata tradução da mesma seria “ESTA MESMA PEDRA.”

Portanto, na verdade, o Senhor disse: “tu és Pedro, e sobre esta mesma pedra edificarei a minha Igreja.”

21.NÃO SOU UM CATÓLICO ROMANO, porque há duas ordenanças estabelecidas no Evangelho por Cristo para a Sua Igreja: a Santa Ceia e o Batismo (Mt 26.26-29; 28.19; Mc 14.22ss; Lc 22.17-21; 1 Co 11.20, 23-34). Sabendo disto, eu jamais poderia crer noutros falsos sacramentos inventados pela Igreja Romana, os quais são de nenhum préstimo por não passarem de acréscimos às Escrituras (Dt 4.2; 12.32; 1 Co 4.6; Gl 1.8; Ap 22.18-19). 

Façamos uma pequena digressão antes de entrarmos, propriamente, na análise deste ítem.

Então, os autores destas Razões aceitam que Jesus estabeleceu duas “ordenanças” (como se as ordens que Jesus deu aos homens não fossem várias…): o batismo e a “santa ceia”.

Pois bem. O que eu gostaria de saber é por que cargas d’água Jesus o fez? Qual a importância, para os protestantes, do batismo e da “santa ceia”? Por que Jesus quis tanto comer esta “santa ceia” com os discípulos? Por que Jesus afirmou que “o que crer e for batizado será salvo”? Por que mandou, expressamente, que os discípulos batizassem a todos os homens em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo?

E, finalmente: se todos os protestantes lêem a Bíblia guiados pela infalível ajuda do Espírito Santo, por que eles não conseguem chegar a um acordo sobre, afinal de contas, qual a importância destas duas “ordenanças”?

Feita a digressão, passemos à analise do ítem presente. De começo, já deixo claro que, doravante, eu não usarei mais o termo “santa ceia”, mas o termo Eucaristia. Por um motivo muito simples: este é o termo usado pelos cristãos desde o primeiro século.

Se meus pais na fé (os mártires que enfrentaram o poderio romano e deram a vida em testemunho de Jesus Cristo e de Sua Igreja) o usaram, uso-o também eu. A expressão “santa ceia” é invenção recentíssima dos protestantes, tal como o sola scriptura, o sola fide, o sola gratia, o livre exame, o arrebatamento, etc..

Os autores usaram da mesma e perversa lógica que, amiúde, têm usado nestas Razões. Qual seja: provado que Jesus instiuiu a eucaristia e o batismo, prova-se que Ele não instituiu os outras sacramentos (confissão, crisma, ordem, matrimônio e unção dos enfermos).

Como eu já disse inúmeras vezes, trata-se de um sofisma, um não argumento, e que, por isto mesmo, não deve ser levado em conta.

Mas, vejamos como Jesus Cristo, realmente, instiuiu todos os sete sacramentos.

A confirmação (crisma) aparece, com muita nitidez, em At 8, 15-16: “Pedro e João, desceram até Samaria, oraram por eles, a fim de que recebessem o Espírito Santo. Pois não tinha caído sobre nenhum deles, mas somente haviam sido batizados, em nome do Senhor Jesus. Então, começaram a impor-lhes as mãos, e eles recebiam o Espírito Santo.Acho que isto dispensa maiores comentários

A confissão: “Aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; aqueles aos quais retiverdes, ser-lhes-ão retidos.” (Jo 20, 23)

A unção dos enfermos: “Alguém dentre vós está doente? Mande chamar os presbíteros da Igreja, para que orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o doeente e o Senhor o aliviará; e, se tiver cometido pecados, estes lhes serão perdoados”. (Tg 5, 14-15). Como dito acima, isto dispensa maiores comentários, mas é curioso como os protestantes acusam os católicos de fazermos, fielmente, aquilo que nos foi ordenado na Bíblia… Igualmente, é curioso como eles se recusam a fazê-lo…

O sacramento do Matrimônio, a rigor, dispensaria maiores comentários, visto que, desde o princípio da História da Salvação, ele é cantado e decantado. Desde o momento em que Deus tirou, do íntimo de Adão, a sua companheira e ordenou-lhes que crescessem e se multiplicassem, e que continuassem sendo uma só carne, fica claro de que a união entre um homem e uma mulher não é, simplesmente, um ato humano “abençoado por Deus”. Esta união está no próprio âmago da economia de salvação que Deus instituiu.

