Resposta a um pastor presbiteriano

Boa tarde.
Cheguei ao site através de uma pesquisa no Google.
Li atenciosamente o testemunho do “ex-protestante convertido à verdadeira igreja”.
Gostaria de expor minha opinião.
1) Lamentável esta visão de que as demais confissões cristãs são “falsas”. Mais uma vez, a perspectiva “neo-inquisitória” da”verdadeira igreja” é exposta a quem queira absorver seu amargo e fétido odor apodrecido. Até quando vcs continuarão a sustentar estas inverdades propagadas por mentes perturbadas e inquietas a respeito de sua própria existência?
2) Assim como vcs devem ter ficado satisfeitos com a “conversão” desta vida ás fileiras romanas, aconselho que em breve providenciem a cerimônia de sua despedida, pois, segundo a PALAVRA DE DEUS, QUE NÃO MENTE E NEM PASSARÁ, pessoas agitadas como meninos, são levados para lá e para cá arrastados ao redor por todo vento de doutrina.
3) Fico imaginando o que seria de nós hoje se não tivesse havido a Reforma. Certamente seríamos decapitados, ou mortos na fogueira, como Savonarola (a propósito, a “verdadeira igreja” tem uma prestação de contas bem complexa para apresentar ao Senhor no fim dos tempos).
4) Fico boquiaberto quando me deparo com este tipo de material. Certamente vcs produzirão mais lendo mais a palavra de Deus. Lendo, mas sem a lente inquisitorial e discrimantória do magistério, por sinal.
Que Deus ilumine a cada um para que resplandeça a verdade libertadora trazida por Jesus Cristo.
Att.
Reverendo Janio Ciritelli (IPB)

Pastor Janio,

A paz de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Agradecemos pelo seu contato, apesar da hostilidade da sua missiva.

Com relação à sua mensagem propriamente dita, gostaria de dizer o seguinte:

1) Se as regras internas da IPB não mudaram, suponho que o senhor, sendo pastor, é bacharel em teologia, e por isso deve conhecer a Escritura Sagrada razoavelmente. Ora, em Mt 16,18 está consignada uma das mais importantes e decisivas frases de Nosso Senhor Jesus Cristo (grifo meu): “E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela.” Nessa passagem vemos, de forma clara e insofismável, que N. S. Jesus Cristo quis, de fato, fundar uma Igreja, a Sua Igreja. Ele não veio apenas para ensinar qualquer “filosofia” do tipo “auto-ajuda”, como gostam de afirmar os liberais, e mais ainda os anticlericais. Ele, de acordo com o Evangelho segundo S. Mateus, disse expressamente: “edificarei a minha Igreja”. Está mais do que claro, portanto, que N. S. Jesus Cristo instituiu uma Igreja, a Sua Igreja. Ademais, a realidade da Igreja, sua fundação, seu nascimento e seus primeiros desenvolvimentos são fatos evidentes no Novo Testamento, de modo que é impossível negar a realidade da Igreja e Sua fundação por Nosso Senhor Jesus Cristo.

2) Ora, a única Igreja da qual podemos dizer, sem sombra de dúvida, que remonta histórica, lógica, teológica e biblicamente a Cristo e aos Apóstolos é a Igreja Católica Apostólica Romana, a despeito da inconformidade e do “jus esperneandi” dos protestantes. O grande problema é que, por não passarem, ou pior, por não quererem passar de uma visão superficial da doutrina católica, os protestantes não compreendem e não aceitam nada que não esteja explícito na Bíblia, muito embora o primado petrino (Mt 16,16–19; Jo 21,15-17) e a presença real de N. S. Jesus Cristo na Eucaristia (Mt 26,26-28; Jo 6,48-58), só para citar dois exemplos, estejam bastante claros na Bíblia, e, no entanto, não são aceitos pelos protestantes (à exceção dos luteranos, que aceitam a presença real de N. S. Jesus Cristo, ainda que de forma um tanto diversa daquela ensinada pela Igreja Católica). Mas o fato é que, por se aferrarem obstinadamente ao princípio conhecido como “Sola Scriptura”, princípio esse completamente desprovido de fundamentação tanto lógica quanto bíblica, os protestantes não podem admitir que uma Igreja “repleta” de “erros” e de “heresias” seja e declare ser a verdadeira e única Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo e confiada aos Apóstolos.

