Relíquias e Imagens na Igreja primitiva

1) Em Atos dos Apóstolos cap.19, v.11-12 lemos:

– “Deus fazia milagres extraordinários por intermédio de Paulo, de modo que lenços e outros panos que tinham tocado seu corpo eram levados aos enfermos; e afastavam-se deles as doenças e retiravam-se os espíritos malignos”.

Estes “lenços e outros panos” não se tornaram relíquias de São Paulo “capazes” de afastar doenças e retirar espíritos malignos? Tudo isso por intermédio (intercessão) de São Paulo? É claro e evidente que sim, eis um exemplo de “relíquia apostólica”!

2) Em Atos dos Apóstolos cap.5, v.14-16 lemos:

– “Cada vez mais aumentava a multidão dos homens e mulheres que acreditavam no Senhor. De maneira que traziam os doentes para as ruas e punham-nos em leitos e macas, a fim de que quando Pedro passasse, ao menos a sua sombra cobrisse alguns deles (…); e todos eram curados”.

Não era então um ato de fé e veneração a São Pedro esperar que ao menos sua sobra os cobrisse para que obtivessem a cura? Eis um flagrante inequívoco da veneração e intercessão de São Pedro para com os fiéis! “Veneração apostólica”!

3) Lemos em II Reis cap. 2, v.14:

– “Tomou o manto que Elias deixara cair, feriu com ele as águas (…) Tendo ferido as águas estas separaram-se para um e outro lado e Eliseu passou”

4) Lemos em II Reis cap. 13, v.21:

– “(…) o morto ao tocar os ossos de Eliseu, voltou a vida e pôs-se de pé”

Não foi com uma relíquia de Elias, – o manto – que Eliseu abriu as águas e passou? Eis uma relíquia do Antigo Testamento! Nos relatos sagrados do livro II Reis o “manto de Elias” e os “ossos de Eliseu” não se tornaram relíquias com poderes até de ressuscitar… (pela intercessão de Eliseu, através de suas relíquias: ossos)? Evidentemente!

5) Vemos claramente na Igreja Primitiva, peregrinações (romarias) dos cristãos a Lugares Santos de Jerusalém e Roma, a fim de veneração, como nos atesta o historiador francês Daniel–Rops (premiado pela Academia Francesa de Letras):

– “No Ocidente, o grande destino das peregrinações era Roma. Já no século II os viajantes tinham querido fazer longas e perigosas caminhadas para irem ajoelhar-se junto dos túmulos em que repousavam Pedro e Paulo, ‘esses troféus da Igreja’, como dizia deles o presbítero Gaio. No século II, em plena perseguição, alguns orientais – Abdão, Sennen, Áudifax e Ábaco – haviam enfrentado todos os perigos para realizarem essa viagem; mas, tendo sido apanhados pela polícia, morreram mártires. No século IV, as peregrinações a Roma passaram a ser um verdadeiro costume; São Paulino de Nola declara que foi lá com muita freqüência – quase todos os anos –, sobretudo por ocasião ‘da festa solene dos Santos Apóstolos’ [Pedro e Paulo]. Livre de empecilhos, as catacumbas tornaram-se um grande centro de devoção, são restauradas e ornamentadas com novos afrescos. O papa Dâmaso compõe, para muitos túmulos de mártires, pequenas inscrições em verso, (…) que são excelentes para se fixar a historicidade dos santos ali sepultados. Não é menos viva a corrente que arrasta os viajantes para o Oriente. Os Lugares Santos [em Jerusalém], purificados por Santa Helena dos ultrajes idólatras e adornados com prestigiosas basílicas, atraem inúmeros peregrinos.” (ROPS, Daniel. A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires, Vol I, Quadrante: São Paulo, 1988, p.501).

5) Eis mais exemplos históricos da devoção e veneração dos santos pelos cristãos desde as origens do Cristianismo:

– “Assim, já nos primeiros tempos se havia notado certos sinais precursores deste culto [veneração dos santos]. Os fiéis de Esmirna tinham recolhido as ossadas do seu Bispo Policarpo, martirizado em 155, e cem anos mais tarde (258), quando São Cipriano [de Catargo] for decapitado na áfrica, os fiéis estenderão panos sobre o solo para que fiquem embebidos no sangue do mártir. No século IV, a devoção pelas relíquias torna-se um hábito quase unânime (…) A descoberta dos corpos dos mártires (…) o achado de túmulos e ossadas de santos, era tido por um sinal inequívoco de favor divino” (ROPS, Daniel. A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires, Vol I, Quadrante: São Paulo, 1988, p.502).