Por isto, disse o Senhor: “O que Deus UNIU, o homem não separe.” Portanto, o casamento é uma força que vem do alto (é Deus quem une) e que se infunde no espírito dos nubentes.

A ordem é instituída por Cristo quando Ele manda os apóstolos celebrarem o Sacrifício Eucarístico até que Ele volte.

Todos os sete sacramentos são, portanto, bíblicos. Resta saber se os defensores do sola scriptura um dia se curvarão à Bíblia que dizem seguir.

22.NÃO SOU UM CATÓLICO ROMANO, porque ao se intitular como infalível e Vigário de Cristo na Terra, o papa fica enquadrado como um dos muitos falsos Cristos e falsos profetas que haviam de vir e foram anunciados nas Escrituras (falsos cristos: Mt 24.23-24; Mc 13.21, “Então, se alguém vos disser: Eis que o Cristo está aqui ou ali, não lhe deis crédito, porque surgirão falsos cristos e falsos profetas e farão tão grandes sinais e prodígios, que, se possível fora, enganariam até os escolhidos.”;  ver sobre falsos profetas: Mt 7.15; 24.11; 2 Pd 2.1-2; 1 Jo 4.1). 

Uma estrutura de falsos mestres semelhante à cúpula romanista já havia sido predita nas Escrituras, quando lemos as palavras do apóstolo Paulo: “Porque eu sei isto: que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não perdoarão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si.”(At 20.29-30; ver 1 Tm 4.1-3; 2 Tm 4.3-4; Ap 2.2).

Com todo o respeito devido às pessoas dos autores destas Razões, a interpretação que eles dão aos textos das Escrituras é tão enviezada que beira às raias da má-fé. Ora, por que razão a crença católica na infalibilidade papal caracterizaria o Papa como sendo um falso profeta?

Aliás, a bem da verdade, neste terreno o catolicismo é, digamos, muito mais modesto do que o protestantismo. Os católicos acreditam que apenas o Papa, enquanto chefe da Igreja, é infalível. Já os protestantes, que julgam lerem a Bíblia sob o influxo direto do Espírito Santo, acreditam que todos eles o são.

O protestantismo seria uma multidão de seres infalíveis…

Rejeita-se que possa haver um papa infalível, mais aceitam que possa haver milhões de pessoas igualmente infalíveis. Em outras palavras: filtram uma mosca e deixam passar um camelo…

A rigor, os textos apresentados sobre os falsos profetas aplicam-se aos hereges contra os quais os apóstolos combateram e dos quais os protestantes são o maior exemplo histórico.

23.NÃO SOU UM CATÓLICO ROMANO, porque a Renovação Carismática Católica não passa de uma cópia deturpada e pioradíssima do Pentecostalismo Evangélico. Ao contrário do Avivamento Bíblico que traz consigo o abandono da idolatria e do misticismo (2 Rs 23.6ss; 2 Cr 34.3-4; 1 Co 12.2; 2 Co 6.16-19; 1 Ts 1.9-10), a RCC estimula todos estes males com suas práticas anti-bíblicas, idólatras e mariolátricas. 

Primeiramente, deixemos claro um ponto. A RCC não representa a totalidade da Igreja, sendo apenas um movimento católico composto por leigos e padres. Portanto, é possível que alguém seja católico sem pertencer à RCC. Na verdade, mais de 90% dos católicos não pertencem à mesma.

Em segundo lugar, os autores insistem no ramerrão protestante da idolatria e mariolatria. Já se demonstrou, ad nauseam, que no catolicismo não existe idolatria de qualquer espécie. Portanto, os carismáticos, sendo católicos, não são idólatras nem mariolatras. Se algum deles o for, católico não será.

Baseados nisso (Is 8.20), concluímos que a RCC não é resultado da ação do Espírito Santo de Deus (Jo 14.26; 16.13-14; 1 Jo 4.6), mas sim de espíritos imundos (Jo 8.44; 1 Tm 4.1; 2 Tm 4.3) e de falsos profetas (1 Jo 4.1) – mesmo reconhecendo a existência de pessoas sinceras neste movimento herético, as quais por não terem conhecimento (Rm 10.2) necessitam ser libertas (Jo 8.32,36).