3) Não obstante a Igreja Católica ser a verdadeira Igreja (“Tornei-me, acaso, vosso inimigo, porque vos disse a verdade?” Gl 4,16), as demais denominações ou comunidades eclesiais cristãs contém elementos de salvação, e estão em uma comunhão imperfeita com a Igreja Católica. A esse respeito, recomendo a leitura da Declaração Dominus Iesus, redigida pelo então Cardeal Joseph Ratzinger, hoje S.S. Papa Bento XVI. [1]

4) Eu pergunto: o senhor considera a expressão “amargo e fétido odor apodrecido” compatível com a caridade cristã? O senhor acha que o uso de palavras desse calibre pode contribuir em alguma medida para que cheguemos à verdade? O senhor, usando tão infeliz expressão, considera-se ainda no direito de atacar a Igreja, acusando-a de “neo-inquisitorial”?

5) Outra expressão chama a atenção na sua carta: “Até quando vcs [sic] continuarão a sustentar estas inverdades propagadas por mentes perturbadas e inquietas a respeito de sua própria existência?” Em primeiro lugar, não tenho como saber a que o senhor se refere quando fala em “inverdades”, mas se o senhor estiver se referindo à doutrina católica, deve ter se esquecido de que ela foi e continua sendo defendida por verdadeiros gigantes do pensamento, como S. Agostinho, S. Boaventura, S. Anselmo de Cantuária, S. Tomás de Aquino e o próprio Papa Bento XVI, para citar apenas alguns exemplos. Quanto às “mentes perturbadas e inquietas a respeito de sua própria existência”, eu usaria tais palavras para definir precisamente pessoas que procuram sites de apologética católica como o nosso simplesmente para nos atacar, o que fazem em busca de auto-afirmação. Procuram-nos e atacam-nos não por um verdadeiro apreço à verdade, mas para se auto-convencerem de que estão com a razão.