6) Mais um pouco de dados históricos:

– “O Martírio de São Policarpo é a mais antiga narrativa de um martírio de que se tem notícia. Não se pode duvidar de sua autenticidade. Em um de seus trechos mais belos, o santo bispo recebe a ordem de amaldiçoar Jesus Cristo. Policarpo responde: ‘Há oitenta e seis anos que o sirvo; jamais ele me fez mal algum; como poderei eu blasfemar contra o meu Rei e Salvador?’ Quando as chamas da fogueira milagrosamente se desviavam do seu corpo, teve de ser morto com uma punhalada. E. Schwartz acredita que a morte de Policarpo se deu no dia 22 de fevereiro de 156. Seus ossos foram recolhidos por fiéis, ‘mais valiosos que pedras preciosíssimas, mais apreciados que o ouro, e os sepultaram num lugar apropriado, onde se poderiam reunir eles em cada aniversário’ – evidência de um culto de relíquias ainda em estado embrionário” (CAETANO, Ewerton Wagner Santos in: Resumo da História da Igreja: “Do Nascimento ao Triunfo” (Século I a IV) – fonte: www.veritatis.com.br).

7) Para aqueles que acusam ser de “origem pag㔠as práticas de veneração dos santos pelos cristãos, afirma São Jerônimo, segundo Rops:

– “São Jerônimo será obrigado a precisar que as relíquias dos santos não devem ser ‘adoradas’, mas simplesmente ‘honradas como testemunho dAquele que é o único que deve ser adorado’” (ROPS, Daniel. A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires, Vol I, Quadrante: São Paulo, 1988, p.503).

8) Desde as origens do Cristianismo utilizaram-se de imagens, como testemunha a história:

– “(…) Os principais sinais [símbolos usados pelos cristãos] eram: a âncora, o navio, o Bom Pastor, o Cordeiro com um T ou uma Cruz no dorso, e a cruz em cima da da Arca. (…) O mais célebre é o peixe, muito usado em toda cristandade primitiva; vemo-lo reproduzido muitas vezes nos ‘grafitti’ e na decoração. Era uma alusão a Cristo – que disse aos seus fiéis que eles seriam ‘pescadores de homens’ –, e fazia pensar nos peixes multiplicados por milagre, juntamente com o pão. Mas, num tempo em que o grego era a língua oficial, esse sinal [o peixe] permitia principalmente um jogo de palavras (…). A palavra ‘Ichthys’, em grego ‘peixe’, era formada das cinco palavras que designam Jesus Cristo como Deus, Filho e Salvador: ‘Iesous Chistos Theou Yios Sôtér’. Assim, nas catacumbas, vê-se frequentemente representado um peixe que tem sobre o dorso o cesto de pães eucarísticos” (ROPS, Daniel. A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires, Vol I, Quadrante: São Paulo, 1988, p.197, Nota nº4).

9) Mais testemunhos históricos:

– “O epitáfio de Abércio de Hierápolis, do final do século II, é o monumento de pedra mais antigo que se refere à eucaristia. Abércio tinha sido bispo de Hierápolis, na Frígia. Aos 72 anos de idade mandou fazer a inscrição, na qual fala, entre outras coisas, do seu envio a Roma pelo Pastor, encontrando por toda parte irmãos na fé, dos quais recebeu o ‘peixe’ (ICHTHYS, em grego, abreviação de ‘Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador’ – a iconografia cristã aproveitará esta simbologia), vinho misturado e pão. Atesta o costume cristão de se orar pelos mortos. O epitáfio de Pectório, para alguns do início do séc. II, para outros do séc. III ou IV, fala do batismo, ‘fonte imortal das águas divinas’, da eucaristia, ‘alimento melífluo do Redentor dos santos’, ‘peixe que sustentas nas mãos’. Pectório pede a seus pais falecidos que se recordem dele ‘na paz do peixe’” (CAETANO, Ewerton Wagner Santos in: Resumo da História da Igreja: “Do Nascimento ao Triunfo”(Século I a IV) – fonte: www.veritatis.com.br).

10) E para finalizar:

– “Desde os primeiros séculos os cristãos (muitos mártires) pintaram e esculpiram imagens de Jesus, de Nossa Senhora, dos Santos e dos Anjos, inicialmente nas Catacumbas, não para adorá-las, mas para venerá-las, (…) Este exemplo mostra que desde os primeiros séculos os cristãos já tinham o salutar costume de representar os mistérios da fé por imagens, ícones ou estátuas” (AQUINO, Felipe. Por que sou católico. 3ªed. Lorena – SP: Cléofas, 2002).

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