Não há como não ler este trecho e não se lembrar da passagem em que os escribas e fariseus, vendo Jesus Cristo curar doentes e expulsar demônios, acusaram-no de fazer tais prodígios pelo poder de Beelzebu. Ao que o Mestre respondeu: “Hipócritas, se é por Beelzebu que expulso demônios, por poder de quem os expulsam os vossos filhos? Se um Reino está dividido contra si mesmo, não pode subsistir. Se, pois, Beelzebu está dividido contra Beelzebu, como subsistirá o seu reino?”

Fariseus e hipócritas, isto é o que são os autores destas Razões, pois quando nos cultos protestantes se “operam milagres”, “expulsam-se demônios”, “fala-se em línguas”, etc., os mesmos afirmam que tal é fruto do Espírito Santo. Mas, quando o mesmo ocorre em ambientes católicos, eles afirmam que tal é obra de espíritos impuros.

Fariseus e hipócritas!

Ou nos ambiente protestantes estes fenômenos são obras do Espírito Santo, e, neste caso, nos ambientes católicos também o são, ou, ao contrário, não o são nem lá nem cá (como, pessoalmente, acredito que acontece), tudo tratando-se de uma espécie de religiosidade que aflora em determinadas circunstâncias.

Ora, na RCC, estimula-se a leitura bíblica, aproxima-se o homem de Deus, desperta-se nele o desejo de anunciar a Jesus Cristo e de servi-lO. Estivessem corretos os autores destas Razões, e Beelzebu estaria dividido contra Beelzebu. Neste caso, como subsistiria o seu Reino?

Até porque, o Espírito Santo atua em nós nos santificando (1 Pd 1.2; 2 Ts 2.13), afastando-nos do pecado e do mundo (Rm  6.14-18; Gl 5.19-23), para sermos conforme a imagem do Filho de Deus (2 Co 3.18; Rm 8.29), segundo o propósito daqu’Ele que nos chamou (1 Ts 4.7; 1 Pd 1.15-16; 2.9-10; 5.10; 2 Pd 1.2-4).

Perfeito. Até que enfim, um parágrafo sem heresias.

De nada adianta cantarem hinos evangélicos e permanecerem em todas as abominações do Romanismo. É o caso de Lucas 6.46: “Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu vos mando?“(ver Jo 8.31; 14.23; 1 Jo 2.4). Também é um caso semelhante a Mateus 15.8-9, que diz: “Este povo honra-me com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens“.  

Eu diria exatamente o contrário: eles podem até cantar alguns “hinos evangélicos”, mas não comungam dos erros e heresias dos protestantes.

24.NÃO SOU UM CATÓLICO ROMANO, porque a Palavra de Deus demonstra que o Senhor deseja que todos leiam a Sua Palavra, para que conhecendo-a possam guardá-la e praticá-la (Sl 1.1-2; 19.7-9; 119.9-12,105,130; Mt 4.4; Lc 10.21; 16.29; Jo 5.39; At 17.11; Rm 15.4; Ef 1.1; 6.17; Cl 3.16; 2 Tm 2.15; 3.16-17; 2 Pd 1.19; Ap 1.3). Sendo assim e amando ao testemunho do Senhor, eu jamais poderia aceitar a postura dos apologistas católicos romanos que, incorrendo na falta de coerência que lhes é comum, examinam a bíblia em busca de evidências contrárias ao livre-exame da mesma. 

Estas Razões são tão absurdas que, de todos os textos citados pelos autores para provar que Deus deseja que todos leiam as Escrituras, rigorosamente nenhum deles afirma tal coisa (os que quiserem confirmá-lo, que leiam-nos todos). Os textos, em geral, dizem que todos devem conhecer a Palavra de Deus. Ora, pode-se conhecê-la ouvindo-a e estudando-a, não somente lendo-a. Ademais, como é comum nos meios protestantes, os autores confundem os conceitos de Escrituras, Lei e Palavra.

Verdadeiramente, uma lástima.

Agora, verdadeiramente delicioso é o comentário final dos autores acusando os apologistas católicos de incoerência por “examinar” a Bíblia para provar a falsidade do livre exame.

Em primeiro lugar, examinamos a Bíblia para provar a falsidade do livre exame apenas para os protestantes. A falsidade do livre exame prova-se não apenas com provas tiradas da própria Escritura, mas com provas tiradas da patrística e da história.