6) Sobre a minha inclusão no grupo das “pessoas agitadas como meninos, [que] são levados para lá e para cá arrastados ao redor por todo vento de doutrina”, permita-me esclarecer uma coisa muito importante. Não nego que fui, de fato, uma “pessoa agitada como meninos levados para lá e para cá arrastados ao redor por todo vento de doutrina”, até que encontrei a Verdade. O senhor não é a primeira pessoa que me faz esse tipo de insinuação, e provavelmente não será a última. O que o senhor e meus outros detratores não compreendem é que só se converte, de fato, à fé católica aquele que finalmente compreendeu que a Igreja Católica é o único lugar onde podemos alcançar a verdade objetiva em matéria de fé, religião e no que diz respeito ao próprio sentido da vida. Caso o senhor não saiba, verdade objetiva é aquela que está acima e que não depende das opiniões e das preferências individuais (o adjetivo “objetivo” é assim definido pelo Aurélio: “Diz-se do que é válido para todos, e não apenas para um indivíduo.”). E tal verdade objetiva, em matéria de fé e de religião, é absolutamente impossível de ser encontrada no protestantismo ou em qualquer outro lugar que não seja a Igreja Católica Apostólica Romana. Isso por uma razão muito simples: quem garante a veracidade da doutrina católica é o próprio Deus, que Se encarnou em N. S. Jesus Cristo e fundou a Igreja (Católica, evidentemente) precisamente para ensinar, infalivelmente, a verdade. O que a Igreja Católica ensina não é a doutrina de Lutero, de Calvino, de Knox, de Zuínglio, de Berkhof, de Schaeffer, de Edir Macedo, de R. R. Soares ou de qualquer outro indivíduo, mas pura e simplesmente a doutrina revelada por N. S. Jesus Cristo aos Apóstolos e por eles legada à Igreja. Assim, vale frisar, o que a Igreja Católica ensina não é a “opinião” desse ou daquele Papa. Aliás, não é a opinião de homem algum, mas sim a Verdade revelada por N. S. Jesus Cristo e confiada à Igreja. Aquele que compreende isso finalmente entende que a Igreja Católica é o verdadeiro destino do homem sobre a terra, é o único porto seguro onde nossa mente pode encontrar segurança e repouso. Quem se converte à fé católica, tendo percorrido diversos e tortuosos caminhos — como foi o meu caso e o de vários outros membros deste apostolado —, não tem mais o que buscar em outras paragens. Não precisa procurar sofregamente em meio ao calvinismo, ao luteranismo, ao anabatismo, ao adventismo, ao arminianismo, ao open theism, ao liberalismo, à neo-ortodoxia, ao (neo)pentecostalismo, isso só dentro do protestantismo (!), sem falar no espiritismo, no budismo, no hinduísmo, no islamismo etc. etc. O católico é o único que pode dizer que encontrou não a verdade de fulano, beltrano ou sicrano, nem a verdade dessa ou daquela religião, denominação, seita ou coisa que o valha, mas tão-somente a Verdade de Nosso Senhor Jesus Cristo, tal como Ele a revelou e confiou à Igreja que Ele próprio instituiu sobre a terra, isto é, a Igreja Católica Apostólica Romana. É claro que eu, enquanto ser humano falível e pecador, posso decair, apostatar, perder a fé. Negar peremptoriamente essa possibilidade seria como que me autodeclarar infalível, além de conhecedor do meu próprio futuro (o qual só Deus conhece). O que posso afirmar, e afirmo, é que minha conversão à fé católica — que não se deu de um dia para o outro, antes foi resultado de um processo de anos — não é uma questão de “modismo”, “opinião”, “teste” ou “preferência” nova. Trata-se da descoberta do verdadeiro sentido da existência, a respeito do qual eu hoje posso dizer que não tenho nenhuma dúvida ou hesitação (graças a Deus!). O senhor só saberá o que é isso no dia em que se converter à fé católica.

7) Sobre Savonarola, peço que leia o artigo abaixo [no site do Apostolado Veritatis Splendor]:

  • RAVAZZANO, Pedro. Apostolado Veritatis Splendor: JERÔNIMO SAVONAROLA. Disponível em https://www.veritatis.com.br/article/5149. Desde 18/07/2008.

8) A respeito da Inquisição, leia [no mesmo site acima indicado]:

· A história da inquisição
· A inquisição e o protestantismo [1] [2]
· A Inquisição espanhola
· A Inquisição no Brasil
· A inquisição protestante
· A perseguição dos católicos franceses por calvinistas
· A teologia da Inquisição segundo São Tomás de Aquino [1] [2] [3] [4] [5] [6] [7]
· Ainda as inquisições protestantes
· José de Anchieta: aprendiz de carrasco?
· Leitora questiona a inquisição protestante
· O Estado manipulou a Igreja durante o tempo da inquisição?
· Poder régio e Inquisição em Portugal

9) O senhor certamente também aprenderá mais lendo mais a Bíblia, mas sem a lente seletiva, obtusa e subjetiva do protestantismo, e sim à luz da bimilenar Tradição da Igreja e do ensino do Sagrado Magistério, o qual, composto pelos legítimos sucessores dos Apóstolos e chefiado pelo legítimo sucessor de São Pedro, foi instituído para nos ensinar a Verdade.