Adiantaria, por exemplo, que se citassem os Santos Padres no intuito de fazer ver que os cristãos nunca aceitaram o livre exame? Os protestantes fariam vistas grossas e seguiriam acreditando que os verdadeiros cristãos sempre leram e interpretaram livremente a Bíblia.

Seria de alguma utilidade, por exemplo, mostrar que, até bem pouco tempo, os alfabetizados representavam uma minoria insignificante de nossa população? Ou que, antes da invenção da imprensa as Bíblias eram raríssimas e que mesmo os alfabetizados teriam extremas dificuldades de lerem-na e interpretarem-na pelo simples motivo de que não tinham acesso à mesma? Ou que, até o final do quarto século, nenhum cristão poderia examinar livremente a Bíblia, pois, simplesmente, não havia, ainda, uma Bíblia para ser examinada?

Para convencer um protestante, há que se recorrer a fontes bíblicas. Tudo o mais eles ignoram, por mais inverossímel que seja a crença no livre exame.

Eis o porquê de examinarmos a Bíblia em busca de provas da falsidade desta heresia. Não o fazemos por incoerência, mas por caridade para com as almas dos protestantes sinceros.

Aliás, já que estamos neste assunto, quando um apologista católico examina a Bíblia (seja para provar a falsidade do livre exame, seja para provar a falsidade das demais doutrinas protestantes) ele não está procedendo ao “livre exame”. “Exame” e “livre exame” são conceitos diversos. Desde que, ao examinar a Bíblia, o apologista católico não retire, dela, as doutrinas que lhe apeteçam, mantendo-se fiel ao Magistério da Igreja, ele não está incorrendo na heresia do “livre exame”.

Portanto, por caridade, e sem qualquer incoerência, o “exame” da Bíblia é expediente útil para provar, aos protestantes, a falácia do “livre exame”.

25. NÃO SOU UM CATÓLICO ROMANO, porque o vocábulo igreja, vindo da palavra grega eklesia, nas Escrituras, admite dois sentidos. O sentido mais comum é o que designa comunidades locais e independentes formadas por crentes salvos e batizados (Mt 18.17; At 2.47; 5.11; 13.1; 20.17,28; I Co. 4.17; I Tm 3.15; III Jo 9; I Co 1.2,10). E o outro sentido faz menção à assembléia universal dos remidos de todas as épocas (Mt 16.18; Cl 1.18; Hb 12.22-24; Ef 1.22-23; 3.8-11; 4.1-16; 5.22-32; Jo 10.16; Ap 19.7-9; 21.2-3).

Se a paciência é a virtude dos Santos, rogo a Deus que me dê muita santidade para responder a estes últimos ítens destas Razões. Francamente, é de revoltar qualquer um… Nem as primeiras citações falam que a Igreja é “uma comunidade local e independente de crentes salvos e batizados”, nem as últimas falam da Igreja como uma assembléia universal dos remidos de todas as épocas.

As primeiras citações (que quiser, que as leia!) simplesmente falam ou de Igreja (sem lhe dar qualquer conotação), ou, quando muito falam de Igrejas locais (a Igreja de Corinto, a Igreja de Éfeso, a Igreja de Roma, etc.). Igreja local é a formada pelos cristãos de uma dada diocese em comunhão com o seu bispo. Em nenhum (em nenhum mesmo!) momento falou-se que estas “comunidaddes” são independentes. Aliás, quem lê as cartas de São Paulo sabe que, independência era algo inexistente no cristianismo primitivo. Ao contrário, os Apóstolos traziam os fiéis muito bem controlados por suas batutas. Quem quer que desafinasse era logo repreendido e, recalcitrando, expulso.

Esta “independência” somente existe nos devaneios dos autores.

O segundo grupo de citações fala, em geral, da Igreja Universal, mas em nenhum momento dá a entender que a mesma é a “assembléia universal dos remidos de todas as épocas”. Ao contrário do que dão a entender os protestantes, estas citações apóiam exclusivamente o conceito católico de Igreja, seja na figura de um único corpo, seja na figura do rebanho único.

Por fim, curiosamente, os autores omitiram o sentido primevo do termo Qahal, do qual derivou o grego Ekklesia. Qahal é o termo usado na Bíblia para designar o povo hebreu em sua perigrinação pelo deserto rumo à Terra Santa. Há alguns dados a serem destacados e que caracterizavam a Qahal:

a) A Qahal era formada por pessoas que tinham passado pelo Mar Vermelho a pé enxuto (símbolo do batismo);

b) A Qahal era uma Nação Peregrina (símbolo da Igreja Militante);

c) A Qahal possuia um líder a quem obedecia e em quem era obrigada acreditar, um Pontíficie, que fazia o povo conhecer a vontade de Deus (símbolo, é óbvio, do Papa e do Magistério da Igreja);

d) A Qahal levava, diante de si, a Arca da Aliança, como garantia de vitória contra os seus inimigos (símbolo da proteção de Maria Santíssima ao povo cristão);

e) A Qahal possuia sacerdotes que ofereciam sacrifícios, subordinados ao Sumo Sacerdote Aarão (símbolo do sacerdócio ministerial católico);

f) A Qahal alimentava-se de um Pão descido do Céus, que lhes nutriu durante toda a peregrinação (símbolo mais do que óbvio da Eucaristia);

g) Por fim, a Qahal foi o povo para quem Deus dirigiu estas seguintes palavras (através de Moisés, é claro): “Shemah, Israel, Adonai Elohenu Adonai ehad” (“escuta, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor”). Portanto, a Qahal é o povo da escuta, e não o povo da escrita.

Ou seja, Jesus não resolveu chamar o Seu povo de Qahal (Ekklesia, em grego) à toa. Ao fazê-lo, Ele quis indicar (como de fato indicou) que o povo hebreu peregrino no deserto seria figura e modelo do povo com o qual, doravante, Ele concluiria uma aliança eterna. Ele quis indicar (como de fato indicou) que o Seu povo teria todas as características acima, agora com um novo significado.

É fácil ver que a única Igreja cristã que, verdadeiramente, assemelha-se à Qahal é a Católica.

Sendo assim e amando a verdade da Palavra de Deus, eu jamais poderia aceitar anti-bíblica eclesiologia católica, a qual além de incluir funções eclesiásticas estranhas às Escrituras, como por exemplo o papado (do qual já tratamos no item 11), além de incluir sacramentos inventados (dos quais já tratamos no item 21) e deturpar as duas ordenanças de Jesus para Sua Igreja, ainda assim roga para si uma vergonhosa exclusividade e primazia de Roma – algo jamais visto nas Escrituras. Tudo isso sem nenhum respaldo bíblico, mas amplamente respaldado e fomentado pela perniciosa soberba de humana (leia Pv 16.18; 29.23; Lc 11.52; 22.24-26; Tg 4.6; 1 Pd 5.5).

Façamos um breve resumo deste ítem. Primeiramente, os autores começaram afirmando que existem apenas dois significados para o termo “igreja” na Bíblia. Os dois significados que eles deram, simplesmente, repito, existem apenas em seus devaneios. Além disto, o mais elementar dos significados do termo ekklesia não foi sequer abordados por eles.

Em seqüência (e como se já não bastasse estes equívocos) eles criticam a eclesiologia católica, sem, contudo explicitá-la. Não dão, igualmente, as razões de sua crítica (limitando-se a dizer que a mesma se funda no orgulho humano). Por fim, eles deixam de dizer, claramente, a qual eclesiologia a que aderem (se é que aderem a alguma).

Assim, nem vou eu defender a teologia católica (visto que não se formulou nenhum ataque verdadeiro à mesma), nem vou criticar a eclesiologia (se é que a podemos chamar assim) protestante.

Limito-me ao que foi dito.

26.NÃO SOU UM CATÓLICO ROMANO, porque qualquer espécie de Ecumenismo, sincretismo ou qualquer tipo de união com hereges é trair a Cristo e não amar a Sua Palavra que condena todas estas coisas (Am 3.3; Is 8.20; Mt 12.30; Lc 11.23; 2 Co 6.14-18; Gl 1.7-8; Ef 5.11; Tt 3.10; 2 Tm 3.1-5; 2 Jo 9-10; Jd 3). Sendo assim e dando o devido valor à vontade do Senhor expressa nas Escrituras, eu jamais poderia aceitar o “Ecumenismo”(?) pregado pelo Vaticano. 

Esta foi ótima! Os autores não são católicos porque, no dizer deles, não podem aceitar o Ecumenismo pregado pelo Vaticano. Não se deram conta de que, para entrar em diálogo ecumênico com a Igreja Católica, é necessário que não se seja católico. Um católico não mantém diálogo ecumênico com a Igreja.