10) Que Deus lhe ilumine o entendimento a fim de que o senhor compreenda o seu erro e se arrependa dele, convertendo-se à verdadeira Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é a Igreja Católica Apostólica Romana. Aproveito o ensejo para lhe recomendar a leitura do livro “Todos os caminhos vão dar a Roma”, de Scott e Kimberly Hahn, um casal presbiteriano (ele pastor e professor universitário, crítico ferrenho do catolicismo; ela oriunda de uma família de pastores presbiterianos) que se converteu à fé católica.

Em Cristo,
Marcos M. Grillo

_________
NOTA:
[1] Para um estudo mais aprofundado sobre a eclesiologia católica, consultar nosso Índice Temático.

* * *

Sr. Marcos,
Extenso seu texto.
Não acredita mesmo q eu vou ficar refutando cada item q o sr. apresenta? Estes itens e suas refutações estão bem nítidas na história, seja ela geral ou eclesiástica.
Bom, ademais, compadeço-me diante de tanta dúvida e confusão.
Pode estar certo de que será incluso de agora em diante em minhas orações.
Sua frase vinda das profundezas do inferno e vc, como autor dela, foram repreendidas em nome de Jesus:
“O senhor só saberá o que é isso no dia em que se converter à fé católica”.
Esse conteúdo infernal está repreendido em nome de Jesus.
Não preciso ser “convertido à fé católica”, já sou convertido a Jesus Cristo, portanto, à fé cristã. Eu vim destas fileiras romanas; vi o estrago que uma “fé” desprovida de bases bíblicas e teológicas pode fazer.
Bem, que a misericórdia de Deus alcance sua vida.
Fraternalmente em Cristo Jesus,
Rev Janio Ciritelli

Pr. Janio,

Eu não esperava que o senhor refutasse a minha resposta item por item. Esperava, sim, que o senhor pelo menos lesse o que escrevi, o que demandou uma parte não desprezível do meu tempo, que já é escasso. Poderíamos simplesmente ter ignorado a sua mensagem, mas, por caridade e por amor à Verdade, decidimos responder-lhe, tarefa para a qual fui designado. Todavia, caso o senhor não queira se dar ao trabalho de pelo menos ler a resposta que lhe foi dada, peço-lhe o obséquio de não mais nos escrever, visto que nosso apostolado, que não tem nenhum fim lucrativo, é composto integralmente por voluntários, que não recebem rigorosamente nada pelo trabalho realizado e que têm seu trabalho, sua família, seus estudos, seus afazeres. Ademais, como já disse, meu (nosso) tempo é escasso, e preferimos dedicá-lo aos leitores que estejam realmente interessados em aprender e em busca da Verdade.

Lamentamos a sua postura pretensiosa e intelectualmente desonesta, ao escrever o que quis e depois se recusando a ler o que não quis. E se o senhor trocou a sólida e bimilenar fé católica pelo inconsistente e eminentemente subjetivo protestantismo — certamente em busca de uma religiosidade mais maleável e adaptável ao seu gosto —, não me resta nada além de lamentar mais uma vez.

Finalmente, quanto à sua afirmação de que a fé católica é “desprovida de bases bíblicas e teológicas”, trata-se de pura projeção, uma vez que é o protestantismo, mormente no seu dogma máximo (“Sola Scriptura”), que se mostra completamente desprovido das referidas bases. Afinal, o senhor sabe perfeitamente, ou melhor, deveria saber que o “Sola Scriptura” não dispõe de absolutamente nenhum fundamento bíblico, sendo um princípio evidentemente autocontraditório e sem qualquer sustentação tanto bíblica quanto lógica e teológica.

O resto da sua mensagem não merece resposta.

Caso o senhor queira efetivamente conhecer a doutrina que o senhor abandonou justamente por desconhecer, peço que consulte o nosso Índice Temático, e caso não encontre nele resposta a alguma dúvida, volte a nos escrever. Do contrário, peço que poupe o nosso tempo. Temos coisas mais sérias e importantes a fazer.

Sem mais,
Marcos M. Grillo

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