Para os autores, se eles fossem católicos, teriam que aceitar o ecumenismo de Roma (coisa, repito, impossível para um católico). Como não podem aceitar tal diálogo, não aceitam ser católicos romanos…

Tem-se a nítida impressão de que eles, simplesmente, quiseram lançar mais uma crítica às Igreja e não se deram conta do deslize que acabaram cometendo.

27.NÃO SOU UM CATÓLICO ROMANO, porque a satisfação de todos nossos pecados cometidos, quer seja antes ou depois do batismo, é garantida exclusivamente pelo sacrifício único, perfeito e consumado de Cristo (Is 53.4-12; Mt 1.21; Jo 1.29; At 20.28; Rm 4.20-25; 8.30-32; 1 Co 6.20;ss 1 Co 15.3-4; Gl 1.4; 3.9-14; Cl 2.13-14; Tt 2.14;1 Pd 1.18,19; I Pd 2.24; Hb 1.3; 2.9,17; 7.26-27; 9.22,26-28; 10.10-14; 1 Jo 1.7; 2.2; 4.10; 1 Pd 1.18; Ap 5.9; 7.14), o qual é a propiciação pelos nossos pecados (1 Jo 2.2; 4.10; Hb 2.17 ver tb Rm 3.25). 

Apenas para constar, nenhum dos numerosos textos citados afirma, nem de longe, que a satisfação dos pecados é operada única e exclusivamente pelo sacrifício de Cristo.

Em Cristo temos a redenção pelo seu sangue (Rm 3.23; Cl 1.14; 1 Tm 2.6; Hb 9.12) e a “remissão de pecados, segundo a riqueza de Sua graça“(Ef 1.7). Afinal, sabemos que “Dele todos os profetas dão testemunho de que, por meio de seu nome, todo aquele que nele crê recebe remissão de pecados.”(At 10.43; ver tb At 13.39; Rm 5.1-2; Lc 1.77). 

Por isso, em vez de centrar-se nas boas obras ou atos penitenciais dos crentes, a salvação bíblica destaca a obra perfeita de Cristo, quanto “a purificação dos pecados“(Hb 1.3), efetuada na Cruz. É nessa obra expiatória que o crente pode confiar (Jo 3.14-15; 1 Co 1.30-31; 2.2; Gl 6.14; Hb 9.12-14,26; Hb 10.10-18). Crendo que Cristo é suficiente para apresentar os pecadores diante de Deus “com exultação, imaculados diante da sua glória“(Jd 24; cf. Ef 1.4; Cl 1.22). Sendo assim e crendo firmemente na verdade da Palavra de Deus, eu jamais poderia crer na idéia de que a satisfação por nossos pecados pudesse ser feita (mesmo que parcialmente) através de penitências. Que tal pensamento pereça (Gl 1.8)! 

Santo Deus! É verdadeiramente uma tristeza. Gostaria que os autores me dissessem em que ponto da doutrina católica se afirma que a “penitência” opera a satisfação de nossos pecados.

A penitência tem três conotações. Em primeiro lugar, a mesma representa uma conversão interior, uma decisão de mudança de rumo do pecador que passa a ter horror ao pecado, por compreender que o mesmo ofende a Deus. Tal “penitência” não satisfaz os pecados, apenas predispõe o critão a aceitar a Misericórdia Divina e a se voltar para Aquele que tudo pode, tal como o filho pródigo que, subitamente ou não, percebe que na casa de seu pai até os empregados sã mais felizes.

Uma segunda conotação seria a do Sacramento da Penitência. Como é óbvio, o sacramento não satisfaz os pecados, apenas comunica o perdão que Cristo já nos assegurou com Sua morte e Ressurreição.

Por fim, existem ainda as obras de penitência (e, ao que tudo indica, é a estas que os autores se referem). Elas, igualmente, não satisfazem pecados no sentido de os perdoar, embora os satisfação no de expiar as penas temporais dos mesmo e aumente o mérito do cristão junto a Seus.

O verdadeiro arrependimento que a Bíblia faz menção (Mc 1.15; Lc 24.44-45; At 17.30) não é sinônimo de penitência (num sentido católico romano de satisfação pelos pecados). Biblicamente, o arrependimento é a mudança radical e volutária de mente no pecador (Jó 42.5-6; Sl 51.1-4; 119.59; Mt 21.29; 26.75; Lc 15.18; 18.13), a qual é concedida por Deus (At 11.18; 2 Tm 2.24-25), sendo conduzida e efetuada pelo Espírito Santo (Jo 16.8; 2 Co 7.9-10).

Se eu bem entendi os autores, eles usam o conceito de penitência num dos sentidos que a Igreja o usa. Apenas que, no catolicismo, a tal palavra é dada outras conotações.

Conclusão

Louvo a Deus pela paz e pela segurança infinita que o conhecimento do Evangelho me proporcionou (Rm 5.1; Fp 1.23). Minha alma cansada encontrou descanso junto a Jesus (Mt 11.28ss). E, hoje, com todo o meu coração eu posso afirmar que me regozijo no evangelho da graça, neste evangelho que está contido inteiramente nas Escrituras (1 Co 15.3-4; 2 Tm 3.15) e cujo foco está na obra consumada de Cristo na Cruz do Calvário (Jo 3.14-15; 1 Co 2.2; Gl 6.14) e que para a salvação do pecador só se requer a fé em Jesus Cristo (cf. Mc 2.5; Lc 19.10; Rm 5.1), uma mão vazia de um miserável recebendo um presente que jamais mereceu de um Pai rico e amoroso que o adota como filho.

É através do evangelho da salvação que os filhos da ira, filhos da desobediência e até os inimigos de Deus são reconciliados pelo sangue vertido na Cruz (Rm 5.8-10), e os mais vis pecadores (Lc 23.43; 1 Tm 1.15) são trazidos aos pés daqu’Ele que efetivamente pode salvá-los (Jo 14.6; At 4.12; Rm 6.23; 1 Jo 5.10-12) e transformá-los em “novas criaturas” (Jo 1.12; 2 Co 5.17; Ez 36.26-27; Gl 6.17) para louvor de Sua Graça (Rm 11.36; Ef 1.6; 2.10).

Por estas razões bíblicas Eu Não Sou um Católico Romano! Antes, glorifico ao Senhor por Ele ter me dado vida quando estava morto em meus delitos e pecados (Ef 2.1). Glorifico ao Senhor por Ele me ter feito conhecer o “evangelho que é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê“(Rm 1.16) e a verdade de Sua Palavra que permanece para sempre (Is 40.8; Sl 119.89,160; 1 Pd 1.23).

“Esta é uma palavra fiel e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal. Mas, por isso, alcancei misericórdia, para que em mim, que sou o principal, Jesus Cristo mostrasse toda a sua longanimidade, para exemplo dos que haviam de crer nele para a vida eterna. Ora, ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus seja honra e glória para todo o sempre. Amém!”(1 Tm 1.15-17). 

Louvado Seja o Deus de toda a graça!

Bem, com estas conclusões, os autores fizeram, apenas, um desabafo triunfalista típico de muitos protestantes. Se eles louvam a Deus por serem protestantes, deveriam, primeiramente, provar que o protestantismo é obra divina. Pois nem todos os que louvam a Deus entrarão no Reino dos Céus.

Rompantes como estes, eu já os vi aos montes. Espíritas, esotéricos, muçulmanos, ateus, socialistas, todos, enfim, parecem (apenas parecem) satisfeitos e felizes com o deus que encontraram.

A ilusão é muito grande, contudo. Ao ler este trecho, lembrei-me da passagem evangélica daquele que acumulou tesouros para si e, contente e feliz da vida, pensava: alegra-te e descansa minha alma!

O final que este pobre coitado encontrou todos já o sabem.

O fato é que não se pode confiar em subjetivismos. Subjetivamente, toda e qualquer experiência religiosa é apreciável. Objetivamente, contudo, a história aponta apenas para o Catolicismo. O protestantismo, com o seu sola fide, com o seu sola gratia, com o seu livre exame, enfim, com todos os pontos de vista defendidos pelos autores nestas Razões, ruiu em toda a Europa do Norte, sendo substituído, sem dó nem piedade, pelo materialismo ateu. O único e verdadeiro fruto da semente plantada por Lutero é a derrocada da fé, a rejeição de Cristo e a indiferença religiosa e moral.

Os autores destas Razões, infelizmente, sem se darem conta, estão espalhando, mais e mais, esta semente demoníaca.

Que o Senhor nos livre deste mal…

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